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Star Wars #04: Ataque em Ryloth!

Depois de intensas batalhas, o Esquadrão Alfa é chamado para uma invasão rápida.


Na tentativa de desarmar uma imensa arma que impede o avanço das tropas da República. Numa tentativa muito arriscada, os pilotos da canhoneira vai tentar fazer o possível para coloca-los atrás das linhas inimigas. Porém, segundo boatos, um sith, conhecido como Grievous, está instalado nesse planeta, o que vai dificultar o trabalho dos bravos clones.

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=========================I N I C I A N D O===========================


Jackfly já estava preparado para descer à Ryloth. Fazia um bom tempo desde a perda de Stein, o intérprete do grupo. Bright e Skin não eram mais recrutas, ambos podiam já exercer sua função dentro da equipe. Ambos escolheram assalto, que era o que eles mais gostavam.


Heavy Duty estava polindo sua grande metralhadora. Seus pensamentos eram longe dali. Ele pensava no fim da guerra. E também pensava se um dia ele poderia escapar dela, vivo. Ele não queria uma vida só militar. Ele pensava em um dia se aposentar, poder viver finalmente em paz.
Todos estavam prontos para mais uma missão. Eles tinham que ser cautelosos, porque, diferente de outras batalhas, o planeta Ryloth estava cheio de civis.


Jackfly fora chamado novamente pelo Almirante, que agora não tinha companhia somente o General Crinson, mas também o Comandante Norlan. Jackfly fez continência para os três, que imitaram o ato do grande capitão.


O almirante clicou sobre um botão e logo uma imagem holográfica apareceu. Ela mostrava a grande arma. Era como um canhão de longo alcance que poderia fazer as naves da república em pedaços.


- Nossa missão é destruí-la, correto? – Jackfly começou.
- Sim, mas não é só isso com o que você deve se preocupar. – O almirante rodou o holograma.


Logo uma nave pequena de luxo apareceu. Ela tinha dois bicos para frente nas laterais, e no centro, uma pequena elevação para frente, menor que as do lado. Jackfly logo percebeu de quem era aquela nave.


Era de Grievous, os boatos de que ele estava lá eram verdadeiros. E ao lado da nave de fuga, estava mais duas naves, mostrando que ele estava junto com os seus guarda-costas pessoais.


À frente da grande arma, vários droides e tanques estavam fazendo a guarda. O esquadrão Alfa precisaria de muito poder de fogo para detê-los.


- Senhor. – Jackfly se virou para o General. – Vamos precisar de mais homens.
- Vocês vão levar consigo uma tropa clone.Eles vão limpar o caminho para que vocês executem a missão.

- Obrigado, senhor. – Jackfly bateu continência e se foi.


A porta se fechou atrás dele. Agora eles poderiam combater o exército droide, se bem que o esquadrão alfa não era muito bom com grandes exércitos. Ele caminhou até o hangar procurando seu esquadrão.


Eles estavam sentados em caixas, conversando. Jackfly não conseguiu entender sobre o que eles conversavam e do mesmo jeito ele não quis saber.


- Senhores. – Ele disse com toda a calma.

Todos se levantaram e ficaram em posição de continência. Jackfly fez um sinal com a mão para que eles voltassem ao normal.


- Estão prontos para a missão? – perguntou ele.
- Sim senhor! – Todos responderam.
- Ótimo. Estou mandando o objetivo da missão para o capacete de vocês. Vamos agora para Ryloth.
- Sim senhor!


Todos se moveram, pegando seus capacetes e suas armas. Logo todos estavam prontos. Jackfly já estava com seu capacete e sua arma, então ele só precisou contatar os clones que iam ajudá-los. Era um verdadeiro batalhão de soldados. Todos em fileiras, eles iam guerrear e chamar a atenção dos droides enquanto o esquadrão alfa iria destruir a arma. Todos ali sabiam que poucos dos muitos iriam voltar, mas eles estavam preparados.


Várias naves canhoneiras se colocaram à disposição daquele batalhão. Os clones iam entrando e iam se organizando. Eram mais de cinquenta naves, todas prontas para embarcar em Ryloth.


Quando tudo estava pronto, eles foram para o planeta. A guerra estava para começar.


Logo todas as canhoneiras estavam saindo da imensa nave. A nave de transporte do esquadrão alfa estava logo à frente. Desta vez, a descida até o planeta foi calma. Eles estavam pousando além da visão da enorme arma. Os satélites não veriam as naves pousando.


Quando as canhoneiras pousaram, os clones desembarcaram em solo firme. Havia poucas árvores, o que deixava o lugar muito afetado pelo sol. Jackfly estava à frente, com o seu esquadrão. Ele fez um movimento com o punho e ordenou para que a tropa clone caminhasse. Todos caminharam seguindo o esquadrão alfa. Bright e Skin estavam ao lado de seu capitão, agora com os capacetes customizados. Eles andavam com muita cautela e, com o passar do tempo e das missões, eles adquiriram muita experiência.


- Senhor! – gritou Bright.
- Fale soldado! – ordenou o capitão.
- Estou recebendo pequenas interferências no áudio. Parecem droides se comunicando.
- Eles não devem estar muito longe. Quero atenção redobrada!


Todos obedeceram a ordem e caminharam lentamente. A frente deles se encontrava um longo declive.


Jackfly ordenou que Brow examinasse o declive antes deles descerem. O sniper correu e se deitou sobre um pequeno morro, com o rifle em mãos. Seus olhos passaram por toda a extensão do declive. Estava vazio.


Depois de um aceno de mão do sniper, Jackfly ordenou que todos descessem o declive. Se parecia que um gigantesco meteoro havia caído ali, mas não havia nenhum rastro que mostrasse o caminho que o gigantesco pedregulho fez. Eles continuaram a caminhar quando um som de metal pôde ser ouvido. Era uma tremenda emboscada.


Droides apareceram cercando os clones, os tiros inundaram o campo, o azul se misturava com o vermelho. Clones caíam enquanto vários droides eram desmontados. Jackfly gritou:


- Recuar!


Os clones começaram a sair do campo de batalha, enquanto os droides continuavam a se aproximar com toda a ferocidade. Dezoito clones tinham sido mortos naquela armadilha bem feita. Todos se jogaram para trás de um morro que lhes proporcionava defesa suficiente.



Jackfly se levantava constantemente para atirar contra os droides, quase sempre os acertando. Heavy Duty estava ao seu lado e começou a rir. Sem entender, Gunfire perguntou:


- Qual a graça?
- Hahahahaha... Podemos dizer que somos peritos em cair em armadilhas.
- Hahahaha... Você é louco.


Gunfire se levantou detrás do morro e atirou. Heavy Duty o imitou e logo todos os clones estavam atirando contra os droides. Eles iam caindo, assim como os mais desafortunados que não conseguiam evitar um tiro ou outro. Um clone caiu ao lado de Will, que tratou de ajuda-lo. Infelizmente ele já estava morto. Os droides remanescentes começaram a recuar, coisa que os clones nunca viram eles fazerem. Jackfly ergueu a mão e a estendeu contra os droides, dizendo:


- Avançar!


Os clones saíram dos esconderijos e começaram a correr em direção aos droides. Os tiros os acertavam aos montes, enquanto as latas ambulantes se retiravam. Logo todos os droides estavam exterminados. E eles logo seriam...


Um barulho muito forte logo entregou que os droides estavam atirando a grande arma contra eles. Jackfly tinha que pensar em algo e rápido. O enorme foguete já se levantava acima de suas cabeças. Mais à frente, os prédios de Ryloth estavam destruídos. Jackfly começou a pensar em uma solução que não existia.


O míssil já começava a cair numa velocidade incrível. Em poucos minutos ele atingiria o chão.


- Vamos para os edifícios, agora! – ordenou o capitão.


Logo os clones estavam correndo, Gunfire e Dwin auxiliavam aos soldados que ficavam para trás. Eles entraram em um prédio feito de uma pedra desconhecida, porém resistente. O míssil caiu e junto com ele, o prédio onde os clones estavam.


Depois disso, apenas o silêncio. O prédio estava destruído e junto com ele, estava o esquadrão alfa e os outros clones. Os droides se aproximaram aos montes. Rodearam toda a área e não acharam nenhum vestígio dos clones. Quando eles se retiraram, as pedras deslizaram e um braço ficou à mostra.


Jackfly se levantou com dificuldade, assim como todos os outros clones. Suas armaduras estavam riscadas, sujas e até mesmo alguns clones estavam com seus capacetes totalmente destruídos. Eles caminharam com dificuldade. As pedras podiam ter lhes esmagado, mas alguma força maior ajudou-os.


- Estão todos bem? – perguntou Jackfly.
- Parece que virei papel. – comentou Skin.
- Vamos prosseguir homens! – disse Jackfly enquanto saia dos destroços.


Cada beco que eles cruzavam era um perigo total. As tropas droides estavam fazendo sua ronda. Eles já tinham avistado várias tropas circulando por toda a cidade.


Jackfly se sentou em uma banqueta dentro de uma casa destruída e chamou um clone. O clone indicado se aproximou e bateu continência. Jackfly moveu sua mão, sinalizando que ele podia ficar à vontade.


- Você vai montar o seu esquadrão e você – Jackfly apontou para outro clone – vai montar o seu. Teremos que nos separar e só assim vamos conseguir acabar com aquela arma.

- Sim, senhor! – os dois clones disseram quase que ao mesmo tempo.


A seleção foi simples e logo três equipes estavam formadas. Estas eram: Esquadrão 4326, formada por trinta clones, Esquadrão Alfa, formado por sete clones e o Esquadrão 3675, formado por trinta clones também.


Jackfly preparou um grande plano para a destruição da arma. O esquadrão alfa, que tinha como líder Jackfly caminharia pelo meio da cidadela. O esquadrão 4326, que tinha como líder o soldado Bone, caminharia pela esquerda e o esquadrão 3675 liderado pelo soldado Tony caminharia pelo lado direito. Assim eles poderiam cercar as tropas e dar um fim na terrível arma que ameaçava o futuro das guerras clônicas. Heavy Duty se pôs ao lado de Gunfire e disse:


— Essa ideia é maluca.
— Só de pensar que o Grievous está aqui, me faz pensar por que nasci clone.
— Jackfly parece não temê-lo.
— Jackfly é profissional, assim como todos nós. Mas diferente de muitos, ele não expressa o seu sentimento. Ele sabe que uma hora ele terá que enfrentar Grievous e que pode não sobreviver.
— Você está certo. Vamos manter nossa atenção redobrada.


Estavam todos prontos para a segunda parte da missão. Mal sabiam eles que Grievous e seus guarda-costas estavam à espreita, aguardando para atacar.


Continua…


Shadow

Cronicas Heroicas #2.Djargudi Yindi, o Pilar dos Sonhos.








Existem muito mais no mundo do que nossa pobre imaginação pode sequer cogitar, ameaças que podem parecer invisíveis, mas que são poderosas o suficiente para destruir nosso planeta.
Por isso existem guardiões que não se tornam mundialmente conhecidos, assim como Djargudi Yindi, o Pilar dos Sonhos.






“Saco... Ele já tá lá...” o jovem James Howard se aproximou de seu destino, amaldiçoando pela centésima vez a decisão dos pais de enviá-lo até aquele lugar que ele aprendeu a odiar. Colocando os fones do CD player nos ouvidos, selecionando para tocar as músicas de sua banda preferida, ele ainda reclamava consigo mesmo seu infortúnio “E dizem que esse velho nojento é um poderoso mago... Tudo o que eu vejo ele fazendo é ficar sentado ali na varanda dessa casa velha, acariciando aquele coala, coçando o ouvido e jogando a sujeira na varanda... Um mago devia ser que nem o David Blaine... O cara tem estilo pacas, ganha rios de grana e é conhecido no mundo inteiro... o Velho Djargudi num faz nada e mal conhecem ele em Sidney, fora o fato que é muito metido a besta, se achando o maioral... Saco...”

- Ouvindo outra vez o Yothu Yindi [1], heim? – Reparando no rosto assustado que o recém chegado fez, o velho aborígene primeiro saboreou a sensação de surpreender seu aprendiz, para então explicar. – Você tem ouvido essa banda desde a primeira vez que eu te vi... Se isso não fosse o bastante, a altura em que você escuta isso seria o bastante para até o Baltóia aqui ouvir...

O pequeno coala se agitou levemente ao som de seu nome, mas logo voltou a dormir no colo de seu dono. Djargudi Yindi era um típico velho aborígene, com uma alva cabeleira enrolada no alto da cabeça complementada por uma barba engruvinhada que aumentava ainda mais a imagem de velhice e sujeira que ele já tinha. As roupas eram folgadas, uma bermuda de onde saíam duas pernas fininhas, que mal sustentariam seu corpo caso ele se levantasse e uma jaqueta onde caberiam uns três dele.

- Então... – Mas a voz dele revelava uma força juvenil totalmente em contraste com a sua idade aparente, que James nunca acertava qual era. – Está pronto para mais um dia de trabalho na sua caminhada rumo a um... Como você disse que seus pais chamaram? Um mundo diferente?

- Se fosse isso mesmo ao invés do que eu venho fazendo...

- Algum problema meu jovem? Você parece esquecer de falar mais baixo quando está com esse aparelho grudado nos próprios ouvidos... Externe seus sentimentos... Isso pode lhe fazer bem...

- Olha prá mim... – O velho olhou bem e constatou o que ele já sabia que vinha a seguir. – Eu devia tá curtindo minha vida! Sabe quantas meninas eu deixei de ver prá tá aqui? A Karine queria ir comigo no Shopping e tudo mais... E o que eu tive de fazer por que meus pais meteram na cabeça que eu seria um bom mago?

- Vir até aqui e agüentar um velho porco e arrogante junto de seu animal estúpido certo?

Novamente Baltóia se movimentou, mas agora deixando um rosnado baixo escapar antes de deitar novamente no colo de seu dono. Djargudi abaixou a cabeça e, por um momento, James pensou que ia escapar do seu tormento diário, mas assim que o velho voltou a olhar para o garoto, ele cutucou mais uma vez o ouvido, jogou uma sujeira longe e apontou seu dedo magro na direção de uma vassoura, que parecia tão velha quando ele.

James entendeu o recado e começou a caminhar lentamente até pegar a vassoura e abrir a porta do casebre. Em seguida, uma vez lá dentro, como sempre acontecia, a sujeira imperava e ele sabia que o dia seria longo, fedido e pegajoso.

- Você deveria aprender a mudar seus pensamentos... Sempre que concentra em ver isso tudo aí, te esperando, é o que vai estar mesmo... É a lei da atração e...

- Eu sei, eu sei... Eu já assisti ao Segredo e...

- Espere um momento! – O velho se ergueu da varanda com uma velocidade que surpreendeu o jovem e, com o coala se prendendo em sua jaqueta para não cair, ficou ereto de uma forma que James nunca pensou que seria possível. – Hum... É... Ora, ora... – Ele farejava o ar como um Dingo prestes a atacar sua presa. – Pelo visto suas preces funcionaram garoto... Hoje, ao invés de você limpar minha casa vai ficar na varanda cuidando do Baltóia... – O velho o colocou sentado, demonstrando uma surpreendente força. – É... Isso mesmo, sentadinho aqui... E continue quieto! – O velho entregou o coala para o jovem, que já estava sentado e mal havia feito menção de reclamar. – Eu esperava que você visse isso apenas daqui a um tempo, mas não tenho escolha...

Dito isso, Djargudi começou a caminhar no ar como se fosse algo normal para ele, o que fez o rapaz, que ficava para trás, abraçar com força o animal que tinha nos braços. O velho sorriu enquanto uma luz azulada cobria-lhe o corpo mudando suas roupas e para desespero de James, que imaginava ter finalmente enlouquecido, até a forma física do mago ia se modificando.

Os cabelos foram ficando curtos e a longa e descuidada barba se ajeitou até um elegante cavanhaque, o que deixou o mago com uma aparência mais sóbria. As roupas largas e velhas deram lugar a um sobretudo que parecia estar sobre uma fina camisa de seda, uma calça social cinza e sapatos cujo lustre era impecável. Ao perceber os olhos do aprendiz às suas costas, Djargudi Não resistiu à tentação de fazer uma piada com o assombro de seu pupilo.

- Volte a respirar James... Ah! E quanto ao seu precioso David Blaine... Ele não faz a menor idéia de estilo. – O velho se voltou olhando bem nos olhos do rapaz e ajeitando a gola do sobretudo. – Isso é estilo!

E então o mago Djargudi Yindi mergulhou no que parecia um imenso portal, deixando que o silêncio voltasse a reinar em sua casa.

XXX

A travessia nunca foi fácil, mesmo para um dos mais poderosos magos do mundo. David Blaine? Esqueça esse moleque, estamos falando de um mago de verdade, que viaja pelo plano astral do mundo do sonho, chamado pelos povos nativos da Austrália de Alcheringa.

O velho Djargudi sempre ficava alguns segundos sem ação quando finalmente seus pés tocavam algo sólido no reino dos sonhos, nesse caso uma das inúmeras rochas flutuantes que estavam dispostas de forma a criar um caminho que ia até uma montanha voadora, esta tinha uma característica marcante: Liberava no ar uma fumaça multicolorida permeando o céu com pássaros de todas as cores.

- Vai ficar quanto tempo admirando a paisagem?

Assim que o mago se voltou para trás de si, logo teve de olhar para baixo a fim de ver de onde vinha a vozinha fina, que parecia pertencer a uma criança, e o dono da voz logo se empertigou, tentando parecer maior do que realmente era.

- Olá Curio... – Ao ouvir seu verdadeiro nome, como era costume no Alcheringa, o pequeno ser, metade humano, metade demônio-da-tasmânia, se ergueu sobre as patinhas traseiras, tentando impor respeito ao recém chegado, mas este acabou por ignorá-lo e, olhando ao redor, questionou. – Então como está a situação por aqui meu pequeno guia? – Outro costume do lugar era que, assim que um mago conseguia atingir o Alcheringa, imediatamente ganhava um guia do mundo dos sonhos.

- O que você acha chefia? O grandalhão do mal tá tocando o mó terror por aqui! Ele chegou chegando e detonando uma pá de neguinho num só movimento... Vuuussshhhh... Detonô geral!!!

- Você anda viajando por sonhos de bandidos outra vez não é? De onde são dessa vez?

- Hã... Do Brasil... Mas isso não é importante e... Essa não...

- Hum... O fato de você ter parado de falar e estar com os olhos arregalados desse modo quer dizer que tem algo terrivelmente perigoso e mortal às minhas costas certo?

Mal o pequeno guia acenara positivamente com a cabeça, o mago se voltou e, no mesmo instante em que tudo ao redor deles se tornava um verdadeiro pesadelo, Djargudi sentiu um horrível fedor que era, infelizmente, muito familiar.

- Um DVS... Realmente o Inimigo está desesperado para usar uma carta tão poderosa assim tão cedo...

- Então você não teme meu poder? Por acaso é algum louco que me toma por fraco? Por acaso imagina o poder que detenho em minhas mãos? – Um aceno positivo da cabeça do outro foi a única resposta. – Mesmo assim ousa fazer pouco caso do poder de um Devorador de Sonhos?

O demônio então fez sua cabeça crescer e, ao abrir uma enorme bocarra, fez uma imensa fileira de dentes se projetarem para fora, deixando bem claro que ele era uma ameaça a ser respeitada, mas apesar dele ter a certeza de que o recado fora dado, o mísero humano diante de si fez algo impensável: Levou uma das mãos diante da boca e bocejou.

- Seu pedaço de carne imprestável!!! – Agora várias garras saltavam dos punhos e antebraços do DVS, junto com algumas lâminas que saíam por vários lugares de seu corpo. – Vou te fatiar e me refestelar com o que sobrar de sua alma e... AAAAAAAARRRRGGHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!

Com um movimento absurdamente rápido, possível apenas no mundo dos sonhos mesmo, Djargudi criou um bumerangue de energia onírica e o lançou para cima, cortando assim o braço que o ameaçava e que acabou por cair inerte no chão. Depois de um urro primitivo de dor, o DVS lançou uma nova ameaça:

- Maldito!!!! Acha mesmo que a perda de um braço pode me parar?!!! Eu vou...

- Morrer... Afinal, obviamente você não conhece as características básicas de um bumerangue...

Dessa vez não houve tempo do demônio emitir um som sequer, pois a arma do mago retornava para as mãos deste, passando através do peito do DVS, causando um enorme buraco e assim que Djargudi pegou o bumerangue nas mãos o lançou outra vez, agora decepando uma perna do inimigo, que acabou por tombar para o lado, mas permanecendo ereto o suficiente para olhar, com olhos cheios de medo, para o oponente que ganhara seu respeito.

E também seu medo.

A cena se repetiu poucas vezes, o bumerangue voltava para Djargudi, ele o lançava em seguida e a cada lançamento e volta, mais e mais do corpo do DVS era destruído, até que finalmente a criatura jazia vencida ao chão e o cenário à volta do mago e seu guia voltava a aparentar um visual de sonho.

- Um obstáculo a menos... – O mago começou a caminhar no ar, não importando muito como fazia isso já que o local mudava a toda hora e as leias da física do mundo normal não se aplicavam ali. – Vejamos o que o Inimigo ainda tem para nos enviar e... Curio! Venha logo!

O pequeno guia deixava de chutar os restos do inimigo vencido e se apressou para alcançar Djargudi, pulando numa perna só, para tentar desgrudar um pedaço da carne do DVS que se prendera nos pés dele. Percebendo que não conseguia, Curio continuou a andar mesmo com a gosma fazendo-o grudar a cada passo que dava.

Sem que nenhum dos dois percebesse, no entanto, a boca do demônio havia permanecido intacta e agora exibia um horrendo sorriso de satisfação.

XXX

Enquanto o tempo passava de forma estranha no Alcheringa, um jovem permanecia abraçado com um coala, ambos sentados na varanda de um pobre casebre, localizado próximo ao começo de uma área desértica. Quando finalmente conseguiu se recuperar um pouco do susto que acabara de tomar, ao ver seu mestre sair andando no ar e sumir pelo que parecia ser um portal de luz, James ergueu Baltóia, segurando o animal por debaixo das axilas deste, e perguntou:

- Como isso é possível? – Quando percebeu que acabara de fazer uma pergunta como aquela para um animal, o rapaz balançou violentamente a cabeça e começou a recolocar o coala em seu colo. – Meu Deus... Eu devo tá ficando louco mesmo e...

- Na verdade... – Com o susto de ouvir o Coala falando consigo, James se ergueu num pulo, derrubando o animal sentado no chão. Este se levantou e, alisando o local que havia batido, continuou a falar. – Ai! Você podia ter reações menos extremas não é? Bem... Como eu ia falando...

- Pó Pará! Eu ainda nem me recuperei do susto de ver o velho sair andando e sumindo no ar e agora tenho que agüentar um coala falante? Eu vou é cair fora daqui e...

- Se você quiser que o mundo não acabe, vai ficar aqui dentro da varanda comigo...

O tom sério do Coala, aliado a um estranho brilho que vinha dos olhos do animal, fez com que James voltasse a se sentar onde antes ficava sempre Djargudi e, assim que ele se sentou, Baltóia veio e ocupou seu lugar costumeiro também, dessa vez no colo de James. Alguns minutos se passaram e o rapaz, que apenas fazia carinho na cabeça de seu pequeno companheiro, finalmente quebrou o silêncio:

- Hã... Então... Como tudo isso aconteceu? Quero dizer... Como é que o Djargudi se tornou... Hã... O que ele é mesmo?

- Segundo as suas palavras, um velho arrogante e...

- Não! Quer dizer... Eu achava isso antes e... Puxa... Você sabe o que eu quero dizer não é? Agora ele parece até um daqueles heróis do Caçadores de Heróis... Vocês já viram esse programa? Baltóia?

A resposta foi um aumento no brilho dos olhos do pequeno Coala, e então James sentiu-se sendo tragado para algum outro lugar. Um lugar extremamente estranho em que nada parecia fazer sentido.

As memórias de Djargudi Yindi.

“Dizem que a história de um dos maiores magos de nossa realidade começou ainda no ventre de sua mãe, Fantine. Ela sempre acariciava a barriga, falando que o filho vindouro seria alguém capaz de mudar a face do mundo, diferente do pai, que os abandonara, e ela tinha razão.

Djargudi Yindi nasceu há apenas trinta e cinco anos, mas durante seu nascimento as pessoas que estavam no hospital relataram um eclipse que fez o dia virar noite, foi algo que ninguém havia ouvido falar que aconteceria e, segundo as demais pessoas da cidade, não aconteceu mesmo.

O acontecimento não foi mais comentado, muitos diziam ter sido o efeito de algum gás que se espalhou pelo hospital, causando uma ilusão coletiva. A verdade é que apenas a mãe do bebê, que nasceu exatamente naquele momento sabia da verdade.

O espírito de um antigo mago havia contatado-a durante a “ilusão coletiva” falando sobre o destino que esperava o filho dela e que o menino deveria ser protegido a todo custo até chegar à idade adulta.

Assim foi até que ele completasse vinte e um anos. Um portal se abriu em seu quarto, tarde da noite e o levou para o Alcheringa, onde ele teria seu treinamento. A última visão de nosso mundo que ele teve foi da mãe, parada na porta do quarto acenando e sorrindo.

Antes mesmo de Fantine baixar sua mão, Djargudi já voltava de seu treinamento, mas aparentava muito mais idade do que tinha quando se foi, o que levou a família a se mudar, para evitar perguntas de como o filho agora já aparentava ser muito mais velho que a mãe.

Nos anos seguintes o mago acabou por se envolver em várias batalhas para proteger a realidade como a conhecemos, batalhas essas que cobraram seu preço e hoje o rapaz de apenas trinta e cinco anos aparenta ter mais de oitenta sem, no entanto, sequer ser reconhecido por tudo o que já fez.

O treino de um Pilar dos Sonhos, como Djargudi descobriu ser um dos seus títulos, era sempre árduo e tinha um motivo. O Inimigo, uma entidade cujo objetivo era apenas trazer dor e morte para nossa realidade, tinha poderes incríveis e para impedir sua chegada no Alcheringa, que ele usaria de ponte para sua invasão, já exigiu a vida de um dos magos australianos há centenas de anos atrás e desde então, sempre fora necessário um novo Guardião, geração após geração.

Djargudi já enfrentou o Inimigo mais vezes que qualquer um antes dele e, mesmo sentindo todo o peso físico e espiritual das agruras do “ofício” que abraçou, Djargudi jamais esmoreceu e sempre lutou com todas as suas forças.

Hoje em dia ele fica sentado em sua varanda, aparentando até certa vadiagem, entrando em ação apenas quando sente que algo necessita de maneira extrema de sua intervenção, do contrário ele fica reservando suas energias para eventos como os de hoje, quando o Inimigo surge para tentar tomar a realidade que chamamos de nossa. Ele precisa desse descanso, mas suas ações muitas vezes são tomadas como pura arrogância de um ser que se tornou poderoso demais.”


- Nossa... – James voltava para onde estava, na varanda do mago, com Baltóia deitado em seu colo e deixando de fitá-lo como fizera antes de ligar suas mentes, o que deixou o rapaz ainda mais atônito. – Quer dizer que ele tem só trinta e cinco anos e já está daquele jeito? É isso que meus pais querem prá mim? Não senhor! Comigo não!!!

- Acredite meu jovem, existem motivos para que você tenha surgido nesse momento e tenha recebido essas explicações.

- E quais seriam? – Nesse momento o céu foi tomado por uma estranha coloração negra, como uma tempestade que chega sem se anunciar. – Mas o que é isso?

- Quais os motivos? – Baltóia apenas erguia o rosto vendo a escuridão chegar e se concentrou rezando em seu íntimo para que o plano que ele bolou desse certo. – Salvar o mundo...

E então tudo mudou.

XXX

Prefeitura de Sidney.

Djargudi Yindi estava sentado atrás de uma elegante escrivaninha sobre a qual se acumulavam papéis e mais papéis sobre diversos assuntos, ou seja, para um mago tão poderoso que batalhou para chegar até onde ele havia chegado, tudo era um mar de tédio.

- Não se esqueça da nossa reunião Dji... – Era a voz da mãe do mago, que ele escutava por detrás de uma porta que levava ao gabinete desta, afinal ela era sua principal secretária, que cuidava de assuntos aleatórios. – Sei que você costuma ficar avoado, mas não pode esquecer desta heim, Dij...

Por algum motivo era extremamente estranho ouvir a voz da mãe sem a ver, ainda mais quando esta o chamava do modo carinhoso da infância. Aquilo fez o coração do mago doer no peito enchendo-o com um sentimento que ele não deveria sentir: tristeza.

Afinal como pode um dos homens mais poderosos do mundo sentir tristeza?

Nos últimos anos Djargudi Yindi havia resolvido se tornar uma influência mundial, guiando a humanidade para um momento iluminista como nunca havia acontecido em toda a sua história.

Primeiro foi juntando uma legião de fiéis usando sua magia sem restrições para realizar os maiores milagres que podia e que lhe pediam. Não tardou para que ele ajudasse a eliminar boa parte da fome, das doenças e vários outros problemas sócio-econômicos da Austrália, logo sendo aclamado pelo povo para tomar as rédeas de todo o país. Até o primeiro ministro e todos no Senado aceitaram se afastar do governo em benefício do mago, o que acarretou uma série de comentários maldosos a respeito de controles mentais e outros ainda mais descabidos.

“Afinal” pensava o mago ao se levantar, indo devagar até a porta que dava para o escritório da mãe “O que é uma pequena sugestão perto de todo o bem que eu trouxe ao meu país?”. Realmente a Austrália teve sua entrada aceita quase que imediatamente no bloco dos países de primeiro mundo, competindo diretamente com os EUA em várias frentes.

Isso deixou Obama, normalmente contido e fleumático, verde de inveja. Esse pensamento e a lembrança de algumas das ameaças vazias do presidente estadunidense, após perder a compostura durante um jantar, fizeram um sorriso surgir no rosto do mago, quando ele estava prestes a tocar na maçaneta da porta, mas algo o interrompeu.

- Lorde Djargudi! Temos uma emergência! Temos uma emergência!!

- O que foi agora James? – O senhor da Austrália lançava um olhar de impaciência para um dos seus secretários, o jovem Howard, que era um dos mais aplicados estagiários que ele contratara para seu gabinete. – As ruas centrais da cidade estão com enormes crateras... Ninguém sabe o que as provocou! O trânsito está um caos e...

- Tudo bem... Vamos para lá... – Ele se voltou para a porta e falou alto. – Mãe! Nossa reunião vai ter que esperar um pouco...

- Tudo bem filho... Mas volte o mais cedo possível... Não se demore Dij...

- Claro mamãe.

Assim que o mago saiu de seu gabinete, James olhou para a porta, que ele impedira seu líder de abrir e disse, tentando caprichar no tom de ameaça:

- Você não vai vencer.

- É o que você pensa pequeno pedaço de carne decomposta...

Poucos minutos mais tarde o trânsito já havia voltado ao normal, logo que Djargudi apenas gesticulou uma mão e, depois que a mesma fora envolvida numa energia multicolorida, ele a levou ao chão tocando-o, fazendo com que as crateras sumissem num piscar de olhos. Aquele não era o primeiro incidente das últimas semanas e o mago cobrou uma maior ação das autoridades competentes para descobrir os verdadeiros culpados por todos aqueles problemas.

- Certo senhor. – James tentava chamar a atenção do irritado mago. – Mas agora temos outro problema que requer sua atenção e...

- Não! A reunião com minha mãe já foi adiada por tempo demais... Qualquer que seja o problema, você pode cuidar, ou encontrar alguém que possa... Agora adeus... – E Djargudi saiu de lá voando.

Ao chegar em seu escritório, ele se demorou, permitindo um momento para admirar tudo o que fizera com sua cidade e, logo depois, o mago se dirigiu imediatamente para a porta do escritório de sua mãe, mas novamente foi interrompido por James, que acabara de chegar, ainda sem fôlego por ter corrido até ali.

- Não abra essa porta Djargudi!!! É o que o Inimigo quer e AAARRRGGGHHH!!!!

Um raio partiu da porta e atingiu o rapaz em cheio, lançando-o contra uma parede e fazendo-o cair sem sentidos no chão. O mais bizarro é que um pequeno coala pareceu cair de dentro do peito do rapaz, como se estivesse fundido ao garoto até então.

- Espere aí... Baltóia? – O mago começava a balançar a cabeça, sentindo-se como se despertasse de um sonho.

Ou um pesadelo.

Um urro inumado ecoou pelo gabinete, enquanto as paredes do mesmo começavam a se desfazer, como que sopradas por um vento demoníaco, revelando o local onde ficava o portal místico do reino dos sonhos, pelo qual o Inimigo tentava passar há várias gerações.

- Moleque maldito!!!! E maldito também seja animal estúpido!!! Mais um pouco e eu teria meu caminho aberto e... AAARRRGGGHHH!!!!

- Não os chame de malditos!!! – Djargudi então abriu os braços, evocando todos seus poderes, se colocando diante de James e Baltóia. – Eles são abençoados por terem conseguido forças para virem até mim e abrirem meus olhos do véu de mentiras que você ergueu, se aproveitando de minha arrogância...

- Tudo o que eu mostrei pode se tornar verdade... Libere minha passagem e eu prometo deixar tua terra em paz, grande mago e até entregá-la a ti para fazerdes o que quiser dela...

- Quando a boca do Inimigo pinga mel, as abelhas morrem envenenadas...

Para o desespero da entidade, Djargudi começava a gesticular um encantamento doloroso para ambos, encantamento este que o Inimigo sabia ser forte o bastante para ferir gravemente os dois oponentes. Desse modo ele lançou sua última cartada:

- Não faça isso mago!!! Você diminuirá sua passagem de vida por esse planeta em vários anos se continuar com esse encanto...

- Não percebeu que suas promessas, ameaças ou falsa preocupação com minha saúde chegam a ouvidos surdos? – Um pouco de sangue começava a escorrer do nariz do mago enquanto ele se preparava para lançar o feitiço. – Tampouco me impedirão de realizar meu intento... AAAARRRGGGHHHH!!!!!!!!!!!!

No momento que James despertava, sem saber onde exatamente estava, o encantamento foi lançado e Baltóia se jogou diante dos olhos do rapaz, se prendendo ali para protegê-lo e também a própria visão, afinal seria fácil qualquer um dos dois ficar cego ao contemplar a luz que provinha do fim daquele embate.

Quando James sentiu o coala ser retirado de seu rosto, ele se viu outra vez na varanda de Djargudi e este já voltara à aparência à qual o rapaz estava acostumado, mas seu olhar cansado deixava claro como tudo aquilo o afetara. Mesmo assim uma avalanche de perguntas fora lançada sobre o mago e este resolveu se levantar, sendo prontamente amparado por James.

- Antes... Que tal uma boa xícara de chá? – Olhando bem para o rosto do jovem, Djargudi continuou. – Ou quem sabe um refrigerante bem gelado? Eu tenho os dois lá dentro.

Quando passaram da porta, o que viram foi a costumeira bagunça e sujeira, o que imediatamente estampou uma máscara de desânimo em James, subitamente relembrado de suas obrigações. Percebendo isso, com um sorriso no rosto, o mago gesticulou e logo algo que lembrava uma esfera cheia de água estava flutuando entre os dedos dele para, em seguida, serem jogadas no chão.

A esfera pareceu quebrar-se e então o líquido guardado ali dentro se espalhou por todo o chão da casa, subindo em seguida pelas paredes, até atingirem o teto e se condensarem em uma única gota que desceu vagarosamente até a mão do mago que a fez desaparecer como se nunca tivesse existido.

Imediatamente tudo ficou limpo e então ele conduziu um boquiaberto James para dentro.

- O tempo de tarefas simples terminou jovem James... Limpe a baba e... Como eu direi isso de uma maneira “simpática”... Bem vindo ao inferno... Hehehehehehe...

No Alcheringa, Curio, o guia de Djargudi observava a cena e exibiu um sorriso maligno enquanto seus olhos ficavam totalmente negros.

- Divirta-se velho Djargudi... Seu fim se aproxima...

E uma horrenda risada ecoou pelo reino dos sonhos.

Fim.


[1]A Yothu Yindi é uma banda que mistura música típica Aborígene com guitarras. É bem interessante, confiram em http://www.yothuyindi.com/

Frequencia Z #03: Os Zumbis e os Coloridos


Banda Delete. A banda n° 1 dos fãs coloridos, enfrenta os terríveis zumbis de Santa Fé. Poderão os jovens e sensíveis músicos escaparem dos dentes dos mortos-vivos?

(Ilustração da capa por Anderson "Brima-Aracnos" Oliveira)

OS ZUMBIS E OS COLORIDOS
Por Alex Nery

Nossa Senhora de Santa Fé

Noite de Domingo

Estádio Municipal
Show da banda Delete



A multidão estava eufórica. Milhares de pessoas haviam deixado suas casas para assistir à única apresentação da famosa banda Delete no município. Adolescentes coloridos saltitavam mais do que gazelas no cio, enquanto no palco, os quatro músicos adolescentes, líderes do movimento colorido despejavam suas canções, todas no top 10 das rádios pop do país.
Na bateria, Zé Lucas, vinte e um anos, moreno e musculoso. Possuidor de um sorriso de galã de Malhação.
À direita do palco, na guitarra, Pru, o músico de dezesseis anos, xodó da ala fúcsia do fã clube.
À esquerda, Fucho, o colorido mais “fofinho” do grupo. Daí vinha seu apelido, derivado de “fofucho”, como diziam as fãs.
À frente, arrancando gritinhos de todo tipo de criatura saltitante presente, estava Pi Tomba, o vocalista e líder da banda.
Na platéia, as pessoas estavam alvoroçadas. Várias faixas de fã clubes podiam ser vistas:

“A FAMÍLIA MACHINE AMA VOCÊS!”
“QUERO CONHECER VOCÊS PESSOALMENTE. ASSINADO: CHÉDOU”

Um dos momentos altos do show foi quando o DJ da rádio local sorteou uma fã para subir ao palco e conhecer os ídolos.

- Vamos lá, pessoal! Aqui está o nome da sortuda, ou do sortudo... vejamos....

As fãs prenderam a respiração enquanto o DJ fazia suspense.

- É uma sortuda! O nome dela é... VAMPYYYYY!!!!

Depois de alguns instantes, a fã sortuda subiu ao palco. Ela chorava e pulava emocionada ao encontrar seus ídolos.

- Eu quero mandar um beijo pro meu namorado, Frê! – disse ela.

A banda atacou com o hit que estava estourado em todas as rádios: “Vem, Jorge”, que Pi Tomba, o vocalista e baixista da banda, havia composto em homenagem ao seu gato, um gato balinês que ele tinha desde os oito anos de idade, chamado “Jorge”, e que havia morrido atropelado pelo sorveteiro do bairro cinco anos depois.
Assim como Pi, várias fãs debulharam-se em lágrimas, emocionadas com a homenagem.

Nossa Senhora de Santa Fé
Tarde de Segunda-Feira

Saguão do Hotel “Rogério Cormão”, 13:29 h.



Os quatro músicos aguardavam entediados pela van que os levaria ao aeroporto.

- O Silvio é um filhodaputa... – resmungou Pi.
- De marca maior... – concordou Zé Lucas.
- Quê isso, galera... Por que essa chateação? – perguntou Pru.
- Porra... – praguejou Fucho – Primeiro ele manda a gente pra esse fim de mundo, fazer show num estádio menor que o meu quarto... e depois deixa a gente mofando aqui.
- Ah, ele disse que tinha um encontro com o George Doriana, o dono da gravadora – explicou Pru.
- Tomara que ele saia de lá com mais dois CDs fechados... – rangeu Pi.
- Aqui não é tão ruim... Viram a loucura de ontem? Aqui somos deuses!
- Pru... já te disse... aquele segurança não tava olhando pra ti...
- Estraga-prazer...

Algumas pessoas entravam e saiam agitadas do hotel. De início isso não atraiu a atenção dos coloridos, mas logo eles perceberam uma agitação incomum em uma das entradas.

- Ih, lá vem essas doidas histéricas fazendo barraco... – disse Pru, olhando para a entrada do hotel, onde os dois seguranças tentavam impedir a entrada de um grupo de pessoas.
- Será que o Justino Biba passa por isso? – perguntou Fucho.
- Claro que não... ele tem um empresário melhor que arruma seguranças e hotéis melhores... – disse Pi.

Um dos seguranças caiu para trás. O grupo que tentava invadir o hotel avançou sobre ele.
- Cruzes! Olha aquilo!
- Parece que tão...
- Tão...
- Tão mordendo o cara?

O grupo de pessoas amontoava-se sobre o segurança, mordendo-o em seus braços, pernas e rosto. Pareciam cães famintos. Mordiam e sacudiam a cabeça procurando arrancar um pedaço de carne.
O outro segurança tentou tirar as pessoas de cima de seu colega, mas logo foi abocanhado no pescoço por um dos invasores.
Os quatro observavam atônitos a cena, enquanto as outras pessoas corriam apavoradas. Logo perceberam que uma dos atacantes possuía o corpo seco e semi-devorado.

- Putaquepariu...
- Que porra é essa, véio?
- É... É...
- Uma fã subnutrida?

A criatura rosnou, exibindo seus dentes amarelos e começou a se arrastar em direção aos músicos.

- Glup!
- Fã subnutrida é o caralho!
- É... É...
- ... UMA ZUMBI!

Os quatro abriam as portas do hotel e saíram correndo apavorados. Pi e Pru corriam na frente, sendo seguidos por Zé Lucas e Fucho. Eles correram cegamente, sem a menor noção de para onde estavam indo.
Somente quando pararam no meio da rua, olharam em volta. Dezenas de zumbis arrastavam-se pela área. Alguns dando cabeçadas nos postes, tropeçando nos próprios pés ou avançando a esmo.

- Mas que putaquepariu é essa? – gritou Pi.

Imediatamente os zumbis perceberam a presença do grupo.

- Ai, caralho... por que tu não fica calado? – resmungou Zé Lucas tremendo.
- É, porra! Deu a maior bandeira... agora esses podres vão vir pra cima da gente! – murmurou Pru.
- Bandeira dá essa tua cueca laranja. Dá pra ver isso a quilômetros! – disse Pi.

Os zumbis começaram a se arrastar em direção à banda. Alguns deles caiam e não conseguiam mais se levantar. Mesmo assim, se esforçavam para rastejar em direção aos músicos.

- CORRE CAMBADA! – gritou Fucho, saindo em disparada pela área que possuía menos zumbis.

Seus amigos não hesitaram e correram atrás do guitarrista. Com pouco passos ultrapassaram Fucho e continuaram correndo.

- Ei! Ei! Pô... peraí... arf... assim não pô...

Os quatro embrenharam-se num beco próximo. A ânsia de escapar era tanta que eles corriam alucinadamente e sem pensar.
Logo os integrantes da banda chegaram até uma cerca de madeira que media mais ou menos dois metros e meio, fechando o beco. Fucho arfava loucamente tentando puxar o oxigênio.

- Fudeu – disse Ze Luís.
- Quem teve a idéia de vir pra cá?- perguntou Pru.
- A tua mãe, claro. Não viu ela acenando pra gente? – disse Pi.
- Arf... Arf...
- E agora, Pi?
- Bora pular, claro.
- Bora. Zé, me levanta aí!
- Vai te fuder, Pru. Tá pensando o quê?
- Arf... Arf...
- Deixa de ser burro. Tu é único com força de levantar a gente.
- E quem me levanta?
- Ahn... o Fucho?
- O FUCHO? Putaquepariu, o Fucho não agüenta levantar nem o próprio corpo...

Grunhidos começaram a serem ouvidos vindo da entrada do beco. Os quatro se arrepiaram.

- Bora! Bora! – Pi saltitava nervoso.
- A gente tem que empurrar o Fucho primeiro – disse Pru.
- O quê? – espantou-se Zé Lucas.
- Tá doido, Pru? Comeu cocô?
- Bora! Bora!
- Arf... Arf...
- Olha aí o coitado... não vai conseguir pular isso nem com reza braba... – murmurou Pru olhando o obeso amigo arfante.
- Vem cá, Pru... – chamou Zé Lucas.
- Hm?
- Responde uma coisa...
- O quê?
- Tu tá pegando o Fucho?
- m-mas... que filhodaputa!
- Já manjei... fica nervoso não...
- As senhoras querem trocar confidências mais tarde? Agora a gente ta prestes a ser comido! – disse Pi, pálido e saltitante.

Os grunhidos seguiam agora do irritante ruído de pés arrastando, numa marcha lenta e inexorável. Pelo murmúrio das vozes, eles calcularam que pelo menos vinte zumbis estavam se aproximando.

- Já sei! Fucho, entra nessa caçamba de lixo e fica quieto. A gente pula, eles não vêem nada e a gente volta pra te pegar – elaborou Pi.
- Na caçamba? Tá doido? Vocês pulam e eu fico aqui com essas coisas? – protestou Fucho.
- Tu consegue pular? Não, né, pesadão? – disse Zé Lucas.
- Te falei que a gordura ainda ia te matar... – disse Pru.
- Grande conselho pra uma hora dessas, valeu mesmo... tu é meu irmão... meu chapa... meu...
- Cala a boca e entra nessa porra! – ordenaram os três à Fucho.

Os três levantaram Fucho desajeitadamente, segurando-o pelas pernas e bunda. Num impulso, empurraram o guitarrista caçamba adentro. Fucho caiu pesadamente sobre a montanha de papéis, restos de comida e sacos plásticos com sabe Deus o quê. Afundou as mãos numa coisa pastosa e teve medo de olhar o que era.

- Ah, Deus... tomara que isso seja pudim...
- Afunda aí, Fucho. Te esconde! – disse Pru.

Fucho estava quase chorando quando afundou a cara no lixo. Com as mãos arremessava sacolas e entulho sobre sim mesmo, buscando cobrir-se com o que tinha à mão.
Os outros três integrantes do Delete correram e saltaram a cerca rapidamente. Caíram bruscamente do outro lado. Deram sorte. Era o jardim de uma residência e estava vazio.

- Quietos agora... – disse Pi, sinalizando com a mão.

Em silêncio, os três agacharam-se e encostaram-se na cerca. Pru encontrou uma brecha entre as grossas tábuas e ficou observando a cena.
Os zumbis aproximavam-se lentamente. Eram cerca de quinze deles. Pru visualizou bem os primeiros. Um deles eram um homem idoso, vestido com um paletó surrado e manchado de sangue. Ele não possuía maxilar e arrastava a perna esquerda sem pé. Atrás dele vinha uma mulher jovem, loura, vestida como uma executiva. Havia sangue em seu cabelo e rosto, escorrendo sobre o blazer azul. Seus olhos eram brancos e revirados para trás.
Logo em seguida, o grupo de mortos-vivos era composto por uma variedade de tipos, desde um asiático vestido como sushiman até um garoto de aproximadamente onze anos, ainda carregando a lancheira escolar, de onde apareciam os dedos de uma mão guardada como se guarda um lanche.
Os zumbis avançavam lentamente em direção ao fundo do beco, sem a menor noção de que havia uma cerca ali. Fucho tremia feito vara verde dentro da caçamba de lixo e rezava para não ser visto.
Um zumbi moreno e forte trombou com a caçamba de lixo. Parou, tentou seguir e trombou mais duas vezes. Então tateou a borda da caçamba e fez força para subir.
Ergueu metade do corpo.
E então caiu para dentro da caçamba.
Pi, Zé Lucas e Pru prenderam a respiração.
Dentro da caçamba, o zumbi caíra exatamente sobre Fucho. O membro mais “fofinho” da Delete cerrou os dentes para conter um grito. Sentiu o zumbi movimentar-se desajeitadamente sobre ele, tentando levantar-se. O zumbi colocou-se de joelhos sobre as costas de Fucho e tentou um impulso para levantar-se. Não teve forças. Voltou a cair sentado sobre o guitarrista.
Fucho não resistiu e soltou um gritinho abafado.
O zumbi olhou em volta aturdido. Apoiou as mãos no lixo para equilibrar-se e percebeu a carne macia abaixo de si. Cutucou com o dedo indicador a bunda de Fucho, como quem analisa uma fruta no mercado.

- HUAAAAAAAA!!! – gritou Fucho dando um salto.

O lixo voou pra todos os lados. O zumbi foi empurrado para um canto da caçamba.

- SOCORROOOOO!!! – berrou Fucho.

Os demais zumbis voltaram sua atenção para a caçamba e ergueram suas mãos esqueléticas e semi-devoradas para agarrar Fucho. O guitarrista dava chutes tentando afastar as bocas famintas.
Os amigos de Fucho ficaram estarrecidos.

- FUDEU! FUDEU! – gritava Pi.
- Caracas, esses zumbis parecem as nossas fãs... – murmurou Zé Lucas.
- FUCHOOOOO!!!! – gritou Pru.

Fucho chutava violentamente os zumbis.
Até que sentiu uma mordida na bunda.

- HHHHUUUUUUAAAAAAAAAA!!!!

O zumbi que estava na caçamba havia aproveitado a distração de Fucho e o mordera, rasgando um naco de carne bem grande da bunda do colorido guitarrista.
Com a dor, Fucho hesitou. Os zumbis conseguiram agarrar as pernas do jovem e puxá-lo para fora da caçamba. Mal ele caiu no chão, já estava tendo seus braços, pernas e peito rasgados pelos dentes dos zumbis. Fucho gritava enlouquecido. Seus amigos assistiam impotentes àquela cena de pesadelo. Uma “montanha” de zumbis se formara para devorar Fucho.

- Fucho...
- Caralho...
- Buááááá...

Assistiram a morte do amigo por cerca de um minuto antes de saírem do transe.

- P-pessoal...
- Quié, Pi?...chuinf... – Pru soluçava.
- Bora sair daqui. Logo essas coisas acham a gente e aí a gente se fode igual ao Fucho – disse Pi.
- Nenhum zumbi vai me comer não! – protestou Zè Lucas – Eu dou porrada neles!
- Hm, se já passou o momento “macho-man”, bora pensar pra onde podemos ir, ok?
- Do avião deu pra ver uma ponte grande que levava pra fora da cidade... – lembrou Pru.
- E por quê a gente não pega um avião logo? – perguntou Zé Lucas.
- Tu sabe pilotar?
- Ahn...
- Pois é, idiota.
- A gente devia pegar um carro.
- Boa idéia, Pru.
- Mas olha essa fumaceira desgraçada... a cidade deve estar em chamas! – disse Zé Lucas olhando para as colunas de fumaça negra que subiam aos céus de vários pontos da cidade.
- Calma. Primeiro a gente acha um carro, depois foge pela ponte.
Os três começaram a caminhar pelo jardim, se afastando da cerca. Todos tremiam e estavam muito abalados pelos zumbis terem lanchado o Fucho. Andavam pé ante pé cruzando o jardim. Não viram nenhum zumbi no local.
Passaram em frente à porta dos fundos da casa e se dirigiram para a saída lateral, foi quando ouviram um grunhido.

- Gruuunnnhh...

Pararam congelados.

- Aimeudeus... – gemeu Pru.
- É zumbi! É zumbi! – disse Pi rangendo os dentes.
- Ahn... são as minhas tripas... tô com dor de barriga... – explicou Zé Lucas.

Pi deu um tapão na cabeça de Zé Lucas. Continuaram a caminhada e dobraram a lateral da casa. Cautelosamente correram até o portão que os separava da rua e observaram o movimento. Não notaram nenhum morto-vivo nas proximidades. Saíram para a rua e puderam ver alguns zumbis se arrastando no fim quarteirão seguinte.

- Por ali não dá pra ir – disse Pru.
- Olha lá! Um cyber café! – notou Pi.
- E isso é hora de querer entrar no Orkut?
- Que Orkut coisa nenhuma, idiota! A gente pode pedir socorro pelo telefone ou pela net! – disse o vocalista.
- A gente pode chamar a polícia! O exército! Os fuzileiros navais!! – disse Pru, imaginando um resgate heróico.
- Aff...

Os três entraram bem devagar no cyber. Alguns computadores estavam ligados e seus monitores emitiam um brilho monótono. À primeira vista não havia ninguém ali. Apressaram o passo e trancaram a porta atrás de si.

- Bora colocar alguma coisa aqui pra fechar essa porta – disse Pi.
- Vamos empurrar a banca dos pcs e escorar aqui... – imaginou Zé Lucas.
- Se botarem a mão em qualquer coisa, eu estouro a cabeça de vocês! – disse uma voz enérgica vindo dos fundos da lan.

Com as canelas batendo os três músicos encararam o dono da voz.
Apontando um rifle de caça diretamente para eles estava um homem gordo e suado, com expressão paranóica.

- Ai, jizuis... – murmurou Pru.
- Eu quero a minha mãe... – disse Pi.
- Gruuunnnhh... – disseram as tripas de Zé Lucas.

O homem apontava a arma e sorria maliciosamente.

- Se-senhor... precisamos de a-ajuda... – disse Pi tentando controlar o medo.
- Ajuda é?- repetiu o homem armado.
- É-é... a gente... pode usar seu telefone? – pediu Pru.
- Meu telefone é?
- E o seu banheiro... unf... se não for incômodo... – pediu Zé Lucas segurando a barriga.
- É, telefone... Pra chamar a polícia... tá cheio de zumbi lá fora! – disse Pi.
- Não podem usar PORRA NENHUMA! – gritou o homem.
- M-mas...
- O mundo SE FUDEU! Eu finalmente não tenho que aturar tipos como vocês! – disse o homem engatilhando a arma.

Os três músicos coloridos recuaram até a porta. O homem avançou.

- Anos... ANOS... aturando idiotas como vocês! Moleques com esses cabelos estranhos, essas roupas com cores horríveis, analfabetos, imbecis... Agora posso mandar todos PRO INFERNO! BWAHAHAHHAHAHA... – o homem apontou a arma para os músicos.
- ELE TÁ LOUCO!
- CORRE POVO!!
- GRUUUNNNHHH...

Os membros da Delete passaram pela porta correndo como uma revoada de borboletas descontroladas. Atrás deles um tiro ecoou por sobre suas cabeças e estraçalhou o luminoso do cyber.
O homem saiu também pela porta e começou a fazer nova mira nos coloridos, o que não era muito difícil devido às cores berrantes que usavam.
Atraídos pelo som do disparo, alguns zumbis começaram a se aproximar do cyber. O homem voltou sua atenção para eles e começou a atirar.

- Venham, seus idiotas! VENHAM! BWAHAHAHAHAHHAHAHAHAH...

Os coloridos continuaram correndo até não poderem mais ouvir a risada maníaca do homem da lan. Dobraram a primeira esquina que encontraram.
Ofegantes, pararam de correr no meio da rua.

- Arf... arf...
- O-olhem... estamos SALVOS! – disse Pru.

Zé Lucas e Pi levantaram as cabeças e olharam na direção em que o amigo apontava. Ali estava a delegacia de Santa Fé.

- Sabem o que isso significa? Armas! – disse Pi com um brilho estranho no olhar.
- E você vai poder ir ao banheiro, Zé!
- Agora não preciso mais...

Logo o mau cheiro invadiu as narinas de todos.

- Zé... tu é nojento... – disse Pi tapando o nariz.
- Porra, mó vacilo... – reclamou Pru.
- Ah é? Vacilo é? Tenta fugir com dor de barriga de um maníaco armado! Tenta, vai!

Um murmúrio chamou a atenção dos três desesperados. O murmúrio já conhecido dos zumbis se arrastando em direção a eles.

- Pra delegacia, galera! – gritou Pi.

Entraram correndo no prédio, esquecendo momentaneamente que poderiam haver zumbis lá dentro. A delegacia estava bem iluminada, mas parecia que havia acontecido uma rebelião ali, pois todos os móveis estavam revirados e haviam muitos papéis jogados a esmo.

- Cadê os cana? – perguntou Pru.
- Porra, nem no dia do juízo final a polícia trabalha? – reclamou Zé Lucas.
- Devem ter corrido quando sentiram esse teu cheiro de flores do campo... – resmungou Pi abanando a mão em frente ao nariz.
- De qualquer jeito, tenho que achar o vestiário dos caras. Pode ser que haja alguma roupa lá que eu possa usar – disse Zé Lucas olhando em volta.
- Deve ser por aquele corredor... – disse Pru apontando por um corredor nos fundos do salão da recepção.
- Bora dar uma olhada por aí... quero pôr as mãos numa arma... – decidiu Pi.

Os três entraram por um corredor amplo até chegarem a uma porta gradeada. A porta estava destrancada e eles resolveram entrar. Chegaram num pátio interno da delegacia. De repente ouviram vozes:

- Abre aqui!
- Socorro!
- Aqui! Aqui!

Entreolharam-se assustados.

- Não podem ser zumbis... zumbis não falam, só gemem e grunhem – disse Pi.
- Vem dali daquele corredor – apontou Zé Lucas.
- Devem ser... os presos! A polícia deve ter caído fora e largaram os caras aqui! – concluiu Pru.
- Pode ser. Eles podem dar a dica de onde estão as armas, né? – disse Pi.
- Tá doido? Quer ir lá com esse povo? É gente baixa, rude e violenta! – reclamou Zé Lucas.
- Esquece essa gentalha. Bora procurar nós mesmos as armas! – disse Pru.
- É, pensando bem, que se fodam esses marginais... – concordou Pi.[1]

Vasculharam as salas ignorando os pedidos de socorro. Zé Lucas correu para o banheiro e logo após rapidamente encontraram o vestiário dos policiais, onde Zé Lucas achou um macacão da divisão anti-tumulto do seu tamanho.

- Ah, agora sim... limpinho... – suspirou Zé Lucas.
- Tá uma merda – disse Pru.
- Hein? Onde? Mas eu me limpei! – protestou o baterista.
- Não. Tá uma merda essa cor cinza aí... sem graça... – disse Pru com expressão de desagrado.
- É... não tem outro, tipo... verde fosforescente? – sugeriu Pi.
- Já mandei vocês tomarem no...

O som de tiros ecoou pela delegacia. Os três estremeceram apavorados.

- AHHHH!!- gritou Pru histericamente.
- Bora pegar umas armas! – gritou Pi.
- Onde? Onde?

Os músicos entraram correndo na última sala que faltava ser vasculhada, justamente a sala de armas. Encontraram alguns rifles pendurados em ganchos na parede, mas protegidos por uma grade bem resistente, com um cadeado mais forte ainda.

- A gente não devia ter levantado da cama hoje... – resmungou Zé Lucas.
- A gente devia ter ido embora dessa cidadezinha ontem mesmo... – disse Pi, rangendo os dentes.
- A gente nem devia ter vindo pra cá... – choramingou Pru.
- Não tem jeito da gente pegar essas armas aí. Pela cara dessa grade, a gente vai levar a vida toda tentando – concluiu Pi.
- ...e a nossa vida vai ser bem curta se continuarmos aqui. Bora cair fora!
- Tô contigo, Zé! Bora!

Esgueiraram-se de volta pelos corredores buscando a saída.
Um novo tiro foi ouvido, vindo exatamente da entrada.

- Fudeu! Os presos devem ter escapado e tão se matando na saída!
- Não tem jeito, Pru. A única entrada e saída é por ali!
- Que cadeia escrota...
- A gente sai correndo e foda-se!
- Esse é teu plano?
- Na verdade meu plano é fazer você tropeçar e deixar esses estupradores interioranos se divertirem contigo enquanto eu fujo...
- Fidamãe...
- Que falta faz o Fucho...
- Pois é...
- ... assim ELE poderia tropeçar no meu lugar...
- A gente chora a falta dele depois! BORA CORRER!!!
E assim fizeram. Desembestaram numa correria louca, digna de um campeonato de gazelas. Chegaram até a metade do hall de entrada quando tiveram uma visão que os paralisou.
Um homem moreno, com aproximadamente um metro e noventa de altura, com cerca de cento e trinta quilos, vestindo um macacão sujo de graxa e óleo, segurava uma escopeta e disparava contra alguma coisa do lado de fora. O homem rangia os dentes e tinha seus olhos vermelhos de fúria.

- Uia!
- Quem é?
- Que homem!

Assustado pelas vozes dos coloridos, o homem apontou para eles a arma e por pouco não disparou.

- Quem são vocês, seus filhos da puta?! – berrou histérico.
- NÃO ATIRA PELAMORDEDEUS!! – implorou Pi.
- Somos da banda Delete! – gaguejou Pru.
- Nunca ouvi falar! – disse o homem alternando a mira entre os coloridos e os zumbis do lado de fora.
- Caipira ignorante... – murmurou Zé Lucas.
- O QUÊ?! – o homem atirava freneticamente abatendo os zumbis que se aproximavam.
- Calma! Calma! Nós somos gente! Não zumbis! – disse Pi levantando os braços.
- Tecnicamente zumbis também são gente... a diferença é que estão mortos... – pensou Pru.

Percebendo que os coloridos, apesar de seu aspecto, também eram pessoas vivas, o homem relaxou e preocupou-se em manter os zumbis distantes.

- Certo! Certo! Entendi!
- E quem é você? Polícia? – perguntou Pi.
- Não. Eu sou mecânico. Meu nome é Tião.
- Ajuda a gente, Tião!
- Não consigo ajudar nem eu mesmo! É o fim do mundo!
- Mas você ta armado! A gente tem só nossos... músculos?

Tião olhou para os músicos de cima a baixo.

- É... vocês tão fodidos mesmo...
- Você pode arrombar a grade do depósito de armas! Aí a gente pega umas e sai fora desse inferno! – sugeriu Pi.
- Eu tô com meu guincho ali fora! Vim aqui procurar ajuda da polícia! – disse Tião.
- Chegou tarde! A polícia se mandou e deixou só os marginais lá dentro – disse Zé Lucas.
- Salva a gente, seu Tião! Salva a gente! – implorou Pru.

- Porra! Tá! Os mortos-vivos tão afastados agora. A gente pode correr até o guincho! – disse Tião.
- Ok! Ok!

Os quatro preparam-se. Tião olhou para dos dois lados da rua, certificando-se de que havia um caminho livre. Alguns zumbis se arrastavam a cerca de vinte metros do guincho.

- CORRE!!! CORRE!!! – gritou Tião, saindo porta a fora.

Os músicos o seguiram correndo. Pru tropeçou e foi ao chão, batendo a cabeça no asfalto.

- HUNF!!!

Pi e Zé Lucas chegaram ao guincho no momento em que Tião entrava pelo lado do motorista.

- Levanta Pru! – gritou Pi entrando na cabine do caminhão guincho.

O guitarrista tentou levantar-se mas ainda estava muito zonzo. Os zumbis aproximavam-se salivando. Um dos mortos-vivos mais próximos vestia uma camiseta do Capitão América bastante suja de sangue.
Pru ergueu-se sobre os dois braços. Sua cabeça doía e ele havia perdido a noção da direção pra onde devia correr.
O “Capitão América” caiu no chão quando uma de suas pernas carcomidas partiu-se abaixo do joelho. Sua cabeça ficou a um metro e meio da perna de Pru. Como se sentisse o cheiro da carne do músico, ele começou a rastejar em direção à vítima. Sua saliva caía no asfalto quente. Seus olhos leitosos reviravam a esmo, dando um aspecto ainda mais grotesco à sua face semi-devorada.
O zumbi estrelado recebeu um tiro de escopeta na cabeça que espalhou o que restava de seus miolos pela rua.
De pé, próximo ao guincho, Tião segurava a arma ainda fumegante.

- CORRE! – gritou o mecânico.
- M-meu herói! – disse Pru, levantando-se.

Tião retornou ao volante do guincho, enquanto Zé Lucas ajudava Pru a subir na cabine.
Mais quatro zumbis uniformizados como militares tropeçaram e caíram sobre o corpo do “capitão”, fazendo um montinho. Tião arrancou com o guincho.
Tião dirigia como um louco. Manobrava por entre os zumbis sem se importar com aqueles que esmagava pelo caminho. Os corpos semi-devorados dos mortos-vivos esfacelavam-se contra o pára-choque do guincho.

- Pra onde a gente ta indo? – perguntou Zé Lucas.
- Em frente! Em frente! – grunhiu Tião.
- Em frente pra onde? – insistiu Pi.
- Sei lá, porra! Em frente até não ver mais nenhuma dessas coisas! – berrou Tião.
- O cara ta em pânico, Pi – cochicou Pru.
- Aham... peraí... ô, seu Tião...
- QUE FOI??
- Não seria melhor a gente ir pra ponte e de lá sair da cidade?
- Ponte? Ah é! A ponte!

Tião deu uma guinada brusca, entrando na rua à esquerda. Era uma rua elevada e de lá eles podiam ter uma boa visão da parte baixa da cidade. Nuvens negras de vários focos de incêndio subiam aos céus. Ao longe puderam ouvir uma explosão. Era um dos postos de gasolina que havia ido pelos ares arremessando zumbis aos pedaços por todo lado. Em todas as ruas haviam zumbis perambulando. Em algumas delas, verdadeiras multidões de mortos-vivos impediam qualquer tentativa de passagem.

- O caminho direto ta bloqueado! – disse Tião – A gente vai ter que contornar pela orla.
- Sem problemas, chefia – disse Zé Lucas.

Tião acelerou e desceu a rua. Faltando dois quarteirões, o grupo de sobreviventes deu de cara com um tiroteio.
As balas voavam de ambos os lados da rua. O guincho foi pego no fogo cruzado, obrigando todos a se abaixarem.

- Que merda é essa?? Zumbi atirando?- berrou Zé Lucas.

Pi levantou um pouco a cabeça e pôde observar que aqueles disparos eram feitos por vivos. Dezenas de homens e mulheres armados abrigavam-se dentro das lojas e casas e abriam fogo contra as pessoas do outro lado da rua.

- O povo endoidou! Tão se matando! – disse o vocalista.
- É o fim do mundo! Eu disse... – resmungou Tião, tentando dirigir sem expor demais a cabeça.
- Para essa porra, Tião! PARA! – berrou Pru.
- O QUÊ? Parar aqui? Tá doido? – contestou o mecânico.
- PARA PORRA! – exigiu o guitarrista.

Sem entender nada, o mecânico freou o guincho. Os atiradores cessaram o fogo, curiosos com aquela súbita parada.
Pru ergue-se e pôs metade do corpo pra fora da janela da cabine. Seus amigos tentaram detê-lo mas ele chutou até conseguir se posicionar.

- Ei! Ei! Pessoal! Parem com isso! Estamos enfrentando zumbis! Não faz sentido vocês se matarem!! Vamos nos unir e escapar juntos!!! – berrou o colorido.

Seguiu-se um silêncio sepulcral. As pessoas observavam Pru com incredulidade até que...
- Ei! É a BANDA DELETE! – berrou alguém.
- Tá vendo, Pi? Eles nos conhecem! Tá tudo bem... – disse Pru com um sorriso largo no rosto.
- O DOBRO DE PONTOS PRA QUEM ACERTAR ESSES IDIOTAS!!!
- “O dobro de...”????

A chuva de balas varreu o guincho. Pru ficou tão furado quanto um escorredor de arroz e tombou pra fora do caminhão.
Tião acelerou e fez o caminhão cantar pneu.
- Atiraram na gente! NA GENTE! – berrou Zé Lucas em pânico.
- Desgraçados! Acabaram com o Pru!... – chorava Pi.
- Malditos fãs de MPB!!!

Dobraram à direita dois quarteirões depois entrando na avenida da orla de Santa Fé. Os fugitivos viram vários zumbis em trajes de banho, circulando pelo calçadão.

- Isso é o inferno! – murmurou Pi, enxugando as lágrimas.
- Tem luzes ali no meio da ponte! – apontou Tião.

À medida que se aproximavam puderam perceber que havia uma barreira no meio da ponte contendo alguns zumbis. Do outro lado da barreira, um grupo de militares parecia disparar contra os mortos-vivos.

- Se segurem! – disse Tião.

O guincho entrou na ponte cantando pneu e por pouco não tombou. Os músicos gritaram como menininhas histéricas, enquanto Tião gargalhava como um louco. Atraídos pelo barulho do guincho, vários zumbis se voltaram para o veículo, e tentavam agarrá-lo inutilmente. Tião arrastava os zumbis com seu caminhão e não se detinha por nada.
Ou quase nada.
Um zumbi obeso, com cerca de duzentos quilos de carne podre surgiu em frente ao guincho.

- Não acredito... – murmurou o mecânico.

Tião jogou o veículo para esquerda tentando desviar do zumbi-baleia. Não conseguiu de todo. Bateu lateralmente no morto-vivo e tombou com o guincho, esmagando a montanha de carne. O mecânico e os músicos foram violentamente sacudidos dentro da cabine.
Instantes preciosos se passaram até que os três conseguissem se recuperar minimamente e pensarem em sair do guincho.
Os zumbis cercaram o veículo.

- F-fudeu... Pi... – gaguejou Zé Lucas.
- É o fim, Zé... o fim... – concordou Pi.
- Sabe o que mais me incomoda em morrer assim?
- O quê, Zé?
- É que eu... eu... gosto mesmo é de metal... Entrei nessa de colorido pra ganhar uma grana...
- ...
- E vou morrer... com essa fama de borboleta...
- Fidaputa...

Um grito enlouquecido fez gelar as veias dos coloridos. De pé, sobre a cabine tombada do guincho, Tião fazia sua escopeta cuspir chumbo sobre os zumbis.

- HHHHUUUUUAAAAAAAAAAAAAA!!!

Despertos pela loucura de Tião, os dois músicos puxaram-se para cima da carcaça do guincho. Os zumbis grunhiam e babavam litros de gosma, antecipando o banquete.

- TOMEM CHUMBO SUAS CRIAS DO INFERNO!!! – berrava Tião, salivando tanto quanto os zumbis.
- O Tião endoidou de vez... – disse Zé Lucas.
- Ele já tava por um fio faz tempo... – concordou Pi.

Pi olhou em volta e teve uma idéia.

- Ei, Zé! A gente pode pular pra amurada da ponte!
- Porra! É mesmo!
- Ei, Tião!
- MOOOOORRRAAAMMMM BESTAS-FERAS DAS PROFUNDEZAAAASS!!!
- Tião!
- VOLTEM PRO CAPETA, MONSTROS DO INFERNOOOOO!!!!
- Tião?
- TOMEM BALAAAAAAAA CRIATURAS NOJENTAAAAAAASSS!!!
- Bora, Zé...

Pi e Zé Lucas saltaram para a amurada. Quase caíram no rio abaixo, mas conseguiram se equilibrar a tempo. Tião continuava louco e surdo ao chamado dos músicos. Dois zumbis conseguiram escalar o guincho e agarraram os pés do mecânico. Tião chutou-os e tentou atirar, mas estava sem balas e a escopeta fez apenas um “CLEC” inútil.
Uma linha de suor frio escorreu pelas costas do mecânico.
Um dos zumbis agarrou a perna de Tião e puxou-o para baixo. O mecânico gritava e esmurrava os zumbis alucinadamente, mas logo foi sobrepujado por cerca de dez dos mortos-vivos que caíram sobre ele.

- TIÃO! – berraram os coloridos.

O som das dentadas dos zumbis no corpo de Tião podia ser nitidamente ouvido, juntamente com os grunhidos de satisfação da horda.

- Não dá pra fazer nada, Pi... A gente tem que alcançar a barreira do exército! – disse Zé Lucas.
- Tião... chuinf... vou fazer uma música pra ti... aham... “Aonde quer que eu vááá, te levo comigoooo...”
- DEPOIS! DEPOIS! CORRE! – gritou Zé Lucas.

Os zumbis perceberam os dois coloridos sobre a amurada e começaram a voltar sua atenção para eles. Sem perder tempo, os músicos começaram a andar o mais rápido que podiam em direção aos militares que estavam posicionados a cerca de cem metros.

- Ai, caramba... espero que eles não atirem na gente! – disse Zé Lucas buscando equilibrar-se.
- Temos fãs no exército? – perguntou Pi.
- Ahn... er...
- Estamos fodidos...

Na barreira feita pelo exército, dezenas de militares haviam estabelecido um perímetro de segurança e mantinham os zumbis distantes com a ação de franco-atiradores. O capitão Magalhães chefiava a operação e observava o movimento na ponte com um binóculo. O sargento Zaqueu aproximou-se do capitão.

- Estamos conseguindo contê-los por enquanto, senhor. Mas se vierem em um bando muito grande... – informou o sargento.
- É, já percebi... logo vamos isolar de vez esta ponte e recuaremos – disse o capitão – Mas, espere... que diabos é aquilo lá?

O sargento apanhou outro binóculo e olhou na direção que o capitão indicava.

- Deus! Eles estão evoluindo, senhor... Já conseguem se equilibrar na amurada!
- Maldição! Temos que derrubá-los dali!
- É pra já, senhor!

O sargento apanhou seu rádio-comunicador e acionou a freqüência dos atiradores de elite.

- Espere! – disse o capitão.
- Pois não, senhor?
- Um deles está vestido como um policial local... e o outro é horrivelmente colorido...
- Colorido, senhor?
- E parecem inteiros...
- Devemos atirar, senhor?
- Deixe-me pensar...

Zé Lucas e Pi caminhavam pela amurada. Alguns zumbis vinham se aproximando lentamente e eles acelerara o que puderam. De um lado, os zumbis aguardavam, de outro, o rio centenas de metros abaixo.

- O Fucho fez bem em morrer logo... – murmurou Pi.
- Que diabo você tá dizendo? – resmungou Zé Lucas.
- Ele jamais ia conseguir se equilibrar aqui...

Disparos foram ouvidos. Balas cortaram o ar na direção dos coloridos.
E atingiram os zumbis mais próximos da dupla.

- Estão nos dando cobertura! – berrou Zé Lucas.
- Estamos SALVOS! – gritou Pi.

Os zumbis foram abatidos com precisão. Os dois músicos chegaram até a barreira e saltaram para o meio da ponte, buscando a entrada.

- PRO CHÂO! CHÃO! AGORA! – ordenou o soldado mais próximo apontando uma metralhadora para os músicos.

Sem discutir, ambos se jogaram no solo. Foram revistados por dois soldados, que constataram que eles não possuíam sinais da infecção zumbi. Foram encaminhados ao capitão Magalhães.

- Capitão, não temos como lhe agradecer! – disse Pi apertando a mão do militar com euforia.
- Agradeçam ao cabo Cordovil, um de nossos atiradores de elite. Ele é um de seus fãs e os reconheceu na ponte.
- Eu te disse que a gente tinha fã no exército... eu te disse... – murmurou Pi em direção à Zé Lucas.
- Aff...

Uma hora depois, um helicóptero pousava no acampamento do exército trazendo Silvio Acatauassu, o empresário da banda Delete.

- Que isso, moçada? Mando vocês sozinhos pra um show e acontece toda essa desgraça? – diz Silvio sorrindo.
- Silvio! Tu é um filhodaputa! Como não veio socorrer logo a gente? – pragueja Zé Lucas.
- Aham... tive contratempos... – diz Silvio, pensando no material de divulgação do que seria o “álbum póstumo” da banda Delete indo pelo ralo – o que importa é que vocês estão aqui e podemos continuar a turnê!
- Continuar como? O Fucho e o Pru se fuderam! – diz Pi.
- Ora, vamos fazer um concurso em rede nacional pra encontrar novos talentos que entrem na vaga deles, é lógico! Audiência na certa!
- Tu é um tremendo dum escroto, cara... – disse Zé Lucas.
- Sou bem pago pra isso! Agora vamos daqui.
- Silvio, tu não tem noção mesmo... o mundo se fudeu! Tá tudo louco! – disse Pi.
- E daí que o mundo tá cheio de zumbis? Antes as fãs também não corriam feito loucas atrás de vocês querendo um pedaço? Não mudou nada.
- ...
- Tu é realmente um escroto – reafirmou Zé Lucas.
- Ah, Silvio... tô com uma letra nova na cabeça... – disse Pi.
- Manda aí, moleque!
- “E eu vou te encontraaaaarrrr, aonde quer que eu váááá...”
- Genial! Sucesso!

E o helicóptero partiu levando os três.


FIM?

[1] Para saber o que aconteceu na delegacia, continue lendo os capítulos seguintes da Frequência Z.

Frequência Z #02: Bytes, Sexo e Zumbis

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Era para ser mais um dia de trabalho para Tiago, mais um dia cheio de pacientes para Joshua, e mais um dia de putaria para Pedro, Gabriela e Juliana. Mas eles não estavam preparados para o que iria acontecer. Este é mais um FREQUÊNCIA Z!

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Hora 1 antes da Infecção tomar proporções catastróficas


Tiago trabalhava incessantemente, o web-site do cliente deveria ser entregue naquele dia. A leitura completa do HTML foi feita e refeita para que nada desse errado. O site era de uma Metalúrgica Golden Metal.


Tempo depois ele conseguira terminar o serviço. Passou por e-mail o site ao seu chefe. Naquele dia, Sérgio, o chefe de Tiago não estava com uma aparência muito boa. As axilas suadas deixavam uma marca nojenta em sua roupa social, enquanto ele gemia e suava frio. Tiago entrou na sala para ver como seu superior estava. Ele estava sentado, tomando uma chícara de café enquanto escrevia algo pelo MSN. Levou uma mão ao peito e olhou para Tiago, os olhos agora em pânico.


- Sérgio... Como está?

- Não me sinto muito bem ainda. Acho que tenho que ir para casa. - O assustado chefe respondeu, enquanto se levantava para sair. Suas pernas falharam e ele caiu, em coma.

- CHEFE! ALGUÉM CHAME UM MÉDICO! AH DROGA!


***


Enquanto seu namorado trabalhava e passava por maus bocados, Juliana transava feito uma cadela no cio com Pedro. Ambos executavam todas as posições possíveis, em meio aos gemidos safados e o cheiro de suor se misturando ao cheiro de sexo. Juliana era uma puta, como Pedro dizia em seus chingamentos "carinhosos", enquanto batia na cara dela e a fazia chupar seus dedos.


Os braços fortes a envolviam e sem nenhuma delicadeza ele puxava os cabelos loiros da menina que se passava por santa. Logo depois de um longo orgasmo, ela se jogou para o lado e olhou para o seu amante. Ele sorria de prazer, enquanto estava de olhos fechados, não acreditando naquela transa.


Fariam cinco meses que eles transavam quando Tiago estava fora. Juliana se levantou rapidamente, com os peitos e a vagina para fora e caminhou até a cozinha. Pedro se sentara na cama e esperara pela mulher mais gostosa que ele conseguira pegar. Se levantou e se vestiu, sua roupa informal grudava ao corpo devido ao suór.


Ele se encontrou com ela no meio da escada. Com a cara surpresa, ela perguntou:


- Já vai? Queria mais uma rodada.
- Tenho que trabalhar. Outra coisa, se o corno do Tiago aparece aí, estou fodido.
- Ele é um banana. Vai... Vamos só mais uma vez. - Ela insistia.
- Agora não. Fique com meu beijo. - Dito isso Pedro beijou com têrnura a boca de Juliana, que quis aproveitar cada momento.


Ele saiu da casa e olhou para ela uma última vez. A grande casa de dois andares era linda por dentro e por fora também. Caminhou cansado e ofegante. Entrou em seu Captiva e acelerou, businando para Juliana, que estava na janela do quarto de cima.


Ela tinha que se arrumar antes que Tiago chegasse. Quando ela pensou nisso, o telefone tocou. Juliana desceu as escadas e atendeu.


- Alô?
- Oi amiga! - A voz era a de Gabriela.
- Gabi! Como você tá?
- Eu vi ele saindo da sua casa. Se divertiu?
- Nossa, não tem nem ideia. Um dia desses vamos marcar para eu e você nos encontrarmos com ele.
- Hum... Danadinha. Hahahahaha. Tô indo aí.
- Tá bom, beijos.


O telefone desliga e em poucos minutos, a campainha toca. Juliana atende e abraça Gabriela, seu vestido transparente não tampa nada, mas ela faz questão de sair na porta desse jeito.


- Então... Me conta. - Disse Gabriela totalmente interessada na transa da amiga e do "amigo".
- Ah, então... - O telefone toca novamente, impedindo Juliana de terminar sua frase. - Aff... Deve ser o corno do Tiago.


Ela corre para atender e, com sua voz cínica, fala primeiro:


- Alô?
- Oi Ju.
- Oi amorzinho. - Enquanto ela falava, fazia caretas que arrancavam grandes risadas abafadas de Gabriela.
- Estou aqui no hospital com o Sérgio, vou demorar um pouco a chegar.
- Ah amorzinho, estou com tanta saudade. Eu quero namorar ainda hoje.
- Tudo bem. Daqui umas três horas estou de volta.
- Tudo isso?
- Infelizmente sim.


Juliana pulava de alegria. Com a mesma voz sínica, ela se despediu. Assim que ela colocou o telefone no gancho, Gabriela caiu na risada. Sua alegria era incessante. E o tesão também.


***


Hora 1 após a infecção tomar proporções catastróficas


- O que aconteceu com ele? - O doutor Joshua perguntava à Tiago.
- Não sei, ele estava doente, tipo, muito doente mesmo e acabou desmaiando.
- Sei. Faremos alguns exames. Ele na verdade está em coma profundo.


Tiago fez uma cara de espanto. Sérgio mal respirava, o que preocupava demais o web-designer. Joshua, o estadunidense naturalizado brasileiro o acompanhou até a saída da sala. Quando estavam fora, quase foram atropelados por macas que iam e vinham. O médico deveria ficar de plantão, já que o número de pacientes aumentaram de vinte à quase cento e sessenta.


O ar começara a se encher de vômito e sangue, o que fez Tiago, que não estava acostumado com aquilo, ter náuseas.


Joshua encarou aquela cena horrenda de transeuntes vomitando por todo o corredor e tendo convulsões. Um homem estava com seu braço mordido, sangue por toda a parte da roupa e pelo seu braço. O pedaço de carne lhe faltava.


Um segurança fora chamado com extrema urgência. Um dos pacientes atacara um médico. Uma mordida em seu pescoço e a jugular estava cortada. Sangue espirrava pra todo o lado. Joshua correu para tentar socorrer o companheiro de trabalho, pressionando o ferimento. Enquanto isso o segurança segurava o homem que aparentava ter seus quarenta e cinco anos, enquanto este se debatia feito um louco.


Tiago foi vítima de um ataque mal-sucedido, não fosse pelo reflexo dele. Um soco bem desferido fez um homem ensanguentado ir ao chão. Porém isso não impediu o agressor. Ele se levantou novamente e grudou as mãos no ombro de Tiago, logo vindo com a boca contra sua garganta. Um gemido pouco ouvido por Tiago fez ele novamente empurrar o homem, que caiu no chão.


Joshua passava as tarefas para os enfermeiros e enquanto isso tentava se safar do que realmente estava acontecendo ali. Ele parou ao lado de Tiago e o olhou assustado. O chão já se preenchia completamente com poças de sangue. Pacientes agora ocupavam os chãos. Homens loucos entravam pela porta da frente do hospital e atacavam os primeiros que eles viam.


O médico-chefe passou por Joshua, mas logo foi parado pelo mesmo, que resolveu perguntar:


- Carlos! O que está acontecendo?
- Não sei! Abandone o hospital o mais rápido que você pode! O exército trancou a cidade!
- Ah, droga! - Tiago gritou, saindo correndo logo em seguida.


Joshua o seguiu, enquanto pessoas ao seu lado eram mortas e comidas vivas.


***


Juliana ligou a televisão, ela e Gabriela estavam completamente assustadas. Na maioria dos canais, estava a tela multicolorida de stand by. Até que eles conseguiram assistir ao Record News. O repórter já dizia:


- Segundo a ONU, o vírus ainda não tem causa ou como que ele pode ser parado. Tudo o que sabemos é que a cidade de Nossa Senhora da Santa Fé foi lacrada pelas forças militares.


Juliana encarou a amiga, agora mais assustada do que nunca. Gabriela estava mais branca do que nunca, a cara pálida deixava transparecer toda a sua preocupação.


Batidas fortes na porta fizeram com que ambas pulassem do sofá e gritassem feito crianças débeis. Tiago abriu a porta e olhou para todas ali. Ele não acreditou ao ver a roupa informal de Juliana e bufou, colocando as mãos na cabeça e se sentando no sofá, Joshua logo atrás.


Sangue estava na roupa de ambos, fazendo Juliana gritar e ficar apavorada. Seu pensamento estava na realidade focado em Pedro, o hacker que havia acabado de sair quando tudo isso aconteceu.


Tiago tentou um abraço reconfortante na namorada, porém ela recuou, mostrando seu total nojo na vestimenta dele. Joshua olhava pela janela, enquanto via pessoas correndo, algumas ensanguentadas, outras andavam como seres desmiolados. O completo caos havia se instalado na cidade de Nossa Senhora da Santa Fé.


Helicópteros que sobrevoavam a cidade caíam, enquanto enorme explosões eram ouvidas e a terra tremia. Pessoas ardendo em fogo corriam pelas suas vidas e logo caíam ao chão, não aguentando mais correr. Uma mulher caiu ao chão e foi arrastada pela rua, suas unhas saíam para fora, o rastro de sangue ficava. O grito dela era desesperador, fazendo Joshua se virar nervoso para encarar os habitantes da casa.


- Mas que porra está acontecendo aqui?!
- Ei... Se acalme, beleza? - Tiago interferiu.
- Como? - Joshua parecia muito nervoso, e estava.


Tiago abaixou a cabeça e encarou a namorada, que se debulhava em lágrimas. Até que uma ideia assolou sua mente. Ele encarou todos e disse:


- Podemos pegar a rodovia Anhanguera e seguir para São Paulo.
- Porque São Paulo? - Juliana perguntou, em meio aos soluços.
- Sei lá. Só que como é uma cidade grande, o exército pode estar em maior concentração ali!
- Boa ideia. - Gabriela respondeu, mesmo que não gostasse de Tiago.
- Então temos que ir AGORA! - Joshua disse, enquanto pulava para o lado.


A Captiva de Pedro entrou estourando a parede da casa, quase acertando Joshua, que a viu chegar pela janela. Juliana gritou mais uma vez e se levantou, correndo em direção ao carro. Lá de dentro, um Pedro ferido saíu. Seus braços largados e a feição de dor foram a causa de ele ter se jogado sobre o capô do carro e cair novamente. Juliana o ergueu e, sem se preocupar com Tiago, perguntou:


- Querido, você está bem?
- Querido? Que história é essa sua vaca?
- Não precisa chingar seu filho duma puta! - Gabriela gritou.
- Vai se foder sua vadia! Juliana, que história é essa?
- Argh... Eu sei lá... Urgh... Do que ela tá falando cara... - Pedro respondeu, tentando se levantar.
- Cala a boca, seu desgraçado! - Tiago gritou, tentando partir para cima dele, porém foi segurado por Joshua, que o lançou para o outro lado da sala.
- O que aconteceu, cara? - O médico perguntou.
- Um filho da puta me mordeu. Aí eu entrei no carro e comecei a dirigir. Perdi o controle e entrei aqui na casa de vocês.
- Tudo bem. Temos que sair daqui. - Gabriela disse, vermelha de raiva de Tiago.
- Argh... Mas minhas pernas... Estão fodidas! - Pedro respondeu.
- Que se foda... Quem quiser, que fique com ele. - Tiago respondeu, pegando um pedaço de madeira e saindo da casa, pelo enorme buraco que a caminhonete havia feito.


***


Hora 3 após a infecção tomar proporções catastróficas


Tiago dava passos nervosos, seguido de Joshua, que também estava armado. Logo atrás, Juliana e Gabriela carregavam Pedro, que arrastava seus pés. Os gemidos irritavam cada vez mais os ouvidos do homem traído, disposto a tudo agora para sobreviver.


Logo a frente, dez homens e três mulheres caminhavam como bêbados. Tiago preparou o taco de madeira e esperou que alguma dessas pessoas se aproximassem, o que não demorou a acontecer. Um homem veio em direção à ele que, para se defender, rodou a madeira, acertando a cabeça do zumbi e deixando seu inimigo caído no chão.


Joshua o seguiu e girava seu bastão na cabeça dos loucos que tentavam atacá-lo, com os braços estendidos e a boca gotejante de sangue. As meninas logo atrás foram quase que deixadas de lado pelos dois homens à frente, e para que não fossem pegas, aceleraram o passo, por mais que Pedro fosse pesado.


"É um homem que vale a pena ser valorizado" Pensava Juliana. Por mais que tudo isso ainda estivesse acontecendo, ela ainda sentia que podia ficar com Pedro depois que tudo aquilo acabasse. Ao longo do caminho, eles viam pessoas correndo enquanto eram pegas por multidões enormes de "zumbis". Os gritos e explosões eram constantes naquela parte da cidade, onde os helicópteros caíam sem explicação.


Carros da polícia e dos bombeiros cruzavam as ruas. O COE foi chamado para tentar amenizar o problema e, bem na frente de Tiago e do grupo, eles foram devorados vivos, enquanto tentavam sobreviver, atirando contra o peito de todas as pessoas. Os bombeiros que também tentavam se defender usavam machados e, numa maneira desesperada, tentavam fazer com que a forte pressão da mangueira d'água fizesse com que a maioria dos zumbis caíssem para trás. O que não adiantou muito.


Eles decidiram tomar a saída do parque natural, o que facilitaria mais o seu caminho até a rodovia, já que o caminho estava fechado devido ao tanto de pessoas "doentes" que fecharam a rua. Eles se viraram na direção do parque e continuaram a caminhar por um bom tempo.


Pedro agora estava tomando a mesma tonalidade de Sérgio antes dele se transformar em uma daquelas coisas. No chão, panfletos com a propaganda da banda que Tiago mais odiava, Delete, mostrava o seu show, como lançamento de seu novo hit: “Vem Jorjão”. Os passos se tornaram mais apressados assim que zumbis pareciam estar cercando o grupo.


Como os sintomas mostravam, Pedro caiu no chão, em coma. Gabriela caiu logo depois, devido ao peso exercido pelo amigo e Juliana gritou infantilmente quando viu a situação de seu amante, já que não se importava mais com o que Tiago pensasse dela. Ele olhou para as duas pessoas caídas e, seguindo o seu coração, os deixou. Joshua não acreditou na atitude dele e perguntou:


- Vai deixá-los ali?
- Não tenho nada a ver com eles. - Tiago respondeu.
- Ah. Pare de ser imaturo! Neste momento devemos cuidar um dos outros. - Joshua gritou mais alto, chamando atenção indesejada.
- Não vou ajudá-los.


Tiago parou e ficou olhando os zumbis cercarem o grupo e apertou o pedaço de madeira que estava em sua mão. Enquanto isso, Gabriela e Juliana tentavam acordar Pedro, que não apresentava sinais vitais, isso foi confirmado quando Joshua examinou o enfermo. O médico experiente olhou para as meninas e acenou negativamente com a cabeça, fazendo com que ambas se pusessem a chorar.


- Eu não quero atrapalhar a palhaçada... Mas estamos sendo cercados, porra! - Tiago gritou, chamando a atenção das meninas e de Joshua.


Devido a isso, Gabriela não estava preparada para o que aconteceria a seguir. Com uma das mãos, Pedro, ou a criatura que ele havia se transformado, puxou ela para perto de sua boca. Numa só mordida, ele conseguira desfigurar o rosto belo e bem feito de Gabriela, que gritava horrorizada, enquanto o sangue quente escorria pelas suas roupas. Juliana pulou para trás e também gritou, enquanto Pedro devorava a ex-amiga.


Joshua puxou Juliana pelo braço e a instigou a correr para sobreviver, por mais que ela ainda quisesse ficar ali, junto com seu amor verdadeiro, ou não, e sua amiga. Enquanto isso Tiago desferia golpes mortais contra os seres que se aproximavam demais. Assim que ele viu que Joshua e Juliana estavam prontos para correr, apontou o caminho e todos correram.


Depois de um tempo correndo, o soluço de Juliana fora trocado por uma respiração ofegante. Suór saía de suas têmporas, assim como Joshua e Tiago também estavam encharcados. Naquele dia, nem o sol estava do lado deles. A imagem de Gabriela sendo devorada ainda continuava assombrando a mente de Juliana, que sempre dava pequenos choramingos, fazendo cara de choro. Até que eles chegaram ao parque. O único problema era, uma enorme grade os separava da mata fechada que os levaria à rodovia. E o pior era que, por mais que não quisessem, eles tinham chamado a atenção de muitos zumbis.


- E agora? - Perguntou Joshua.
- Vamos pular oras. - Tiago respondeu, como se aquilo parecesse óbvio e além de tudo, fácil.


Juliana olhava para trás e suas mãos tremiam cada vez mais. Antes que alguém pudesse dizer alguma coisa, Tiago começou a subir, sem ao menos dar preferência para a única mulher no grupo. Joshua já estava começando a odiar aquele cara, isso foi percebido quando ele balançou a cabeça e, pelo seu pensamento, todos os tipos de chingamentos passavam, dando uma vontade enorme de ele terminar tudo aquilo e matar aquele desgraçado que se tornara frio.


Ele, como um cavalheiro, ajudou Juliana a subir, coisa que ela fazia com muita dificuldade. Tiago já estava do outro lado da cerca e, por mais que não quisesse, ele esperou todos passarem. Assim que Juliana pulou para o outro lado, Joshua começou sua escalada. Talvez tarde demais. Os zumbis agarraram em seu pé e o derrubou da grade. Num pulo, o médico se levantou e começou a desferir socos para tentar escapar da horda que o cercara. Assim que levou seu braço para trás para dar um potente murro em um "homem" que aparentava ter vinte e quatro anos, foi puxado e mordido. Isso desestabilizou totalmente aquele médico decidido de que iria sobreviver. Logo os zumbis cobriram Joshua e os gritos foram a única prova de que ele estava morrendo.


Juliana gritava, torcendo para que ele escapasse, o que não aconteceu. Assim que os gritos cessaram, ela se ajoelhou no chão e levou suas mãos ao rosto, o choro sentido e desesperado fez o coração de pedra de Tiago quebrar, ou quase quebrar.


- Juliana. Escute. Precisamos correr o mais rápido possível. Consegue fazer isso?
- Eu não posso aguentar tudo isso. Primeiro o Pedro, depois a Gabi, agora o Joshua. EU QUERO MORRER!!!
- Temos que ser fortes. - Tiago estendeu a mão esquerda à ela.


Juliana o encarou e pegou em sua mão, limpando as lágrimas restantes em sua face. E ambos correram. Os zumbis não tinham tempo de cercá-los. A rodovia já podia ser vista. Eles só precisavam correr por mais um tempo. Já longe do local onde Joshua havia sido morto, Tiago pediu à Juliana para descansar um pouco. Eles pararam e ele levou suas mãos ao joelho, dizendo logo em seguida:


- Sabe, eu não... Imaginava que você poderia fazer isso comigo.
- Tiago eu ia te contar.
- Bem que eu estranhei o Pedro sair da firma correndo feito um louco, dizendo que precisava resolver algumas coisas.
- Me desculpe. Eu ia te contar.
- Você IA. Não vai mais.
- O que quer dizer com isso?
- Nada. Vamos continuar.


Ela foi na frente, a coisa que Tiago mais queria. Ele preparou seu taco e o quebrou, acertando na cabeça de Juliana, que caiu, desacordada. O pedaço de madeira que havia sobrado, ele enfiara, ouvindo lentamente o som dos órgãos sendo rasgados pelo pedaço de madeira que entrava. Se ela não morresse pelos zumbis, morreria por traumatismo e se não fosse por isso, a hemorragia daria um jeito.


- Não vai mais. - Foi a última coisa que Tiago disse.


***


Tiago corria o mais rápido que podia e, por mais que tivesse matado uma mulher, sua futura esposa, ele não derramara nenhuma gota de lágrima. Estava feliz com o que tinha feito. Assim que ele avistou a rodovia, também avistou a barricada policial.


- Ah... Graças a Deus.


Ele começara a andar mais rápido, o único que conseguira escapar com vida. Pelo menos do seu grupo. Assim que ele se aproximou viu as miras das armas sendo apontadas para o seu peito. Tiros e mais tiros foram ouvidos e um policial disse:


- Alvo neutralizado.


O corpo de Tiago jazia ali. Sem vida, como o de sua ex-namorada. Sem vida talvez não, já que, algumas horas depois, seus olhos foram abertos, durante a noite, pareciam duas luas. Olhos brancos como a morte em si. Um grito de vitória e o exército zumbificado caminhava contra a brigada policial.


Numa cidade inundada pelo sangue de inocentes.


Toda a esperança se foi¹.


1= Música da banda Slipknot de um albúmcom o nome: All Hope Is Gone (Toda a esperança se foi)


Fim


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