Lara, para salvar seus amigos, precisa encontrar um poderoso artefato maia, escondido no meio de perigos em Honduras! Tudo isso contra o tempo, porque a princesa Adún está prestes a ser sacrificada!
Tomb Raider #7 – O Deus Serpente de Plumas
Chichén-Itzá, México
Pela primeira vez, Lara pode admirar essa antiga construção de uma das mais significativas civilizações extintas pela ganância humana.
Mesmo em situação crítica, a arqueóloga sentia a adrenalina lhe cortando as veias.
“Sempre é bom voltar aqui…” – pensava, enquanto caminhava com Ogumbyí, o vilão ainda sem nome e diversos capangas, que arrastavam a princesa Adún.
Caminharam passando por templos, pelo observatório El Caracol, até chegarem a um lugar nunca visto antes por Lara: o Poço Sagrado.
Aqui, em tempos de seca, os sacerdotes e o povo seguiam em procissão por uma larga estrada, a fim de apaziguar a cólera do deus da chuva. Levavam consigo as vítimas que deveriam propiciar o deus: jovens donzelas e moços. E, depois de cerimônias solenes, elas eram empurradas para o poço, tão profundo, que nunca ninguém voltou à superfície.
- Apesar disso – falou o inimigo – o caminho, com o frequente afogamento simbólico, é quase sempre representado como a alegre afirmação da vida. Este mesmo caminho, o da donzela maia para o Santo Cenote, era sempre o caminho para a morte. Ricamente adornadas, elas se aproximavam da beira do poço, e então soava o seu grito sufocado ao tocarem a água estagnada.
- Bela aula, colega. Agora me diga, o que pretende aqui?
- Veja – e aponta. Afastados, a princesa africana estava amarrada, dependurada sobre o poço – Se você não retornar com a Máscara, a jovem será atirada ao deus da chuva.
- Peraí! Eu nem tenho certeza de que vou recuperar o artefato.
- Claro que vai, Lady Croft. Deixe o pessimismo de lado. É bem simples: você viaja para Honduras, recupera a peça, retorna, e todos ficamos satisfeitos.
- Quais garantias terei?
- De novo essa pergunta? Já disse que nenhuma.
Lara não esconde a raiva e Ogumbyí se aproxima.
- Não tema, amiga. Vai dar tudo certo.
Barulho de aeronave se aproximando. Todos olham para cima e se assustam quando algo grande é lançado, caindo com para-quedas.
- Meu transporte chegou.
- Pretende cruzar a América Central num carro?
- Não é um carro, meu filho. É um Jipe Tac Stark 4WD 2010. O motor FPT 2.3L Turbo Diesel Intercooler Eletrônico Commom Rail, possui 127 CV/3600 rpm e torque líquido máximo de 300Nm/1800rpm. O câmbio é manual de 5 velocidades da EATON, diferenciais DANA 44.3 e tração 4X4 com reduzida da BorgWagner, que é acionada manualmente através de uma alavanca no interior do jipe.
- Interessante, mas, lento. Você vai até o Caribe, pega uma embarcação e de lá parte para Honduras.
- Que cara chato... Que seja. Melhor eu partir logo. Quero chegar ainda claro lá.
Ela se aproxima de Ogumbyí.
- Não se preocupe, amigo. Eu conheço aquela região…
- Não se esqueça do Oxê, Lara. Com ele você terá as respostas.
Lara entra no jipe.
- Aproveitem o final do dia e tirem muitas fotos. Vão se surpreender com o visual!
E arranca com o veículo, ao som alto de Radiohead.
Algumas poucas horas de Chichén-Itzá até Cancun. Pelo mar das Antilhas ela navegou até Honduras e, logo depois do desembarque, já rumava, acelerada, para Copán.
Mais algumas horas e lá estava ela.
Em Copán. Situada sobre o rio de mesmo nome, que deságua no Montagua e por este no golfo de Honduras. Foi por esta região que marchou Cortês, quando, depois da conquista do império dos astecas, seguiu do México para Honduras, no ano de 1525, a fim de castigar um traidor, percorrendo mais de mil quilômetros por montanhas e florestas primitivas.
Ao se aproximar, Lara reconheceu sinais da cultura maia. Uma grande estela, em pedra antes polida, com medidas de 3,90m de altura por 1,20m de largura e 0,90m de espessura. A coluna, que possuía baixos e altos-relevos, apresentava o desenho de um homem, que causava certo terror a quem o via, além de diversos hieróglifos.
Ela parou o jipe e pôs-se a andar, não sem antes conferir as armas, munições, lanternas e, claro, o Oxê.
Pela mata fechada, ela só escutava os próprios passos, ao esmagar vegetação seca, e o cantarolar dos pássaros.
Nada mais.
Era muito difícil não se desconcentrar ao ver aqueles muros que aguentaram séculos, que ainda guardam segredos e muita história.
Só que o que mais preocupava era que ela nem sabia por onde começar.
- Taí, mon amour?
- Onde mais estaria, Philips?
- Nos meus aposentos, pode ser?
- Brindando no seu velório?
- Humorada como sempre. Já está em Copán?
- Sim, e sem saber o que fazer.
- Provavelmente a Máscara não está na construção principal.
- Talvez esteja sim, mas no interior, numa passagem pra outro local.
- Bom, pelo livro azul li que os maias sempre instalavam espécies de porta-bandeiras para guiar espíritos, sacerdotes e imperadores.
- Nem isso vi por aqui. Vou entrar pelo centro cerimonial.
- Ok, tenha cuidado. Vou seguir pesquisando daqui!
Realmente era difícil pensar, respirar, com tamanha informação absorvida no local. Com um pouco de concentração podia-se ouvir a vida dos maias, sua rotina, enfim.
Se espreitando, ela cruzou uma fenda na construção do centro e só conseguiu enxergar ao acionar a luz fluorescente.
Um estreito corredor a levava para o desconhecido. Tão estranho que só se deu conta que estava deslizando quando a velocidade aumentou e ela passou a descer rapidamente. Arremessou a luz, que revelou uma queda, a princípio, sem fim.
Outra luz arremessada rolava à sua frente, e ela marcou o exato lugar onde a rampa terminava. Ao chegar lá, pegou impulso e saltou. Na sequência, arremessou o gancho e fechou os olhos – o que não adiantava muito – e pediu pra ter sucesso.
O gancho se prendeu em algo. Aliviada. Acionou outra lanterna e analisou o ambiente. Abaixo, tudo preto, com exceção de duas luzes e um reflexo. Acima, bem no alto, uma saída.
Resolve ir pra baixo, gastando quase cinco minutos até alcançar o fundo. Chutou as lanternas já gastas e se encantou ao ver uma esfera dourada, mas fosca. Sem pestanejar, pegou a bola pesada e tratou de subir. Nesse momento, lanças saíam de todas as paredes.
Sorriso depois da fuga.
Alcançou a saída no alto e se assustou com a drástica mudança de tempo: agora chovia torrencialmente.
A surpresa veio com o que estava ao seu lado: uma estátua de um pequeno homem, agachado, e entre os joelhos dobrados, as mãos em posição de portar algo.
- Um porta-bandeira… Acho que deixei de pegar alguma coisa no caminho!
Buscava com os olhos duas coisas: uma bandeira e a vista. O único que enxergou foi uma ponte em pedra, mas que não via pra onde a levava.
Encharcada, Lara retirava o excesso das gotas do rosto e pensou no Machado. Mas ele não encaixava na pequena estátua.
Um graveto.
Quebrou um pedaço de planta e posicionou o talo dento das mãos da imagem. Um novo ruído e acima das árvores, outra esfera brilhava.
Sorriso na face. Deixou a mochila ao lado da estátua e iniciou uma escalada. Até parar. Rosnados. Mãos na cintura. Três margays [felino nativo das Américas Central e do Sul, com aproximadamente 80cm de comprimento sem contar a cauda, que tem até 51cm, pesando 9kg] pulavam de galho em galho, como se protegessem a esfera.
Se balançando também, Lara tentava evitar o confronto, mas sabia que os felinos eram muito mais rápidos do que ela.
Parou numa parte mais resistente da copa e sacou as pistolas. Disparou, derrubou um. Saltou, atirando, derrubou outro. O terceiro surgiu do nada e lhe arranhou a perna, para, na sequência, receber tiros e cair.
- Odeio quando isso acontece…
Novos saltos e ela atinge a outra esfera.
Tratou dos ferimentos causados pelas garras do margay, recolheu os pertences e caminhou na direção da ponte de pedra, suspensa.
Não olhou pra cima, baixo, lado, nada. Apenas andou, calmamente, equilibrando o corpo por causa do peso que levava.
Enfim ela entendeu que a ponte tinha um formato de serpente. E ao parar na cabeça, suspirou com a cena.
Na sua frente, uma construção, com uma grande escadaria. No alto, uma estátua dourada, como se fosse alguém sentado de pernas cruzadas, de braços estendidos e palmas das mãos viradas para o solo.
Entre ela e a edificação, havia o nada.
- Bom, se alguém ergueu isso aí, deve ter dado um jeito de cruzar pra lá.
A vista para baixo revelava o verde da vegetação.
Ela olhava para os lados, para cima, a distância – era impossível um salto – para baixo outra vez.
Até cerrar os olhos. E sorrir.
No chão, o verde tinha duas tonalidades. A parte mais escura era visivelmente destacada da mais clara, logicamente. Mas o que intrigava era o formato. Como se fossem retângulos deitados, paralelos.
- Vejamos...
Sobre a cabeça da serpente gigante, feita de pedras, Lara caminha, voltando um pouco o percurso, para observar cada detalhe milimetricamente.
Passa os dedos sobre as paredes maciças, cobertas pelas trepadeiras.
Um baixo-relevo.
Forçando, atingiu um dispositivo.
Um leve ruído.
- Huh-hu...
Voltou para aquela espécie de mirante e se assustou.
Mesmo com a forte chuva, a relva ardia em fogos. Isso porque as partes escuras do solo ergueram-se em pilares flamejantes, de onde, em cada extremidade, outras cabeças de ofídio cuspiam chamas.
- Agora sim!
As bolas foscas, presas na mochila, estavam seguras. Agora, vinha o de praxe.
Respirar profundamente. Cronometrar o tempo em que cada mureta se ergue, em quanto tempo o fogo sai, a duração dele e quando ele retorna pro solo.
Saltos. Paradas bruscas. Leves escorregões. No meio do caminho surgem morcegos. O tempo era curto, então, Lara sacou as pistolas, passou a disparar e, ao sentir a tremedeira do pilar que anunciava a descida, ela saltou, ainda atirando nos mamíferos voadores, até que eles caíram no calor.
Um último salto e ela estava no pé da construção maia. Aquele templo em homenagem ao sol, onde havia marcas do calendário, de sacrifícios, e de Kukulkan, o lendário primeiro mestre destes nativos.
Enquanto subia aquelas dezenas de degraus de uma pedra tão antiga que há séculos dá sinais de erosão, o Oxê vibrava, deixando Lara curiosa.
Agora ela saca as esferas num dourado fosco e analisa a imagem daquele deus coroado com raios solares e se pergunta: o que fazer com elas?
Olhando pro céu, se surpreende com o sumiço das nuvens e o brilho cegante do astro-rei.
E as palavras de Ogumbyí ecoam em seus pensamentos.
O Machado de Xangô.
Ela o pega. A luz azul envolve seu punho direito. Sem hesitar, ela o bate, com força, contra as pernas da estátua.
Acompanhado pelo estrondoso barulho do atrito, os braços da imagem se mexeram e as palmas das mãos dela se viraram para cima; para o céu.
O resto era previsível: Lara lançou as esferas, cada uma na direção de uma mão, e lá elas ficaram, levitando.
Novos tremores e a barriga da estátua se abriu. Na cavidade, Lara deslumbrava a máscara de Kukulkan.
E assim que ela a pegou, o céu fechou-se rapidamente e voltou a chover. A imagem em homenagem ao sol ruiu, os pilares incandescentes estavam mais violentos, só que Lara decidiu voltar por outro caminho, por trás da estátua.
Acabou se intrigando com os desenhos que via, esculpidos nos degraus traseiros...
Correndo, deslizando, rolando, se machucando. Foi assim até a terra firme, encharcada; o que não impediu de um incêndio se alastrar por toda a área.
Para sua felicidade, lá estava seu Jipe amarelo, no mesmo lugar onde ela o estacionara, se destacando na escuridão florestal daquela região de Honduras.
E ela encarou o retorno solitário, durante horas viajando, ouvindo U2, alternando com conversas com Phillips. Só que dessa vez ela chegou a cogitar deixar o oponente esperando.
Nos pensamentos, ela não pegou a embarcação no Caribe para ir pelo mar até o México, e de lá seguir para Chichén-Itzá. Ela simplesmente imaginava cruzar a Guatemala, Belize e assim chegar ao destino mexicano.
Só que era um ato ariscado, apesar de que quem exigiu o trabalho ter total confiança no sucesso.
Vidas estavam em perigo.
- Quem sabe nas minhas próximas férias?
Chichén-Itzá, México
Poço Sagrado.
A imagem era a mesma, salvo o acampamento montado. Mas a princesa Adún ainda estava amarrada, dependurada, e Ogumbyí acorrentado.
- Pode parar com isso, colega. Estou com o que você tanto quer.
Os olhos do inimigo se acendem.
- Onde está?
Lara arremessa um objeto envolto numa espécie de lona.
- Agora, liberte meus amigos.
- Claro! – e faz um sinal. Seus capangas correm, seguram Lara, trazem Ogumbyí e os arremessam no Poço. – Boa sorte!
Gritos.
Os capangas desarrumam rapidamente o acampamento. A princesa africana é levada para o veículo de fuga do criminoso, que, agora admira a Máscara de Kukulkan.
Que, na verdade, não é bem uma máscara, e sim, uma espécie de elmo.
- Faltam poucas peças agora... Vamos, seus lerdos!
Na água escura, Lara e Ogumbyí nadam em círculos, resmungando, no meio da lama, pedras e detritos.
- Ogumbyí, segura minha cintura, vou tentar uma coisa!
O gancho é arremessado e se prende na colina. Com muita força, os dois fazem movimentos, puxando, pra se aproximar da única forma de escapar do Santo Cenote.
- Base, taí?
- Claro! E então, resolveu a vida?
- Tou meio encrencada aqui, mas preciso de coordenadas. Preciso saber para onde o canalha foi.
- Vou buscar imagens de satélite.
- Ogumbyí, força! Estamos quase lá!
- Lara, eles estão indo para o sul.
- Sul?
- Lara, ouvi o sequestrador dizer sobre um gigante adormecido.
- Espera… eu vi alguma coisa similar quando fugia do Templo do Sol…
- Lara, descobriram que usei o satélite. Vou ter que sair pra enganar esses hakckers! O INTERMARINE 68S vai encontrar vocês no Caribe.
- Ok… É, meu amigo Ogumbyí, pra quem achava que tinha terminado… parece que nossa cruzada está apenas começando!
Na próxima edição de Tomb Raider: Redenção
+ comentários + 2 comentários
Mais um capítulo sensacional da Lara!!!
Como ssmpre as cenas de ação estão excelentes! cada vez que leio eu imagino estar jogando o game, tamanhas as similaridades...
E levanta a mão quem achou que não ia acontecer algo como o que o vilão fez no final...hehehehe
Já estou ansioso pelo próximo capítulo!
Meus parabéns, um abração e até mais!!!
poisé, João, eu também escrevo Lara achando que tou jogando! e estava na hora desse cara mostrar que é vilão mesmo... mês que vem [espero] tem Lara Croft no Rio de Janeiro!! valeu pelo comment e pela leitura!
Postar um comentário