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Ultimate UNF: Sentinelas da Magia #05


Venham! Venham todos assistir ao maior espetáculo da terra! Venham, se tiverem coragem, e enfrentem o terror...


SENTINELAS DA MAGIA

CAPÍTULO 05 – TRAPEZISTAS E MÁGICOS


Por Alex Nery

O som de centenas de palmas preenche a tenda do Circo Hally quando os holofotes revelam a figura do homem vestido com uma malha vermelha posicionado no alto do trapézio. Ele faz uma rápida reverência ao público e então agarra o trapézio arremessado por uma ajudante.
Sem perder tempo, ele se atira no vazio. Com o impulso, começa a adquirir velocidade. Após algumas idas e vindas, ele salta pelo ar, executando um mortal de frente, até apanhar o próximo trapézio arremessado. Ele repete o movimento mais duas vezes antes de retornar para a plataforma.
Lá, uma linda loira venda os olhos do homem com uma fita vermelha e lhe entrega o trapézio novamente. O trapezista salta e executa um mortal duplo, apanhando o próximo trapézio com segurança, num movimento treinado até a exaustão. A diferença é que nos treinos ele se permite utilizar uma rede de segurança.
“Redes são para amadores”, sempre diz Boston Brand, o trapezista e principal astro do Circo Hally, sob os protestos de seu patrão Phineas Gordon.
A platéia delira com sua audácia, retribuindo o show com palmas, assobios e gemidos de espanto.
O Dr. Oculto observa a dança aérea de Boston admirado pela coragem do artista, mas em seu íntimo ele não deixa de censurar a imprudência de Boston. O investigador do sobrenatural decidira ligar para Zatanna logo após o fim da apresentação.
A maga pressentira que algo de ruim rondava Boston Brand. Aturdida por pesadelos assustadores, ela pedira que Oculto o localizasse. E assim ele o fez. Porém, Oculto caminhara pelo circo durante todo o dia e não notara nada de anormal. Em todos os aspectos, aquele era um circo comum.
Boston conclui sua apresentação com maestria. A platéia levanta-se para aplaudi-lo com euforia. O artista agradece com rápidas reverências e se retira, sendo seguido por suas duas assistentes. Oculto levanta-se e sai, decidido a despedir-se do trapezista.
Boston caminha a passos largos para seu trailer, onde algumas fãs o aguardam ansiosas.

- Boston, eu te amoooo!!! – grita uma loira, de aproximadamente dezoito anos.
- Posso conhecer seu trailer? – pergunta uma ruiva magra e alta.
- Boston! Boston! Me dá um autógrafo! – grita uma morena enquanto empurra uma caneta e um pequeno caderno para Boston.
- Boston!
- Bostoooonnn...

O trapezista ignora o tumulto das fãs e não lhes dá atenção, atravessando o pequeno grupo sem nada dizer. Ele bate a porta do trailer com rispidez.

- Bando de piranhas... – resmunga Boston.
- A fama tem seu preço, não é?

Boston se volta assustando em direção da voz e fica surpreso em encontrar o Dr. Oculto em seu trailer, semi-encoberto pelas sombras.

- Dr. Oculto! C-como entrou aqui? – pergunta Boston contendo o nervosismo.
- A porta estava aberta – diz Oculto com calma.
- Estava? Acho que n...
- Isso não importa, Sr. Brand.
- Ahn, talvez não... Escute, sr... Oculto, eu ainda não sei o que quer comigo.
- Como eu lhe disse antes, estou procurando por algo errado. Algo que não deveria estar aqui, no circo.
- Algo que não deveria estar aqui? De que tipo de coisa está falando?
- Eu realmente ainda não sei, mas sei que tem ligação com você.
- Ora... você é da polícia, é isso? Cara, ok, vou te dizer... eu não tenho nada a ver com aquele troço que o Jamanta vende pro pessoal daqui...

Oculto ignora as palavras de Boston e caminha lentamente pelo trailer, observando os objetos espalhados pelo local. Subitamente ele pára em frente a alguns porta-retratos dispostos sobre uma pequena mesa. O investigador estende sua mão e apanha um deles.

- Fotos de família? – indaga Oculto.
- Ahn? O quê? Ah, sim... São fotos antigas – diz Boston constrangido.
- Esta foto é muito curiosa. É uma montagem? – pergunta Oculto estendendo a foto para o trapezista.

Boston Brand apanha a foto devagar. No pequeno retângulo podem ser visto dois homens morenos e uma mulher loura, todos sorrindo, vestidos com roupas apropriadas para um show circense. O curioso é que os dois homens são absolutamente iguais.

- Não é montagem... É... era a minha família. Sou eu, meu irmão gêmeo Cleve e minha mulher Sarah – diz Boston taciturno.
- O que aconteceu com eles? – pergunta Oculto, sentando-se numa cadeira.

O artista circense respira fundo antes de responder.

- Houve um acidente... um incêndio dois anos atrás. Um conjunto de trailers pegou fogo... eles... não conseguiram escapar.
- Sinto muito, Boston.
- Ah, a vida é assim... Uma merda sem tamanho – Boston joga a foto de volta na mesa.
- Você não parece uma pessoa feliz, Boston. Tem fama e dinheiro, mas mesmo assim é visível sua infelicidade.

Boston Brand esmurra a parede e encara o Dr. Oculto.

- O que você sabe sobre mim, afinal? NADA! Caia fora daqui! Não preciso de nada que você esteja vendendo! – grita o trapezista.
- Espero que não precise mesmo, Boston. Nos vemos por aí. – Diz Oculto, saindo do trailer.

Boston bate a porta nas costas do investigador. Agora sozinho, os sons do lado de fora do trailer parecem cada vez mais distantes e o silêncio dentro do trailer começa a envolve-lo.
O trapezista apanha uma garrafa de uísque e bebe no gargalo. Ele baixa a garrafa ao lado da foto de família e senta-se numa poltrona confortável. Angustiado, ele passa as mãos pelo rosto suado, tirando os fios do cabelo do rosto. Boston Brand respira fundo e reclina-se na cadeira, chorando.
Das sombras do trailer, mãos cadavéricas se estendem para tocá-lo, surgindo de trás da poltrona. Ele não se volta, nem mesmo tenta evitar o toque gelado. As mãos se apóiam em seus ombros.

- O que ainda quer de mim? – sussurra Boston Brand.
- Você sssabe... – responde uma voz sombria.

Do lado de fora, as pessoas se apressam em deixar o circo, uma vez que o show já terminara. Junto à uma das saídas, Oculto faz uma ligação telefônica para Zatanna.

- Alô, Zatanna?
- Alô, oi, Richard, digo, Doutor... – responde a maga do outro lado da linha.
- Encontrei um Boston Brand. Ele é trapezista de circo.
- Ele existe mesmo, então! Incrível!
- Sim, mas... Passei o dia inteiro aqui pelo circo e não notei nada excepcional.
- Nada? M-mas, eu geralmente não me engano quando tenho essa “sensação” estranha. E aquele pesadelo foi MUITO estranho...
- Imagino. Vou ficar de olho então.
- Pode ser apenas bobagem. Não sei...
- Fique tranqüila. Vou dar mais uma volta por aqui.
- Obrigada, Richard. Beijo.
- Outro, até mais.


Zatanna desliga o celular e fica pensativa. Sua “sensibilidade” para coisas estranhas não costuma falhar. Porém, agora ela tem um show pela frente e decide finalizar sua maquiagem. Ela própria prefere se maquiar. Uma mania remanescente de quando ela não tinha dinheiro para manter uma equipe de apoio para a produção de seus shows. Ela passa o batom de tom vermelho provocante em seus lábios carnudos, tornando-os ainda mais atraentes. Ela sabe que chama a atenção dos homens e, vez ou outra, se diverte com isso.

- Faltam dez minutos, Z – diz Albert, seu produtor, esticando o pescoço para dentro do camarim.
- Ok, vou me concentrar um minutinho e já subo – responde a maga.
- Certo, te vejo lá em cima, gata. Vamos, pessoal, deixem a Z se concentrar – diz Albert, retirando as assistentes do camarim.

Sozinha no camarim, ela olha para o espelho, conferindo se está tudo perfeito. Ajeita o cabelo com delicadeza e relaxa o corpo, se concentrando para o show de hoje. Ela fecha os olhos e deixa sua mente vagar pela escuridão, eliminando os pensamentos estressantes.
Subitamente ela vê uma abertura, por onde sai uma luz alternado entre várias cores. Atraída pela luminosidade ela caminha até a abertura e, ao ultrapassa-la, percebe que está num circo. Centenas de pessoas aplaudem compassadamente, acompanhando o ritmo da música, enquanto os malabaristas se posicionam no centro do picadeiro. Zatanna segue em frente e senta-se numa das cadeiras vazias. Os malabaristas são realmente muito bons, realizando proezas ágeis e graciosas com arcos, pratos, bolas e outros objetos.
Ao fim do show, todos aplaudem. Só então Zatanna percebe o homem semi-decomposto que assiste a tudo impassível sentado ao seu lado. Seu rosto quase não possui pele e de seus cabelos restam apenas tufos aqui e ali. Seus músculos faciais estão enegrecidos, como alguém que sofreu um terrível acidente. Parte de sua arcada dentária reluz sob as luzes coloridas da tenda. Seus olhos são vívidos e esbugalhados, e ele observa a maga em silêncio.

- Q-quem é você? – indaga Zatanna, estranhando o próprio sangue frio.

O homem revira os olhos e murmura coisas incompreensíveis, numa tentativa fracassada de articular algumas palavras.

- Eu sonhei com você ontem, não foi? – indaga a maga.
- S-sim... – murmura o homem com dificuldade.
- Qual seu nome? O que você quer?
- N-nome? Nome? Boston... Boston...
- Você é Boston Brand? Isso não faz sentido. Boston Brand está num circo e... vivo. Você não está vivo, está?

O homem leva as mãos aos olhos e chora. Em seguida dá murros na cadeira da frente, num gesto de raiva impotente. Rapidamente ele se vira para a maga e a agarra pelos ombros.

- Booosston me matou! ME MATOU! – grita o homem morto.

Zatanna cai da cadeira em seu camarim. Seu corpo inteiro treme, mas mesmo assim a maga encontra forças para apanhar seu celular e começa a discar um número nervosamente.


Oculto caminha pelo picadeiro central mal iluminado. A multidão já partira, deixando apenas um rasto de copos de plástico e sacos de papel vazios, e agora o silêncio absoluto na tenda não deixava notar que à poucos instantes havia uma tempestade de aplausos e gritos alegres.
De repente, algo atrai sua atenção. Uma imagem notada apenas perifericamente. A imagem de uma mulher, sentada solitariamente na arquibancada. Oculto tenta fixar o olhar, mas a imagem desaparece.
O investigador do sobrenatural fica em dúvida se foi apenas um golpe de vista, uma ilusão e caminha mais alguns passos em direção ao centro do picadeiro. É nesse momento que ele percebe a mesma mulher sentada no lado oposto da arquibancada. Rapidamente ele se vira e olha diretamente para o local, mas a imagem some novamente.
Oculto apanha seu amuleto místico e o ergue acima da cabeça. Uma luz sobrenatural emana do disco redondo, iluminando como um farol toda a tenda. A luz banha cada canto, extinguindo as sombras e revelando uma mulher sentada exatamente onde Oculto tivera impressão de vê-la por último.
Seus cabelos loiros e ondulados chegam até os ombros. Mesmo à distância, Oculto sabe que seus olhos são verdes. Não tanto por observá-los, mas sim por um pressentimento, como se aquela imagem estivesse na arquibancada e ao mesmo tempo em sua mente.
Era a esposa morta de Boston Brand.
Sua expressão era de incômodo pela luz reveladora que a expunha. Ela levou a mão direita acima dos olhos, num gesto terrivelmente humano, tentando proteger-se da claridade.

- Sra. Brand, eu presumo – diz o Dr. Oculto.
- Oh, você pode me ver realmente? – indaga a aparição com voz assustada.
- Sim. Eu posso – diz o doutor, permanecendo em pé no centro do picadeiro circular.
- Como? Como consegue me ver se mais ninguém pode?
- Isso não é importante, senhora Brand. O que importa é o motivo da senhora estar aqui.

Sarah Brand baixa a cabeça, pensativa.

- Sabe que não deveria estar aqui? – pergunta o Dr. Oculto.
- A-acho que sei...
- Posso ajudá-la. Diga-me do que precisa e...

Um golpe certeiro atinge a cabeça d Dr. Oculto, fazendo-o tombar para frente. Imediatamente a luz emitida pelo amuleto cessa de existir. O pequeno medalhão redondo cai no chão e rola para longe.

- Eu sabia! Eu sabia que você ia me trazer problemas! – diz Boston Brand enquanto segura o taco de beisebol com que atingira o investigador – E agora? O que eu faço?

Sarah Brand aproxima-se, agora na forma de um cadáver putrefato, com ossos e músculos expostos. Sua carne é negra, seus olhos são duas bolas vermelhas cintilando na escuridão. Sorrindo horrivelmente ela diz:

- Mate-o, Boston! Mate-o, como me matou!

Continua...


No próximo capítulo:
Conseguirá Zatanna chegar a tempo de impedir a morte de Oculto? Quem é o fantasma que assombra a mágica preferida de Las Vegas? Boston Brand escapará da punição por seus crimes? Saiba as resposta em SENTINELAS DA MAGIA 6, somente aqui, no ULTIMATE UNF! Não perca!
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+ comentários + 1 comentários

22 de setembro de 2010 às 09:07

Caramba! Acho que de todos os que já li esse é meu favorito Nery!
Adorei! E to curiosa para saber como isso vai ser resolvido :o
Arrasou!

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