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O Justiceiro #2 - No Rastro da Caveira - Parte II

Aquela era uma bela manhã. Um céu azul, através de uma bela janela, certo, talvez nem tão bela assim, mas era uma boa janela. E um simpático raio de sol.  Simpático sim, não muito quente, apenas o suficiente para fazer luz.

Abriu os olhos, esticou um grande sorriso, limpou o rosto oleoso e finalmente se colocou de pé. Seu primeiro dia de emprego honesto. Dave estava animado.

Nada de negócios duvidosos. Nada de correrias da polícia. Apenas o velho e bom emprego honesto. A casa ainda era emprestada, os móveis também. Mas o terno era novo, cheirando a boutique. Juntou os últimos lucros com o contrabando de drogas na esquina para comprar aquele belo terno e gravata. A maleta foi por conta da empresa.

O emprego? Vendedor de Bíblias.

O garoto magrelo de cabelo ensebado do Bronx iria começar uma vida digna, e nada melhor do que começar com a dita Palavra de Deus.

Ele tinha de todos os tipos. Traduções antigas, novas e ilustradas. Para jovens e adultos. Até mesmo uma em quadrinhos. Dave estava equipado. Jogou tudo dentro da maleta e partiu para a luta.

Afinal, aquele era um novo dia para Dave Sparks.

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Justiceiro #2
No Rastro da Caveira – Parte II


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Por Renan Duarte "Ocelot"


***

Feio. Um dia feio para Frank Castle.

Acordou no chão do banheiro, em volta de algumas garrafas de bebida forte. Vomitou enquanto dormia, sorte não ter se engasgado. Um gosto ruim na boca, um cheiro de cachorro de rua. Frank estava um trapo. E ele sabia disso. A ultima noite fora atribulada.

Os punhos machucados. Marcados pela violência da última briga.

O apartamento estava silencioso. Tudo era uma total mudez. A vizinhança, os carros que resolveram não passar. Ainda de porre, Frank quis limpar a casa. Ajeitar as coisas, esfriar a cabeça.

Quase meio dia, havia apenas um pedaço de bacon na geladeira. Frank o comeu cru.

Depois de remoer a sua própria miséria por algumas horas, se afundou no sofá rasgado e se entregou a inércia. Aliviar a dor de ser o que era. Um assassino.

“Toc Toc Toc”

O som perturbou o silêncio mórbido de Frank. Alguém estava à porta. Péssima hora. Ignorou.

“Toc Toc Toc”

Insistiu. Uma, duas, quatro vezes. Estava determinado. Irritado, Frank se levantou. Olhou pelo olho mágico, e lá estava. Um jovem magricela de terno e gravata. Uma maleta nas mãos. Ele o encarava de volta.

- Vá embora! – Gritou Frank.

- Senhor? Sabia que estava aí. Dê-me um minuto da sua atenção?

- Não!

- Garanto que tenho o que você precisa.

Frank ficou em silêncio. Ninguém teria o que ele precisava. Ele precisava de muito mais do que um magricela poderia ter em uma maleta.

O jovem foi surpreendido pela cara feia de Frank, que abriu a porta abruptamente.

- Ah oi... Está interessado?

- Quem é você? – Perguntou de forma seca e bruta.

- Dave... Dave Sparks. – Respondeu com sorriso amarelo.

- Você tem o que eu preciso?

- Ah, é... Claro! Bem aqui na minha maleta.

A presença obscura de Frank intimidava o garoto. Não que Frank fosse gigantesco, do tipo que se teme pela aparência. Ele não era assim, estava mais para um homem comum de porte médio. Mas seus olhos demonstravam toda a escuridão em que ele se encontrava. O cheiro de álcool contribuía com todo o resto.

- Como sabe do que eu preciso?

- Ah senhor! Todos sabem do que um homem precisa para ficar em paz. Você sabe, aqueles caras na tevê sempre dizem que...

- Paz?

- Ah... É... Isto! Exato... Por um precinho bem camara...

“Blam!”

Frank fechou a porta antes que Dave terminasse. Andou de um lado para o outro. A palavra ‘paz’ era irritante.

Paz.

Há tempos ele não sabia o que isto significava. Ao tentar contar o tempo, voltar para se lembra do que era paz, se lembrou do fato. O fato que ele não queria lembrar.

Cinco minutos depois, abriu a porta. Dave ainda estava lá com o mesmo sorriso amarelo.

- O que você tem?

- Talvez se eu pudesse entrar, estou com a garganta seca. Um gole de água...

- Diga daí mesmo. O que você tem? – Frank cortou a conversa mole.

- Ah, é, bem... É melhor mostrar.

Dave se prontificou a abrir a maleta. Teve dificuldade. Na verdade, aquele era o primeiro cliente que o aceitara. O único que durou tanto tempo para Dave ao menos ter a oportunidade de mostrar o produto. Bíblias era um negócio difícil.

Apertou um botão aqui, outro acolá, se embaralhou com a grande maleta. E de repente ela abriu, inesperado, todas as bíblias caíram no chão, para sua vergonha, e aos pés de Frank.

- Bíblias?

- É... Bem... Você sabe... Bíblias. – Dave disse sem graça.

“Blam!”

Frank fechou a porta sem hesitar. Enquanto o garoto gritava do outro lado, procurou algo para tomar. A geladeira estava vazia.

Finalmente, depois de algum tempo, o garoto de terno foi embora. Deixou aquele velho prédio praguejando alguma coisa contra todos os moradores. Afinal, que tipo de gente detesta ouvir falar sobre bíblias? Mas Dave, o garoto, estava exagerando em seu julgamento. Ele mesmo sabia que não compraria Bíblias de alguém como ele.

Ao cruzar a esquina, avistou um carro conhecido. Um daqueles modelos adaptados para pularem, e se moverem de um lado para o outro, carro de malandro.

- Merda! – Exclamou e tratou de correr. Dave tinha negócios pendentes com aquela trupe. E eles não deram moleza, aceleraram, fecharam o garoto na próxima rua. A rua de Frank, que observava da janela do prédio.
Ao ver o garoto cercado, Frank procurou algum objeto forte pela sala. Havia apenas um telefone. Arrancou com fio e tudo.

Três sujeitos negros saíram do carro. O maior deles encostou Dave na parede, enquanto outro dizia:

- Cadê nossa grana? – Este tinha dentes decorados com algo metálico. Coisa de gente marginal.

Dave engasgou. Não conseguia dizer palavra.

- Aí rapaz! Taí com este terno, com esta gravatinha de magnata, tá tirando onda com a gente? Só pode estar! Cadê nosso dinheiro?!

- Ca-calma aí cara! Eu vou conseguir, arrumei um emprego...

- Cê ta de sacanagem comigo? Só pode. Você escapou da ultima vez, mas não vai escapar dessa!

O bandido retirou uma arma da cintura e apontou para cabeça de Dave. Antes que apertasse o gatilho, foi surpreendido por uma voz rouca e metálica.

- Larga o garoto. – Disse um outro sujeito de moletom preto e capuz. Em uma das mãos, um aparelho de telefone antigo. Era Frank Castle.

Os três se entreolharam, e não viram nada mais do que um homem comum que acabara de arrancar o telefone de casa. Então, as provocações começaram. Caçoaram do moletom de Frank e de sua cara de cão espancado. Frank não hesitou. Atirou o telefone contra o rosto do maior deles e esperou a investida.

- Filho da puta! – Gritou o que segurava a arma. Tentou atirar, mas Frank não esperou. Segurou a mão do sujeito torcendo o punho, a arma disparou acidentalmente. Com a palma da outra mão, empurrou o cotovelo do homem para fora, partindo o braço. O bandido caiu no chão gritando de dor. Frank chutou a arma para longe.

Sobraram dois. O maior, que havia levado o telefone na cara, partiu com tudo. Socos, chutes, e golpes desordenados. Estes eram fáceis, não pensam em um ataque eficiente. Apenas prezam pela brutalidade. Frank também, mas ele pensava. Quando viu uma brecha na defesa, acertou-o com um cruzado no queixo. O grandão desabou.

Então o último. Pensou em atacar Frank, mas percebeu que não daria conta. Não sabia se corria ou ficava. Frank aproveitou a paralisia, pegou o telefone no chão, atirou na cabeça do rapaz. Caiu desmaiado.

Dave estava chorando. Por pouco não mijou pelas pernas abaixo.

- Pode parar de chorar agora, eles não são mais problemas.

- T-tá brincando!?! Eles vão me matar! Você... Você acabou com eles!! Aah meu Deus! O que vou fazer agora?!

- Não é da minha conta. – Frank disse secamente. Também não esperava gratidão, só fez o que tinha que fazer. Só fez o que o instinto determinou.

- Droga cara. Olha, foi demais. Foi demais pra caralho! Mas veja só, você acabou com os caras. Os chefes desses caras virão atrás de mim!

- Corre garoto.

- O que?

- Eu disse pra correr.

- Mas...

Então Dave viu: três carros lotados de brutamontes querendo sangue. Naquele bairro era assim, mexeu com um, mexeu com todos. Frank colocou o capuz negro do moletom, apanhou o telefone antigo do chão, e esperou a chegada. Dave molhou as calças.

O telefone ainda estava inteiro. Material resistente.

- Você vai lutar com eles com um telefone?

- Serve pra começar.

Os três carros cercaram os dois. Todo estirpe de bandido das ruas desceu. Então, outro desceu por último. Pendurando um “NY” gigantesco no pescoço, em uma corrente de prata. Foi logo dizendo:

- Ei Dave, parece que você derrubou uns caras. Quem é seu novo amigo? Você nos deve e vai pagar! Nem que as coisas tenham que ficar quentes... E elas vão ficar.

- Pode apostar que sim. – Murmurou Frank.

Um telefone cruzou a rua.

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Algumas semanas se passaram desde que John Laviano fora promovido para detetive. Embora recebesse o devido prestígio pelos colegas, os superiores pareciam não dar crédito.

John estava recebendo os mesmos casos de sempre: assassinatos na Cozinha do Inferno. O seu trabalho era simples. Apenas escrever “disputa de gangues” no relatório, assinar e arquivar. Sem investigações, sem suspeitos. Esta era a ordem do tenente. Ninguém quer meter o bedelho naquela área.

Mas John Laviano queria ser um bom detetive, servir a população, fazer valer a lei. Cada caso que recebia da Cozinha era um crime a parte. Estava disposto a investigá-los. Mesmo contrariando as ordens.

E as pastas se acumularem em sua mesa. Pilhas e pilhas, até que o tenente percebeu. Laviano as levou para a casa. Não queria simplesmente arquivar tudo. Isto o incomodava.

Então, em um dia ruim, encheu a caneca de café, e enquanto pensava sobre seu problema, esbarrou nas pilhas de pastas sobre a mesa, levou um tropeção, e derramou café sobre tudo enquanto a pilha desmoronava no chão, fazendo um mosaico de fotos. E num toque do destino, quando tentava limpar a bagunça, a palavra “vítima” estava borrada em um dos relatórios. Parecia saltar aos olhos.

Vítimas.

As fotos esparramadas pelo chão lhe deram a próxima pista.

Vitimologia.

O detetive teve uma grande sacada.

Revirou cada relatório e percebeu o que tinha em mãos. Todos os mortos eram caras grandes, de todos os lados do crime. Não era uma guerra entre gangues. Mas uma guerra contra todas elas. E alguém começou a retaliação pelos músculos do crime. Os caras grandes que fazem a escolta dos caras pequenos.

John Laviano tinha um padrão. Alguém estava matando os caras grandes na Cozinha do Inferno.

E se há um padrão, há alguém por trás dele.

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Continua...
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+ comentários + 1 comentários

27 de setembro de 2010 às 18:04

Gostei muito dessa edição, Renan! Lembra de mais o Justiceiro MAX com uma pitada de originalidade by Renan!! Hahahaha
O Frank mais perturbado e sofrendo um pouco pelos atos, mas vendo que são "bons" foi uma sacada muito boa!
Parabéns, mano e continue com essa super qualidade!

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