Ainda na busca por sua irmã, Revolt precisa de tempo até Eugênio hackear o laptop de Jezebel. Isso lhe condece um dia de paz, para respirar antes do confronto final ao lado de sua namorada Daniella.
Capítulo 4: “Um tempo pra respirar”.
Por: Anderson Oliveira
— ... Agora vamos para o Globocop com a repórter Maria Júlia Coutinho. Onde você está, Maria?
— Chico, estamos sobrevoando o Jardim São Luiz, mais conhecido como a favela do Tijuco Preto, no Itaim Paulista, onde nessa madrugada uma casa que abrigava traficantes de mulheres explodiu. O fogo só não se espalhou para as casas ao lado porque chovia na região.
— E já sabem a causa da explosão, Maria?
— Olha Chico... testemunhas dizem que um motoqueiro invadiu o local e libertou as garotas que estavam cativas. Os bombeiros ainda encontraram vestígios do que seria uma granada de uso militar.
— Então esse tal motoqueiro, ao que parece, foi lá libertar essas moças que estavam presas, e para acabar de vez com o tráfico de mulheres, ele explodiu a casa?
— Tudo indica que sim, Chico. A polícia confirma que um justiceiro motorizado foi visto na favela nos últimos dias. Desde então três pontos de tráfico foram estourados, os traficantes foram encontrados com ferimentos à bala e anteontem dois carros da PM se envolveram numa perseguição com o próprio justiceiro. Chico Pinheiro:
— É... parece que alguém resolveu fazer justiça com as próprias mãos... Mas vamos mudar de assunto: O repórter Márcio Canuto foi até o bairro do Brooklin onde pessoas dizem ter presenciado uma luta entre super seres... [1]
“Assisto ao noticiário enquanto minha mãe esquenta minha marmita, já que hoje tenho um dia de folga. O que é uma pena, pois o motivo dessa folga é o falecimento da filha do Sr. Batista. Pobre homem, ele não merecia isso. Talvez eu deva ir ao cemitério... Melhor não... cemitérios não me fazem nada bem.
Ainda mais com a notícia que vi no jornal. Fui inconsequente demais ao ter puxado aquela granada. Por muita sorte o fogo não se alastrou. Mas não tive sorte nenhuma ao ver que o Revolt começa a ficar em evidência. Dá pra ouvir o helicóptero da Globo passando aqui em cima. Se eu ainda fosse criança estaria lá na rua para ver de perto! Seria tão bom ter essa inocência!
Mas eu cresci antes do tempo. A criança que eu fui morreu quando vi meu pai ausente. Quando fui obrigado a largar os estudos e o lazer para trabalhar. Um tempo no exército só tirou o último vestígio da criança que existia em mim. Ver um povo na miséria lá no Haiti me fez abrir os olhos: meu povo precisa de ajuda também.
Além disso, tem Marisa. Falta muito pouco! Então... dane-se que a mídia, que a polícia, que todos saibam que um motoqueiro maluco está acabando com os bandidos! Revolt continuará a agir enquanto Marisa não estiver à salva... E enquanto esse canalha do D pensar que é o rei.”
— Aqui está, querido!
— Obrigado, mãe! — Marcelo recebe de sua mãe o almoço.
— O que mais falaram da explosão? — pergunta Dona Sílvia.
— Nada... nada de novo... Dizem que foi um justiceiro aí... — Marcelo responde com medo de deixar transparecer seu envolvimento com o caso.
— É verdade que lá existia uma casa de luz vermelha? E também traficavam gente?!
— É o que disseram.
— Que horrível! Meu medo é que sua irmã tenha caído nessas armadilhas... — Marcelo olha com susto para sua mãe. — Mas Deus é grande e a colocou num negócio sério! Estranho que ela ainda não telefonou...
— Deve... deve ser porque é difícil ligar do estrangeiro... mãe... — argumenta Marcelo. — Ela nem deve saber usar esses códigos todos... Lembra quando eu tava lá no Haiti?
— Nem me lembre, filho! Você no meio daquela guerra! Meu coração ficava na mão sempre que via notícias de lá.
— Não era uma guerra, mãe. Era uma força de paz--
— Não é a mesma coisa, filho?
— Não mãe... eu já disse que-- — enquanto Marcelo falava, seu irmão Eugênio entra pela porta.
— Olá, Eugênio! Como foi na escola, querido?
— Normal, mãe... O que tem de mistura hoje?!
— Mandioca frita, filho... Lave as mãos enquanto eu-- — Dona Sílvia entra na cozinha.
— E aí? — diz Marcelo.
— O laptop tá no quarto... Depois do almoço a gente vai lá. — responde Eugênio atento para que sua mãe não o escute. Minutos depois, do quarto dos rapazes: — Deixei escondido debaixo dos cobertores, pra mãe não achar.
— Junto com aquelas revistas de mulher pelada?
— É... Ei! Como você sabe?!
— Fica tranquilo, Eugênio! Normal isso! Mas então... procura aí pelo paradeiro da Marisa.
— Droga... tem uma senha pra entrar no Windows! Vou ter que fazer uns truquezinhos! — Eugênio tecla na máquina com grande agilidade. — Pronto! Agora é só fazer uma busca...
— Fácil assim?
— Você acha que alguém que vive num puteiro pode fazer grandes coisas com um computador? Vejamos... Tsc... esquece o que eu disse... os arquivos são protegidos com senhas... Isso pode levar horas...
— Tá... enquanto isso eu vou dar um rolê por aí... Preciso por as ideias em ordem. Me liga quando descobrir algo. — Marcelo pega sua jaqueta de couro e seu celular e sai do quarto.
“Na rua posso perceber algo novo no ar. A movimentação da imprensa e da polícia graças à explosão da casa de Jezebel causou reações diversas nos moradores da favela. Os mais antigos, de suas calçadas em rodinhas de amigos exaltam a ação do motoqueiro misterioso, que está fazendo o que a polícia já deveria ter feito.
Já aqueles que de certa forma estão envolvidos com as ações criminosas de Criminal D, o que não é uma parcela pequena, já que muitos comem na sua mão, temem a ação da polícia na favela. Eles têm medo que a polícia resolva dar batidas nas casas em busca do tal justiceiro. O que é uma possibilidade.
Se resolverem fazer isso naquela casa velha e abandonada da esquina... logo ao lado de um terreno baldio coberto pelo mato, encontrarão o meu traje de Revolt, a minha moto de rali, as granadas e muita sucata. Mas nenhuma evidência que associe esses objetos a mim. Posso ficar sossegado. O problema é se me pegarem enquanto eu estiver dentro da roupa... aí é o fim.
Ando até um extremo da rua, cumprimentando meus vizinhos amigos. Depois de dar uma discreta vistoria na casa abandonada volto pelo mesmo caminho, só que pela outra calçada. Mais uma vez cumprimento as pessoas... a Dona Jussara até me oferece um café! Como recusar?! Mas tenho pena dela... ela não sabe que seu filho mais novo tá no tráfico... Tsc.
Depois de tomar meu café, continuo minha caminhada pela rua onde cresci. Porém, apesar desse povo ser honesto e de bem com a vida, sempre a polícia acha que somos bandidos. Sendo assim, uma das muitas viaturas que circulam pelo bairro resolve parar. Claro, um cara negro com jaqueta de couro andando sozinho chama a atenção desses meganhas...”
— Os documentos, por favor! — diz um PM que sai da viatura. Marcelo calmamente tira sua carteira. O policial, com ares de mau-humor, verifica os documentos de Marcelo. Porém ao ver sua credencial de militar, seu rosto logo muda de figura: — Desculpe o incômodo, Sargento Bastos! Sabe como é? É a rotina...
— Sei... tô acostumado... Qualquer neguinho é suspeito... Até saberem que esse neguinho é sargento do exército... Não é... soldado... Pires? — Marcelo lê o nome do policial no seu uniforme. Este entende sua mensagem e abaixa os olhos.
— Tenha um bom dia! — o policial Pires entra na viatura. Marcelo observa o carro sair com um ar de indignação.
— Assassinos! — diz consigo mesmo. Então, distraído, dá meia volta se deparando com o rosto da mulher por qual está apaixonado: — Dani?
— Oi, amor! — a jovem skatista se atira em seus braços lhe dando um beijo. Depois abre seu lindo sorriso dizendo: — Que surpresa! Não foi trabalhar hoje?!
— Pois é... O escritório tá fechado.
— E você nem pra ir lá em casa! — Daniella lhe dá um tapinha no ombro. — A gente quase não se vê! Você trabalha o dia inteiro e de noite eu vou pra escola! Deveria aproveitar essa folga!
— Verdade... desculpa... Resolvi dormir um pouco. Mas agora eu sou todo seu!
— Agora eu tô indo no Centro Comunitário dar umas voltas! Vamos lá?
— Claro! Sempre quis ver minha gatinha radical dando suas manobras! — Marcelo e Daniella começam a caminhar. Minutos depois, os dois chegam ao Centro Comunitário. Lá, funcionários da prefeitura fazem medições:
— Olha lá... eles vão acabar com o centro pra fazer um depósito! — diz Daniella com decepção no semblante.
— Sério?! — pergunta Marcelo.
— É... Mas isso não tá certo. Esse é um dos poucos lugares de lazer por aqui. Se acabarem com as oficinas de artes e a parte esportiva onde essas crianças vão ficar? Na rua?
— Conheço esse seu olhar... Tá pensando em fazer o quê?
— Alguma coisa pra salvar o centro... Deixa estar! Agora vem: vou te mostrar meu quinhentos e quarenta!
“Puxa... essa garota me surpreende a cada dia! Sua determinação quando se depara com um desafio é algo grandioso! Como se não bastasse ser linda como uma deusa... Pelo menos nisso Deus me abençoou! Agora ela anda com seu skate... Ela é fera nisso! Merecia estar no profissional...”
O tempo passa enquanto Marcelo curte esse tempo a sós com Daniella. Três horas depois, o celular de Marcelo toca:
— Eugênio? E aí...? Beleza... Tô indo pra casa...
— O que foi? Problemas? — Daniella pergunta.
— Não... é que o meu irmão tá precisando de mim...
— Sei como é... As vezes o Mateus é tão chato! Bom... então vamos!
Minutos depois o casal chega a sua rua. Daniella se despede do namorado entrando em sua casa sendo recebida pelos dois cachorros. Marcelo então sem mais demoras vai até a presença do seu irmão:
— Pra onde aqueles desgraçados mandaram Marisa?!
— Tenho uma boa e uma má notícia... Quer qual primeiro? — responde Eugênio com o laptop no colo:
— A boa.
— Ela está na favela... o tempo todo esteve aqui!
— Isso que dizer que...
— Essa é a má notícia... Ela tá na casa do D.
— Desgraçado! — Marcelo soca a parede com ódio. — Não vamos perder tempo... eu vou lá e...
— Se liga... D é cercado por capangas e é óbvio que o Revolt não será bem-vindo lá...
— Eu aturo...
— Calma cara... Cadê seu treinamento militar agora? Essa é hora para bolar um plano...
— Tem razão... Seria missão suicida. Certo... Então só tem um jeito de resolver isso... — tempo depois, no esconderijo de Revolt: — Preciso de armas... — diz Marcelo já com o traje.
— D tem armas... — Eugênio responde enquanto reabastece a moto com um galão de gasolina.
— Certo. Que tal pegar emprestado?
— E depois...?
— Tirar D do seu trono... — Marcelo sobe na moto.
— Boa sorte, Marcelo. — Eugênio aperta a mão do irmão.
— Valeu. Vou precisar... — dizendo isso, Revolt sai pela trilha que leva a favela.
Duas horas depois, às 19:57:
— Caraí--
— N-não... P-para!!
— Vai se fuder, porr-- Argh!!
— Lê... chama reforço! Aaaaahhhh!!
— Foda!! Ele me pegou!!
“Sim... eu peguei o moleque antes que pudesse fugir. Agora ele vai se juntar aos outros quatro que vigiavam esse depósito de armamento... Mas... Saco! É o Leandro... o filho da dona Jussara... Ele é da idade do Eugênio... e já tá metido nessa sujeira toda. Coitada da dona Jussara se souber... Um outro filho dela morreu num tiroteio entre gangues... Ela não merece esse desgosto.”
— Moleque... Você tem mãe? — Revolt pergunta para Leandro.
— T-tenho... — o medo em seu olhar já é costumeiro.
— E você não pensa nela quando se mete com esses caras?
— Q-que... te interessa?!
— O que ela vai pensar quando ver o filho baleado no meio da rua?
— Eu... sei lá... — Leandro abaixa os olhos.
— Então, se você não quiser que ela o veja assim, volta pra sua casa e nunca mais venha aqui... — Revolt o solta. O garoto recua com um estranho olhar... — Vai embora, moleque! — Revolt grita. Leandro corre assustado. — Tsc... Vamos às compras...
Revolt anda até as caixas e armários onde um número respeitoso de armas e munição fica guardado. Como bom conhecedor desse material, Revolt logo nota que a maioria são armas de uso militar.
Certificando que estão carregadas ele pega duas pistolas 9mm Taurus e as guarda em seus coldres internos. Em seguida monta e carrega um fuzil AR-15, uma 12mm e uma sub-metralhadora Beretta, as pendurando em seu corpo com suas alças apropriadas. Depois enche seus bolsos internos com pentes de munição. Já de saída repara em outra arma mantida isolada:
— Uma 45?! Vocês têm uma 45?! — diz admirado com a arma que vê, e logo a pega também. Em seguida deixa o local com os quatro bandidos caídos no chão.
Enquanto isso, na casa de Criminal D:
— Metralha... ainda bem que conseguiu sai fora de lá... — D recebe um de seus mais perigosos capangas.
— Sabe que eu nunca esquento lugar no xadrez! — Metralha-7, um homem forte e coberto com tatuagens e cicatrizes. Usando um gorro de lã verde e inusitados suspensórios roxos para segurar suas calças marrons. — Tô sabendo que um piá tá dando uma de herói por aqui...
— Nem fala... Mas deixa que eu vou pegar esse cuzão!
— Aí... porque te chamam de Metralha-7? — pergunta Jeremias que se levanta de um sofá interrompendo a conversa.
— Por causa disso... — Metralha-7 lhe mostra a parte de trás da cabeça com várias marcas. — Levei sete tiros na cabeça e tô aqui!
— Minha nossa! — exclama Jeremias, ainda analisando se essa história é verdade.
— Jeremias... cê tem algo pra resolver, não é não? — diz D com um olhar insatisfeito.
— Já tô indo... O carregamento chega em uma hora... — Jeremias abre a porta. Lá fora o espera seu guarda-costas, Pé-de-Boi.
— Aí... é verdade aquilo que falam desses dois? — pergunta Metralha pegando uma cerveja que estava sobre a mesa.
— Sei lá... deve ser...
— Que bizarro! Mas aí... desde que cheguei tô ouvindo voz de mulher... E sabe como é... cadeia, sem ninguém...
— Sei...
— Então... daria pra--
— Pode escolher lá... Fica a vontade!
— Valeu, amigão! — Metralha deixa a cerveja e vai até um quarto abrindo a porta. Com isso as quatro garotas que lá estão se assustam. — Hmm... Gostei dessa moreninha aqui... — Metralha entra e puxa um das garotas pelo braço. — Qual teu nome, gata? Responde!
— M-marisa...
— Hmm... Gostei!
Nisso...
“A casa de D é aquela do topo. Tenho dois jeitos de chegar lá: o primeiro é por aquela viela que não tem iluminação, mas pra isso vou ter que deixar a moto aqui. O outro jeito é subir com tudo pela rua... Mas isso vai atrair a atenção dos capangas que estão distribuídos pelos bares e barracos por todo o caminho... Ninguém falou que seria fácil.”
______________
[1] – Aconteceu em Esquadrão M #4
Conclui a seguir...
Por: Anderson Oliveira
— ... Agora vamos para o Globocop com a repórter Maria Júlia Coutinho. Onde você está, Maria?
— Chico, estamos sobrevoando o Jardim São Luiz, mais conhecido como a favela do Tijuco Preto, no Itaim Paulista, onde nessa madrugada uma casa que abrigava traficantes de mulheres explodiu. O fogo só não se espalhou para as casas ao lado porque chovia na região.
— E já sabem a causa da explosão, Maria?
— Olha Chico... testemunhas dizem que um motoqueiro invadiu o local e libertou as garotas que estavam cativas. Os bombeiros ainda encontraram vestígios do que seria uma granada de uso militar.
— Então esse tal motoqueiro, ao que parece, foi lá libertar essas moças que estavam presas, e para acabar de vez com o tráfico de mulheres, ele explodiu a casa?
— Tudo indica que sim, Chico. A polícia confirma que um justiceiro motorizado foi visto na favela nos últimos dias. Desde então três pontos de tráfico foram estourados, os traficantes foram encontrados com ferimentos à bala e anteontem dois carros da PM se envolveram numa perseguição com o próprio justiceiro. Chico Pinheiro:
— É... parece que alguém resolveu fazer justiça com as próprias mãos... Mas vamos mudar de assunto: O repórter Márcio Canuto foi até o bairro do Brooklin onde pessoas dizem ter presenciado uma luta entre super seres... [1]
“Assisto ao noticiário enquanto minha mãe esquenta minha marmita, já que hoje tenho um dia de folga. O que é uma pena, pois o motivo dessa folga é o falecimento da filha do Sr. Batista. Pobre homem, ele não merecia isso. Talvez eu deva ir ao cemitério... Melhor não... cemitérios não me fazem nada bem.
Ainda mais com a notícia que vi no jornal. Fui inconsequente demais ao ter puxado aquela granada. Por muita sorte o fogo não se alastrou. Mas não tive sorte nenhuma ao ver que o Revolt começa a ficar em evidência. Dá pra ouvir o helicóptero da Globo passando aqui em cima. Se eu ainda fosse criança estaria lá na rua para ver de perto! Seria tão bom ter essa inocência!
Mas eu cresci antes do tempo. A criança que eu fui morreu quando vi meu pai ausente. Quando fui obrigado a largar os estudos e o lazer para trabalhar. Um tempo no exército só tirou o último vestígio da criança que existia em mim. Ver um povo na miséria lá no Haiti me fez abrir os olhos: meu povo precisa de ajuda também.
Além disso, tem Marisa. Falta muito pouco! Então... dane-se que a mídia, que a polícia, que todos saibam que um motoqueiro maluco está acabando com os bandidos! Revolt continuará a agir enquanto Marisa não estiver à salva... E enquanto esse canalha do D pensar que é o rei.”
— Aqui está, querido!
— Obrigado, mãe! — Marcelo recebe de sua mãe o almoço.
— O que mais falaram da explosão? — pergunta Dona Sílvia.
— Nada... nada de novo... Dizem que foi um justiceiro aí... — Marcelo responde com medo de deixar transparecer seu envolvimento com o caso.
— É verdade que lá existia uma casa de luz vermelha? E também traficavam gente?!
— É o que disseram.
— Que horrível! Meu medo é que sua irmã tenha caído nessas armadilhas... — Marcelo olha com susto para sua mãe. — Mas Deus é grande e a colocou num negócio sério! Estranho que ela ainda não telefonou...
— Deve... deve ser porque é difícil ligar do estrangeiro... mãe... — argumenta Marcelo. — Ela nem deve saber usar esses códigos todos... Lembra quando eu tava lá no Haiti?
— Nem me lembre, filho! Você no meio daquela guerra! Meu coração ficava na mão sempre que via notícias de lá.
— Não era uma guerra, mãe. Era uma força de paz--
— Não é a mesma coisa, filho?
— Não mãe... eu já disse que-- — enquanto Marcelo falava, seu irmão Eugênio entra pela porta.
— Olá, Eugênio! Como foi na escola, querido?
— Normal, mãe... O que tem de mistura hoje?!
— Mandioca frita, filho... Lave as mãos enquanto eu-- — Dona Sílvia entra na cozinha.
— E aí? — diz Marcelo.
— O laptop tá no quarto... Depois do almoço a gente vai lá. — responde Eugênio atento para que sua mãe não o escute. Minutos depois, do quarto dos rapazes: — Deixei escondido debaixo dos cobertores, pra mãe não achar.
— Junto com aquelas revistas de mulher pelada?
— É... Ei! Como você sabe?!
— Fica tranquilo, Eugênio! Normal isso! Mas então... procura aí pelo paradeiro da Marisa.
— Droga... tem uma senha pra entrar no Windows! Vou ter que fazer uns truquezinhos! — Eugênio tecla na máquina com grande agilidade. — Pronto! Agora é só fazer uma busca...
— Fácil assim?
— Você acha que alguém que vive num puteiro pode fazer grandes coisas com um computador? Vejamos... Tsc... esquece o que eu disse... os arquivos são protegidos com senhas... Isso pode levar horas...
— Tá... enquanto isso eu vou dar um rolê por aí... Preciso por as ideias em ordem. Me liga quando descobrir algo. — Marcelo pega sua jaqueta de couro e seu celular e sai do quarto.
“Na rua posso perceber algo novo no ar. A movimentação da imprensa e da polícia graças à explosão da casa de Jezebel causou reações diversas nos moradores da favela. Os mais antigos, de suas calçadas em rodinhas de amigos exaltam a ação do motoqueiro misterioso, que está fazendo o que a polícia já deveria ter feito.
Já aqueles que de certa forma estão envolvidos com as ações criminosas de Criminal D, o que não é uma parcela pequena, já que muitos comem na sua mão, temem a ação da polícia na favela. Eles têm medo que a polícia resolva dar batidas nas casas em busca do tal justiceiro. O que é uma possibilidade.
Se resolverem fazer isso naquela casa velha e abandonada da esquina... logo ao lado de um terreno baldio coberto pelo mato, encontrarão o meu traje de Revolt, a minha moto de rali, as granadas e muita sucata. Mas nenhuma evidência que associe esses objetos a mim. Posso ficar sossegado. O problema é se me pegarem enquanto eu estiver dentro da roupa... aí é o fim.
Ando até um extremo da rua, cumprimentando meus vizinhos amigos. Depois de dar uma discreta vistoria na casa abandonada volto pelo mesmo caminho, só que pela outra calçada. Mais uma vez cumprimento as pessoas... a Dona Jussara até me oferece um café! Como recusar?! Mas tenho pena dela... ela não sabe que seu filho mais novo tá no tráfico... Tsc.
Depois de tomar meu café, continuo minha caminhada pela rua onde cresci. Porém, apesar desse povo ser honesto e de bem com a vida, sempre a polícia acha que somos bandidos. Sendo assim, uma das muitas viaturas que circulam pelo bairro resolve parar. Claro, um cara negro com jaqueta de couro andando sozinho chama a atenção desses meganhas...”
— Os documentos, por favor! — diz um PM que sai da viatura. Marcelo calmamente tira sua carteira. O policial, com ares de mau-humor, verifica os documentos de Marcelo. Porém ao ver sua credencial de militar, seu rosto logo muda de figura: — Desculpe o incômodo, Sargento Bastos! Sabe como é? É a rotina...
— Sei... tô acostumado... Qualquer neguinho é suspeito... Até saberem que esse neguinho é sargento do exército... Não é... soldado... Pires? — Marcelo lê o nome do policial no seu uniforme. Este entende sua mensagem e abaixa os olhos.
— Tenha um bom dia! — o policial Pires entra na viatura. Marcelo observa o carro sair com um ar de indignação.
— Assassinos! — diz consigo mesmo. Então, distraído, dá meia volta se deparando com o rosto da mulher por qual está apaixonado: — Dani?
— Oi, amor! — a jovem skatista se atira em seus braços lhe dando um beijo. Depois abre seu lindo sorriso dizendo: — Que surpresa! Não foi trabalhar hoje?!
— Pois é... O escritório tá fechado.
— E você nem pra ir lá em casa! — Daniella lhe dá um tapinha no ombro. — A gente quase não se vê! Você trabalha o dia inteiro e de noite eu vou pra escola! Deveria aproveitar essa folga!
— Verdade... desculpa... Resolvi dormir um pouco. Mas agora eu sou todo seu!
— Agora eu tô indo no Centro Comunitário dar umas voltas! Vamos lá?
— Claro! Sempre quis ver minha gatinha radical dando suas manobras! — Marcelo e Daniella começam a caminhar. Minutos depois, os dois chegam ao Centro Comunitário. Lá, funcionários da prefeitura fazem medições:
— Olha lá... eles vão acabar com o centro pra fazer um depósito! — diz Daniella com decepção no semblante.
— Sério?! — pergunta Marcelo.
— É... Mas isso não tá certo. Esse é um dos poucos lugares de lazer por aqui. Se acabarem com as oficinas de artes e a parte esportiva onde essas crianças vão ficar? Na rua?
— Conheço esse seu olhar... Tá pensando em fazer o quê?
— Alguma coisa pra salvar o centro... Deixa estar! Agora vem: vou te mostrar meu quinhentos e quarenta!
“Puxa... essa garota me surpreende a cada dia! Sua determinação quando se depara com um desafio é algo grandioso! Como se não bastasse ser linda como uma deusa... Pelo menos nisso Deus me abençoou! Agora ela anda com seu skate... Ela é fera nisso! Merecia estar no profissional...”
O tempo passa enquanto Marcelo curte esse tempo a sós com Daniella. Três horas depois, o celular de Marcelo toca:
— Eugênio? E aí...? Beleza... Tô indo pra casa...
— O que foi? Problemas? — Daniella pergunta.
— Não... é que o meu irmão tá precisando de mim...
— Sei como é... As vezes o Mateus é tão chato! Bom... então vamos!
Minutos depois o casal chega a sua rua. Daniella se despede do namorado entrando em sua casa sendo recebida pelos dois cachorros. Marcelo então sem mais demoras vai até a presença do seu irmão:
— Pra onde aqueles desgraçados mandaram Marisa?!
— Tenho uma boa e uma má notícia... Quer qual primeiro? — responde Eugênio com o laptop no colo:
— A boa.
— Ela está na favela... o tempo todo esteve aqui!
— Isso que dizer que...
— Essa é a má notícia... Ela tá na casa do D.
— Desgraçado! — Marcelo soca a parede com ódio. — Não vamos perder tempo... eu vou lá e...
— Se liga... D é cercado por capangas e é óbvio que o Revolt não será bem-vindo lá...
— Eu aturo...
— Calma cara... Cadê seu treinamento militar agora? Essa é hora para bolar um plano...
— Tem razão... Seria missão suicida. Certo... Então só tem um jeito de resolver isso... — tempo depois, no esconderijo de Revolt: — Preciso de armas... — diz Marcelo já com o traje.
— D tem armas... — Eugênio responde enquanto reabastece a moto com um galão de gasolina.
— Certo. Que tal pegar emprestado?
— E depois...?
— Tirar D do seu trono... — Marcelo sobe na moto.
— Boa sorte, Marcelo. — Eugênio aperta a mão do irmão.
— Valeu. Vou precisar... — dizendo isso, Revolt sai pela trilha que leva a favela.
Duas horas depois, às 19:57:
— Caraí--
— N-não... P-para!!
— Vai se fuder, porr-- Argh!!
— Lê... chama reforço! Aaaaahhhh!!
— Foda!! Ele me pegou!!
“Sim... eu peguei o moleque antes que pudesse fugir. Agora ele vai se juntar aos outros quatro que vigiavam esse depósito de armamento... Mas... Saco! É o Leandro... o filho da dona Jussara... Ele é da idade do Eugênio... e já tá metido nessa sujeira toda. Coitada da dona Jussara se souber... Um outro filho dela morreu num tiroteio entre gangues... Ela não merece esse desgosto.”
— Moleque... Você tem mãe? — Revolt pergunta para Leandro.
— T-tenho... — o medo em seu olhar já é costumeiro.
— E você não pensa nela quando se mete com esses caras?
— Q-que... te interessa?!
— O que ela vai pensar quando ver o filho baleado no meio da rua?
— Eu... sei lá... — Leandro abaixa os olhos.
— Então, se você não quiser que ela o veja assim, volta pra sua casa e nunca mais venha aqui... — Revolt o solta. O garoto recua com um estranho olhar... — Vai embora, moleque! — Revolt grita. Leandro corre assustado. — Tsc... Vamos às compras...
Revolt anda até as caixas e armários onde um número respeitoso de armas e munição fica guardado. Como bom conhecedor desse material, Revolt logo nota que a maioria são armas de uso militar.
Certificando que estão carregadas ele pega duas pistolas 9mm Taurus e as guarda em seus coldres internos. Em seguida monta e carrega um fuzil AR-15, uma 12mm e uma sub-metralhadora Beretta, as pendurando em seu corpo com suas alças apropriadas. Depois enche seus bolsos internos com pentes de munição. Já de saída repara em outra arma mantida isolada:
— Uma 45?! Vocês têm uma 45?! — diz admirado com a arma que vê, e logo a pega também. Em seguida deixa o local com os quatro bandidos caídos no chão.
Enquanto isso, na casa de Criminal D:
— Metralha... ainda bem que conseguiu sai fora de lá... — D recebe um de seus mais perigosos capangas.
— Sabe que eu nunca esquento lugar no xadrez! — Metralha-7, um homem forte e coberto com tatuagens e cicatrizes. Usando um gorro de lã verde e inusitados suspensórios roxos para segurar suas calças marrons. — Tô sabendo que um piá tá dando uma de herói por aqui...
— Nem fala... Mas deixa que eu vou pegar esse cuzão!
— Aí... porque te chamam de Metralha-7? — pergunta Jeremias que se levanta de um sofá interrompendo a conversa.
— Por causa disso... — Metralha-7 lhe mostra a parte de trás da cabeça com várias marcas. — Levei sete tiros na cabeça e tô aqui!
— Minha nossa! — exclama Jeremias, ainda analisando se essa história é verdade.
— Jeremias... cê tem algo pra resolver, não é não? — diz D com um olhar insatisfeito.
— Já tô indo... O carregamento chega em uma hora... — Jeremias abre a porta. Lá fora o espera seu guarda-costas, Pé-de-Boi.
— Aí... é verdade aquilo que falam desses dois? — pergunta Metralha pegando uma cerveja que estava sobre a mesa.
— Sei lá... deve ser...
— Que bizarro! Mas aí... desde que cheguei tô ouvindo voz de mulher... E sabe como é... cadeia, sem ninguém...
— Sei...
— Então... daria pra--
— Pode escolher lá... Fica a vontade!
— Valeu, amigão! — Metralha deixa a cerveja e vai até um quarto abrindo a porta. Com isso as quatro garotas que lá estão se assustam. — Hmm... Gostei dessa moreninha aqui... — Metralha entra e puxa um das garotas pelo braço. — Qual teu nome, gata? Responde!
— M-marisa...
— Hmm... Gostei!
Nisso...
“A casa de D é aquela do topo. Tenho dois jeitos de chegar lá: o primeiro é por aquela viela que não tem iluminação, mas pra isso vou ter que deixar a moto aqui. O outro jeito é subir com tudo pela rua... Mas isso vai atrair a atenção dos capangas que estão distribuídos pelos bares e barracos por todo o caminho... Ninguém falou que seria fácil.”
______________
[1] – Aconteceu em Esquadrão M #4
Conclui a seguir...
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Passei mais prá cumprimentar você pela excelente capa Anderson!
A Dani ficou ainda mais linda colorida!
Quanto à história... Cadê os leitores?!!! Eles definitivamente não sabemo que estão perdendo!!
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