Ao se deparar com o Cla Kahama, Elektra precisa enfrentar os 47 Ronins, o grupo mais mortal de samurais de toda a história! E mais: Setsuko enfrenta Tsao, num duelo de titãs!
Elektra #3
Magatama: O Clã Kahama
Por Pedro Caldeira
China
Depois de perseguir aquela mulher idosa, mas muito poderosa, até a Ponte Curvada, Elektra ficou cega com o denso e repentino nevoeiro que cobriu o ambiente.
Tudo tremia. A ninja não tinha tocado no piso da construção; não conseguia ver para onde ir.
Mas ela enxerga o vulto da velha envolto na névoa. Seus olhos abrem mais do que o normal quando aquela figura que parecia frágil torna-se maior e mais forte, como uma mutação.
- Você teve a chance de morrer ou de se redimir, Arma Letal. Agora não tem como escapar da morte. O Clã Kahama veio ao seu encontro. Você será castigada pela traição.
Ao fim da frase, o nevoeiro se dissipa e não apenas uma pessoa é revelada, mas sim, sete.
Todos em posição de ataque e com armas em punho.
A única reação da assassina é sacar os sais e manter modo de defesa. Ela calcula o espaço: sete pessoas, todos numa ponte não muito larga. Eles estão armados como pinos de boliche, sendo que o guerreiro que antes era a velha está um pouco mais afastado do grupo.
- Somos o Clã Kahama, Arma Letal. Em outras palavras, somos os guerreiros de elite do império japonês. A divindade solar nos mandou aqui para recuperar a pedra roubada… e detê-la.
- Eu já disse que também estou atrás da pessoa que roubou o Orbe.
- Não tente nos enganar, tampouco realizar um Hotarubi No Jitsu [1]. Isso não vai funcionar. Somos samurais experientes e truques ninjas não mais dão certo.
Os cabelos de Elektra se prendem à boca.
- Sou Elektra, dissidente dos Virtuosos e do Tentáculo. Para quem já passou pelo que vivi, não temo vocês. Sete samurais não me assustam.
- Pois devia, Elektra. Apesar de você ter passado por dois dos mais poderosos clãs orientais, você esqueceu outros quatro. O mais importante: Yamato. Também Minamoto e Taira, que se diziam descendentes de algum Imperador, além do Fujiwara. Grandes clãs guerreiros.
Elektra analisa os inimigos.
- Nakama! [2] – depois do grito, os guerreiros desfazem a posição de ataque. Em seguida seis deles desaparecem com a volta do nevoeiro.
Tudo tremia. A ninja não tinha tocado no piso da construção; não conseguia ver para onde ir.
Mas ela enxerga o vulto da velha envolto na névoa. Seus olhos abrem mais do que o normal quando aquela figura que parecia frágil torna-se maior e mais forte, como uma mutação.
- Você teve a chance de morrer ou de se redimir, Arma Letal. Agora não tem como escapar da morte. O Clã Kahama veio ao seu encontro. Você será castigada pela traição.
Ao fim da frase, o nevoeiro se dissipa e não apenas uma pessoa é revelada, mas sim, sete.
Todos em posição de ataque e com armas em punho.
A única reação da assassina é sacar os sais e manter modo de defesa. Ela calcula o espaço: sete pessoas, todos numa ponte não muito larga. Eles estão armados como pinos de boliche, sendo que o guerreiro que antes era a velha está um pouco mais afastado do grupo.
- Somos o Clã Kahama, Arma Letal. Em outras palavras, somos os guerreiros de elite do império japonês. A divindade solar nos mandou aqui para recuperar a pedra roubada… e detê-la.
- Eu já disse que também estou atrás da pessoa que roubou o Orbe.
- Não tente nos enganar, tampouco realizar um Hotarubi No Jitsu [1]. Isso não vai funcionar. Somos samurais experientes e truques ninjas não mais dão certo.
Os cabelos de Elektra se prendem à boca.
- Sou Elektra, dissidente dos Virtuosos e do Tentáculo. Para quem já passou pelo que vivi, não temo vocês. Sete samurais não me assustam.
- Pois devia, Elektra. Apesar de você ter passado por dois dos mais poderosos clãs orientais, você esqueceu outros quatro. O mais importante: Yamato. Também Minamoto e Taira, que se diziam descendentes de algum Imperador, além do Fujiwara. Grandes clãs guerreiros.
Elektra analisa os inimigos.
- Nakama! [2] – depois do grito, os guerreiros desfazem a posição de ataque. Em seguida seis deles desaparecem com a volta do nevoeiro.
Restaurante japonês, subúrbio de Nova York
Sentado na porta do estabelecimento, Tsao olha o céu enquanto esfrega as mãos para espantar o frio repentino. Em sua cabeça passa a imagem de Elektra quando era treinada por ele e todas as ações dessa ninja que carrega um fardo.
Todas as proezas da Arma Letal são relembradas, inclusive algumas que não foram presenciadas pelo então mestre. Dentre elas está o lendário combate da assassina com milhares de ninjas em um deserto. O espantoso foi a vitória de Elektra, que encerrou o combate quase sem ferimentos.
Além disso, Tsao também se questionava sobre a natureza de Elektra; os sentimentos dela. Como alguém nascida para ser um poderoso instrumento numa grandiosa guerra poderia sorrir. Amar…
Então Tsao se levanta e entra no restaurante. Calmamente desce as escadas escuras que dão acesso ao porão onde estão guardadas diversas armas. Umas, a ninja levou consigo para a China.
O velho sensei levanta um compartimento secreto e retira uma lustrosa espada, cuja lâmina ainda estava escondida pela bainha de tom negro.
Seu corpo doía quando tentava fazer movimentos de ataque de defesa; ele já não era tão preciso quanto em sua época de guerreiro.
Mesmo assim Tsao ainda tem o saber de como manusear a espada.
Seus calmos movimentos são interrompidos por uma voz feminina.
- Bom saber que sua katana [3] ainda está afiada.
China
O único guerreiro que fica se aproxima mais da ninja sem sair da ponte. Em suas costas está o seu daikyu. [4]
Um pequeno gesto com a mão direita e 47 sombras surgem, depois de uma mutação entre o nevoeiro e o resquício físico dos outros guerreiros Kahama.
Em poucos instantes Elektra está no meio da roda. O distante homem sobre a ponte retira o arco.
- Estes são os 47 ronins [5], Arma Letal. Como você ousou enfrentar o Clã Kahama e ficar com a joia, é hora de pagar.
Os samurais sem dono usam a mesma armadura e todos os capacetes têm um brasão em comum, símbolo do antigo senhor. E topos carregam uma wakizashi. [6]
Elektra olha para a esquerda sem mexer a cabeça e sorri. O sangue quente a impulsiona e no salto mortal para trás ela se esquiva de um primeiro ataque de um dos oponentes. Antes de cair ela vira o corpo e crava uma arma sai no rosto daquele que lhe desferiu o golpe.
Com a outra arma ela se defende de uma espada que parece ter surgido do nada. Um giro simples com o pulso e a espada voa para longe. A ninja retribui, enfiando o sai no pescoço do ronin, que atravessa e passa pela nuca.
Outras dezenas investem de vez contra Elektra. Enquanto ampara diversas investidas com uma arma, a outra corta braços, perfura pernas e amputa mãos.
Nem mesmo os já caídos corpos intimidam Elektra. A sede, a vontade de matar esmaga qualquer sentimento racional, assim como os de piedade…
Um samurai erra o golpe e a espada fica apontada para baixo. A ninja chuta e a quebra, para logo em seguida cravar o sai na cabeça, que fica temporariamente preso no capacete.
Ela se afasta dando socos e chutes, atacando com a arma que lhe resta.
Os ronins não se intimidam e partem em outros grupos.
Na confusão a assassina é derrubada. Rapidamente ela se ajoelha e defende os golpes com um único sai.
Suas pernas ágeis trabalham e derrubam alguns guerreiros; tempo suficiente para ela se levantar e correr para pegar a outra arma branca.
No caminho é interceptada. Um novo duelo entre cinco espadas e um sai.
O trincar dos metais pode ser escutado de longe. Mais ainda o ruído do material sendo quebrado. E aqueles que têm uma audição aguçada ouvem corpos tombando.
A poça de sangue torna-se enorme naquela praça de cor cinza onde antes jovens e idosos buscavam a paz.
Assim que consegue arrancar a arma do capacete e ver rolar uma cabeça perto dos próprios pés, a ninja fecha os olhos.
Respira.
Não sente nenhuma dor; como se não tivesse sido atingida.
Não está ferida. Mas as veias das mãos saltam e o rosto está quente.
Outro grupo investe, gritando palavras de vingança.
Novamente o duelo, mas ela não está em desvantagem.
Sentado na porta do estabelecimento, Tsao olha o céu enquanto esfrega as mãos para espantar o frio repentino. Em sua cabeça passa a imagem de Elektra quando era treinada por ele e todas as ações dessa ninja que carrega um fardo.
Todas as proezas da Arma Letal são relembradas, inclusive algumas que não foram presenciadas pelo então mestre. Dentre elas está o lendário combate da assassina com milhares de ninjas em um deserto. O espantoso foi a vitória de Elektra, que encerrou o combate quase sem ferimentos.
Além disso, Tsao também se questionava sobre a natureza de Elektra; os sentimentos dela. Como alguém nascida para ser um poderoso instrumento numa grandiosa guerra poderia sorrir. Amar…
Então Tsao se levanta e entra no restaurante. Calmamente desce as escadas escuras que dão acesso ao porão onde estão guardadas diversas armas. Umas, a ninja levou consigo para a China.
O velho sensei levanta um compartimento secreto e retira uma lustrosa espada, cuja lâmina ainda estava escondida pela bainha de tom negro.
Seu corpo doía quando tentava fazer movimentos de ataque de defesa; ele já não era tão preciso quanto em sua época de guerreiro.
Mesmo assim Tsao ainda tem o saber de como manusear a espada.
Seus calmos movimentos são interrompidos por uma voz feminina.
- Bom saber que sua katana [3] ainda está afiada.
China
O único guerreiro que fica se aproxima mais da ninja sem sair da ponte. Em suas costas está o seu daikyu. [4]
Um pequeno gesto com a mão direita e 47 sombras surgem, depois de uma mutação entre o nevoeiro e o resquício físico dos outros guerreiros Kahama.
Em poucos instantes Elektra está no meio da roda. O distante homem sobre a ponte retira o arco.
- Estes são os 47 ronins [5], Arma Letal. Como você ousou enfrentar o Clã Kahama e ficar com a joia, é hora de pagar.
Os samurais sem dono usam a mesma armadura e todos os capacetes têm um brasão em comum, símbolo do antigo senhor. E topos carregam uma wakizashi. [6]
Elektra olha para a esquerda sem mexer a cabeça e sorri. O sangue quente a impulsiona e no salto mortal para trás ela se esquiva de um primeiro ataque de um dos oponentes. Antes de cair ela vira o corpo e crava uma arma sai no rosto daquele que lhe desferiu o golpe.
Com a outra arma ela se defende de uma espada que parece ter surgido do nada. Um giro simples com o pulso e a espada voa para longe. A ninja retribui, enfiando o sai no pescoço do ronin, que atravessa e passa pela nuca.
Outras dezenas investem de vez contra Elektra. Enquanto ampara diversas investidas com uma arma, a outra corta braços, perfura pernas e amputa mãos.
Nem mesmo os já caídos corpos intimidam Elektra. A sede, a vontade de matar esmaga qualquer sentimento racional, assim como os de piedade…
Um samurai erra o golpe e a espada fica apontada para baixo. A ninja chuta e a quebra, para logo em seguida cravar o sai na cabeça, que fica temporariamente preso no capacete.
Ela se afasta dando socos e chutes, atacando com a arma que lhe resta.
Os ronins não se intimidam e partem em outros grupos.
Na confusão a assassina é derrubada. Rapidamente ela se ajoelha e defende os golpes com um único sai.
Suas pernas ágeis trabalham e derrubam alguns guerreiros; tempo suficiente para ela se levantar e correr para pegar a outra arma branca.
No caminho é interceptada. Um novo duelo entre cinco espadas e um sai.
O trincar dos metais pode ser escutado de longe. Mais ainda o ruído do material sendo quebrado. E aqueles que têm uma audição aguçada ouvem corpos tombando.
A poça de sangue torna-se enorme naquela praça de cor cinza onde antes jovens e idosos buscavam a paz.
Assim que consegue arrancar a arma do capacete e ver rolar uma cabeça perto dos próprios pés, a ninja fecha os olhos.
Respira.
Não sente nenhuma dor; como se não tivesse sido atingida.
Não está ferida. Mas as veias das mãos saltam e o rosto está quente.
Outro grupo investe, gritando palavras de vingança.
Novamente o duelo, mas ela não está em desvantagem.
Restaurante japonês
Tsao vira o corpo com a arma em punho.
- Eu já esperava que você aparecesse, Setsuko.
- Então também espera a sua morte.
- Me matar não vai fazer com que Elektra se alie a você, nem ao Império do Sol.
Setsuko saca uma katana.
- Veremos. Não quero que ela tenha um conselheiro – e ataca Tsao.
As lâminas deslizando ferozmente ao se encontrarem causam um potente ruído. São duas espadas poderosas e especiais.
A de Tsao foi presente de um imperador japonês quando ele ainda integrava a tropa especial, feita de um material composto não apenas pelo ferro; ela tinha um brilho meio roxo.
- Quando servi a um dos seus filhos [7] eu nunca imaginei que você, quando voltasse, estivesse com os mesmos planos de séculos atrás!
As espadas continuam se chocando, e a cada toque, estragos por todo o porão.
- Você tem mais um motivo para não me enfrentar, Tsao. Você serve a mim!
- Servi! Numa época em que a paz e a prosperidade reinavam no Japão. Por isso vim para a América.
- Tolo! Suas palavras sonhadoras de nada vão adiantar!
Mesmo fraco, Tsao conseguiu impedir os ataques de Setsuko e arriscava investidas, que eram bruscamente interrompidas.
- Eu sou uma deusa, Tsao!
- Não! Você é a reencarnação de uma deusa! Você não tem todos os poderes místicos de uma deusa! Você é como o Eleito em Mu Fa!
- Como ousa?
- Sim! Ele era a reencarnação do imperador C’hin, um Filho Celeste, mas não tinha o poder dos deuses daquele país.
- O Eleito era um perdedor! E ele era a reencarnação de um homem que nem se sabe ao certo se era de família real. C’hin morreu sem saber se realmente era o Imperador Celestial! Mas eu sou a reencarnação de Amaterasu, a Deusa do Sol, Filha de Izanagi e Izanami!
- Então por que se passar por chinesa e auxiliar o plano de conquista dele?
- Porque estando em Mu Fa seria muito mais fácil para matá-lo, já que enganado ele já estava!
O duelo para e o silêncio paira.
- Tsao… Quando eu recuperar os símbolos imperiais do Japão e tiver Elektra ao meu lado, serei invencível!
- Você sabe que a ninja pode derrotá-la mesmo quando você receber os poderes, não é?
- Isso é impossível!
- Por que você acha que Elektra é a Arma Letal?
Setsuko grita e crava a espada no coração de Tsao. A lâmina atravessa o dorso daquele velho homem.
- Setsuko – ofegante – se Elektra conseguir unir os três símbolos antes de você, com certeza será o seu fim…
- Ela não vai conseguir! – num rápido golpe tira a espada e corta a cabeça do mestre – Você é meu vassalo, Tsao, e é isso o que acontece com quem trai o Império Solar.
Ponte Curvada
Gritos de dor pelos braços quebrados, pernas arrancadas e grandes e profundas feridas abdominais.
Dois ronins mais afastados recebem os sais arremessados: um na testa e o outro no coração. A ninja corre, salta, usa as armas inimigas como degraus, pula e cai sentada sobre os ombros e pescoço de um samurai, que logo perde a vida com a conclusão do estalar dos ossos.
As mãos da ninja retiram o capacete e o arremessa, atingindo fatalmente o tórax de outro guerreiro.
Ela recupera os sais, vira o corpo e recebe um ataque duplo. De armas cruzadas, o bloqueio. E o sorriso: ela finca os sais nas virilhas dos samurais.
Um outro se aproxima e consegue derrubar as armas brancas com a espada. Elektra parte pra cima, segura os punhos dele e o arremessa no chão. Ao cair, recebe um chute a cabeça e tem um braço quebrado.
Nunca reação desesperada, um ronin, caído, rapidamente se ergue e comete um hara-kiri [8]; alguns poucos o imitam. O medo nos olhos é visível. Outros sofrem agonizando no chão, esperando a morte lenta.
Os quatro ronins restantes correm em duas fileiras, tirando a espada da bainha. Elektra fica no meio, com os braços abertos. Antes de os samurais tirarem por completo as wakizashi, um golpe atinge os quatro de vez: cada arma perfura dois corpos. Eles tombam, um par para cada lado – lentamente – sobre os pés da ninja.
Um arrepio corta a espinha da ninja, que se volta para a Ponte Curvada.
A cena é tão bela que choca: as pedras antes cinzas agora têm um colorido diferente. O vermelho continua escorrendo, manchando mais ainda a praça.
Corpos de bruços, ajoelhados, de lado, amputados, sem cabeças, alguns ainda se mexendo. Mas nenhum de pé pronto para dar continuidade ao combate.
As costas das mãos limpam os lábios e a testa da assassina.
Ela gira as armas antes de colocá-las na cintura; o sangue respinga.
Seu corpo esfria. Os ombros abaixam. Sem tensão. O sorriso não sumiu da face.
O guerreiro Kahama caminha lentamente sobre a ponte em direção à praça onde aconteceu a chacina.
Cada vez que se aproxima, Elektra descobre sua forma e a arma que usa.
- Ninguém conseguiu, nunca, derrubar um só dos 47 ronins. Você massacrou todos eles… de uma só vez.
O guerreiro de aproxima, como se flutuasse.
- Ninguém na Aki-tsu-shima… [9] Vários outros samurais e ninjas foram pagos para exterminar estes bravos soldados sem senhor… mas sempre houve o fracasso.
- Vai me dar os parabéns por isso? – a ninja não se contenta.
- De um certo modo, sim. Você mostrou seu potencial… você provou ser a Arma Letal tão temida e disputada.
Enquanto se aproxima, os corpos caídos vão dando passagem para o Kahama.
- Só acredito no seu feito porque vi com meus olhos, Elektra. Você é mesmo uma ameaça. Por isso não deve viver.
Em algum lugar da China central
No alto de uma colina dois homens conversam ansiosamente. Um, mais velho, e o outro nem tanto, mas com sentimentos irracionais brotando na face.
Enquanto o mais velho parece ser cobrado, o mais novo ajeita os óculos de graus que teimam em escorregar pelo nariz.
- Eu estou com as peças, Fei.
- Não tive tempo para juntar o dinheiro combinado.
- Isso não estava previsto. Havia garantias de que…
- Xia Nai, me dê um pouco mais de tempo!
- Impossível. Ou o dinheiro ou nada feito.
Xia Nai retira de dentro de uma maleta uma joia semi-circular…
- Sem o dinheiro, Fei, o Magatama não será seu.
- Mas eu preciso dele, Xia Nai. Eu te contratei para que roubasse… só preciso de tempo para conseguir te pagar pela peça!
- Essa peça não vale nada para mim… ao contrário da sua situação.
- Só que esta é apenas uma peça… ainda faltam duas!
- Hum… acho que podemos conversar…
******
Notas do autor
[1] Hotarubi No Jitsu – Técnica ninja de apresentar o que é falso como verdadeiro, ou seja, fazer o inimigo acreditar em uma mentira.
[2] Nakama – Companheiros.
[3] Katana – Espada samurai. Tem uma longa lamina levemente curvada “para dentro” e um punho longo, o que permite que a usem tanto com uma mão quanto com duas. A arte da confecção desta espada é extremamente rara e difícil, leva-se horas para se achar a temperatura correta da lamina. Quando feita corretamente, esta é leve, bem balanceada, forte, flexível e resistente. É suas laminas são comumente decoradas com orações, nomes de famílias ou motivos diversos.
[4] Daikyu – O arco longo oriental, com 2,1m de comprimento. Ao contrário dos arcos ocidentais, o ponto no qual se segura o arco é mais próximo da extremidade inferior, o que permite o uso no dorso de animais ou em locais estreitos. As extremidades deste daikyu do guerreiro solar têm placas de metal usadas também para ataque e defesa.
[5] Os 47 ronins – são samurais sem senhor que vagam a serviço do Clã Kahama. Mas a história deles é a seguinte: O senhor Kuranosuke líder deste grupo foi morto por Kira Kosuke No Suke, um oficial que recebia a realeza. Em represália, o grupo se vingou decapitando o oficial e todos os que viviam na mansão dele. Os ronins levaram a cabeça de Kira ao túmulo do antigo senhor e depois se mataram. Mas o Clã Kahama lhes deu a vida novamente para a missão de recuperar o Magatama.
[6] Wakizashi – Espada menor que a Katana, mas de mesmo poder.
[7] No Japão os imperadores são considerados os filhos das divindades máximas.
[8] Hara-kiri – Prática de suicídio para preservar a dignidade pessoal
[9] Aki-tsu-shima – Ilha da Libélula (nome dado ao Japão por causa da sua forma semelhante a este inseto)
Tsao vira o corpo com a arma em punho.
- Eu já esperava que você aparecesse, Setsuko.
- Então também espera a sua morte.
- Me matar não vai fazer com que Elektra se alie a você, nem ao Império do Sol.
Setsuko saca uma katana.
- Veremos. Não quero que ela tenha um conselheiro – e ataca Tsao.
As lâminas deslizando ferozmente ao se encontrarem causam um potente ruído. São duas espadas poderosas e especiais.
A de Tsao foi presente de um imperador japonês quando ele ainda integrava a tropa especial, feita de um material composto não apenas pelo ferro; ela tinha um brilho meio roxo.
- Quando servi a um dos seus filhos [7] eu nunca imaginei que você, quando voltasse, estivesse com os mesmos planos de séculos atrás!
As espadas continuam se chocando, e a cada toque, estragos por todo o porão.
- Você tem mais um motivo para não me enfrentar, Tsao. Você serve a mim!
- Servi! Numa época em que a paz e a prosperidade reinavam no Japão. Por isso vim para a América.
- Tolo! Suas palavras sonhadoras de nada vão adiantar!
Mesmo fraco, Tsao conseguiu impedir os ataques de Setsuko e arriscava investidas, que eram bruscamente interrompidas.
- Eu sou uma deusa, Tsao!
- Não! Você é a reencarnação de uma deusa! Você não tem todos os poderes místicos de uma deusa! Você é como o Eleito em Mu Fa!
- Como ousa?
- Sim! Ele era a reencarnação do imperador C’hin, um Filho Celeste, mas não tinha o poder dos deuses daquele país.
- O Eleito era um perdedor! E ele era a reencarnação de um homem que nem se sabe ao certo se era de família real. C’hin morreu sem saber se realmente era o Imperador Celestial! Mas eu sou a reencarnação de Amaterasu, a Deusa do Sol, Filha de Izanagi e Izanami!
- Então por que se passar por chinesa e auxiliar o plano de conquista dele?
- Porque estando em Mu Fa seria muito mais fácil para matá-lo, já que enganado ele já estava!
O duelo para e o silêncio paira.
- Tsao… Quando eu recuperar os símbolos imperiais do Japão e tiver Elektra ao meu lado, serei invencível!
- Você sabe que a ninja pode derrotá-la mesmo quando você receber os poderes, não é?
- Isso é impossível!
- Por que você acha que Elektra é a Arma Letal?
Setsuko grita e crava a espada no coração de Tsao. A lâmina atravessa o dorso daquele velho homem.
- Setsuko – ofegante – se Elektra conseguir unir os três símbolos antes de você, com certeza será o seu fim…
- Ela não vai conseguir! – num rápido golpe tira a espada e corta a cabeça do mestre – Você é meu vassalo, Tsao, e é isso o que acontece com quem trai o Império Solar.
Ponte Curvada
Gritos de dor pelos braços quebrados, pernas arrancadas e grandes e profundas feridas abdominais.
Dois ronins mais afastados recebem os sais arremessados: um na testa e o outro no coração. A ninja corre, salta, usa as armas inimigas como degraus, pula e cai sentada sobre os ombros e pescoço de um samurai, que logo perde a vida com a conclusão do estalar dos ossos.
As mãos da ninja retiram o capacete e o arremessa, atingindo fatalmente o tórax de outro guerreiro.
Ela recupera os sais, vira o corpo e recebe um ataque duplo. De armas cruzadas, o bloqueio. E o sorriso: ela finca os sais nas virilhas dos samurais.
Um outro se aproxima e consegue derrubar as armas brancas com a espada. Elektra parte pra cima, segura os punhos dele e o arremessa no chão. Ao cair, recebe um chute a cabeça e tem um braço quebrado.
Nunca reação desesperada, um ronin, caído, rapidamente se ergue e comete um hara-kiri [8]; alguns poucos o imitam. O medo nos olhos é visível. Outros sofrem agonizando no chão, esperando a morte lenta.
Os quatro ronins restantes correm em duas fileiras, tirando a espada da bainha. Elektra fica no meio, com os braços abertos. Antes de os samurais tirarem por completo as wakizashi, um golpe atinge os quatro de vez: cada arma perfura dois corpos. Eles tombam, um par para cada lado – lentamente – sobre os pés da ninja.
Um arrepio corta a espinha da ninja, que se volta para a Ponte Curvada.
A cena é tão bela que choca: as pedras antes cinzas agora têm um colorido diferente. O vermelho continua escorrendo, manchando mais ainda a praça.
Corpos de bruços, ajoelhados, de lado, amputados, sem cabeças, alguns ainda se mexendo. Mas nenhum de pé pronto para dar continuidade ao combate.
As costas das mãos limpam os lábios e a testa da assassina.
Ela gira as armas antes de colocá-las na cintura; o sangue respinga.
Seu corpo esfria. Os ombros abaixam. Sem tensão. O sorriso não sumiu da face.
O guerreiro Kahama caminha lentamente sobre a ponte em direção à praça onde aconteceu a chacina.
Cada vez que se aproxima, Elektra descobre sua forma e a arma que usa.
- Ninguém conseguiu, nunca, derrubar um só dos 47 ronins. Você massacrou todos eles… de uma só vez.
O guerreiro de aproxima, como se flutuasse.
- Ninguém na Aki-tsu-shima… [9] Vários outros samurais e ninjas foram pagos para exterminar estes bravos soldados sem senhor… mas sempre houve o fracasso.
- Vai me dar os parabéns por isso? – a ninja não se contenta.
- De um certo modo, sim. Você mostrou seu potencial… você provou ser a Arma Letal tão temida e disputada.
Enquanto se aproxima, os corpos caídos vão dando passagem para o Kahama.
- Só acredito no seu feito porque vi com meus olhos, Elektra. Você é mesmo uma ameaça. Por isso não deve viver.
Em algum lugar da China central
No alto de uma colina dois homens conversam ansiosamente. Um, mais velho, e o outro nem tanto, mas com sentimentos irracionais brotando na face.
Enquanto o mais velho parece ser cobrado, o mais novo ajeita os óculos de graus que teimam em escorregar pelo nariz.
- Eu estou com as peças, Fei.
- Não tive tempo para juntar o dinheiro combinado.
- Isso não estava previsto. Havia garantias de que…
- Xia Nai, me dê um pouco mais de tempo!
- Impossível. Ou o dinheiro ou nada feito.
Xia Nai retira de dentro de uma maleta uma joia semi-circular…
- Sem o dinheiro, Fei, o Magatama não será seu.
- Mas eu preciso dele, Xia Nai. Eu te contratei para que roubasse… só preciso de tempo para conseguir te pagar pela peça!
- Essa peça não vale nada para mim… ao contrário da sua situação.
- Só que esta é apenas uma peça… ainda faltam duas!
- Hum… acho que podemos conversar…
******
Notas do autor
[1] Hotarubi No Jitsu – Técnica ninja de apresentar o que é falso como verdadeiro, ou seja, fazer o inimigo acreditar em uma mentira.
[2] Nakama – Companheiros.
[3] Katana – Espada samurai. Tem uma longa lamina levemente curvada “para dentro” e um punho longo, o que permite que a usem tanto com uma mão quanto com duas. A arte da confecção desta espada é extremamente rara e difícil, leva-se horas para se achar a temperatura correta da lamina. Quando feita corretamente, esta é leve, bem balanceada, forte, flexível e resistente. É suas laminas são comumente decoradas com orações, nomes de famílias ou motivos diversos.
[4] Daikyu – O arco longo oriental, com 2,1m de comprimento. Ao contrário dos arcos ocidentais, o ponto no qual se segura o arco é mais próximo da extremidade inferior, o que permite o uso no dorso de animais ou em locais estreitos. As extremidades deste daikyu do guerreiro solar têm placas de metal usadas também para ataque e defesa.
[5] Os 47 ronins – são samurais sem senhor que vagam a serviço do Clã Kahama. Mas a história deles é a seguinte: O senhor Kuranosuke líder deste grupo foi morto por Kira Kosuke No Suke, um oficial que recebia a realeza. Em represália, o grupo se vingou decapitando o oficial e todos os que viviam na mansão dele. Os ronins levaram a cabeça de Kira ao túmulo do antigo senhor e depois se mataram. Mas o Clã Kahama lhes deu a vida novamente para a missão de recuperar o Magatama.
[6] Wakizashi – Espada menor que a Katana, mas de mesmo poder.
[7] No Japão os imperadores são considerados os filhos das divindades máximas.
[8] Hara-kiri – Prática de suicídio para preservar a dignidade pessoal
[9] Aki-tsu-shima – Ilha da Libélula (nome dado ao Japão por causa da sua forma semelhante a este inseto)
+ comentários + 3 comentários
Caldeira, adorei o capítulo cara!
As cenas de luta da Elektra são muito bem escritas, eu consegui visualizar esse massacre direitinho, nos mais sangrentos detalhes!
A cena com o Tsao também foi foda...
Toda essa história lembra muito aqueles clássicos filmes chineses e japoneses, só que com um roteiro ainda melhor!
Meus parabéns cara! Um abração e até mais!!
se eu te falar que fiz uma maratona com filmes orientais pra escrever esses textos da ninja cê acredita? valeu pela leitura e pelo comentário, e já te aviso: Elektra é uma das melhores coisas que escrevi na vida! mês que vem tem novas emoções!!
valeu, moro! mês que vem tem mais!!!
Postar um comentário