Excalibur 2099 #03 - Kind of Magic
EXCALIBUR 2099 Capítulo 03 – Kind of Magic
Por João Norberto e Alex Nery
New Preston, Lancashire, ex-Reino Unido.
Ela andou. Simplesmente andou, colocando um pé descalço na frente do outro. Não tinha decidido um caminho específico, então qualquer passo era um passo na direção certa.
Ou na direção errada.
Entrou na rua do mercado quase inconscientemente. Talvez a dor em seu estômago estivesse lhe dirigindo, afinal já fazia dois dias que ela não comia nada. Ao perceber as tendas sujas, porém coloridas, ela despertou do seu torpor.
Cerca de trinta tendas se estendiam pelos dois lados da rua. Tendas pequenas e grandes, ofertando todo tipo de frutas e outros itens comuns em uma feira. Dezenas de pessoas se aglomeravam no corredor estreito, se empurrando e se acotovelando para conseguir principalmente algum alimento. A falta de uma moeda comum forçava o comércio por escambo, então era comum encontrar pessoas com objetos diversificados em busca de um bom negócio. Um relógio por duas batatas ou uma holocaneta por um saco de ração protéica, quem sabe?
Ela perambulou olhando faminta para as frutas dispostas nas tendas. Quase por instinto vasculhou os bolsos de sua calça surrada, mesmo sabendo que nada encontraria.
- Ei, loura! Loura! - chamou uma voz desconhecida.
Ela se voltou para o homem que a chamara. Era um homem de meia idade, gordo, com a barba por fazer e de aspecto sujo. Ele segurava uma maçã.
- Que tal uma maçã, hein? Tô vendendo barato – ofereceu o homem.
- Não tenho nada – respondeu ela.
- Ora, o quê é isso... Diga o que me dá por ela!
Ela aproximou-se hipnotizada pela maçã. Seu estômago doeu.
- Não tenho nada, senhor – disse ela novamente.
- Não é possível. O que veio fazer no mercado se não possui nada para negociar? - indagou o comerciante desapontado.
- E-eu...
- Vamos lá, mostre o que tem nos bolsos! - insistiu o homem, retomando a esperança.
Num ato de pura esperança ela enfiou as mãos nos bolsos mais uma vez. Percebeu que havia um objeto no bolso esquerdo. Curiosa, retirou o objeto e abriu as mãos estendendo-as para o comerciante.
Em suas mãos havia um brinco dourado, com uma pedra verde e brilhante em seu centro.
- Veja só! - o comerciante apanhou o brinco e o trouxe mais para perto dos olhos – Parece igualzinho ao que eu tenho!
O comerciante apanhou uma caixa que estava sobre sua banca de frutas e vasculhou seu interior. Em instantes ele tirou um pequeno objeto da caixa e exibiu para ela.
- Veja. São idênticos! É incrível que eu tenha encontrado o par. Juntos eles valem mais, hehehe... - disse o comerciante – E você ainda disse que não tinha nada para negociar! Agora que viu que quero o par, com certeza vai querer me extorquir.
- N-não eu... eu nem...
- Ok, sem choro. Te dou uma maçã e uma garrafa de água limpa. Pegar ou largar.
- Ahn, eu.. certo.
O comerciante depositou em seus braços a maçã e uma garrafa d'água pequena antes que ela falasse qualquer coisa a mais e tratou de guardar os brincos.
Ainda sem entender como conseguira uma maçã e uma garrafa d'água, ela se afastou para um canto longe do movimento e sentou-se no chão para deliciar-se com os preciosos itens.
Mais um dia na vida de Anne Maximoff.
O portão oeste de New Preston era formado por um arco de pedra medindo vinte metros de comprimento e sete metros de altura. Acompanhava uma muralha construída há cerca de vinte anos, quando os novos colonos haviam se assentado ali, no local onde já existira a cidade de Preston. A antiga cidade havia sido devastada pelas tribos de lobisomens que surgiram nas florestas da província logo após a invasão alienígena. Havia sido uma guerra cruel e desigual. Os humanos com sorte foram massacrados ali mesmo. Os menos afortunados foram seqüestrados e sofreram torturas por dias, dizem que alguns foram devorados vivos pelas matilhas sobrenaturais.
O Reino Unido sofrera uma invasão diferenciada das demais regiões do planeta. Enquanto skrulls, shiars e outras raças apoderaram-se da infra-estrutura humana já existente nas áreas sob seus domínios, os novos senhores da Inglaterra optaram por retroceder o país a uma nova idade média. Quase toda a tecnologia fora destruída, os aliens transmorfos conhecidos como espectros assumiram as formas dos contos e lendas de terror mais pavorosos que a mente humana já criara e iniciaram um cercamento sistemático dos humanos sobreviventes. Desta forma, vampiros, lobisomens, fantasmas, duendes e outras formas de seres sobrenaturais passaram a assolar o território, sempre assediando os humanos, levando-os a viver em constante terror. A muralha de New Preston era uma defesa efetiva contra os ataques noturnos dos lobisomens.
O coronel Jacob Bronwen, o homem que organizara a defesa da nova cidade nas últimas duas décadas observava o movimento de entrada e saída da cidade. Todo dia, dezenas de pessoas atravessavam o portão da cidade. E cada um deles era submetido a um escaneamento corporal completo a fim de evitar a entrada de aliens disfarçados.
A fila era grande, mas quase todos esperavam pacientemente. Afinal, entrar na cidade era sinal de segurança nestes dias tão conturbados.
Dois homens vestindo mantas marrons e capuzes permaneciam na fila. Jacob percebeu que eles cochichavam disfarçadamente e evitavam mostrar abertamente seus rostos. Seu instinto militar o fez permanecer em alerta.
Depois de alguns minutos chegou a vez do primeiro suspeito ser escaneado pela equipe de segurança. O soldado do posto de verificação aproximou-se com o scanner manual e varreu o corpo do homem. Repetiu o gesto e liberou sua entrada. O homem caminhou lentamente e aguardou pelo amigo alguns metros adiante.
Monotonamente o soldado repetiu a rotina de segurança com o próximo encapuzado. Mal ativou o scanner e seu alerta para energias estranhas disparou.
O soldado arregalou os olhos e saltou para trás. O restante da equipe de segurança apontou suas armas imediatamente contra o estranho. Os imigrantes na fila dispersaram-se e buscaram abrigo apavorados. O homem encapuzado permaneceu imóvel.
- Alerta no portão oeste! Alerta no portão oeste! – gritou o soldado agarrando um comunicador.
- Calma... – disse o encapuzado.
O encapuzado que já atravessara a linha de segurança fez menção de retornar para o lado do amigo detido, mas foi impedido por soldados armados que lhe apontaram rifles e pistolas energéticas.
- PARADO! – ordenou um dos soldados.
O encapuzado levantou seus braços, demonstrando que estava se rendendo.
O coronel Jacob aproximou-se rapidamente com a pistola em punho.
- O que houve, soldado? – perguntou ele ao soldado que empunhava o scanner.
- O scanner disparou, senhor. Energias estranhas foram detectadas neste sujeito! – respondeu o soldado recompondo-se.
- Alienígena? – indagou o coronel alternando os olhos entre o estranho e o aparelho.
- Não sei dizer, senhor. Parece... diferente... – respondeu o soldado observando os dados emitidos pelo scanner.
Jacob apontou sua arma para a cabeça do encapuzado, tendo o cuidado de manter uma distância segura.
- Quem, ou o quê, diabos é você? – perguntou o militar.
- Meu nome é Whitman. Estou de passagem pela sua cidade e procuro abrigo para uma noite ou duas – respondeu o sujeito, baixando o capuz e revelando uma face magra e morena.
- Simples assim? Há! Abra este manto e nos mostre o que carrega aí – ordenou Jacob- BEM DEVAGAR!
Lentamente Whitman abriu o manto, revelando uma magnífica espada, cuja lâmina emitia um brilho variável.
- Santo D... – murmurou Jacob.
- É por aí... – disse Whitman – Seu scanner detectou as energias da espada.
- Que tipo de espada é essa?
- Ela é única. Por favor, não sou um inimigo...
- Isso eu que decido.
O outro homem encapuzado baixou lentamente seu capuz e revelou o rosto de um homem branco, de meia idade e possuidor de uma barba longa.
- Coronel Jacob, meu nome é Braddock. Permita-me mostrar-lhe uma coisa – pediu o homem de meia idade.
- Ahn? Seja o que for, apanhe devagar. Qualquer movimento brusco e fuzilaremos você e seu amigo – respondeu decidido o coronel.
- Perfeitamente – anuiu Brian Braddock.
Braddock enfiou lentamente a mão direita sob o manto marrom. Os soldados engatilharam as armas instantaneamente. Sem demonstrar qualquer receio, o antigo Capitão Britânia apanhou um objeto em seu bolso e exibiu-o com a palma da mão aberta.
O Coronel Jacob aproximou-se curioso. Seus olhos se arregalaram quando ele reconheceu o objeto trazido pelo estranho. Braddock ofereceu-o ao coronel. O militar apanhou o objeto rapidamente e voltou-se para os soldados, ordenando:
- Baixem as armas!
A área reservada à residência do coronel e de sua família era um humilde anexo ao centro militar de New Preston. O coronel optara por morar ali para estar disponível o mais rápido possível em caso de necessidade.
Serviu uma xícara de café para Withman e outra para Braddock. Os três homens sentaram-se na pequena sala de estar do coronel.
- Já se conheciam? – perguntou Dominic Whitman.
- Sim – respondeu o coronel – o senhor Braddock aqui salvou minha vida muito tempo atrás.
- Verdade?
Braddock sorriu.
- A mais pura verdade. Embora naquela época ele fosse conhecido por outro nome: Capitão Britânia – reafirmou o militar – Eu e minha unidade estávamos realmente encrencados naquela ocasião. Era 2057 e tentávamos manter um perímetro livre de espectros em Norfolk, mas os malditos aliens viraram vampiros e estavam nos massacrando... Eles sequestravam os soldados da companhia e à noite nossos amigos voltavam como vampiros em busca de nosso sangue. Foi horrível lutar contra nosso próprio povo.
- Naquela época não sabíamos, mas não eram realmente os mortos retornando – explicou Braddock – Eram aliens que assumiam as formas dos soldados mortos. Com aqueles apêndices perfurantes eles sugavam também as memórias dos humanos, assim tornavam-se idênticos aos originais.
- As fêmeas espectrais – murmurou Whitman.
- Exatamente. As malditas putas alienígenas... – esbravejou o coronel – Naquela noite havia apenas vinte homens vivos. O Capitão apareceu e nos salvou. Nos deu cobertura para que pudéssemos chegar à costa, onde um barco nos esperava. O mais estranho é que naquela noite ele me deu uma moeda de seis pence, cunhada em 1948, e ordenou que eu a guardasse até nos encontrarmos de novo.
- Sabia que iam se encontrar novamente, Brian? – perguntou Whitman ao Capitão Britânia.
- Eu nem fazia idéia – respondeu o Capitão - Mas naquela noite Roma disse que eu deveria entregar a moeda a uma pessoa e pedir que ela guardasse para mim.
- Roma?
- Roma fornecia minhas missões, me indicava um caminho a seguir – respondeu Braddock cabisbaixo.
- O que houve com ela? – insistiu Whitman.
- Ela desapareceu sem deixar vestígios pouco tempo depois de 2057. Nunca mais tive qualquer sinal dela... até hoje, quando uma moeda idêntica àquela que dei ao coronel apareceu em meu bolso.
- Só pode ser um sinal divino! – disse o coronel.
- Ou mágico, dependendo do ponto de vista – disse Whitman.
- A Inglaterra tem uma velha história com a magia, amigos... – disse Braddock – E eu acredito que essa força nunca abandonou o reino.
- Suponho que veio à New Preston para se juntar ao nosso esforço de resistência, Capitão. Será muito bem vindo aqui, tanto você quanto seu amigo – disse o coronel entusiasmado.
- Sua cidade faz parte de nossa jornada, coronel – disse Braddock levantando-se e caminhando para a janela – procuramos por alguém muito importante para a salvação da Inglaterra.
- Quem?
- Uma bruxa, coronel – responde Whitman.
- Bruxa? Um alien entre nós? Como? Quando? – exaspera-se o militar.
- Não. Ela é humana. Ela nem faz idéia, mas é possuidora de uma herança de enorme poder – explica Braddock.
- Uma mulher poderosa em New Preston? Não sei... teríamos detectado qualquer pessoa com características anormais... – disse o coronel balançando a cabeça negativamente.
- Esta mulher é difícil de ser percebida, coronel. Muito difícil – disse Braddock.
Anne acordou na sarjeta da rua do mercado. A maçã e a água já eram uma recordação distante e seu estômago protestava para receber alimento. Sentou-se e olhou em volta.
Os relógios marcavam 19:37 horas. Àquela hora não haviam mais barracas armadas. Apenas os esqueletos metálicos permaneciam de pé e as lonas jaziam empilhadas no chão. Alguns ratos corriam pelo local ainda em busca de restos de frutas e outros alimentos.
Ela levantou-se e bateu as mãos na própria calça, retirando um pouco da poeira, mas sem conseguir melhorar muito o aspecto de suas roupas. Ela estava suja e até seu cabelo farto e loiro estava poeirento e desgrenhado.
Andou até sair da rua do mercado. Sentiu-se tonta, mais um dos sintomas da fome que a acompanhava desde quando ela podia se lembrar. As ruas possuíam um sistema de iluminação razoável, utilizando os antigos postes de concreto e rede de fios, nada moderno como na cidade de onde viera.
Mas, de onde ela viera? Fez um esforço para lembrar, mas não conseguiu.
O que importava no momento era conseguir alimento. Viu uma entrada iluminada com hologramas que exibiam pessoas dançando e bebendo. Algumas pessoas da cidade encaminhavam-se para lá. Decidiu fazer o mesmo.
O nome do local era “Olho de Morgana”, um dos cerca de dez bares existentes em New Preston. Um dos poucos locais onde os habitantes podiam se distrair e desestressar.
Anne admirou as mulheres e, apesar de nenhuma delas estar vestida com roupas exatamente novas, desejou ter alguma roupa melhor do que os trapos que vestia no momento. Compelida pela fome, arriscou entrar no local.
Nem sequer percebeu que suas roupas agora eram mais novas e brilhantes do que qualquer outra.
Casais andavam abraçados, homens e mulheres solitários procuravam companhia, tudo regado a bebidas produzidas no próprio local, misturas sintéticas e coloridas que simulavam o álcool. Sua entrada não passou despercebida, afinal era uma bela mulher e ninguém a conhecia.
Dezenas de pessoas dançavam na pista central, envolvidas pelo som, pelas luzes e pelas projeções holográficas. Anne observou aquele movimento que parecia desprender as pessoas da cruel realidade em que viviam e desejou ter a mesma sensação. Quase automaticamente entrou na pista e começou a dançar.
Homens e mulheres a olhavam admirados. Ela dançava graciosamente, executando movimentos leves e ritmados. A música parecia aumentar de volume conforme ela se entregava à dança.
Foi quando ela elevou-se no ar, girando como uma ave rubra. O movimento misturava o dourado de seus cabelos com o vermelho de suas roupas, remetendo à imagem de uma chama viva.
Inicialmente paralisados pelo prazer daquela visão, os clientes do “Olho de Morgana” começaram a correr desesperadamente.
- É um alien!!
- É um demônio!!
- É uma bruxa!!
Ninguém esperou para saber qual definição cabia à Anne Maximoff. Todos queriam apenas se proteger daquela mulher que era diferente das demais.
Quando Anne voltou ao solo, percebeu que estava sozinha no bar. Todos haviam fugido. Sem compreender o motivo, ela foi até o balcão e comeu todo alimento que encontrou pela frente. Saciada, saiu do bar.
As imediações do bar pareciam desertas, porém ela pôde perceber que haviam pessoas escondidas nas edificações próximas lhe observando. Aquilo não lhe agradou, mas algo em seu íntimo lhe disse que era normal elas estarem assustadas. Anne caminhou pela rua e aproximou-se da muralha que defendia a cidade.
No topo da muralha, os homens voltados para o exterior não perceberam aquela mulher aproximando-se. Sem nenhum ruído, Anne levantou-se no ar pousou sobre a muralha, bem ao lado de dois soldados.
- Que diab...
- Mas o que é...
Indiferente ao susto dos soldados, Anne simplesmente andou em frente, saltando da muralha.
- Ei, moça!
- Não faça isso!!!
Os pedidos dos soldados de nada adiantaram. Anne caiu pesadamente da muralha, porém não chocou-se contra o solo como era esperado. Seu movimento apenas cessou e ela saiu caminhando normalmente. Os soldados olharam estupefatos para aquela estranha mulher. Um deles saiu correndo para chamar o superior, enquanto o outro observava Anne se afastar da amurada e entrar na floresta.
Ele teve a certeza de ver vários pares de olhos vermelhos espreitando por entre as árvores.
Whitman e Braddock demoraram cerca de vinte minutos para serem informados dos acontecimentos daquela noite incomum. Chegaram o mais rápido que puderam ao “Olho de Morgana” juntamente com o coronel Jacob e alguns de seus homens, mas tudo o que conseguiram foram relatos sobre uma mulher bonita que flutuava.
- Só pode ser ela, Brian – disse Whitman.
- É provável. Temos que encontrá-la imediatamente. Ela parece perturbada – respondeu o antigo Capitão Britânia.
- Faremos buscas por toda a cidade, Capitão – prontificou-se Jacob.
Nesse momento, um tenente aproximou-se de Jacob e forneceu o relato sobre o salto da muralha.
- Nossa situação piorou muito. Ela foi vista saltando a muralha e entrando na floresta – informou o coronel.
- Maldição... – praguejou Braddock.
- Vamos atrás dela – disse Whitman.
- Não será tão fácil, Whitman. A floresta é território dos lobisomens – disse Jacob.
- Teremos que ir mesmo assim. Ela é peça fundamental do plano para nos libertar dos aliens – disse Whitman.
- Não podemos perder mais tempo – afirmou o Capitão Britânia - O fato dela ter estado aqui, tão próxima de nós, é um sinal de que as forças mágicas da Inglaterra estão trabalhando a nosso favor, porém creio que sua mente está nublada pela magia espectral. Acho que estão tentando atraí-la.
- Ela será destroçada por aqueles monstros... – murmurou Jacob.
- Não se depender de nós, coronel – disse Dominic Whitman.
Whitman saca sua espada, um amálgama entre as lendárias espadas excalibur e ébano e aponta para os céus negros.
Uma linha dourada surgiu, traçando um caminho que saiu do bar e continuou percorrendo a rua até sumir em uma esquina.
- Esta mulher está conectada à magia da Inglaterra, assim como minha espada. É nosso destino encontrá-la e assim vai ser. Sigamos seu rastro – disse o Cavaleiro Negro.
- Levarei alguns de meus melhores soldados – disse o coronel.
- Não, Jacob – recusa o Capitão Britânia – Cada um de vocês é necessário na defesa da cidade. O Cavaleiro Negro e eu iremos atrás dela.
- Me perdoe, Capitão, mas isso é loucura. Existem dezenas de lobisomens lá – protestou o militar.
- Não, coronel. Brian está certo. Sinto que devemos enfrentar esse mal sozinhos. Nossas almas precisam ser forjadas no combate- disse o Cavaleiro Negro.
- Apesar de não concordar, respeitarei a vontade dos senhores... – disse o coronel Jacob.
- Você é um bom amigo, Jacob. Voltaremos em breve – prometeu o Capitão Britânia.
Sem perder mais tempo, o Cavaleiro Negro e o Capitão Britânia deixaram a cidade seguindo a trilha deixada por Anne Maximoff.
Embrenharam-se na floresta procurando fazer o mínimo de barulho possível. Dominic levava sua espada em mãos, enquanto o Capitão Britânia segurava seu cetro com firmeza. A trilha era clara e avançava cada vez mais para o interior da floresta.
Andaram por cerca de trinta minutos. Subitamente, Brian segurou o braço de Dominic, chamando sua atenção.
- Que houve? – sussurou o Cavaleiro Negro.
- Escute... – pediu o Capitão Britânia.
- Escutar? Não ouço nada – disse Dominic.
- Exato. Não há nenhum ruído natural da mata. Este silêncio não é normal – afirmou o antigo guardião da Grã-Bretanha.
- Estamos sendo observados – disse o Cavaleiro.
- Pressentiu também?
- Aham.
Resolveram continuar. Esgueiraram-se por mais vinte minutos até alcançarem uma clareira de onde provinha uma luminosidade irregular. Ainda agachados e cautelosos, observaram a terrível cena à sua frente.
Amarrada em um monólito de pedra, Anne parecia desacordada. À sua frente, um homem idoso, excessivamente magro e vestido unicamente com a pele de um lobo sobre os ombros, vociferava. Em torno do homem, cerca de dez lobisomens se reuniam ajoelhados.
As criaturas pareciam enormes lobos. Seus pelos variavam do negro ao marrom e brilhavam ao luar. Alguns rosnavam exibindo suas presas alvas, mas nenhum deles ousava avançar sobre a vítima capturada.
- Irmãos da lua! – gritou o idoso líder da matilha – Enfim, nossa deusa nos trouxe aquela que precisávamos para consolidar nosso reino. Aqui, a humana que congrega o poder primal! Aquela que nos servirá eternamente!
O bando uivou para a lua e os heróis escondidos sentiram seu sangue gelar. Apesar de saberem que aquelas criaturas não são as mesmas do folclore europeu, mas sim alienígenas que encararam aqueles personagens, o medo é genuíno, pois ainda assim são formas assustadoras.
O líder do bando gesticulou e um dos lobisomens se ergueu sobre as patas traseiras. Em seguida ele se aproximou do altar e reverteu à forma humana, revelando a forma de uma mulher jovem.
- Você, Era-Hun! Você foi a escolhida para assumir a forma da humana e assim assimilar toda a sua essência. Aproxime-se e realize o sagrado ritual de nossa espécie... – disse o líder.
A fêmea espectral aproximou-se de Anne. Ela deslizou suas mãos sobre a humana, antevendo o prazer que viria com a absorção daquela forma. A mulher-lobo aproximou sua boca do rosto de Anne, abrindo-a para revelar uma língua serrilhada e pontiaguda.
Anne recuperou a consciência neste instante e pôde ver a forma horripilante que a cercava. Tentou gritar mas a voz lhe faltou.
Uma rajada de energia amarela rasgou a noite e atingiu Era-Hun pelo lado esquerdo. A mulher-lobo foi arremessada à dez metros de distância, gritando agonizantemente e com o corpo em chamas.
O Capitão Britãnia revelou-se. Seu cetro dourado fumegava.
A matilha ergueu-se e urrou com ódio. Presas e garras surgiam brilhantes na noite e apontavam para o herói, numa promessa de vingança sangrenta.
- Venham, malditos! – gritou o Capitão.
O idoso líder da matilha urrou numa voz inumana e, então, os lobisomens restantes se atiraram contra o herói.
Brian Braddock girou o corpo deixando o primeiro lobo passar e desastradamente atingir o carvalho atrás de si. Em seguida brandiu seu cetro mágico mais uma vez e disparou contra o segundo atacante, atravessando-o com a luz dourada. O alien tombou imediatamente morto.
Enquanto isso, Dominic, o Cavaleiro Negro, contornara a clareira e aproximara-se por trás do monólito. Com um gesto rápido, cortou as cordas que prendiam Anne. A humana tombou semi-acordada.
O líder voltou-se para confrontar o Cavaleiro Negro. Da sua frágil forma humana brotou um enorme lobisomem de pêlos acinzentados e garras longas que imediatamente saltou sobre o herói.
Dominic saltou para o lado, girando a espada. Teve sorte. Cortou o braço esquerdo do lobisomem à altura do cotovelo. O monstro urrou de dor, mas mesmo assim ainda desferiu um golpe com o braço intacto, arremessando Dominic contra árvores próximas.
Cercado pelos lobos, o Capitão Britânia passou à lutar fisicamente contra os monstros. Poderosos socos e pontapés atingiam os corpos dos inimigos, que estavam surpresos pela resistência do que parecia ser apenas um humano de meia-idade. O que eles não sabiam era que o Capitão Britânia era alimentado pela magia da Inglaterra, sendo assim, ele possuía força e resistência sobre-humanas.
Dominic tentou erguer-se apoiado na espada ébano. Seu corpo doía tanto que ele fraquejava. O impacto havia sido forte demais. O lobisomem líder rosnava baixo e aproximava-se lentamente, estudando o adversário, procurando avaliar seu real estado para evitar uma armadilha. Uma vez certo de que o Cavaleiro estava ferido, ele ergueu suas patas dianteiras e exibiu suas longas garras amareladas, armando o golpe final.
Ao descer o braço, antes que suas garras transpassassem o corpo do herói, seu braço restante transformou-se em poeira. Incrédulo, olhou para o ombro, que não sangrava uma gota sequer. Virou-se ainda estupefato e encarou Anne, que apontava sua mão direita para ele.
- Bruxa... – rosnou.
Anne rodopiou a mão e fechou-a energicamente. O lobisomem foi atingido por uma onda invisível e tornou-se pó, desfazendo-se no vento. A mulher loira girou o braço direito por sobre a cabeça e a energia invisível espalhou-se por toda a clareira, pulverizando os lobisomens que ameaçavam também o Capitão Britânia.
Em seguida, a bela mulher desmaiou.
Dominic levantou-se como pôde e tentou ampará-la, ao mesmo tempo em que o Capitão Britânia olhava em volta certificando-se de que não havia mais nenhum inimigo próximo.
- Brian... quem é esta mulher? Viu o que ela fez com um par de gestos?- indagou Dominic.
- Sim, ela é realmente poderosa. Em seu ser ela tem uma íntima ligação com a magia da Inglaterra – respondeu o Capitão Britânia.
- Quem é ela?
- Ela é nossa maior esperança. Ela é a Feiticeira Escarlate.
Continua...
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+ comentários + 2 comentários
Essa versão futurista da Feiticeira ficou simplesmente sensacional e a ambientação como sempre está impecável Nerão!!!
Você devia ser chamado prá fazer uma nova versão oficial do Universo 2099 na Marvel cara!
Meus parabéns pela excelente história!!!
Um abração e até mais
eu viajei no texto, no melhor sentido possível. tou preocupado, você escrevendo uma gostosona muito bem, quase quanto eu, mwhahaha! será que vou perder meu posto? muito bom mesmo. desde a ambientação até a mistureba, entende? outra coisa, posso escrever one das fêmeas espectrais/?
totalmente excelente o texto!!!!
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