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SHIELD:

A MÃO ESQUERDA - Parte 1 de 4

Por Alex Nery

Farmington, Maine, EUA – 07:45 a.m., horário local

Jim Ferguson caminhou desleixadamente sem prestar maior atenção no movimento na rua. Pessoas iam e vinham. Algumas delas o cumprimentavam e ele respondia com um sorriso e um aceno.

- Ei, Jim!
- Jim! Vou passar na loja mais tarde. Preciso de um martelo!
- Bom dia, Jim!

Jim chegou até a porta da loja de ferragens. Assim como fazia há cinco anos, desativou o sistema de alarme e abriu os cadeados. Levantou a grade, que produziu um ruído incômodo e familiar. Seguiu sua rotina, acendendo as luzes e espanando as estantes e o balcão de ferragens.
Em seguida sentou-se em sua cadeira e acessou um site de compras online. Fez o pedido de uma caixa de parafusos.
A vinte quilômetros dali, o sistema de uma sofisticada base militar subterrânea recebeu o sinal da compra online. Checado o endereço eletrônico do comprador, o sistema identificou que o agente 212 estava sinalizando que estava a postos.
Sem o conhecimento da população de Farmington, o mesmo gesto rotineiro, executado por vários agentes disfarçados, completava a rede secreta de observação em volta da base da SHIELD.
Era o protocolo padrão. Em torno de suas bases secretas espalhadas pelo país, a SHIELD plantava agentes de vida dupla. Era uma maneira de monitorar discretamente o movimento em torno da área de segurança. Alguns agentes passavam anos desempenhando suas profissões de disfarce, totalmente integrados à comunidade.
E quando a rede de infiltrados respondia com sinal verde, era um bom sinal.
Santos, um dos agentes encarregados da monitoração, checou os sinais da rede e passou adiante a informação. A direção da SHIELD jamais deixava os controles inteiramente a cargo dos sistemas automáticos. Em alguns pontos da imensa estrutura, as informações necessitavam de confirmação humana, pois na era da informação, todos sabiam que sistemas podiam ser ludibriados tanto quanto humanos. Combinar os dois parecia ser uma medida acertada.
Os pontos verdes da rede secreta pontuavam na tela que exibia o mapa da região. Farmington possuía vinte agentes, disfarçados como lojistas, professoras, mecânicos, mendigos e donas de casa. A “árvore de natal”, como Santos gostava de chamá-la, brilhava serenamente.
Tudo o que Santos pôde ouvir foi o primeiro estrondo. Logo desabou sobre ele e os noventa e cinco agentes residentes da base um inferno de chamas e dor.
E a última imagem que ele teve foi da “árvore de natal”.


Nova York, quinze minutos depois.

O General Nicholas Fury tomava um gole de uísque enquanto observava através da janela uma bela vista panorâmica de Manhattan. Deixou a bebida escorrer lentamente pela garganta. Aproveitava um dos poucos momentos de relaxamento que conseguia durante o dia.
Largou o copo sobre a mesa e esticou os braços. O local de um antigo ferimento à bala em suas costas doeu. Logicamente, a bala havia sido retirada já fazia anos, mas ele ainda podia sentir a dor. A “dor fantasma” que algumas pessoas sentiam após ferimentos. Mas era uma dor boa de sentir, e Fury gostava de pensar que era um sinal de que ainda estava vivo. O mesmo não podia ser dito do coreano que o havia ferido.
Debruçou-se sobre o vidro da janela e olhou os prédios em volta. Uma coleção de arranha-céus que servia de amostra das grandes metrópoles do país, contrastando com o azul límpido do céu. Sentiu uma calma tranqüilizadora, um sentimento quase estranho a ele, uma pessoa dedicada à ação e ao combate ao terror.
Como tudo que é bom, durou pouco. O celular tocou, tirando-o do torpor.

- Manda – respondeu lacônico ao atender.
- Temos problemas no Maine, senhor – respondeu o agente do outro lado da linha – Uma de nossas instalações explodiu.
- Detalhes.
- Nossas imagens de satélite mostram que ela explodiu sem o menor aviso de ataque.
- Tô indo aí.

Fury fechou o celular e respirou fundo. Andou com passos rápidos até o elevador e desceu até o subsolo dois, local onde se encontrava a central de monitoramento da base de Nova York. Ao entrar na sala, vários agentes fizeram continência. Ele não perdeu tempo respondendo. Aproximou-se de Garret, o agente que o havia chamado. Neste instante, Dugan, o segundo em comando de Fury entrava na sala.

- Mostra, Garret – ordenou Fury.

O agente acionou o vídeo de uma imagem de satélite que mostrava a área de Farmington aparentemente calma, quando subitamente uma explosão detonou no local da base e varreu boa parte da cidade.

- Alerta vermelho em todas as bases. Avisem a guarda nacional e a polícia de que podemos ser alvo de novos ataques. Prontidão anti-terrorista nível 1. Preparem a história pra imprensa – ordenou Fury após ver as imagens.
- Sim, senhor.

Alguns dos agentes reunidos se dispersaram para cuidar de suas responsabilidades. Fury continuou:

- Cadê os relatórios?
- Aqui, Nick – disse Dugan acionando um monitor – Não foi nuclear. Os medidores radioativos estão na normalidade.
- Ataque orbital? – perguntou o general.
- Não parece. Nossa rede de satélites não reportou nada de anormal no espaço – respondeu Dugan.
- Então que porra houve lá? – perguntou Nick irritado.
- Parece que a explosão veio de dentro, Nick.


Farmington, Maine, quarenta minutos depois.

O helicóptero MH60L modificado pousou ruidosamente, levantando uma nuvem grossa de poeira. A zona de pouso havia sido improvisada na rodovia que cortava a cidade, a cerca de quinhentos metros da cratera aberta pela explosão da base subterrânea.
Nick Fury desceu, sendo seguido de Dugan. Rapidamente a dupla se dirigiu para o chefe dos bombeiros, atravessando o corre-corre dos homens dos serviços de emergência.

- Ei, vocês não podem passar daqui – disse o bombeiro.

- Corta a encenação, Roger – disse Nick – Não tem nenhum civil por aqui.
- Ah, bem, certo, senhor... desculpe... – gaguejou o agente disfarçado.
- Que houve aí? – perguntou o general.
- Pelas nossas estimativas iniciais, achamos que a explosão veio de dentro – informou o agente.
- Hm... Dugan, algum relato anormal antes da explosão?
- Nada, Nick. Tudo estava tranqüilo.

Fury observou a cena de destruição à sua frente. Uma imensa e profunda cratera se abria como a boca de um monstro em meio aos destroços da cidade. Da cratera emergiam quatro grossas colunas de fogo e fumaça. Fury observou atentamente o cenário.

- Dugan...
- Que foi, Nick?
- Tá vendo essa fumaceira aí? Quatro colunas?
- Sim.
- Olha a posição delas.
- Hmm...
- Tão bem em cima do esquema de autodestruição da base.
- Hm, verdade. Parece mesmo.
- Aposto que a autodestruição foi acionada.
- Mas a autodestruição só seria ativada em caso de extrema urgência, e nada indicava que eles estavam em perigo de alguma forma.
- Alguém fez isso por eles, Dugan. Resta saber quem.


Nova York, base da SHIELD, quatro horas depois.

Fury encostou-se na confortável poltrona e observou a pilha de papéis e os quatro monitores que permaneciam ligados à sua frente. Desde que retornara a Nova York havia sido bombardeado por relatórios com todo tipo de informação sobre o ataque no Maine. Agora ele tentava enxergar algo que os técnicos poderiam ter deixado passar, juntamente com algumas das pessoas que ele julgava mais confiáveis em toda a organização: Dugan, Gabriel Jones e a Condessa De Fontaine.

- Bem, vamos lá... A explosão foi causada pelo acionamento do sistema de autodestruição da base, certo? – disse o general, iniciando a discussão.
- A análise radiográfica dos destroços e a simulação do computador demonstram que a força explosiva partiu dos contêineres de explosivos que estavam instalados na base – informou Jones acessando os sistemas da SHIELD através de um sofisticado tablet – Como você sabem, todas as nossas bases possuem esse sistema para o caso de risco de captura ou quando a opção de destruição mútua é aceitável.
- “Destruição mútua” é uma expressão bonita... Apenas queremos garantir que, se alguns ratos entrarem na nossa casa, eles não sairão. Mesmo que isso nos leve com eles – completou Dugan.
- É como a coisa funciona, Dugan, e nenhum de nós vai mudar isso. O que mais temos? – perguntou Fury.

Foi a vez da Condessa falar.

- Decisões graves como o acionamento do sistema de autodestruição disparam um sinal para a nossa rede. Nesse sinal podemos identificar qual base foi comprometida e, o mais importante neste caso, quem acionou.
- Não enrola, Val – pediu Fury – Se sabe quem foi, diz logo.
- Temos um problema aqui. O sinal foi disparado por alguém de nível alto. E todas as ações de nível 9 ou superiores são anônimas na maior parte do sistema.
- Nível 9? Tá de sacanagem. Não tinha ninguém nível 9 lá – pragueja o general.
- Então alguém lá se promoveu – disse Dugan.
- Corta essa, Dugan. Existem apenas seis pessoas nível nove em toda a SHIELD: você, o Gabe, a Val, o Quatermain, a Hill e a Rucinter – disse Fury – Alguém hackeou a porra do sistema e emitiu um sinal falso. E eu vou descobrir quem foi. Meu acesso é nível 12. Me passa esse troço aí, Gabe.

Gabriel Jones estendeu o tablet para Fury. O general segurou o aparelho e digitou alguns comandos em sua tela touchscreen. Aguardou por alguns segundos a resposta do sistema.
Quando ela veio, Nick baixou o tablet sobre a mesa e coçou o queixo.

- E então, Nick? – perguntou Dugan – Quem foi?

Nick olhou para cada um dos agentes e respondeu:

- Aqui diz que... fui eu.
- O quê?
- Como é?

Fury respira fundo e devolve o tablet para Gabe.

- Aí diz que eu acessei o sistema. Minhas senhas, meu acesso.
- Que diabos... – pragueja Dugan.
- É impossível. Isso é impossível – protesta a Condessa De Fontaine.
- Valeu pelo voto de confiança – disse Fury – Claro que é impossível. A menos que eu tenha enlouquecido, algum filho da puta hackeou minha senha! E se isso aconteceu, estamos fodidos até o pescoço, porra!
- Estamos comprometidos... – murmurou Jones.
- É. Comprometidos e fudidos. A partir de agora, o caso do Maine vai ser tratado apenas pelos agentes nível 9 – decidiu Fury.
- Só nós? Mas Nick... Precisamos investigar muita coisa, são muitos dados... – contestou a Condessa.
- Dane-se. Somos apenas nós. Não dá pra confiar em ninguém fora daqui. Chamem o Quatermain, a Hill e a Rucinter.
- Ok, Nick – respondeu Gabe.
- Vamos lá. Me digam... o que havia de interessante sendo feito na base do Maine? – perguntou Fury.
- Era basicamente um arquivo. Não havia nenhuma pesquisa em desenvolvimento, nem alguma operação específica sendo coordenada de lá – respondeu Dugan.
- Arquivo... hmm... O que tínhamos arquivado lá? – perguntou o general.
- Ahn, diversas coisas... deixa ver... os arquivos do primeiro aero-porta-aviões, os registros dos aliens em atividade na década de 80... relatórios sobre as pesquisas genéticas, mutantes, vida artificial, armas químicas... – respondeu Gabe.
- Que maravilha. Parece a pauta da Scientific American... – resmungou Fury.
- Mas posso dizer que o principal volume de dados era das pesquisas sobre vida artificial... – completa Gabe.
- Quero uma cópia desse troço. Agora mesmo – exigiu o general.
- Não temos. É um projeto abandonado – informa Gabe.
- Como é? Como assim “não temos”??
- Existe uma cópia, mas está com a Agência Nacional de Segurança, em Maryland.
- Quem deixou esses putos terem uma cópia?
- Foi parte do esquema de “boa vizinhança” que as agências tiveram que adotar após o 11 de setembro. Passamos pra eles cópias de projetos abandonados, fracassos, perdas de tempo... – disse Dugan.
- Se pedirmos pra esses idiotas eles vão ficar no nosso pé... hmmm.. – pensa Fury.
- Que faremos então? - indagou a Condessa.
- Talvez haja uma alternativa... – diz Dugan.
- Fala logo, Dugan. Não curto suspense – diz Fury.
- Um dos cientistas do projeto de vida artificial ainda anda por aí.
- Cadê o cara?
- É professor em Denver.


Denver, Colorado - 20:42h p.m., horário local.

O homem baixo e atarracado desceu do taxi carregando sua pequena maleta. Ajeitou seus óculos e passou a mão livre pelos poucos cabelos grisalhos que ainda lhe restavam. Caminhou até a porta de seu prédio, um pequeno edifício residencial de quatro andares, situado num bairro pouco movimentado da cidade. Subiu com certa dificuldade os poucos degraus que o separavam da soleira da porta, pois suas pernas doíam. Uma herança dos anos como professor na universidade estadual local. Os anos não haviam sido generosos com o professor Phineas Horton.
Mas ele não pensava em desistir. Ensinar estava no seu sangue e apenas a ciência lhe dava prazer igual.
Tateou os bolsos em busca do molho de chaves, encontrando-o, como sempre, no bolso direito da calça. Selecionou a chave correta e inseriu-a na fechadura.
Antes que pudesse girá-la, o tiro lhe atravessou a cabeça, tingindo a porta com sangue e pedaços de cérebro. Seu corpo tombou pesadamente para o lado.
Nenhum vizinho ouviu qualquer ruído.
O atirador posicionado no telhado do prédio em frente sacou um binóculo e checou os arredores, certificando-se de que não havia sido notado. Vestia uma roupa completamente negra e uma máscara da mesma cor que encobria totalmente o seu rosto. Em meio às sombras, sua figura era completamente camuflada. Desceu calmamente pela escada de incêndio do prédio, retirando a máscara na descida. Dirigiu-se para um veículo esportivo estacionado na rua de trás e partiu sem chamar atenção.



Gail Rucinter era agente da SHIELD já havia uns bons anos. Começara como soldado no exército e logo se destacara em várias áreas, desde tiro até planejamento estratégico, e Isso lhe valera o convite para ingressar na agência de segurança. Ela não pôde recusar. O salário era ótimo, e trabalhar na SHIELD era o sonho de muita gente no serviço militar.
Mas, mesmo assim, ser chamada repentinamente pelo próprio Fury era algo que sempre a deixava excitada. Ela não entendeu quando ele disse que era sorte ela estar no Kansas, mas logo que ele explicou que ela precisava contatar alguém em Denver e ela pôs-se a caminho.
Chegou na cidade a bordo de um jato militar por volta das vinte horas. Logo recebeu da Condessa De Fontaine, pelo smartphone, a localização do contato. Suas ordens eram claras: contatar o professor Phineas Horton e mantê-lo sob custódia até a chegada do general.
Partiu sem demora no veículo que já estava à sua disposição.
Chegou à rua do professor às 20:50h.
Localizou o endereço pelo número e estacionou o carro. Foi quando percebeu o corpo caído na entrada do prédio. Ela já havia visto muitos corpos caídos. Sabia quando alguém estava morto só de olhar. Sacou sua pistola P229 procurou por movimento em volta antes de avançar com cautela até o corpo.
Sem espanto constatou que o corpo era de seu contato. Rucinter sempre teve um instinto para coisas ruins. Apanhou o smartphone e ligou para a Condessa.

- Aconteceu um imprevisto. O professor está morto – informou.


A bordo do helicóptero modificado, sobrevoando Indiana, Nick Fury e Dugan receberam as más notícias.
Fury deu um soco no painel de instrumentos. O piloto não ousou censurá-lo.

- Merda! – praguejou.
- Não pode ter sido coincidência – ponderou Dugan.
- Claro que não. Alguém está interessado no projeto de vida artificial. A morte do professor Horton apenas confirma isso – conclui Fury.
- Só nos resta o arquivo da ANS.
- Nem fodendo eu vou pedir praqueles cretinos. Eles iam se meter e atrapalhar tudo.
- Não tem jeito, Nick.
- Hmmm... tem um jeito, sim.
- Qual?
- Vamos terceirizar os serviços. Conheço alguém que pode conseguir essa cópia pra gente.
- Ué? Quem? – perguntou Dugan.
- Uma gata.


Continua em Gata Negra 01
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+ comentários + 4 comentários

31 de julho de 2010 às 17:04

soberbo. reli no mesmo esquema: tenso, roendo as unhas e impressionado. parabéns, nery.

31 de julho de 2010 às 17:07

Nery, realmente você nasceu prá ser escritor da Marvel cara!
Essa versão da SHIELD tá foda! Adorei como você desenvolveu os personagens, como mostrou suas interações e acima de tudo o uso de coisas como ipads e tals, uma especialidade sua, aliás!
O começo foi, desculpe o trocadilho, explosivo, a revelação do Fury estarrecedora, e esse final...
Caceta! Vai logo escrever a continuação!!!
Meus parabéns por mais esse excelente título!
Um abração e até mais!!

7 de agosto de 2010 às 13:40

Realmente sensacional!
A descrição dos esquemas de segurança, dos personagens das ações, da ambientação num contexto moderno e etc, tudo ficou de mais! Quando chega ao final, simplesmente mal dá pra esperar por uma continuação!!
Parabéns, sócio!

30 de setembro de 2010 às 22:39

Eita!!
Vim aqui conferir essa fic, que me surpreendeu bastante... nunca curti as histórias do Fury, mas vou ter que dar o braço a torcer, pois essa foi realmente muito intrigante... Gosto do jeito "Fury" de resolver as cosias... e acredito que a dinamica entre os agetnes vai render boas histórias...O único personagem que eu não conheço é a tal Rucinter...ehehehe
Abração, Nery!!!

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