Ultimate UNF: Demolidor #1
Matt Murdock ficou cego ainda criança... Tudo bem, essa história todo mundo conhece... mas como ele ficou cego e o que resolveu fazer depois, veja de uma maneira totalmente nova em Ultimate UNF: Demolidor.
DEMOLIDOR
Capítulo 1: O Cozinheiro
Por Anderson “Aracnos” Oliveira
Cozinha do Inferno.
Não é à toa esse nome. Não mesmo. Desde que me lembro, a vida aqui nunca foi fácil. Parece que até o cheiro da neblina noturna é podre. Mais podre que no resto da cidade. Pois é na cozinha que fica o lixo da casa... e aqui fica o lixo da cidade... do inferno... Mas esta noite... eu serei o cozinheiro.
Uma figura sombria salta por entre os telhados antigos, em meio a fumaça e sob um fraco luar. Com um malabarismo mortal, ele se pendura em antenas usando uma corda e faz piruetas extraordinárias, como se mergulhasse nas trevas sem medo da morte. E como cheiro da morte que atrai o abutre, ele desvia seu curso seguindo o rastro das suas presas desta noite.
— Acaba com eles, porra! — grita um bandido aos seus comparsas em meio a um tiroteio intenso contra uma outra gangue. — Se meteram no terreno errado, chapa! Aqui é território do Coruja! — diz aos inimigos.
— Por pouco tempo, idiota! — responde o líder da outra gangue. — Daqui pra frente, tudo isso é terra do Rei.
Os tiros se intensificam. As poucas pessoas que ainda estão na rua procuram se esconder. Os moradores reforçam as trancas de suas janelas. Alguns corpos começam a rolar pelo chão entre carros metralhados. Até que um baque surdo, como de um potente chute, faz pairar um curto, mas assustador silêncio.
— Carai! O q-que... o que é isso?! — exclama um bandido ao ver a figura sombria, que agora na parca luz ganha uns tons avermelhados. Figura tal que só pode ser nomeada como...
— Um demônio! É um demônio!! Chegou o nosso fim! — brada um outro criminoso mais temeroso.
O demônio, que caiu do céu no meio do conflito, apenas fita os marginais com seus olhos do mais puro vermelho, enquanto seu rosto desprovido de boca, nariz ou qualquer expressão – portando apenas pequenos chifres na fronte – faz a imaginação dos bandidos verem a face de seus piores pesadelos.
Tão logo, sem qualquer aviso, o demônio saca um bastão, como um chaco ninja, de onde se desdobra um longo cabo, e com ele ataca os meliantes que mal podem reagir. Os que ainda conseguem atirar, somente acertam as paredes, pois o demônio se esquiva quase que sobrenaturalmente, mostrando grande agilidade. Então ele se aproxima de alguns homens e os nocauteia no combate corpo a corpo, as vezes se usando do bastão com maior eficácia. Não demora muito e todos os criminosos estão no chão. Os que ainda cospem um vestígio de consciência, apenas balbuciam “Coruja” ou “Rei”.
Usando seu bastão como um arpão, o demônio alça as alturas de volta para a escuridão da noite. Destemido, intrépido, audaz, ele seria chamado dali pra frente. O Demônio Destemido... Daredevil na sua língua natal... esse seria seu nome, seu símbolo. Com uma pequena faca, riscou dois Ds entrelaçados no reboco de um prédio. Aquele era seu território. Mais tarde, iria colocar tal símbolo na sua roupa. O Demolidor ele seria.
Mas antes que a noite acabe, ele faz uma pequena parada na Igreja de San Patrick. Contemplando por um certo tempo sua fachada. Então, com os punhos cerrados em indignação, ele desfere seu bastão contra um de seus vitrais. E dando as costas, antes de voltar para os telhados, ele diz em tom de oração:
— Senhor... nunca deixarei de seguir os Teus preceitos. Mas em templos de pedra não Te encontrarei. Com sacerdotes de carne pecadores e corruptos, não me confessarei. Hipócrita é essa igreja e hipócrita é sua doutrina. Por isso me visto de demônio. Para que saibam que cuspo em suas figuras.
Sentado no piso entre chaminés e exaustores, o Demolidor tira sua máscara, revelando o rosto de um jovem triste, entre vinte e dois, vinte e cinco anos... Cabelos entre o castanho e o ruivo, típico irlandês... e olhos brancos... brancos de um cego que agora chora ao relembrar seu passado...
Era uma noite como essa. Quente, fétida. Onde gangues causavam confusão na Cozinha do Inferno. Eu lembro bem... tinha dez anos... era um bom aluno e começava a ser um bom atleta. Queria seguir os passos do meu pai. Jack Murdock foi um grande ginasta olímpico... ganhou a prata em Atlanta. Estava em seu auge. Vivia em viagens e treinos. Quase nunca o via.
Meu nome é Matthew Murdock. Naquela noite, quando voltava do ginásio onde treinava piruetas e saltos por seis horas depois da escola, ao me despedir das garotas deixando-as no metrô, como um bom cavalheiro que o velho Jack me ensinou a ser, resolvi seguir o caminho pra casa sozinho, como sempre fazia nessas noites quentes de primavera. Sabia que esse bairro era violento, mas eu nasci e cresci aqui. Nunca imaginaria que algo iria acontecer comigo.
Ainda mais porque nessa noite eu teria uma surpresa. Uma grande e alegre surpresa ao ver meu pai me esperando, ao lado de seu novo carro. Ele conseguiu uma folga e veio me buscar para um passeio. Corri e o abracei sorrindo. Entramos no carro e pegamos a Quinta Avenida a caminho do Central Park. Foi ali, antes de sair da cozinha, que aconteceu...
— Sai do carro, moço. — uma arma batia no vidro e um homem de casaco preto tentava ser discreto. Meu pai me disse pra ficar calmo e fazer o que ele mandava e então saímos do veículo.
Vi que junto ao homem de casaco tinha outro, estranhamente vestido com uma máscara branca e segurando duas adagas orientais. Meu pai conversava com eles em voz baixa, para que eu não ouvisse o que dizia. Mas nada me tira da cabeça que ele conhecia aqueles dois e que aquilo não era um simples assalto.
De repente meu pai acerta um soco no homem de casaco e o desarma. Cria-se uma confusão no trânsito e alguns carros batem. “Corre Matt!”, grita meu pai. Hesitei um pouco, mas logo corri em direção a uma rua estreita. O mascarado meu seguiu. Não podia ver direito, só pensava em escapar. Saltei por umas caçambas e pulei desajeitadamente uma cerca de alambrado vindo a cair no chão do outro lado, machucando o braço esquerdo. O mascarado era rápido, e logo já estava de pé na minha frente.
Um chute seu eu senti. Parecia rir. Depois me puxou pela roupa, me colocando em pé junto à cerca, fazendo malabarismos com suas adagas. Num impulso, eu o golpeei e tirei sua máscara. Seu olhar era de pura demência. Um rosto que nunca irei esquecer... pois seria o último rosto que veria.
Insultado ou sei lá o quê, por eu ter visto seu rosto, ele me jogou no chão, com chutes e joelhadas me arrastou até um amontoado de lixo, onde me puxou pelo pescoço e com sua adaga cuidou para que eu não delatasse seu rosto para quem quer que fosse.
Ele furou meus olhos.
Tamanha dor que me tirou os sentidos. Antes de apagar só pude ouvir o som de sirenes da polícia, que certamente o impediram de fazer algo pior comigo. Enquanto rezava a todos os santos de Deus, ouvia vozes desconcertantes de horror e pena. Quando acordei estava num leito de hospital, uma faixa sobre meu rosto e a mais completa escuridão.
— Oh, Matt... me desculpe... — a voz do meu pai carregava tamanha dor que parecia superar a que senti naquela noite. Os médicos disseram que um transplante de córneas era impossível, dado a gravidade do ferimento. Por sorte fui resgatado a tempo, senão sangraria até a morte.
Eu mal poderia imaginar que a situação dali em diante só poderia piorar.
A situação financeira do meu pai não estava boa. Ele me disse que seus agentes o roubaram, mas creio que era algo bem diferente. Aqueles dois homens eram de alguma máfia ou coisa parecida e meu pai lhes devia dinheiro. Aos poucos, ele perdeu seus patrocinadores, seus contratos de publicidade e as chances de competir novamente. Ele começou a beber. E isso não o ajudava em nada a sustentar um filho deficiente.
Certo dia, o cheiro de uísque estava por toda parte quando cheguei em casa. Móveis fora de lugar e um cheiro estranho, que mais tarde eu saberia se tratar de pólvora. Um turbilhão de pensamentos me levava a uma única pergunta: onde está meu pai? Corri até seu quarto onde um cheiro de ferro com alguma coisa podre me chamou a atenção enquanto percebi estar pisando num líquido viscoso. Sangue.
Meu pai estava estirado na cama. Um velho trinta e oito ao seu lado, um único cartucho vazio no tambor. Diriam que ele se matou. Na hora, eu acreditei nisso... Até no momento do enterro... o enterro de um suicida, sem honras ou ritos tradicionais... Pois os padres diziam que ele não iria para o céu. E na sua grande caridade, me disseram que tinham pena desse garoto cego e órfão, e que me dariam abrigo e ajuda. Como se eu quisesse ajuda de quem ofendeu meu pai daquela forma. Foi quando a igreja ganhou meu desprezo.
Naquele dia, saindo do cemitério sem ter aonde ir. Sem querer ir para a casa de amigos ou parentes, apenas querendo vagar sem rumo, num mundo de trevas e de abandono, enquanto minha bengala tateava parcamente meu caminho, ouvi uma voz velha e cansada, que me daria um rumo a seguir:
— Por que chora, menino? Acaso seus dias são mais amaldiçoados do que os do velho carvalho, sozinho na campina, vendo seus galhos secarem ao sol enquanto os cupins lhe comem o ventre?
— O quê?! — respondi deixando claro que não entendi nada... e ainda não entendo até hoje.
— Ou como desse velho índio, que se fosse em outros tempos seria chefe em uma aldeia e teria uma grande e bela família, mas agora tem que mendigar uma migalha de pão porque suas pernas e seus braços não agüentam mais o trabalho no campo?
— Me deixe em paz, seu louco. — Mas ele não deixou, e continuou com seu falatório interminável até conseguir me fazer sentar na barraca de papelão que chamava de casa.
— Me chamam hoje de Stick. — disse ele. — E acho que posso te ajudar, Matt.
— Como sabe meu nome? — disse com surpresa.
— Sei de muitas coisas, meu jovem. E tenho aqui algo que pode mudar sua vida e te dar ferramentas para fazer justiça em nome de seu pai.
As lembranças são interrompidas quando o celular de Matt toca. Ele o retira de um bolso no uniforme vermelho e vê que é uma mensagem na caixa postal de seu amigo Foggy Nelson, preocupado com seu paradeiro. Matt então recoloca sua máscara e segue o caminho de volta pra casa.
Num outro lugar, um homem de meia idade, longos cabelos ao ombro, robusto e vestido com um roupão marrom aprecia uma taça de conhaque em sua poltrona de frente a lareira enquanto ouve Also Sprach Zarathustra de Richard Strauss. Para todos, este homem é conhecido apenas como o Coruja. Sua paz é interrompida quando as portas de carvalho de sua elegante sala se abrem.
— Boa noite, senhor. — o Coruja se espanta com o cumprimento, sabendo que tamanha arrogância na voz só poderia vir de uma pessoa. E se voltando em sua poltrona, viu que era verdade, pois estava ali em sua porta um velho oriental, usando terno preto e com um vistoso anel brilhando em seu dedo. O mais estranho é o Coruja temer aquela figura de tal forma, mesmo sem saber seu nome. Se levantando do seu conforto, o chefe do crime diz:
— Não esperava você aqui tão cedo.
— Está quase na hora de acertar as contas com a irmandade. — responde o oriental com sua peculiar arrogância.
— Ainda não recebi o que me prometeram. O controle absoluto do submundo ainda não é meu. Aquele... aquele que se chama de “Rei” está crescendo com força.
— Lhe demos as armas, os meios... só lhe falta a força. Mas isso não podemos dar. Tem que conseguir por si mesmo.
— Então me dê mais tempo. Até eu destruir o Rei.
— E por que não fez isso ainda?
— O que me sugere?
— Não estou aqui para dar sugestões. Mas você é esperto. É um jogador. Saberá o que fazer. — o velho então dá as costas de volta para a porta. — Está cercado de mercenários... saiba usá-los a seu favor. — diz antes de sair. O Coruja apenas permanece no som mórbido de sua música.
Penitenciária de Segurança Máxima da Ilha Ryker. Pela manhã.
Um homem franzino e na casa dos cinqüenta anos cruza os portões da prisão a caminho de sua liberdade. Não é uma cena heróica, com seus ombros caídos e semblante cansado pelos anos de reclusão. Mas para este homem, o gosto da liberdade é como se estivesse no paraíso agora. Ainda que por um momento.
Ben Urick já fora um grande jornalista. Mas uma acusação promovida por um importante empresário e político o colocou no xadrez por longos oito anos. Dificilmente as portas do seu antigo jornal, o Clarim Diário, estariam abertas para ele agora. Ainda mais conhecendo seu editor, J Jonah Jamesson, um homem de muitas palavras e pouca piedade. Também a porta de sua casa não encontrará aberta, pois sua esposa pediu o divórcio após dois anos de ver seu marido preso.
— É... — diz Ben colocando um novo chiclete na boca. — Voltamos à estaca zero. Bem... vamos lá... — ele coloca seu velho chapéu e admira o horizonte enquanto a barca da Ryker o leva ao continente.
Santa Mônica, Califórnia.
Ele a ama. Muito. Ele nunca amou alguém assim na vida. Nem a ele mesmo. Pequena Elizabeth. Ele pode sentir seu cheiro. Seu doce perfume de flores do campo. O sexo nunca foi tão bom como nesta noite. Mesmo com sua frieza dos últimos tempos. Desculpa, ele diz. Não queria te machucar. Não devia bater tão forte. Mas ele te ama muito. Só há um problema que ele se recusa a notar: ela não vai retribuir esse amor. Ela não vai sequer responder.
Porque ela está morta. Há três dias.
As moscas em sua boca não o impede de beijá-la uma última vez. Então ele se levanta da cama, deixa aquele quarto imundo, de sangue a fezes, de baratas a vermes, e pega mais uma cerveja na geladeira, passa a mão em seus longos cabelos deixando bem visível a grande cicatriz em sua testa e vai até a mesa da cozinha, onde seu celular apresenta uma mensagem dizendo assim:
“Olá Mercenário, aqui é o Coruja. Tenho um trabalho para você se estiver interessado. Cinco milhões. Ache e mate o Rei do Crime.”
O Mercenário sorri com o canto da boca. Pega seus pertences, que incluem um casaco, uma sacola de couro, um óculos e um par de luvas. Antes de sair de sua casa que fica na beira da estrada, ele dá uma última olhada para dentro enquanto tira do bolso um parafuso.
— Eu sempre vou te amar, Elizabeth. — e com precisão arremessa o parafuso até este perfurar o cano de gás. Depois ele monta em sua moto e arranca. E quando chega a certa distância, ele ouve sua casa explodir e vê no retrovisor a nuvem de fumaça subir. — Sempre vou te amar...
Continua...
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+ comentários + 4 comentários
Esse primeiro capítulo mostra muito bem o quanto esse Demolidor é diferente e superior ao original!
Gostei bastante da relação do Matt com a igreja, muito mais atual e que soa verdade nos dias de hoje, totalmente de acordo com o visual que o heróis resolve adotar.
Os personagens são bem mostrados nesse primeiro capítulo, mas o grande destaque foi para nojento do Mercenário!
Vai ser demais quando eles baterem de frente!
Meus parabéns Anderson! Excelente estréia!!
Um abraço e até mais!!
Mas que Puxa, Anderson!
Muito bom mesmo. Mesmos sendo totalmente diferente, deu até saudades de ler as hqs do demolidor (da época que ainda comprava)...
Gostei muito da origem dele sem aquelas frangolices que coisas radiotivas. Com certeza o grande destaque vai para o Mercenário, mas o que me chamou atenção é o Ben Urick, um personagem que eu sempre gostei no universo marvel, quero ver o que vai ele arrumar aí nessa história.
O Mercenário ta demais mesmo...
Parabéns,
Tá excelente essa história!
Abraços.
brrrrrr... calafrios lendo esse texto... muito bom, muito bom mesmo.
Olá Andreson! Eheheh relí seu texto, que já havia lidaanterirmente no fórum... Cara, bom demais sua versão do Ddemolidor!! Tadinho do Matt, aina pequeno sofrer um duro golpe coma perda da visão... tenho certeza que foi o Mercenário rssrs...
Mas.. cadê a continuação??
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