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Cronicas Heroicas #2.Djargudi Yindi, o Pilar dos Sonhos.








Existem muito mais no mundo do que nossa pobre imaginação pode sequer cogitar, ameaças que podem parecer invisíveis, mas que são poderosas o suficiente para destruir nosso planeta.
Por isso existem guardiões que não se tornam mundialmente conhecidos, assim como Djargudi Yindi, o Pilar dos Sonhos.






“Saco... Ele já tá lá...” o jovem James Howard se aproximou de seu destino, amaldiçoando pela centésima vez a decisão dos pais de enviá-lo até aquele lugar que ele aprendeu a odiar. Colocando os fones do CD player nos ouvidos, selecionando para tocar as músicas de sua banda preferida, ele ainda reclamava consigo mesmo seu infortúnio “E dizem que esse velho nojento é um poderoso mago... Tudo o que eu vejo ele fazendo é ficar sentado ali na varanda dessa casa velha, acariciando aquele coala, coçando o ouvido e jogando a sujeira na varanda... Um mago devia ser que nem o David Blaine... O cara tem estilo pacas, ganha rios de grana e é conhecido no mundo inteiro... o Velho Djargudi num faz nada e mal conhecem ele em Sidney, fora o fato que é muito metido a besta, se achando o maioral... Saco...”

- Ouvindo outra vez o Yothu Yindi [1], heim? – Reparando no rosto assustado que o recém chegado fez, o velho aborígene primeiro saboreou a sensação de surpreender seu aprendiz, para então explicar. – Você tem ouvido essa banda desde a primeira vez que eu te vi... Se isso não fosse o bastante, a altura em que você escuta isso seria o bastante para até o Baltóia aqui ouvir...

O pequeno coala se agitou levemente ao som de seu nome, mas logo voltou a dormir no colo de seu dono. Djargudi Yindi era um típico velho aborígene, com uma alva cabeleira enrolada no alto da cabeça complementada por uma barba engruvinhada que aumentava ainda mais a imagem de velhice e sujeira que ele já tinha. As roupas eram folgadas, uma bermuda de onde saíam duas pernas fininhas, que mal sustentariam seu corpo caso ele se levantasse e uma jaqueta onde caberiam uns três dele.

- Então... – Mas a voz dele revelava uma força juvenil totalmente em contraste com a sua idade aparente, que James nunca acertava qual era. – Está pronto para mais um dia de trabalho na sua caminhada rumo a um... Como você disse que seus pais chamaram? Um mundo diferente?

- Se fosse isso mesmo ao invés do que eu venho fazendo...

- Algum problema meu jovem? Você parece esquecer de falar mais baixo quando está com esse aparelho grudado nos próprios ouvidos... Externe seus sentimentos... Isso pode lhe fazer bem...

- Olha prá mim... – O velho olhou bem e constatou o que ele já sabia que vinha a seguir. – Eu devia tá curtindo minha vida! Sabe quantas meninas eu deixei de ver prá tá aqui? A Karine queria ir comigo no Shopping e tudo mais... E o que eu tive de fazer por que meus pais meteram na cabeça que eu seria um bom mago?

- Vir até aqui e agüentar um velho porco e arrogante junto de seu animal estúpido certo?

Novamente Baltóia se movimentou, mas agora deixando um rosnado baixo escapar antes de deitar novamente no colo de seu dono. Djargudi abaixou a cabeça e, por um momento, James pensou que ia escapar do seu tormento diário, mas assim que o velho voltou a olhar para o garoto, ele cutucou mais uma vez o ouvido, jogou uma sujeira longe e apontou seu dedo magro na direção de uma vassoura, que parecia tão velha quando ele.

James entendeu o recado e começou a caminhar lentamente até pegar a vassoura e abrir a porta do casebre. Em seguida, uma vez lá dentro, como sempre acontecia, a sujeira imperava e ele sabia que o dia seria longo, fedido e pegajoso.

- Você deveria aprender a mudar seus pensamentos... Sempre que concentra em ver isso tudo aí, te esperando, é o que vai estar mesmo... É a lei da atração e...

- Eu sei, eu sei... Eu já assisti ao Segredo e...

- Espere um momento! – O velho se ergueu da varanda com uma velocidade que surpreendeu o jovem e, com o coala se prendendo em sua jaqueta para não cair, ficou ereto de uma forma que James nunca pensou que seria possível. – Hum... É... Ora, ora... – Ele farejava o ar como um Dingo prestes a atacar sua presa. – Pelo visto suas preces funcionaram garoto... Hoje, ao invés de você limpar minha casa vai ficar na varanda cuidando do Baltóia... – O velho o colocou sentado, demonstrando uma surpreendente força. – É... Isso mesmo, sentadinho aqui... E continue quieto! – O velho entregou o coala para o jovem, que já estava sentado e mal havia feito menção de reclamar. – Eu esperava que você visse isso apenas daqui a um tempo, mas não tenho escolha...

Dito isso, Djargudi começou a caminhar no ar como se fosse algo normal para ele, o que fez o rapaz, que ficava para trás, abraçar com força o animal que tinha nos braços. O velho sorriu enquanto uma luz azulada cobria-lhe o corpo mudando suas roupas e para desespero de James, que imaginava ter finalmente enlouquecido, até a forma física do mago ia se modificando.

Os cabelos foram ficando curtos e a longa e descuidada barba se ajeitou até um elegante cavanhaque, o que deixou o mago com uma aparência mais sóbria. As roupas largas e velhas deram lugar a um sobretudo que parecia estar sobre uma fina camisa de seda, uma calça social cinza e sapatos cujo lustre era impecável. Ao perceber os olhos do aprendiz às suas costas, Djargudi Não resistiu à tentação de fazer uma piada com o assombro de seu pupilo.

- Volte a respirar James... Ah! E quanto ao seu precioso David Blaine... Ele não faz a menor idéia de estilo. – O velho se voltou olhando bem nos olhos do rapaz e ajeitando a gola do sobretudo. – Isso é estilo!

E então o mago Djargudi Yindi mergulhou no que parecia um imenso portal, deixando que o silêncio voltasse a reinar em sua casa.

XXX

A travessia nunca foi fácil, mesmo para um dos mais poderosos magos do mundo. David Blaine? Esqueça esse moleque, estamos falando de um mago de verdade, que viaja pelo plano astral do mundo do sonho, chamado pelos povos nativos da Austrália de Alcheringa.

O velho Djargudi sempre ficava alguns segundos sem ação quando finalmente seus pés tocavam algo sólido no reino dos sonhos, nesse caso uma das inúmeras rochas flutuantes que estavam dispostas de forma a criar um caminho que ia até uma montanha voadora, esta tinha uma característica marcante: Liberava no ar uma fumaça multicolorida permeando o céu com pássaros de todas as cores.

- Vai ficar quanto tempo admirando a paisagem?

Assim que o mago se voltou para trás de si, logo teve de olhar para baixo a fim de ver de onde vinha a vozinha fina, que parecia pertencer a uma criança, e o dono da voz logo se empertigou, tentando parecer maior do que realmente era.

- Olá Curio... – Ao ouvir seu verdadeiro nome, como era costume no Alcheringa, o pequeno ser, metade humano, metade demônio-da-tasmânia, se ergueu sobre as patinhas traseiras, tentando impor respeito ao recém chegado, mas este acabou por ignorá-lo e, olhando ao redor, questionou. – Então como está a situação por aqui meu pequeno guia? – Outro costume do lugar era que, assim que um mago conseguia atingir o Alcheringa, imediatamente ganhava um guia do mundo dos sonhos.

- O que você acha chefia? O grandalhão do mal tá tocando o mó terror por aqui! Ele chegou chegando e detonando uma pá de neguinho num só movimento... Vuuussshhhh... Detonô geral!!!

- Você anda viajando por sonhos de bandidos outra vez não é? De onde são dessa vez?

- Hã... Do Brasil... Mas isso não é importante e... Essa não...

- Hum... O fato de você ter parado de falar e estar com os olhos arregalados desse modo quer dizer que tem algo terrivelmente perigoso e mortal às minhas costas certo?

Mal o pequeno guia acenara positivamente com a cabeça, o mago se voltou e, no mesmo instante em que tudo ao redor deles se tornava um verdadeiro pesadelo, Djargudi sentiu um horrível fedor que era, infelizmente, muito familiar.

- Um DVS... Realmente o Inimigo está desesperado para usar uma carta tão poderosa assim tão cedo...

- Então você não teme meu poder? Por acaso é algum louco que me toma por fraco? Por acaso imagina o poder que detenho em minhas mãos? – Um aceno positivo da cabeça do outro foi a única resposta. – Mesmo assim ousa fazer pouco caso do poder de um Devorador de Sonhos?

O demônio então fez sua cabeça crescer e, ao abrir uma enorme bocarra, fez uma imensa fileira de dentes se projetarem para fora, deixando bem claro que ele era uma ameaça a ser respeitada, mas apesar dele ter a certeza de que o recado fora dado, o mísero humano diante de si fez algo impensável: Levou uma das mãos diante da boca e bocejou.

- Seu pedaço de carne imprestável!!! – Agora várias garras saltavam dos punhos e antebraços do DVS, junto com algumas lâminas que saíam por vários lugares de seu corpo. – Vou te fatiar e me refestelar com o que sobrar de sua alma e... AAAAAAAARRRRGGHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!

Com um movimento absurdamente rápido, possível apenas no mundo dos sonhos mesmo, Djargudi criou um bumerangue de energia onírica e o lançou para cima, cortando assim o braço que o ameaçava e que acabou por cair inerte no chão. Depois de um urro primitivo de dor, o DVS lançou uma nova ameaça:

- Maldito!!!! Acha mesmo que a perda de um braço pode me parar?!!! Eu vou...

- Morrer... Afinal, obviamente você não conhece as características básicas de um bumerangue...

Dessa vez não houve tempo do demônio emitir um som sequer, pois a arma do mago retornava para as mãos deste, passando através do peito do DVS, causando um enorme buraco e assim que Djargudi pegou o bumerangue nas mãos o lançou outra vez, agora decepando uma perna do inimigo, que acabou por tombar para o lado, mas permanecendo ereto o suficiente para olhar, com olhos cheios de medo, para o oponente que ganhara seu respeito.

E também seu medo.

A cena se repetiu poucas vezes, o bumerangue voltava para Djargudi, ele o lançava em seguida e a cada lançamento e volta, mais e mais do corpo do DVS era destruído, até que finalmente a criatura jazia vencida ao chão e o cenário à volta do mago e seu guia voltava a aparentar um visual de sonho.

- Um obstáculo a menos... – O mago começou a caminhar no ar, não importando muito como fazia isso já que o local mudava a toda hora e as leias da física do mundo normal não se aplicavam ali. – Vejamos o que o Inimigo ainda tem para nos enviar e... Curio! Venha logo!

O pequeno guia deixava de chutar os restos do inimigo vencido e se apressou para alcançar Djargudi, pulando numa perna só, para tentar desgrudar um pedaço da carne do DVS que se prendera nos pés dele. Percebendo que não conseguia, Curio continuou a andar mesmo com a gosma fazendo-o grudar a cada passo que dava.

Sem que nenhum dos dois percebesse, no entanto, a boca do demônio havia permanecido intacta e agora exibia um horrendo sorriso de satisfação.

XXX

Enquanto o tempo passava de forma estranha no Alcheringa, um jovem permanecia abraçado com um coala, ambos sentados na varanda de um pobre casebre, localizado próximo ao começo de uma área desértica. Quando finalmente conseguiu se recuperar um pouco do susto que acabara de tomar, ao ver seu mestre sair andando no ar e sumir pelo que parecia ser um portal de luz, James ergueu Baltóia, segurando o animal por debaixo das axilas deste, e perguntou:

- Como isso é possível? – Quando percebeu que acabara de fazer uma pergunta como aquela para um animal, o rapaz balançou violentamente a cabeça e começou a recolocar o coala em seu colo. – Meu Deus... Eu devo tá ficando louco mesmo e...

- Na verdade... – Com o susto de ouvir o Coala falando consigo, James se ergueu num pulo, derrubando o animal sentado no chão. Este se levantou e, alisando o local que havia batido, continuou a falar. – Ai! Você podia ter reações menos extremas não é? Bem... Como eu ia falando...

- Pó Pará! Eu ainda nem me recuperei do susto de ver o velho sair andando e sumindo no ar e agora tenho que agüentar um coala falante? Eu vou é cair fora daqui e...

- Se você quiser que o mundo não acabe, vai ficar aqui dentro da varanda comigo...

O tom sério do Coala, aliado a um estranho brilho que vinha dos olhos do animal, fez com que James voltasse a se sentar onde antes ficava sempre Djargudi e, assim que ele se sentou, Baltóia veio e ocupou seu lugar costumeiro também, dessa vez no colo de James. Alguns minutos se passaram e o rapaz, que apenas fazia carinho na cabeça de seu pequeno companheiro, finalmente quebrou o silêncio:

- Hã... Então... Como tudo isso aconteceu? Quero dizer... Como é que o Djargudi se tornou... Hã... O que ele é mesmo?

- Segundo as suas palavras, um velho arrogante e...

- Não! Quer dizer... Eu achava isso antes e... Puxa... Você sabe o que eu quero dizer não é? Agora ele parece até um daqueles heróis do Caçadores de Heróis... Vocês já viram esse programa? Baltóia?

A resposta foi um aumento no brilho dos olhos do pequeno Coala, e então James sentiu-se sendo tragado para algum outro lugar. Um lugar extremamente estranho em que nada parecia fazer sentido.

As memórias de Djargudi Yindi.

“Dizem que a história de um dos maiores magos de nossa realidade começou ainda no ventre de sua mãe, Fantine. Ela sempre acariciava a barriga, falando que o filho vindouro seria alguém capaz de mudar a face do mundo, diferente do pai, que os abandonara, e ela tinha razão.

Djargudi Yindi nasceu há apenas trinta e cinco anos, mas durante seu nascimento as pessoas que estavam no hospital relataram um eclipse que fez o dia virar noite, foi algo que ninguém havia ouvido falar que aconteceria e, segundo as demais pessoas da cidade, não aconteceu mesmo.

O acontecimento não foi mais comentado, muitos diziam ter sido o efeito de algum gás que se espalhou pelo hospital, causando uma ilusão coletiva. A verdade é que apenas a mãe do bebê, que nasceu exatamente naquele momento sabia da verdade.

O espírito de um antigo mago havia contatado-a durante a “ilusão coletiva” falando sobre o destino que esperava o filho dela e que o menino deveria ser protegido a todo custo até chegar à idade adulta.

Assim foi até que ele completasse vinte e um anos. Um portal se abriu em seu quarto, tarde da noite e o levou para o Alcheringa, onde ele teria seu treinamento. A última visão de nosso mundo que ele teve foi da mãe, parada na porta do quarto acenando e sorrindo.

Antes mesmo de Fantine baixar sua mão, Djargudi já voltava de seu treinamento, mas aparentava muito mais idade do que tinha quando se foi, o que levou a família a se mudar, para evitar perguntas de como o filho agora já aparentava ser muito mais velho que a mãe.

Nos anos seguintes o mago acabou por se envolver em várias batalhas para proteger a realidade como a conhecemos, batalhas essas que cobraram seu preço e hoje o rapaz de apenas trinta e cinco anos aparenta ter mais de oitenta sem, no entanto, sequer ser reconhecido por tudo o que já fez.

O treino de um Pilar dos Sonhos, como Djargudi descobriu ser um dos seus títulos, era sempre árduo e tinha um motivo. O Inimigo, uma entidade cujo objetivo era apenas trazer dor e morte para nossa realidade, tinha poderes incríveis e para impedir sua chegada no Alcheringa, que ele usaria de ponte para sua invasão, já exigiu a vida de um dos magos australianos há centenas de anos atrás e desde então, sempre fora necessário um novo Guardião, geração após geração.

Djargudi já enfrentou o Inimigo mais vezes que qualquer um antes dele e, mesmo sentindo todo o peso físico e espiritual das agruras do “ofício” que abraçou, Djargudi jamais esmoreceu e sempre lutou com todas as suas forças.

Hoje em dia ele fica sentado em sua varanda, aparentando até certa vadiagem, entrando em ação apenas quando sente que algo necessita de maneira extrema de sua intervenção, do contrário ele fica reservando suas energias para eventos como os de hoje, quando o Inimigo surge para tentar tomar a realidade que chamamos de nossa. Ele precisa desse descanso, mas suas ações muitas vezes são tomadas como pura arrogância de um ser que se tornou poderoso demais.”


- Nossa... – James voltava para onde estava, na varanda do mago, com Baltóia deitado em seu colo e deixando de fitá-lo como fizera antes de ligar suas mentes, o que deixou o rapaz ainda mais atônito. – Quer dizer que ele tem só trinta e cinco anos e já está daquele jeito? É isso que meus pais querem prá mim? Não senhor! Comigo não!!!

- Acredite meu jovem, existem motivos para que você tenha surgido nesse momento e tenha recebido essas explicações.

- E quais seriam? – Nesse momento o céu foi tomado por uma estranha coloração negra, como uma tempestade que chega sem se anunciar. – Mas o que é isso?

- Quais os motivos? – Baltóia apenas erguia o rosto vendo a escuridão chegar e se concentrou rezando em seu íntimo para que o plano que ele bolou desse certo. – Salvar o mundo...

E então tudo mudou.

XXX

Prefeitura de Sidney.

Djargudi Yindi estava sentado atrás de uma elegante escrivaninha sobre a qual se acumulavam papéis e mais papéis sobre diversos assuntos, ou seja, para um mago tão poderoso que batalhou para chegar até onde ele havia chegado, tudo era um mar de tédio.

- Não se esqueça da nossa reunião Dji... – Era a voz da mãe do mago, que ele escutava por detrás de uma porta que levava ao gabinete desta, afinal ela era sua principal secretária, que cuidava de assuntos aleatórios. – Sei que você costuma ficar avoado, mas não pode esquecer desta heim, Dij...

Por algum motivo era extremamente estranho ouvir a voz da mãe sem a ver, ainda mais quando esta o chamava do modo carinhoso da infância. Aquilo fez o coração do mago doer no peito enchendo-o com um sentimento que ele não deveria sentir: tristeza.

Afinal como pode um dos homens mais poderosos do mundo sentir tristeza?

Nos últimos anos Djargudi Yindi havia resolvido se tornar uma influência mundial, guiando a humanidade para um momento iluminista como nunca havia acontecido em toda a sua história.

Primeiro foi juntando uma legião de fiéis usando sua magia sem restrições para realizar os maiores milagres que podia e que lhe pediam. Não tardou para que ele ajudasse a eliminar boa parte da fome, das doenças e vários outros problemas sócio-econômicos da Austrália, logo sendo aclamado pelo povo para tomar as rédeas de todo o país. Até o primeiro ministro e todos no Senado aceitaram se afastar do governo em benefício do mago, o que acarretou uma série de comentários maldosos a respeito de controles mentais e outros ainda mais descabidos.

“Afinal” pensava o mago ao se levantar, indo devagar até a porta que dava para o escritório da mãe “O que é uma pequena sugestão perto de todo o bem que eu trouxe ao meu país?”. Realmente a Austrália teve sua entrada aceita quase que imediatamente no bloco dos países de primeiro mundo, competindo diretamente com os EUA em várias frentes.

Isso deixou Obama, normalmente contido e fleumático, verde de inveja. Esse pensamento e a lembrança de algumas das ameaças vazias do presidente estadunidense, após perder a compostura durante um jantar, fizeram um sorriso surgir no rosto do mago, quando ele estava prestes a tocar na maçaneta da porta, mas algo o interrompeu.

- Lorde Djargudi! Temos uma emergência! Temos uma emergência!!

- O que foi agora James? – O senhor da Austrália lançava um olhar de impaciência para um dos seus secretários, o jovem Howard, que era um dos mais aplicados estagiários que ele contratara para seu gabinete. – As ruas centrais da cidade estão com enormes crateras... Ninguém sabe o que as provocou! O trânsito está um caos e...

- Tudo bem... Vamos para lá... – Ele se voltou para a porta e falou alto. – Mãe! Nossa reunião vai ter que esperar um pouco...

- Tudo bem filho... Mas volte o mais cedo possível... Não se demore Dij...

- Claro mamãe.

Assim que o mago saiu de seu gabinete, James olhou para a porta, que ele impedira seu líder de abrir e disse, tentando caprichar no tom de ameaça:

- Você não vai vencer.

- É o que você pensa pequeno pedaço de carne decomposta...

Poucos minutos mais tarde o trânsito já havia voltado ao normal, logo que Djargudi apenas gesticulou uma mão e, depois que a mesma fora envolvida numa energia multicolorida, ele a levou ao chão tocando-o, fazendo com que as crateras sumissem num piscar de olhos. Aquele não era o primeiro incidente das últimas semanas e o mago cobrou uma maior ação das autoridades competentes para descobrir os verdadeiros culpados por todos aqueles problemas.

- Certo senhor. – James tentava chamar a atenção do irritado mago. – Mas agora temos outro problema que requer sua atenção e...

- Não! A reunião com minha mãe já foi adiada por tempo demais... Qualquer que seja o problema, você pode cuidar, ou encontrar alguém que possa... Agora adeus... – E Djargudi saiu de lá voando.

Ao chegar em seu escritório, ele se demorou, permitindo um momento para admirar tudo o que fizera com sua cidade e, logo depois, o mago se dirigiu imediatamente para a porta do escritório de sua mãe, mas novamente foi interrompido por James, que acabara de chegar, ainda sem fôlego por ter corrido até ali.

- Não abra essa porta Djargudi!!! É o que o Inimigo quer e AAARRRGGGHHH!!!!

Um raio partiu da porta e atingiu o rapaz em cheio, lançando-o contra uma parede e fazendo-o cair sem sentidos no chão. O mais bizarro é que um pequeno coala pareceu cair de dentro do peito do rapaz, como se estivesse fundido ao garoto até então.

- Espere aí... Baltóia? – O mago começava a balançar a cabeça, sentindo-se como se despertasse de um sonho.

Ou um pesadelo.

Um urro inumado ecoou pelo gabinete, enquanto as paredes do mesmo começavam a se desfazer, como que sopradas por um vento demoníaco, revelando o local onde ficava o portal místico do reino dos sonhos, pelo qual o Inimigo tentava passar há várias gerações.

- Moleque maldito!!!! E maldito também seja animal estúpido!!! Mais um pouco e eu teria meu caminho aberto e... AAARRRGGGHHH!!!!

- Não os chame de malditos!!! – Djargudi então abriu os braços, evocando todos seus poderes, se colocando diante de James e Baltóia. – Eles são abençoados por terem conseguido forças para virem até mim e abrirem meus olhos do véu de mentiras que você ergueu, se aproveitando de minha arrogância...

- Tudo o que eu mostrei pode se tornar verdade... Libere minha passagem e eu prometo deixar tua terra em paz, grande mago e até entregá-la a ti para fazerdes o que quiser dela...

- Quando a boca do Inimigo pinga mel, as abelhas morrem envenenadas...

Para o desespero da entidade, Djargudi começava a gesticular um encantamento doloroso para ambos, encantamento este que o Inimigo sabia ser forte o bastante para ferir gravemente os dois oponentes. Desse modo ele lançou sua última cartada:

- Não faça isso mago!!! Você diminuirá sua passagem de vida por esse planeta em vários anos se continuar com esse encanto...

- Não percebeu que suas promessas, ameaças ou falsa preocupação com minha saúde chegam a ouvidos surdos? – Um pouco de sangue começava a escorrer do nariz do mago enquanto ele se preparava para lançar o feitiço. – Tampouco me impedirão de realizar meu intento... AAAARRRGGGHHHH!!!!!!!!!!!!

No momento que James despertava, sem saber onde exatamente estava, o encantamento foi lançado e Baltóia se jogou diante dos olhos do rapaz, se prendendo ali para protegê-lo e também a própria visão, afinal seria fácil qualquer um dos dois ficar cego ao contemplar a luz que provinha do fim daquele embate.

Quando James sentiu o coala ser retirado de seu rosto, ele se viu outra vez na varanda de Djargudi e este já voltara à aparência à qual o rapaz estava acostumado, mas seu olhar cansado deixava claro como tudo aquilo o afetara. Mesmo assim uma avalanche de perguntas fora lançada sobre o mago e este resolveu se levantar, sendo prontamente amparado por James.

- Antes... Que tal uma boa xícara de chá? – Olhando bem para o rosto do jovem, Djargudi continuou. – Ou quem sabe um refrigerante bem gelado? Eu tenho os dois lá dentro.

Quando passaram da porta, o que viram foi a costumeira bagunça e sujeira, o que imediatamente estampou uma máscara de desânimo em James, subitamente relembrado de suas obrigações. Percebendo isso, com um sorriso no rosto, o mago gesticulou e logo algo que lembrava uma esfera cheia de água estava flutuando entre os dedos dele para, em seguida, serem jogadas no chão.

A esfera pareceu quebrar-se e então o líquido guardado ali dentro se espalhou por todo o chão da casa, subindo em seguida pelas paredes, até atingirem o teto e se condensarem em uma única gota que desceu vagarosamente até a mão do mago que a fez desaparecer como se nunca tivesse existido.

Imediatamente tudo ficou limpo e então ele conduziu um boquiaberto James para dentro.

- O tempo de tarefas simples terminou jovem James... Limpe a baba e... Como eu direi isso de uma maneira “simpática”... Bem vindo ao inferno... Hehehehehehe...

No Alcheringa, Curio, o guia de Djargudi observava a cena e exibiu um sorriso maligno enquanto seus olhos ficavam totalmente negros.

- Divirta-se velho Djargudi... Seu fim se aproxima...

E uma horrenda risada ecoou pelo reino dos sonhos.

Fim.


[1]A Yothu Yindi é uma banda que mistura música típica Aborígene com guitarras. É bem interessante, confiram em http://www.yothuyindi.com/
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+ comentários + 2 comentários

2 de outubro de 2010 às 05:18

Caramba! Excelente texto João!
Bem detalhado, eu realmente pude ver o Djargudi fazendo suas magias. Adorei a cena do Curio e a "gíria brasileira" que ele usou. E o garoto James não tem o que reclamar. Realmente eu gostaria de ter um mestre assim hahahaha.
Muito bom mesmo João!
Abração e até mais!

2 de outubro de 2010 às 08:29

Valeu garoto... Esse texto é super antigo e tive que adaptar muita coisa, mas fiquei feliz com o resultado.
Que bom que você gostou... Um abração e até mais!

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