Drakoniana #1
Dragões: Amigos ou Inimigos? Na época medieval ainda havia um cavaleiro que acreditava nos dragões e queria sua ajuda para combater outros dragões. Amigos ou Inimigos? Escolha um lado dessa disputa.
Por Marcelo Moro
Nos verdes campos escoceses, onde o sol não brilha todos os dias, um jovem caçador está à espreita. Ele sabe que sua presa valerá várias semanas de cerveja e mulheres nas tavernas, pois sua cabeça encherá sua bolsa de ouro. Há muito tempo ele está no vale, escondido. Ele está lá para descobrir o covil da fera maldita, o flagelo alado desse lugar. O pessoal do vilarejo estava desesperado por um caçador, que o livrassem desse mal, que assola os céus, e cai sobre eles sem o menor aviso, matando e dilacerando, tanto se fossem homens, como se fossem gado. O jovem caçador estava na tocaia de um assassino alado, um matador de homens. Sabia que logo seria hora dele sair novamente da toca. Já fazia alguns dias que ele caçara pela última vez, então deveria estar ficando com fome, pois não podia ficar muito tempo sem a caça. Algumas vezes se perguntava se essa besta assassina não caçava pelo simples prazer de matar, mas todos sabiam que ela devorava os corpos que matava, não deixando vitimas agonizantes. Mas ainda não seria hoje, pois já estava anoitecendo. Ele tornou a se deitar, numa cabana improvisada, de modo que o vento não levasse seu cheiro para dentro da caverna.
- Bem que ele podia sentir fome logo. Eu não agüento mais.
O caçador sabia que não poderia fazer desmoronar a caverna, pois só valeria seu prêmio na hora que ele aparecesse com a cabeça da fera. Mas ele tinha confiança, que no outro dia a fera não tardaria a aparecer, o qual se mostrou correto. Logo no final da tarde, a fera saiu da caverna. A pele escamosa, brilhante, como se acabasse de sair de um lago, límpida e ofuscante, com dois grandes olhos, que eram maiores que sua própria cabeça. Da cabeça saía seis grandes chifres, claros como marfim, sendo três de cada lado. O primeiro de cima sobressaia aos outros, lembrando uma grande coroa, como se prenunciasse O Rei dos Matadores de Homens. O grande corpo, avermelhado, medindo mais de 15 metros de comprimento, terminava numa reluzente cauda, que por sua vez, tinha aponta que lembra uma flecha. Qual não seria o espanto de se ver essa cauda transpassada num coração. Ele sabia que chegara a hora. O Dragão estava na sua frente. Ele sabe que não terá chance nenhuma se a fera levantar vôo. Mas a visão da fera o paralisa. Um medo invade sua alma, seria ele capaz de dominar sozinho esse gigante? Todos esses dias parados, de tocaia, não amoleceram seus reflexos? Suas pernas doíam, por causa da cãibra, de várias horas abaixadas numa mesma posição. Mas ele sabe que não poderia esperar mais. Ele retesa seu arco, e atira a primeira flecha no olho esquerdo da fera, o fazendo urrar de dor. Quando o dragão ergue a cabeça, ele colocou outra flecha, e cegou totalmente a fera. Tivera sorte ao também acertar a segunda flecha, com a besta assassina se jogando para os lados, como se procurasse quem lhe afligisse a dor, a dor alucinante que estava sentido. Num lampejo de coragem, ele correu com uma grande lança, e traspassou o lugar onde estava o coração da fera, que caiu. Então, com a espada em punho, ele correu em direção à fera semi-abatida, e golpeou diversas vezes, mas a fera não morria facilmente. Com uma batida de suas asas. O jovem caçador foi atingido e arremessado para trás. Foi arremessado a 10 metros de distancia, caindo e rolando, até parar batendo numa árvore. Realmente, o tempo parado, sem se exercitar tinha deixados seus músculos endurecidos, doloridos. Novamente o medo, e se a fera sentisse seu cheiro e o atacasse ali mesmo? Mas não, o caçador deveria dominar seu medo, pois a fera já estava ferida, e não poderia fugir, e mesmo que pudesse, não iria longe, devido aos ferimentos. Ele estava novamente em frente da fera, que urrava de dor e girava seu corpo, na esperança de golpear seu algoz com a cauda. Ele conseguiu se esquivar da cauda na primeira vez, e deu uma estocada com a espada perto de onde havia atingido com a lança, mas a segunda batida da cauda o desequilibrou. O dragão estava parado em sua frente, com a lança pendurada, o que o fez se jogar com todo seu peso na lança, para cravar ainda mais a fundo no peito do dragão, depois ele recuperou a espada e golpeou várias vezes o pescoço da fera, até que conseguiu separar a cabeça do corpo dela. Nesse ínterim, com a segunda estocada da lança, ela ficou muito ferida, e deixou de oferecer muita resistência. A luta durara pouco, não chegou a meia hora, mas parecia que havia durado uma eternidade, pela exaustão e pelas dores no corpo, que agora, com a diminuição da adrenalina no corpo, ele ia sentido. Após descansar um tempo, ele arrastou a cabeça para baixo, no vale, onde deixara escondida sua carroça, e com muito custo colocou a cabeça em cima. Ele precisou amarrar a cabeça para que o cavalo içasse para dentro da carroça.
- Essa cabeça vai me render muito ouro. Quem sabe eu não passo umas semanas no vilarejo, me deliciando com as garotas do lugar. Aquela loirinha, da taverna, era muito fofinha, ou seria melhor escolher a moreninha, filha do peixeiro?
Quando chegou ao vilarejo, de longe as crianças viram a carcaça na carroça, e correram anunciar para todos que a fera estava morta, finalmente. O vilarejo fica no fundo de um vale. Tinha uma garganta onde a passagem era facilitada pelo terreno, mas só. De um lado da vila, um grande lago provia de peixes a cidade, advindo de um riacho que nascia nas montanhas. O jovem foi recebido com todas as honras da cidade, principalmente pelas mulheres, que o agradeciam como podiam. Essa seria uma noite de festa, cantados por muitas e muitas semanas. Com a cabeça morta na praça, fez-se uma grande fogueira, onde o fedor da carne queimada era sentido a muitas léguas de distância. Muita cerveja já fora servida, e ainda havia muito mais para servir. Durante a noite, o jovem cavaleiro teve que contar inúmeras vezes como foi que abatera a fera, e a cada nova narrativa, mais fatos heróicos eras acrescentados, para esconder o fato que ele emboscou a fera sem a menor chance dela se defender. Ele contava como ela o agarrou com as poderosas patas, e subiu com ele aos céus, e como teve que lutar para se desvencilhar das patas, e subir em suas costas para obrigá-lo a descer ao chão. Em como ele se esgueirava para fugir das labaredas de fogo que o monstro jorrava em sua direção. Como ele teve que dominar o cavalo, para que ele não fugisse de medo do dragão. Essas bravatas foram contadas e recontadas por muitas e muitas vezes durante a noite, mas eram somente um prelúdio do dia seguinte. Poucos minutos antes do alvorecer, quando o sol tentava aparecer detrás dos morros, a cabeça ainda queimava, fedendo longe o cheiro da carne já torrada. Alguns poucos homens ainda permaneciam de pé na praça, tentando se equilibrar devidas as várias canecas de cerveja que tomaram a noite inteira, cantando para o grande guerreiro que os livrara daquele terrível mal, que era um matador de homens. Finalmente o flagelo dos céus estava morto, sua cabeça queimada, e a vida prometia se tornar tranqüila a partir dali. Mas, quando o sol aparecera, um mal, tão ou mais terrível que o outro, aparecera contra o horizonte, cobrindo a luz da manhã. A princípio, era apenas uma sombra, mas em poucos minutos era uma terrível tempestade. Uma tempestade de fogo. Tão logo como surgira imprevisível e assustador, o temível dragão vomitava labaredas de fogo e assava os homens, o qual ele prontamente aterrissava para comer, saboreando suas cinzas, que para ele era um repasto digno de rei, se fosse humano. Um a um, ele foi matando os homens do vilarejo, assim como mulheres e crianças, nada tinha perdão, a seu ver, era comida para ser colhida, para assim abater a fome que o consumia. O guerreiro, armado da lança, logo investiu contra ele, mas foi repelido com uma batida da asa, que o fez voar através da parede de uma casa próxima, só parando ao encontro de uma prateleira, no lado de dentro. No chão, várias panelas caídas em cima dele, assim com potes com alguma comida. Ele levantou, e o medo invadiu novamente sua alma, o grande dragão negro era muito mais feroz que o outro que ele matara noite anterior, apesar de ser menor. Mas ele não iria se entregar ao medo, pois se não o fizera no dia anterior, por que o faria agora? Com o arco, ele mirou novamente nos olhos do dragão, e atirou a primeira flecha, perfurando o olho da fera, ele podia se vangloriar de uma coisa, que ele tinha uma ótima mira com arco e flecha. Cego de um dos olhos, o dragão pousou e se ergueu nas patas traseiras, urrando de raiva, vomitando um jorro de fogo através de suas ventas. Tudo que estava em seu caminho foi queimado, e através do fogo, o jovem caçador pulou com sua lança, direto no peito do dragão.
- Morra desgraçado. Morra como o outro.
Mas o grande Dragão Negro, apesar de sentir o golpe, não morreu. Com sua cauda, ele golpeou o cavaleiro, o jogando vários metros para trás, batendo numa árvore (novamente numa árvore, pensou o caçador), o deixando com um profundo corte na perna. Rapidamente, ele arrancou sua camisa, para estancar o sangue que estava escorrendo, e observou o dragão. Com sua lança no peito, parecia que a besta não tinha mais forças para voar, mas ainda estava destruindo o vilarejo.
- Droga. Acho que errei o coração, deve ser um pouco mais para o lado.
Nisso, mais alguns aldeões surgiram, portando machados, foices e garfos [1]. Alguns portavam rudimentares lanças. Nisso ele teve uma idéia. Mancando, ele se dirige aos aldeões.
- Usem os machados para fazerem algumas lanças, e lancem perto da que está cravada no peito da besta. Quando ela prestar atenção aos homens de frente, com os machados e foices, tentem cortar o rabo dele fora. O pessoal dos garfos perfure as asas, para que ele não possa fugir.
E assim fizeram. Depois de uma hora de luta, onde o dragão matou alguns camponeses com baforadas de fogo, e que resultou num incêndio na vila que consumiu mais outra hora para controlar, eles conseguiram matar o dragão. Intrigado com o fato dele não ter morrido igual ao outro, ele pega uma faca e começa a estocar o dragão, no lugar onde ele cravara a lança, até que finalmente conseguiu perfurar a sua pele, e fazer um grande corte, que resultou num grande susto, para ele, e para todos ali presentes. Ele havia acertado bem no meio do coração, mas ao lado, havia outro, outro coração.
- Que merda é essa? Dois corações?
Com essa descoberta, o caçador pediu para alguns aldeões o acompanharem até o local que estava o outro corpo de dragão, o que prontamente foi atendido por dois homens da vila. Após uma longa caminhada, que parecera que foram de muitas e muitas milhas, devido ao cansaço da noite em festa, e de outra peleja contra o dragão, eles chegaram à caverna. No outro corpo, já parcialmente devorado pelos abutres, eles descobriram que aquele dragão só tinha um coração, que era diferente dos outros. Era maior, e parecia que se dividia ao meio. Os três se entreolharam, e sem dizer uma palavra, adentraram na caverna que servia de ninho para o dragão. Acenderam uma tocha, e começaram a vasculhar o ambiente. No escuro, a cada passo, o medo ia dominando os três homens. Um silêncio profundo baixara entre os três homens. E se houvessem mais dragões, como somente eles três iam conseguir se defender? Mas nos primeiro vinte metros de caverna, nada denunciava que ali vivia um dragão, não se ouvia um barulho, o que, de certa forma, os tranqüilizava, mas ao fundo, um forte odor de carne invadiu suas narinas e nauseou seus estômagos. Com a fraca iluminação que tinham, não conseguiam visualizar exatamente o que ali se encontrava, mas de uma coisa eles tiveram certeza. Não havia ossos humanos. Somente carcaças de animais, inclusive de uma vaca semi devorada estava ali.
- Por isso ele demorou a sair da caverna – disse o caçador, enquanto usava sua tocha para iluminar o resto mortal do animal.
- Mas onde estão os ossos das pessoas desaparecidas? – outro aldeão iluminava o resto da caverna.
- Não sei, mas tudo indica que esse aqui não comia pessoas.
Depois de explorar a caverna, e ter certeza que não havia mesmo ossos humanos, os três voltaram à aldeia, de onde o jovem se despediu, e continuou sua viagem. Ele decidira não correr o risco de outro dragão aparecer e, afinal, já recebera por matar o primeiro dragão, e os aldeões ainda incrementaram sua recompensa por ter matado o segundo. Realmente, ele saiu de lá como um herói matador de dragões.
Alguns dias depois
Já estava anoitecendo, e o jovem caçador, agora chamado de Matador de Dragões, estava procurando um abrigo seguro para acampar. O sol ainda não tinha se posto, mas ele sabia que era perigoso andar após o anoitecer, por causa da visão que o povo acreditava que os dragões tinham a noite. Ele estava no alto de uma colina, onde poderia facilmente achar um lugar para descansar, pois se via longe. Ao norte, ele viu uma floresta, com um lago à sua frente, e ele decidiu rumar para aquele lado. Quando ele estava descendo, ele escutou um barulho de asas, e logo uma sombra o cobriu. Assustado com a possibilidade de ser atacado, ele se jogou de cima do cavalo, apenas para ver que o dragão estava muito alto, e passou reto por ele. Já de pé, ele tentou vislumbrar para onde o dragão esta indo, e qual não era sua surpresa, ao notar que ele desce numa clareira, no meio da floresta que ele está indo.
- Isso só pode ser um sinal. Um sinal que vou me dar bem de novo. Três Dragões em menos que uma lua [2].
Animado com a nova possibilidade, ele tratou de buscar seu cavalo, que tinha se assustado com o barulho de asas, e correra para longe. Após uma caminhada de algumas milhas, ele vê seu corcel parado num riacho, o que não dificulta sua aproximação. Nesse momento, o sol lançou seu ultimo brilho, e a noite desceu. Como não havia lua, ele teve que prosseguir com calma, para que seu cavalo não tropeçasse em nenhum buraco, ao longo do caminho. Após algumas horas, ele alcançou a orla da floresta, e aperreou [3] do seu cavalo. Com cuidado, ele amarrou o cavalo numa árvore, e se embrenhou na floresta, para ver onde o dragão estava. A floresta era extremamente fechada, o que consumiu pelos menos mais umas duas horas até o caçador conseguir chegar ao centro, na clareira. Os galhos das árvores, e os espinheiros, além do tempo, lhe consumiram vários cortes, alguns arranhões no rosto, e muita canseira.
- Droga, com esse esforço todo, o Dragão vai me olhar, e eu vou cair duro no chão.
Mas, quando ele finalmente chegou à clareira, ele teve uma visão que não pode acreditar. O Dragão estava deitado, dormindo ao lado de uma grande fogueira.
- Mas que merda é essa? Desde quando dragões precisam se aquecer a fogueira?
E o caçador continuou se esgueirando, até achar um lugar com uma visão melhor, mas sempre cuidado para ficar sob a proteção das árvores. Ele se deslocou uns 10 metros para a direita, quando vislumbrou um manto no chão. Com certeza o dragão tinha parado na clareira para comer um ser humano, mas como teria acendido do fogo? E para que? Essas perguntas perturbavam a mente do guerreiro. Ele decidiu continuar circundando o dragão, e logo avistou um grande cavalo negro, parado a poucos metros do dragão, perfeitamente calmo.
- Mas que merda é essa? Um dragão, dormindo numa clareira, com um fogo para aquecer, e um cavalo sem medo dormindo ao seu lado?
Estava amanhecendo. O cavaleiro perdera muito tempo entre pegar seu cavalo, e se embrenhar na floresta. A claridade já começava a inundar a floresta, quando ele decidiu se abaixar, para não ser visto pelo dragão. Ele ainda estava muito cansado. Logo, ele teve um susto. O manto que cobria o corpo se mexeu. Era um homem, já idoso, e estava vivo.
- Bom dia, Drake – falou o velho.
- Drake? – o cavaleiro olhou para os lados – tem mais alguém ali?
- Bom dia, John – o dragão respondeu - dormiu bem?
O cavaleiro, dentro da mata caiu sentado. O dragão falava. Mas como? Era um animal, uma besta assassina.
- Claro – disse John – apesar de não ser mais o homem de outrora, uma noite bem dormida faz milagres. Então, conseguiu noticias?
- Sim. Drimeer foi morto, assim como mais um dos dragões negros.
- Droga. Drimeer tinha o conhecimento sobre os dragões negros.
- Eu não arrisquei a entrar em sua toca. Poderia haver mais caçadores ali – Drake falou, enquanto esticava as asas.
- E fez bem. Nunca sabemos onde esses assassinos podem estar. Que falta fazem os antigos cavaleiros, os verdadeiros.
- Você é o ultimo, John.
- É verdade, mas estou velho. Depois que partir, quem irá lembrá-los do velho código?
- Se as coisas continuarem como estão, velho amigo, não restará humanos para lembrá-los do velho código. Todos perecerão sob o fogo dos Dragões Negros.
O caçador escutava a conversa entre o Dragão e o velho atentamente. O medo inicial que ele tivera, aos poucos vai sendo substituído por curiosidade. Como um humano poderia ter uma amizade com um dragão. Será que o dragão que ele matara era esse Drimeer? O dragão falava, tinha inteligência, e era amigo do velho, há muito tempo. E era vermelho, como o dragão que ele matara dias atrás. E, realmente, ele era diferente do morto na vila. Aquele tinha uns aspectos mais ameaçadores, negros como a noite, dispara labaredas de fogo, queimando as pessoas para depois devorá-las inteira. Mas o que era esse velho código? E quem era esse velho, que foi chamado pelo dragão de último dos cavaleiros?
Mas o que eles estavam procurando? E por que essa péssima premonição, que a humanidade iria morrer? Ele precisava descobrir mais, então ele decidiu se aproximar um pouco mais. A floresta tinha um braço de vegetação, que chegava a menos de três metros de onde Drake e John conversavam. Assim, cautelosamente, para não ser denunciado pelo barulho, ele avançou. Quando o caçador chegou ali, começou a se arrastar, até chegar o mais perto possível, até parar a poucos metros dos dois.
- Agora, Drake – falou John – devemos ir ao norte, procurar Fafnir, nas terras nórdicas.
- Espere, John.
- O que aconteceu?
- Sinto um cheiro – e não dizendo mais nada, ele se dirige rapidamente onde o caçador estava escondido, e com a pata dianteira, arranca os galhos que estavam escondendo o rapaz, e com a outra o agarra, apertando fortemente – diga, humano, o que está fazendo escondido – dizendo isso, Drake ainda solta uma labareda de fumaça no rosto do caçador, que nesse momento sente mais medo do que sentiu em toda sua vida.
- S... Solte-me...
- Solte-o, Drake.
- Mas, John. E se ele for um caçador? O assassino de Drimeer?
- Seria um caçador idiota, olhe para ele, cansado, desnutrido, somente com uma espada. Que espécie de idiota sairia assim para caçar um dragão?
- Eu seria esse idiota – pensou o caçador, ainda com muito medo, mas vendo que o velho tinha o domínio da situação.
Drake soltou lentamente o caçador, e ficou nas suas costas, enquanto John sentou, e lhe ofereceu comida. O grande dragão vermelho, abaixado, com a cabeça rente ao chão, soltava fumaça pelo nariz, numa clara demonstração que, se o caçador cometesse um ato ameaçador, seria queimado de uma só vez. O caçador prontamente atendeu seu pedido, sentou-se para comer, e lhe perguntou quem era.
- Meu nome é John, sou o último cavaleiro do velho código. Junto com meu amigo Drake, estamos numa busca.
- Uma busca.
- Sim. Buscamos um meio de acabar com os dragões negros.
- Mas... e esse? – fala o jovem caçador, olhando para Drake.
- Drake? Ele é um dos últimos dragões vermelhos, como pode ver. Mas você, jovem, como se chama?
- Alex, senhor.
- Alex. Então diga, caro Alex, o que faz por esse lados?
- Eu caço, senhor. Sou um caçador.
- Usando somente uma espada?
- Não, senhor – Alex já estava se sentindo mais a vontade – no meu cavalo eu tenho uma lanç... – dizendo isso, ele vira o erro que cometera, pois no mesmo instante Drake se virara e o fitara diretamente nos olhos.
- Uma lança – diz John – para caçar coelhos, acredito eu.
- Não, senhor – Alex baixa a cabeça – eu caço dragões.
- Então, você é o responsável pela morte do dragão, numa vila próxima daqui, a alguns dias?
- Sim, senhor. Mas...
- Parabéns – John levantara, rapidamente, apesar da idade – e como fez para matá-lo? Somente com uma lança? Ou usou várias.
- Como? Alex estava aturdido. O homem estava na companhia de um dragão, e ficara feliz com a morte de outro? O que estava acontecendo?
- Como você o matou? Isso é muito importante.
- Mas John – interveio Drake – ele é um matador de dragões, pode ter matado Drimeer, também.
- Isso é verdade, Alex? Matou Drimeer também?
- Não sei quem é Drimeer, mas matei um outro dragão no dia anterior ao da vila.
- Droga. Não sei se arranco sua cabeça por ter matado Drimeer, ou te parabenizo por ter acabado com o dragão negro.
Drake estava parado, ainda com os olhos fitando o caçador. De suas narinas, já se estava saindo um fiapo de fumaça, o que indicava que a qualquer momento uma bola de fogo poderia surgir dali. John estava de pé, andando de um lado para outro, preocupado com o que Alex lhe contara. Drimeer não poderia estar morto, se Alex demorasse duas semanas para encontrá-lo, mas agora não adiantava chorar sobre o leite derramado. Deveriam olhar para frente, e a sua frente só havia uma possibilidade, deveriam procurar Fafnir, o renegado.
- Senhor. Mas por que alguns dragões podem ser mortos, e outros não? Qual é a diferença?
- Alex. Escute atentamente. Há 200 atrás, havia o velho código, que consistia no seguinte. Os dragões vermelhos eram amigos dos humanos, e estavam na terra para ajudá-los, e servi-los. Basicamente, uma obrigação secreta deles era protegê-los dos Dragões Negros. Certo dia, um príncipe fora ferido numa caçada, e sua mãe, junto com seu fiel cavaleiro, foram ao encontro de um Dragão, chamado Drujnir, que lhe cedeu uma parte do seu coração, dividindo sua força vital com o príncipe. Mas o príncipe era mau, e usou de seu poder para fazer maldades. O cavaleiro, achando que a maldade era por culpa do coração, caçou todos os dragões vermelhos daquela época, até que achou um dragão, e se tornou seu amigo. Depois de algum tempo, ele descobriu que esse dragão era Drujnir, e que a maldade estava no coração do príncipe, e não ao contrário, mas para matá-lo, ele foi obrigado a sacrificar o dragão, pois a vida deles era uma só. Acreditava-se que ele era o ultimo da espécie.
- Mas, e Drake – Alex o interrompe.
- Calma, já chega a vez dele. Bem, Drujnir não era o ultimo, ainda existia alguns, que estavam escondidos, ou vivendo em pequenas aldeias que ainda respeitavam o velho código. Após a morte de Drujnir, o cavaleiro achou um ovo, e o levou para um mosteiro na Bretanha [4]. Lá ele ficou por 20 anos, até que uma profecia veio para, novamente por medo nos corações dos homens. Ela dizia que um dragão, na passagem do cometa, seria o precursor de um grande mal. Como Drake, por culpa de outro jovem cavaleiro...
- Não foi culpa sua, John – dessa vez foi Drake que interrompeu – com a morte do frade, se você não me tirasse, eu sairia de lá de qualquer maneira.
- Drake, eu não vou conseguir contar a história se vocês ficarem me interrompendo toda hora.
- Desculpe – disse Drake, deitando ao seu lado.
- Continuando... eu tirei Drake do mosteiro, e por minha culpa, um dragão vermelho muito mau renasceu. Numa luta com Drake, achamos que ele tinha morrido, mas o mau era muito forte, e ele sucumbiu ao desejo de sangue. Ele, quando possuía uma forma humana, era um feiticeiro, e através de alguns rituais, ele se tornou o primeiro Dragão Negro.
- Tá, mas qual era a diferença?
- Muitas. A começar pela cor, que é totalmente negra, enquanto Drake e os da sua espécie são vermelhos. Drake tem a capacidade de cuspir uma bola de fogo, e também uma bola de gelo. Os dragões negros perderam essa capacidade, ou seja, cospem somente fogo. E sua maldição se consiste principalmente ai. Eles só comem cinzas, preferencialmente humanas. Isso aconteceu há 70 anos atrás. Eu só estou vivo, por que Drake me permitiu compartilhar seu coração, enquanto ele viver, eu vivo, até devolver o coração para ele. Mais ou menos há 20 anos, começaram a surgir vários Dragões Negros, descendentes desse primeiro. Eles são mais difíceis de matar, não caem nem com uma lança no coração.
- Eu sei. Tem que jogar duas lanças, pois eles têm dois corações.
- Como – John olha para Alex, espantado pela revelação.
- Esse que matamos na vila. Nós abrimos seu corpo, ao lado do coração, a distância de duas mãos, ele tem outro, um pouco menor. Quando o atingi no coração com a lança, eu notei que ele não tinha mais forças para voar.
- Interessante. Muito interessante. Isso muda muita coisa. Eles têm uma distinção interna, um coração para voar, e outro para outras funções. Me diga, qual o tamanho deles?
- Dos corações? Os dois juntos era um pouco menor que o coração do outro dragão – dizendo isso, Alex baixa novamente a cabeça, como se pedisse desculpas.
- Como sabe disso?
- Eu fiquei intrigado, pois tinha certeza que acertara o coração dele, mas quando abri, vi que tinha dois. Depois disso, com ajuda de dois aldeões, voltei ao local onde estava o primeiro dragão, e o invadi para saber se era iguais.
- Isso foi bom, meu rapaz. Você tem instinto de caçador. Pena que não pude encontrá-lo antes. Você será de muita valia. Bom, voltando ao principio, descobrimos anos depois, na verdade, descobrimos a cinco anos, para ser mais exato, que isso já aconteceu antes. Quando um dragão vermelho sucumbe ao chamado do sangue, ele se torna um dragão negro. Então, cinco dragões anciões se reuniram, e criaram uma arma para acabar com eles. Desses cinco, apenas três chegaram aos dias de hoje. Drimeer era um deles. O segundo, era chamado de Volten, mas nunca descobrimos uma pista do seu paradeiro, mas descobrimos onde mora o último ancião, chamado Fafnir.
- Onde?
- Ao norte, nas geladas terras nórdicas, onde cada dia e cada noite dura um ano. E é para lá que estamos indo. E você vai conosco.
- Eu?
- Claro, ou você acha que o deixarei aqui para acabar com outros dragões vermelhos?
Norte da Escócia
Depois de algumas semanas viajando, Alex, John e Drake chegam ao seu destino. O trio tem uma importante missão. Encontrar Fafnir. Há muitas lendas em torno desse grande dragão mitológico. Alguns dizem que ele é o primeiro dragão, que desceu dos céus para ajudar a humanidade a se equilibrar nas patas traseiras, e aprenderem a falar. Outros contam que ele é um ser humano, que foi amaldiçoado por se unir a animais, e assim fora obrigado a viver como dragão. Ainda dizem que ele foi um grande sábio, que na hora de sua morte pediu aos deuses que lhe fosse dado a honra de passar sua sabedoria para outros que viessem após ele, e para isso ele fora presenteado com o corpo do Dragão. Mas numa parte, todas as histórias fechavam num ponto só. Ele não era mais tolerante com humanos. Dizia isso desde quando sua fêmea fora morta por humanos, em busca da vitalidade que diziam que o sangue do dragão continha em seu sangue. Após Fafnir achar o corpo dela, ele dizimou todas as aldeias num raio de vários dias de seu ninho. E ninguém, nunca mais tinha ido tão perto de seu ninho.
- Algum sinal, Drake? Pede o ancião, enquanto desce do cavalo.
- Não – responde o dragão – você tem certeza que ele está por esses lados?
- Tenho. As escrituras são bem objetivas nesse sentido. Fala sempre ao norte, perto do gelo eterno.
- Mas não é muito frio para um dragão? – Alex desce do cavalo, envolto em várias peles de animais, para tentar amenizar o frio que estava sentindo – quem não garante que ele tenha ido para o sul, em busca de terras mais quentes?
- Não, Fafnir não faria isso, Alex – dizia John – ele nasceu e viveu aqui em cima, desde sempre.
- Mas John – Drake sentado em frente aos dois cavaleiros – eu não vejo animais, que Fafnir poderia estar se alimentando. Como ele poderia estar vivo sem comer?
- Não sei. Podemos pedir isso para ele, quando o virmos. Agora, Alex, junte quanta lenha for possível, vamos passar a noite aqui.
Alex se retira do local onde John tinha decidido pernoitar. Parecia ser velhas ruínas de uma igreja. Só tinha duas paredes em pé, a que continha os restos do que parecia ser um altar, e a lateral, com grandes janelas. O cavalo de John ainda não se acostumara com a presença do Dragão, então ele ficara amarrado do lado de fora, para não fugir. Na floresta, Alex estava junto lenha, quando tropeçou num grande buraco. Apesar de pouca luz, ele pode ver que parecia ser uma pegada, mas como poderia haver uma pegada daquele tamanho no meio da floresta. Ele volta correndo ao acampamento, e logo reaparece com John o seguindo. Realmente, ele tinha achado uma pegada de dragão, mas era muito antiga, pois havia árvores em volta dela, não deixando espaço para que um dragão pousasse ali sem fazer estrago. Eles vasculharam em volta, sem êxito, na busca de outras pegadas, mas uma coisa eles tinham certeza, um dragão vivera ali a pelo menos dez anos atrás, pela altura das árvores perto da pegada. Após levarem a lenha para o acampamento, Drake acendeu a fogueira.
- John?
- Sim, Alex!
- Eu estava pensando nas histórias que me contou sobre Fafnir. Como podemos ter certeza que ele vai nos ajudar?
- Não podemos. Ele odeia os humanos.
- Então como faremos para conversar com ele?
- Drake o fará – John estava sentado de frente para Alex.
Isso encerrou a conversa. Após jantarem, ambos deitaram perto da fogueira, para dormir. Drake deitaram do lado oposto, para que seu corpo barrasse o vento, de modo que a fogueira aquecia confortavelmente os dois cavaleiros. No meio da noite, Alex acorda sobressaltado. Um ruído do bater de asas o acordara. Seria Fafnir atacando, já que ele não tolerava humanos?
- John, acorde.
- O que aconteceu, Alex?
- Escute – Alex está de pé, com a espada na mão, olhando para o céu.
- Escutar o que?
- Esse barulho de asas. Escute. Parece ser no meio da floresta.
John levanta, e presta atenção na floresta. Nada se move, somente os galho de árvores. De repente, novo barulho do farfalhar das asas. Ele se vira, e nota que Drake ainda está dormindo, e começa a dar risadas.
- Por que está rindo? – Alex estava visivelmente assustado – Fafnir pode estar à espreita, para atacar.
Calmamente, John se posta na frente da cabeça de Drake, e começa a falar.
- Calma, Alex. Se Fafnir estivesse por perto, Drake sentiria seu cheiro. Além do mais, o ruído de suas asas seria ensurdecedor, se estivesse tão perto. Além do mais, não notou que o barulho cessou?
- Sim, mas...
- Olhe minhas vestes – A túnica que John usava, balançava ao vento, mas não havia vento, somente a respiração pesada de Drake – Quando Drake está cansado, ele respira muito profundamente, e expele muito ar. Esse ar, nas árvores dá a impressão de asas.
Alex presta atenção nas palavras de John, e, realmente o som cessara. Quando John saiu da frente da cabeça do dragão, o som recomeçara. Alex deu-se conta do seu estado de medo, e começou a rir, sozinho. Ambos sentaram em frente à fogueira, rindo do acontecido, quando, de repente, Drake acordou, e sem dizer uma palavra, alçou vôo. John e Alex se olharam, e rapidamente juntaram suas coisas, e foram para baixo das árvores. Ficaram de alerta o restante da noite, mas nada aconteceu, nem a volta de Drake. Quando amanheceu, eles saíram da vigília, e foram tomar um café.
- E agora, John, o que faremos?
- Seguiremos o plano – John estava esquentando o café.
- Mas, e Drake?
- Nos achará muito mais facilmente que nós o acharíamos.
- O que será que aconteceu? – Alex estava sempre olhando para o céu, na esperança de ver alguma coisa.
- Realmente, não sei. Nunca vi o Drake se comportar daquela maneira. Algo me diz que teremos surpresas, e temo que não sejam nada boas.
A manhã correu normalmente. Após o café, recolheram o acampamento, e rumaram ainda mais ao norte, à procura de Fafnir. Após algumas horas à cavalo, chegaram num vale, escondido entre as montanhas, sem neve. Nesse vale verdejante, havia um grande lago ao centro, com um rebanho incontável de bois. Logo que adentraram no vale, eles viram que era habitado, mas por poucas pessoas, que moravam em cavernas, ao largo do lago. Ambos desceram ao vale, na esperança de noticias. E Drake ainda não havia aparecido.
- Bom dia – John cumprimentara um senhor, de idade avançada, que cuidava de um pequeno rebanho de cabras.
- O que faz em nosso vale – respondeu o nada simpático velhinho – vá embora, não precisamos de forasteiros no vale.
- Claro que iremos – John conservava a simpatia e calma – só queremos uma informação, e logo seguiremos nossa viagem.
- Vão embora, também não ajudamos forasteiros.
Alex já estava com a mão na espada. O velho estava sendo muito rude com John, logo ele deveria intervir. O velho notara que ele estava com a mão na espada, e temeu.
- Não queremos muita coisa – falou John, se aproximando do velho – nós estamos à procura de um amigo.
- Aqui você não verá seus amigos.
- Na verdade, eu espero que vocês o tenham visto. É um gigantesco dragão vermelho.
- Dragão? – o velho se assustara e dera uns passos para trás – vocês são amigos de um dragão? Aqueles assassinos alados?
- Não – Alex resolvera intervir – nós somos caçadores, e sabemos que existe um dragão ao norte. Se alguém puder ajudar, nós poderemos caçá-lo mais facilmente – ele olhara para John, que o fitara com um grande olhar de desaprovação, mas quando a atitude do velho mudara radicalmente, ele se calou.
- Se vocês são matadores, a gente pode ajudar. Existe um dragão, sim – o velho aponta para a montanha mais ao norte do vale, coberta de gelo e neblina – ele mora naquela montanha, e nos ataca regularmente, para roubar nosso gado. Tivemos que nos desfazer de nossas casas, e morar em cavernas, para fugir do mal.
- E existe um caminho fácil para chegarmos lá em cima? – pergunta Alex, olhando para a montanha – deve ser muito difícil uma escalada pela frente.
- Existe um jeito. No outro lado da montanha, existe um caminho, largo o bastante para subir vários homens a cavalo, com carroças, as ninguém se atreve a ir por aquele caminho, pois é a morte que está lá em cima.
Após conseguirem todas as informações necessárias, John e Alex saem do vale, em busca do caminho da montanha. Á noite, devido ao frio intenso da região, acampam numa grande caverna, mas como já estava escuro para explorá-la, permaneceram na entrada. Após acenderem o fogo e jantarem, eles se preparam para dormir, quando os cavalos começam a ficar agitados.
- Alex, vá ver por que os cavalos estão agitados. Pode haver uma cobra por perto.
Alex levanta e começa a procurar em volta, para ver se achava alguma coisa. E achou.
- John, venha aqui.
- O que aconteceu? Achou alguma coisa?
- Sim – Alex aponta para uma grande pegada no chão, entre as pedras – será que é antiga?
- Não sei – John se abaixa para examinar a pegada, não era muito grande, parecia ser de um jovem dragão – mas parece que não.
- Como você sabe?
- Olhe bem. Quando uma pegada é bem recente, ela fica perfeitamente marcada na terra, mas conforme o tempo passa, com o vento, ela vai perdendo a marcação. Minha impressão é que essa pegada não tenha mais que dois dias, mas dentro da caverna, isso pode ser de um mês atrás.
Alex fica intrigado com isso. Se fosse pegada de um mês atrás, por que os cavalos estariam tão assustados? Ele resolvera investigar a caverna, mesmo contra a vontade de John, que achava perigos demais.
- Perigoso? E se for um dragão negro? E se ele nos pega dormindo? Lembre-se que Drake não está aqui para ajudar. Nos seríamos facilmente mortos.
Alex pega um archote [5] e entrara fundo na caverna, deixando John na entrada. Ele levou sua espada e a lança. As paredes da caverna eram compostas por muitas pedras brilhantes, que à luz do archote, brilhavam e iluminavam-na inteira. Conforme Alex caminhava, o teto ia ficando cada vez mais distante, dando a impressão que ele estava dentro de uma montanha totalmente oca. Estalactites, algumas grandes, outras pequenas, estavam por todo lugar. Depois de duas horas caminhando, ele começou a sentir que o ar estava ficando quente, como se ele se aproximasse de uma grande fogueira. E sons chegavam ao seu ouvido, distorcidos pelas curvas da caverna. Conforme ele ia caminhando, o calor e os sons iam aumentando até ele chegar num grande caverna, bem ao centro da montanha. Era simplesmente gigantesca, com cerca de uns duzentos metros de altura, por alguns quilômetros de diâmetro. Ao centro, dois dragões estavam lutando, ferozmente. Um grande dragão negro, de vários metros de altura, contra um pequeno dragão vermelho, que Alex logo reconhecera.
- Drake? Mas que diabos ele está fazendo?
Alex procurou em volta um lugar para descer, pois a saída de seu túnel ainda dava vários metros acima do chão, onde estavam os dragões. Cusparadas de fogo reluziam o ambiente, e deixavam extremamente quente. O Dragão Negro, apesar de muito maior, estava mais debilitado que Drake, que estava com a asa parcialmente queimada. Alex achou uma brecha na parede para descer, levando sua lança. Nenhum dos dragões havia percebido sua presença. Sorrateiramente, por detrás das rochas, ele se aproximou dos titãs. Réstias de fogo o atingiam, mas nada o suficiente para machucá-lo. Chegando perto, ele viu algo nas costa do dragão negro que lhe fez entender por que ele estava ao empenhado na luta.
- Um ovo. Claro. É uma fêmea, e aqui é seu ninho.
Alex se aproximou mais um pouco. Ele queria ajudar Drake, mas não sabia como seria possível. A dragonesa era maior que todos que ele já tinha visto. Quem sabe ele podia ajudar quebrando o ovo. Pelo menos seria um dragão a menos no futuro. Mas o destino não quisera que ele tivesse sucesso no seu intento. Num ataque de Drake, a dragonesa batera na parede, e houve uma avalanche de terra e pedras em cima do ovo.
- Bem, pelo menos o ovo ficara enterrado para sempre. Agora fica mais fácil ajudar Drake.
Alex ficara escondido, próximo aos Dragões, que continuavam se digladiando. Ambos estavam feridos. Drake estava com uma asa machucada, e a dragonesa com a asa seriamente ferida, e uma profunda mordida no rabo. Num breve pausa de descanso, quando os oponentes se estudavam, Alex saiu correndo de seu esconderijo, com a lança em punho, e deu uma estocada no coração que ele acreditava ser o que regia a criatura.
- Alex? O que está fazendo aqui?
- AGORA, DRAKE. GOLPEIE NA LANÇA PARA AFUNDAR MAIS.
Drake seguiu as orientações do amigo, e se lançou contra a dragonesa, que se ocupavam em mandar uma cusparada de fogo contra o cavaleiro. Com as patas dianteiras, ele enfiou a lança até o fundo, o que fez a dragonesa soltar um grande urro. Alex já contornara, e com sua espada, ele golpeava as patas traseiras dela, que usava o rabo ferido para afastá-lo, mas cada vez que ela perdia a atenção do Drake, era seriamente ferida. Drake soltou seu hálito de gelo nas suas patas dianteiras, imobilizando-as, e Alex bateu com sua espada, conseguindo arrancar o lado direito. A dragonesa estava em suas últimas forças, quando acertou com a cauda Alex, que foi arremessada para o outro lado da caverna. Drake correu em seu auxilio, para ver seu ele estava vivo. Com a força da batida, ele bateu na parede da caverna a mais de dois metros de altura, logo caindo ao solo.
- Alex. Alex. Você está bem?
- Estou. Mas... cuidaaaaado.
A dragonesa viera ao seu encontro. E cravara suas presas nas costa de Drake. Alex estava ferido demais, para ajudar. A dragonesa estava arrastando Drake para trás, quando, num urro ensurdecedor, ela o largou. Alex então viu John, com sua lança, agarrado as costas dela. Ela se debatia, mas ele, com toda força que lhe restara, continuava a enfiar a lança em suas costas, até que num ultimo suspiro, ela se ergueu, e tombou para trás, caindo por cima do John. Drake, com muito custo, devido ao grave ferimento em suas costas arrastou o corpo da dragonesa de cima de John, e Alex o ergueu.
- John, fale comigo.
- Alex... como... está.... Drake..?
- Estou bem – Drake já estava ao seu lado – agora fique em silêncio, que vamos levá-lo para fora.
- Não... minha hora.... chegou...
- Não, John – interveio Alex – você vai viver...
- Eu não sinto.... minhas pernas.... nem meus.... braços... me prometam.... uma coisa....
- Claro – Drake e Alex responderam – mas antes vamos levá-lo para o acampamento – completou Alex.
- Está ficando... frio.... Alex, prometa.... cuidar e proteger..... Drake...
- Eu? Proteger o Dragão? Não deveria ser o contrário, não?
- Drake... é ingênuo.... acredita demais.... na bondade.... cof cof – John tosse sangue, encharque a frente de suas vestes – das pessoas.
- Tudo bem, mas se acalme, senão vai piorar.
- Drake.... ache Fafnir.... lembre ele do.... antigo código... cof cof – mais sangue – destruam os dragões negros....
E, dizendo essas últimas palavras, John tossiu pela última vez. Suas vestes ficaram banhadas de sangue, e seu corpo não mais suspirou. Alex e Drake ficaram ainda um tempo com o corpo nos braços, quando decidiram levar seu corpo para fora. Ainda não havia amanhecido, mas Alex já estava juntando um grande quantidade de madeira, e junto com Drake, montou uma pira funerária para o último adeus à John. Após queimar o corpo do amigo, a nova dupla se dirige à montanha de Fafnir.
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1. Garfos de feno, que lembram um tridente. Servem para pegar o feno do monte, e jogar dentro da estrebaria para o gado comer.
2. Antigamente, algumas regiões contavam os meses se baseando nas aparições da lua cheia. Uma lua, um mês, e assim por diante.
3. Desceu.
4. Hoje, onde fica o Reino Unido.
5. Uma tocha, para iluminar.
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