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Revolt #5

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Enfim o confronto entre Revolt e Criminal D. Disposto a tudo para libertar sua irmã, Revolt vai até os últimos limites. Mas seria ele capaz de cruzar a linha que o separa de seu inimigo?


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Capítulo 5: “O Dia D”.

Por: Anderson Oliveira

Então... Quando o dia escurece
Só quem é de lá sabe o que acontece
Ao que me parece prevalece à ignorância
E nós, estamos sós, ninguém quer ouvir a nossa voz
Cheio de razões, calibres em punho
Dificilmente um testemunho vai aparecer
E pode crer, a verdade se omite
Pois quem garante medo e é a seguinte...

Justiceiros são chamados por eles mesmos
Matam um menino e dão tiros a esmo
E a polícia não demonstra sequer vontade
De resolver ou apurar a verdade
Pois simplesmente é conveniente
Por que ajudariam se nos julgam delinquentes?
E as ocorrências prosseguem sem problema nenhum
Continua-se o pânico na Zona Sul
Pânico na Zona Sul...[1]

Pânico na Zona LESTE...

Dezenas de homens armados esperam no alto do morro. Um misto de sensações toma conta de cada um deles. Medo, ansiedade, raiva... E tudo isso vai se multiplicando enquanto ouvem o barulho da moto se aproximar e o estalo dos tiros cada vez mais próximos. É como esperar o fim do mundo...
— Fogo no filhadaputa!! — Um grita e logo se inicia um fuzilamento caótico. Os tiros atingem postes, lâmpadas, o chão, carros estacionados, árvores... mas o alvo verdadeiro foge, dança pela pista deixando os atiradores confusos.
A moto de Revolt mostra do é feita e em suas mãos supera os obstáculos. Mas o caminho ainda não é livre. Enquanto a moto sobe por um monte de blocos empilhados, ganhando um carro e saltando sobre ele, Revolt saca a sub-metralhadora e atira contra o paredão de homens armados. Nunca para matar.
As rodas da moto só atingem o chão quando os atiradores são ultrapassados. Os poucos que se atrevem a atirar apenas veem Revolt ganhar o morro. No entanto este não é seu único desafio, pois em cima das lajes das casas ao redor se encontram mais bandidos armados.
Os tiros atingem seu traje e a carenagem da moto. A blindagem resiste. Revolt por pouco não perde o equilíbrio, pois veio preparado. Rapidamente retribui os tiros com sua mira precisa. Porém a distração requerida para dar os tiros o faz chocar-se contra dois Opalas pretos que entram em sua frente.
Revolt vai ao chão. Dos carros saem mais bandidos armados. Dez ao todo. O motoqueiro ainda permanece atordoado por um tempo. Os bandidos sorriem entre si enquanto o cercam formando um círculo deixando Revolt no meio. O herói levanta aos poucos, mas ainda de joelhos e alvejado com tiros.
As gargalhadas dos bandidos são abafadas pelo som das balas disparadas a queima-roupa, mas logo um deles deixa de sorrir e cai. Imediatamente outro tomba, e mais outro... Todos com os joelhos estourados.
— Saiam da minha frente! — Revolt se ergue, com a parte de tecido de seu traje em farrapos, empunhando a AR-15 e dando cabo dos outros bandidos. Quando todos vão ao chão, Revolt troca seus pentes vazios. — Argh... Mesmo com a blindagem parece que fui atingido...! — Ao passar a mão nas costelas e constatar um sangramento Revolt confirma a suspeita.
Ainda com as armas que pegou no depósito de D, ele se apossa de mais duas pistolas dos bandidos caídos no chão. Falta pouco, a casa de D está logo à frente. A moto de Revolt, após bater nos carros, acabou embaixo de um deles e um pouco danificada. O resto do caminho será feito a pé.

Enquanto isso, na casa de D:
— Larga essa vadia e olha só aquilo, Metralha! — D chama seu capanga que estava com Marisa em seus braços.
— Qualé chefe... Tô na seca já faz--
— O motoqueiro do caralho tá aqui! Não ouviu o tiroteio?
— Tô acostumado com esse barulho que nem noto...
— Vai lá e cuida desse filho da puta! Eu vou sair daqui.
— Tá certo, chefia... Tá certo. — Metralha saí do quarto das garotas. — Aí morena... a gente se fala depois! — Ele tranca a porta. Em seguida vai até a geladeira e pega uma lata de cerveja. Com a bebida na mão pega uma metralhadora deixada atrás do sofá da sala. — Vamos caçar justiceiros... — Ele engatilha a arma e vai para fora.

“Ninguém irá me deter!” Revolt pensa enquanto golpeia um bandido que, junto com um grupo, o cerca. “Nada irá me parar!” Ele distribui socos e coronhadas por todos os lados. “De onde vêm tantos capangas assim?!” Revolt corre, quem estiver em seu caminho é rechaçado com tiros. Ao fim da rua ele chega a uma escadaria de concreto, no topo dela: a casa de D.
Antes de começar a subir as escadas ele se vira e atira nos pés dos bandidos que se aproximavam por trás. “Falta pouco! Marisa... eu estou chegando!!” Ele sobe dois... três degraus de cada vez... O cansaço é outro inimigo a ser vencido, assim como o tempo. A escadaria chega ao seu final e resta apenas uma rua estreita entre Revolt e seu destino.
— Então esse é o cara?! — A voz logo é abafada por um disparo. Antes que pudesse reagir, Revolt é atingido pela metralhadora. Por sorte (e pela distância) sua blindagem suportou bem. Ao recobrar o equilíbrio, Revolt se atenta para a origem dos disparos: — Gostei de ver! — Metralha-7 está em frente ao portão da casa.
— Metralha-7... — Diz Revolt com a voz cansada.
— Então cê me conhece?! — O bandido caminha até o meio da rua.
— Ouvi falar... Cadê o D?
— Tá por aí... Mas pra chegar até ele... tu tem que passar por cima de mim!
— Ahf... beleza então...
— O último que tentou tá no Cemitério da Saudade! — Metralha empunha sua arma.
— Quer fazer companhia pra ele?! — Revolt saca sua 12 e atira com uma mão só. O impacto do tiro o faz recuar três passos. O projétil atinge o braço esquerdo de Metralha-7.
— Seu filhadaputa do caralho!! Acertô minha tatuagem de São Jorge! Cê vai morrer! — Metralha-7 atira. Revolt procura abrigo atrás de um carro que em instantes é parcialmente alvejado. Logo a munição de Metralha-7 acaba, é a chance de Revolt revidar.
Atirando com a AR-15 ele corre e rola até chegar do outro lado da rua, se protegendo atrás de outro carro. Porém os tiros não atingem Metralha-7. Este, por sua vez, com um novo pente de munição, avança contra seu alvo. Mesmo com o braço baleado ele mostra porque tem a fama de ser o sujeito mais casca-grossa da região.
“Se aprendi algo no treinamento militar e nas poucas batalhas contra rebeldes no Haiti foi o seguinte: Esperar o momento certo de agir.” Revolt carrega um novo pente da metralhadora enquanto Metralha-7 se aproxima atirando. “É agora!”
Arriscando tudo, Revolt salta diante de Metralha-7 atirando com as duas armas. Os tiros atingem as mãos do criminoso e seu abdome o forçando a largar sua arma. Em seguida, Revolt atira em sua coxa o obrigando a cair de joelhos.
— Seu cuzão do caralho!! Porra!! — Diz Metralha se lamentando. Revolt sem nada dizer pega a metralhadora do bandido e a desmonta. — Isso não vai ficar assim! Foi só o começo! Eu vou te mandar pro inferno!!
— Tá, tá, tá, tá... — Dizendo isso, como se pouco estive se importando, Revolt chega até o portão da casa de D. — É aqui.
O portão de ferro está aberto. Revolt entra e logo está diante da porta de madeira. Com um chute a abre. Só depois de ter feito isso ele volta a sentir o cansaço e as dores, mas deve aguentar por mais um pouco... Não tem ninguém aqui... A sala está vazia e escura. Ele entra mais e percebe uma porta fechada...
— Tem alguém aí?! — Revolt se aproxima da porta. Ninguém responde, mas ele pode ouvir algo que se assemelha a... um choro... — Não tenha medo... vim tirar você daqui! — Ele força a maçaneta e continua ouvindo um choro contido. “Marisa!” pensa, então arromba a porta com os ombros.
Lá está ela. Sua irmã querida. A jovem crédula que almejava o sonho de ser uma modelo de sucesso. A garota que caiu nas garras de perigosos criminosos. Lá está ela. Assustada com a visão daquele estranho mascarado, coberto por marcas de tiros e com armas em punho. Marisa... junto a outras três pobres garotas que tiveram a mesma triste sorte.
— Saiam... Saiam daqui! — Marcelo luta para conter a emoção que o toma. — Vão para suas casas... Estão livres! Acabou! — Elas receiam em sair do quarto. O pavor que as toma é imenso. — Vão logo! Voltem para suas famílias!! — Então uma delas resolve dar o primeiro passo. Acanhadamente se aproxima da porta e passa por Revolt. Logo outra segue o exemplo. E outra... E enfim Marisa. — Esperem... Darei cobertura...
Revolt toma a frente e vasculha a saída da casa se certificando de que não há ninguém. Só então permite que as garotas passem. E assim as escolta até chegarem na rua. Revolt nota que o caminho da escadaria está coberto de sangue. Ele não quer que sua irmã veja aquilo. Então se atenta para um carro. A chave está na ignição. Ele abre a porta dizendo:
— Alguma de vocês sabe dirigir?
— E-eu sei. — Diz uma garota loira.
— Então entre... vá embora e as leve daqui. — As quatro entram no carro. A loira ao volante liga o veículo e começa a andar. Antes de sair Marcelo nota que Marisa lhe dirige um discreto sorriso de agradecimento. — Graças a Deus! Agora... Que isso nunca mais se repita! — Revolt se vira, exausto com o peso das armas, ele se livra das metralhadoras e torna a entrar na casa, não sem antes notar Metralha-7 caído inconsciente no meio da rua.
No entanto, antes de se aproximar da porta, Revolt nota que as luzes estão acesas:
— Então conseguiu o que veio buscar...? — A voz vem da sala. Revolt entra e se depara com D sentado no sofá com duas pistolas douradas em punho.
— Criminal D… Enfim nos encontramos! — Revolt entra e fica parado diante de D.
— Revolt... estou certo? Revolt... Revoltado com o que, meu amigo?
— A vida é injusta, às vezes... De repente você vê que a vida de todo um povo está nas mãos de um sujeito que pensa que é rei. E isso lhe dá o direito de pisar nesse povo, de matar seus filhos, abusar de suas filhas. E assim, a polícia, que deveria nos proteger, nos julga como parte de um sistema criminoso... e mata pessoas inocentes em nome de uma guerra estúpida.
— Você fala bonito, Revolt. Mas será que você tem motivos para se revoltar?
— Tenho mais do que motivos...
— Então me diga... O que você pensa de um cara que não conheceu seu pai, pois o canalha embuchou sua mãe e sumiu no mundo. Tá certo que ela era uma vagabunda... Uma puta mesmo. Daí o cara cresce, vendo a mãe aparecer cada dia com um homem pior que o outro. Bêbada e chapada... ela transa na sua frente sem respeito nenhum... E depois disso deixa os safados baterem no moleque sem fazer nada... O que você pensa de alguém que cresce num ambiente desses? Será que ele não tem mais motivos pra se revoltar?
Revolt se cala. Durante todo esse tempo ele nunca pensou nisso. Nunca pensou como foi a vida de D. Seria ele uma simples vítima da sociedade? Uma infância traumática o fez buscar no crime as chances que não tivera na família? Qual será a resposta?
— Então... não vai me responder? — Insiste D.
— Eu não sou analista...
— Certo... Não quero falar com um analista... Quero falar com um cara normal... Você é um cara normal?
— Sou.
— Sabe... não parece... Um cara normal não sairia por aí fantasiado fazendo justiça com as próprias mãos. Um cara normal não esconderia seu rosto, a menos que estivesse fazendo algo errado. Bandidos é que usam máscara... Você é um bandido, Revolt?
— Não. — Revolt responde asperamente.
— Não?! — D franze a testa. — Você roubou meu dinheiro, minhas armas... minhas mulheres... Você não é bandido?
— O único bandido aqui é você... E eu só vim para acabar com isso.
— Ah... então você é o mocinho?! Eu gosto de filmes de faroeste... Sabe, isso me lembra um... O bandido controlava toda a cidade, até a polícia estava na sua mão... então aparece um forasteiro disposto a acabar com isso. O cara sozinho acaba com todos os capangas do bandido e, num duelo, os dois finalmente se encontram--
— E como acaba o filme?
— Hmmm... — D coça o queixo com uma das pistolas. — O bandido morre no final...
— É isso aí!! — Revolt saca as duas 9mm que guardava nos coldres internos (agora já á vista) e aponta contra D.
— Não no meu filme. — D empunha suas armas e se levanta do sofá.
Um diante do outro, um duelo moderno. Criminal D atira primeiro. Dois disparos a queima roupa que fazem Revolt ir contra a parede. Em seguida o criminoso foge pela porta. Revolt ainda tenta atingi-lo, mas o tiro apenas acerta o batente da porta. Com fortes dores nos ombros, Revolt vai atrás de D.
Ao sair da casa não o vê. “Droga! Truque velho!”, pensa, logo em seguida é golpeado com uma coronhada na cabeça. D estava atrás da porta. O golpe faz Marcelo tontear, mas antes de esboçar alguma reação é novamente golpeado, agora nas costas. Revolt cai de joelhos. D trava sua arma e faz mira contra seu pescoço.
— E assim acaba o fil--
Antes de terminar a frase, D é tomado por profunda dor. Seu cérebro ainda demoraria alguns segundos para perceber que levou um tiro no seu tendão de Aquiles. Revolt se põe de pé e acerta um soco no rosto de D. Em seguida outro soco e cotoveladas. Batendo a mão direita de D contra a parede da casa ele o desarma. Porém a outra arma é o suficiente para atingi-lo no braço.
Não haveria blindagem que suportasse um tiro aquela distância. A dor faz Revolt soltar uma das armas e se ajoelhar no chão. D, com o sangue escorrendo por seu cavanhaque e pescoço pensa em acabar logo com ele, mas um respingo de prudência, (ou seria medo?) o manda fugir. E ele foge. Coxeando devido ao tornozelo ferido chega a escadaria. Revolt ainda o vê descendo.
“Não vai fugir! Não vai!” segurando firme o ferimento no braço esquerdo, o pressionando com a arma quente, Revolt segue o rastro de sangue que D deixou. Este lança seu olhar para trás e vê Revolt em seu encalço. Sem se virar, apenas se torcendo, atira para trás. Não atinge nada além da terra vermelha. Revolt poderia acabar com isso com um único tiro... seu alvo está lento e a distância é favorável. Mas o calor da pistola é necessária para cauterizar a ferida.
Assim D chega à rua de baixo, coberta por seus capangas agonizantes e suplicando ajuda. Ele nem sequer os olha nos olhos. Nota os carros fechando a rua. Entra em um deles e sai de ré, faz a manobra e acerta o carro no rumo da pista. Olhando pelo retrovisor avista Revolt. Com a mão direita atira, fazendo em pedaços o para-brisa traseiro. Novamente erra o tiro. Então acelera o carro.
Revolt vê seu inimigo escapar pela rua, atropelando aqueles que o serviam, ainda caídos no chão. “Ele não vai escapar!” Revolt retira, com muita dificuldade, sua moto debaixo do outro carro. Com o braço esquerdo doendo, ele se esforça para guiar seu veículo. Para tal se livra da outra 9mm. Dá a partida e segue o carro de D.
Criminal D por um instante esquece a dor vinda do seu calcanhar. Só então percebe que mal pode pisar no acelerador. Mesmo assim reúne suas forças e acelera o máximo que pode. 50 por hora... É o bastante, pensa. Logo já não está mais na favela. Ele reconhece o lugar, é a Cidade Kemel, já quase em Itaquá. Numa nova olhada pelo retrovisor ele vê o farol de uma moto se aproximando.
— Caralho!! — Sem se importar com os outros carros e com os pedestres que ainda circulam pelas ruas nesse início de madrugada, D faz um cavalo de pau e volta pela contramão.
— Não!!! — Revolt vira o guidão da moto o máximo que pode antes do carro de D passar por cima dele. Com isso sobe numa calçada. Com todo o esforço para não atingir ninguém ele serpenteia entre as pessoas assustadas e volta para a pista a tempo de ver o carro de D virar a esquina.
D chega à Rua Academia de São Paulo, já no Jardim Camargo Novo e desce sentido noroeste. A rua bem movimentada por ônibus, carros e pessoas, já que nela existe um grande supermercado e diversas igrejas evangélicas agora está parcialmente deserta, com exceção de poucos jovens nos bares. O Opala preto segue em decida sem maiores obstáculos. Logo atrás a Supermotard DRD preta e cinza aparece novamente no retrovisor.
Revolt se aproxima velozmente enquanto parece ignorar o braço baleado e os demais ferimentos. D, nesse momento, chega ao cruzamento com a Avenida Marechal Tito, no seu quilômetro 28. O farol está fechado, mas D entra pela outra pista, cruza a avenida ao som de buzinas e freios desesperados e segue pela esquerda. Segundos atrás Revolt segue o mesmo procedimento.
“Já cansei disso!” Revolt saca de outro bolso a última arma que pegou, uma 45. A menos de vinte metros do Opala ele dispara contra seus pneus. Na terceira tentativa consegue estourar o pneu esquerdo traseiro fazendo D patinar na pista. O carro faz um novo cavalo de pau forçado. Quando D se dá por conta seu para-brisa é feito em pedaços.
— Não! — D abre a porta e cai no chão, num trecho da avenida que cruza com o córrego Itaim, onde a direita há um pequeno abismo que acaba no rio poluído. D rola pelo chão protegendo a cabeça enquanto Revolt para com sua moto bem a sua frente.
— Então... qual o final do filme mesmo? — Diz Revolt apontando sua arma. D está indefeso no chão. É o fim. O rei está nu. “Não sou assassino”, Revolt pensa abaixando a arma.
— Termina logo... — Balbucia D. — Me mata e acaba com isso...
— Você já está acabado, D.
— Como vou encarar todos eles agora? Como... Não! Prefiro a morte... Me mata, porra!!
— Não sou assassino. — Revolt dá as costas e volta para a moto, enquanto os poucos motoristas que passam param para observar a cena.
— Idiota... — D se levanta. Seu olhar expressa demência. Sua voz reflete satisfação. Escondido dentro da calça tinha outra arma. Revolt percebe seu tom de voz e instintivamente se vira. — Buum!! — Diz D atirando.
O tempo é relativo. Agora está relativamente lento. Lento o bastante para ver Revolt reagir empunhando sua 45 e atirando enquanto a bala de D passa a poucos milímetros de sua cabeça. Já o projétil calibre 45 segue uma trajetória perfeita, atingido a barriga de D. Seu olhar expressa um medo sem igual.
Cambaleante ele recua dois passos, tropeçando na guia e caindo na calçada de cimento, rolando até a parte de terra e mato rasteiro. Revolt se assusta ao ver o inevitável destino. Quatro metros abaixo, os largos canos de concreto cospem litros de água suja. D rola até a beira do abismo, culminando na sua queda nada cinematográfica no córrego.
Revolt corre até o precipício e apenas vê o corpo sendo levado pela correnteza, sem se deter em nenhum objeto, se distanciando até sumir por baixo da antiga ponte, vindo a surgir no outro lado, já fora da total visão de Revolt e quem quer que seja que se arrisque a ver.
Acabou. Ainda sem ordenar os pensamentos, Revolt sobe na moto, abre caminho entre os curiosos que o veem com olhares temerosos e cruza a próxima esquina, subindo a Rua Itajuíbe com a única intenção de sair dali. Demoraria ainda alguns minutos para perceber que está no caminho errado e, por entre vielas, retornar ao Tijuco Preto.
“Eu não sou assassino! Eu não sou assassino!! Ele não morreu... Ele... ele ia me matar! Ia me matar pelas costas! Eu... eu só me defendi... Isso... Eu não sou assassino!! O rio... o rio o levou... Vai ser encontrado na próxima ponte talvez... Senão... senão chegará ao Tietê... Mas vai ser encontrado! Eu não sou assassino!!
Marisa! Marisa está salva! Isso! Marisa está salva, D está... está morto... Minha missão acabou... Revolt não precisa mais existir! Sim... Valeu a pena. Tudo está resolvido! Não sou assassino... Eu... eu... salvei minha irmã... eu... salvei minha gente... Acidentes acontecem... Não sou assassino!!!”

Meia hora depois.
Marcelo abre a porta de sua casa com um ar de desespero e de emoção nunca antes sentida. Sua jaqueta de couro se encarrega de esconder seus ferimentos. Mas seu rosto nunca poderá esconder o que passou. Ele entra pela cozinha deserta e escura. Ouve vozes vindas da sala, uma fraca luz vem do cômodo. Marcelo anda até a cortina de peças de madeira.
O barulho característico da cortina denuncia sua entrada. Na sala, sentados no sofá, estão as pessoas que ele mais ama: sua mãe, com os olhos embebidos de lágrimas e o semblante cansado; seu irmão, também choroso que lhe diz com os olhos “você conseguiu, Marcelo!” e ela... Marisa. Sua irmã ingênua. Com um olhar triste que em nada se compara com aquele olhar vivo de outrora.
— Marisa! — Ele diz com a voz fraca e rouca, embriagado num choro contido.
— M-marcelo... meu irmão...!! — A moça diz deixando escapar novas lágrimas. Então se levanta e abraça o irmão, seu eterno protetor.
O abraça forte. Marcelo resiste para não revelar que suas costelas ardem. Uma lágrima escapa de seu olhar enquanto, por sua vez, Marisa se desmancha num pranto emocionado. Logo dona Silvia e Eugênio se unem ao abraço.

Missão cumprida.

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[1] - “Pânico na Zona Sul” - Racionais MC’s


Com Marisa a salvo e Criminal D morto, Marcelo pensa que a paz voltou a reinar e consegue ter uma noite de lazer com Daniella. Mas enquanto isso, os capangas de D começam uma disputa entre si para decidir quem será o novo líder da organização...
A Seguir: Os Tetrarcas de Herodes.
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+ comentários + 1 comentários

19 de julho de 2010 às 05:29

Esse capítulo foi muito foda... Faz a gente querer que o Revolt exista de verdade...
E prá quem achar que acabou, pode continuar ligado, pois ainda vai ter muuuuita ação nesse excelente título.
meus parabéns e aquele abração!
Até a próxima!

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