A devastação tem início. A cria maldita de Malebólgia finalmente chega a nosso mundo com um firme propósito, mas qual será esse propósito? E o Rei Conan, como está se sentindo com a morte da Rainha Zenobia, mesmo passando tantos meses? Não perca essa edição, recheada de sangue e violência.
A Era Moriana de Conan, o Bárbaro
Rei Conan #02
A vingança é um prato que se come frio
Sul da Stygia
- Ah ah ah, depois de tanto tempo, ainda correm como cordeirinhos. - Fala um enorme guerreiro de ébano, arqueando o arco com sua flecha, enquanto se diverte mirando nos stygios. Ele fez esse jogo nos anos de ocupação dessa pequena aldeia, desde seu primeiro dia. Num cercado ele colocou vários moradores, e mandou-os correrem. Com o arco, ele mira aleatoriamente e só usa dez flechas. Os aldeãos têm que correr para que ele não possa mirar para acertá-los. Mas nunca nos jogos, ele desperdiçou as dez. Os aldeões ficam desesperados, imaginando quem será hoje.
A aldeia, situada ao sul da Stygia, perto de Darfar e Kush, sempre foi caminho de mercenários, mas desta vez, os mercenários Kushitas ali se estabeleceram, e iniciaram um reinado de terror, que parece que nunca irá acabar.
- Jafar, venha minha pequena – chama o gigante de ébano.
- Sim, meu senhor – cabisbaixa, a mulher obedece.
- Boa menina. Quem diria que depois de todo esse tempo você fosse ficar mansinha como uma gatinha.
Jafar nada fala, depois de muitas surras, ela aprendeu seu lugar. Se Ptah-Lifus não tivesse sido covarde, e voltasse para lhe salvar, agora ela poderia estar longe. Como ela odiava Ptah-Lifus, por ter fugido sem ela. Agora ela fazia parte do harém do chefe Kushita, Borgos, um negro enorme, forte, e muito cruel, que a estuprou diante de seu irmão, sem que ele fizesse nada para defendê-la e, após sua tentativa de fuga, cedeu-a para todos os seus guerreiros desfrutarem do seu corpo, que era para servir de exemplo, como ele sempre falava. À noite, Jafar desabafava com uma criada.
- Como eu odeio minha vida.
- Não fala isso senhora, a senhora está viva, têm comida todos os dias, e não vai para o curral.
- Eu preferia ir para o curral, para não ter que me deitar com o monstro do Borgos todos os dias. - Pelo menos hoje ela teria uma folga, o maldito tinha arranjado carne nova para saborear. - Como eu queria ter fugido aquela noite.
- A senhora nunca mais teve noticias de seu irmão?
- Não, mas se fosse para ter, gostaria que fosse da sua morte.
- Não diga isso, minha senhora.
- Mas é a verdade. Assim pelo menos todas as noites que sou violentada, teria em mente que não poderia mais ter esperança de fuga.
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Quatro anos depois
Norte da Hirkânia, entre a cadeia de montanhas da Pathenia e a cadeia de Turan, próximo ao mar Vilayet. Numa pequena aldeia esquecida pelo tempo.
- CHEFE, CHEFE. - Entra gritando na aldeia um jovem, praticamente sem fôlego.
- Calma criança, o que aconteceu?
- Chefe, uma desgraça, uf uf, um monstro... uf .... atacou na colina ... uf uf.... matou a todos..... uf... somente eu consegui fugir.
- Como? Um monstro atacou vocês? Vocês quem? Quem mais estava com você?
O jovem se retrai, perante a notícia que teria que dar ao chefe.
- Estava eu, o filho e a prima de ferreiro, e...
- E quem mais? Diga?
- Sua filha, chefe.
- Minha filha? Escutando as palavras do franzino rapaz, o desespero toma conta do chefe da aldeia, sua única filha, o único bem que a falecida esposa tinha lhe deixado, morta nas mãos de um monstro.
- Mitra, como pode deixar isso acontecer? Diga rapaz – nesse momento o chefe já levanta o rapaz pela camisa que ele estava usando para ficar como seus olhos na altura dos seus - onde vocês estavam quando tal catástrofe aconteceu?
- Nós estávamos na praia, namorando escondido.
- Namorando? Você levou minha filha para namorar na praia?
- Não, não chefe, eu namoro a prima do ferreiro, era o filho dele que estava com ela, quando o monstro nos atacou.
- Homens, às armas, vamos à praia caçar esse monstro.
Ouvindo isso, o jovem se desespera, se joga aos pés do chefe, implorando que ninguém vá, o monstro era invencível, matou a todos sem o mínimo de esforço. Parecia humano, mas não era, devido à tamanha força e rapidez dos golpes. Em vão, ele tentava convencer o chefe a ficarem e protegerem a aldeia, mas o chefe queria sangue, queria vingança pela morte da única coisa que lhe fazia viver, sua amada filha.
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Sul da Aquilônia, fronteira com a Zíngara
Um jovem soldado está subindo a colina, num reluzente cavalo malhado. Ele não imprime grande velocidade, e seu semblante está sereno. No alto da colina um destacamento militar o aguarda. Vários soldados armados, com uma grande efígie de Leão em seus peitos. Em frente a todos eles, um gigante de bronze, com longos cabelos que um dia já foram tão negros quanto à noite, mas agora ostentam alguns fios de cabelos brancos. Com seus brilhantes olhos azuis, ele cuida o horizonte, mas sem descuidar do cavaleiro que está chegando. Em sua armadura a efígie do Leão resplandece, quando o sol que está se pondo banha sua armadura. Armadura essa que fica gigante, devido aos seus ombros largos e a força de seus braços. Braços talhados por inúmeras batalhas, com cicatrizes que poucos espadachins conseguiram deixar. Antes de morrerem, é claro. Em sua mão direita, um machado de duas laminas reflete a luz do sol. O cavalo do Rei é um poderoso garanhão negro, com potentes pernas e patas, uma crina e rabo tão negros quanto a mais escura das noites. Como não poderia deixar de ser o cavalo imperial, e seu olhar tinha o mesmo ar selvagem e indomável de seu Rei. E o Rei está imponente em seu garanhão. O jovem soldado, com grande orgulho desce do cavalo e se prostra diante de seu rei.
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- Por Mitra Chefe, não vá à praia, o monstro ainda pode estar lá.
- Cale-se covarde, por Isthar, se você fosse homem de verdade, você poderia ter salvado as meninas, mas não passa de um covarde – e chuta novamente o rapaz, dessa vez na barriga.
O Chefe da aldeia arma um grande destacamento, todos os homens da aldeia querem ir a praia para caçarem o monstro, mas temendo deixar a aldeia desprotegida, metade dos homens ficam, para protegerem as mulheres e crianças. O restante se arma, e partem rumo à floresta, que antecede a praia. O chefe, chamado Leandricus, obriga o jovem rapaz, chamado Jovar a lhes acompanhar, e o faz contar como tudo aconteceu.
- Bem, chefe. Estávamos eu e a Lisa num canto da praia, Claudios e sua filha Betla atrás das rochas. Nós estávamos namorando, quando Betla gritou desesperada, e quando levantamos de onde estávamos nós vimos o monstro segurando somente a cabeça de Claudios. Sua filha correu em nossa direção, mas antes dela chegar até nós, o monstro largou a cabeça, e suas correntes vieram em direção dela, e prendendo nas pernas e braços, e a levaram de volta ao monstro. Ele olhou fundo nos olhos de sua filha, e enquanto isso, eu subi na rocha para atacá-lo pelas costas. Quando eu estava em cima das rochas, peguei um pedaço de pau, e quando fui atacá-lo, ele olhou para mim, e disse algo que não entendi até agora.
- O que ele falou?
- Essa não é ela! E, olhando para mim, com as correntes ele destroçou o corpo dela. Lisa que estava escondida se desesperou e gritou, ele olhou para ela, e novamente as correntes buscaram o corpo dela, daí eu fugi.
Escutando isso, o chefe dá um potente chute no jovem Jovar, que o faz cair do cavalo. Como ele poderia ser tão covarde, se ele tivesse atacado, o monstro poderia ter soltado sua filha, dando tempo para ela fugir.
- Jovar, volte para a aldeia, eu não quero um covarde conosco.
Nisso o rapaz volta correndo para a aldeia, enquanto o destacamento continua em direção a floresta, e passa através dela. Chegando a praia, Leandricus tem uma visão que vai carregar por todo resto de sua vida, sua filha, com as pernas e braços arrancados, está jogada na areia, com os pedaços colocados nos lugares, e seu sangue formando um pentagrama embaixo dela. Ele vê a cabeça do filho do ferreiro, que estava em prantos à procura do corpo, para poder ao menos lhe dar um enterro digno. Mas o corpo de Lisa não estava ali, será que ela poderia estar viva?
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Sul da Aquilônia
- E então meu Rei, qual são suas ordens?
- Eu quero que um destacamento fique por aqui, patrulhando essa fronteira, e descubram o que os zíngaros procuravam em meu reino - Fala Rei Conan - Nós voltaremos para casa.
Nisso, o Rei sente um calafrio lhe percorrer a espinha, Conan não gostava desse calafrio, pois foi o mesmo que sentiu semanas antes de Bêlit morrer, e o tornou a sentir de novos dias antes de sua amada Zenobia também vir a falecer. Será que isso era o prenúncio de mais mortes? Mas quem seria o próximo, se desde a morte de sua rainha, ele não voltou a amar?
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Jovar, chegando à aldeia, descobre que o horror já passou por ali, corpos mutilados, poças de sangue, as moscas já estão voando por ali. Conforme ele vai andando pela aldeia, ele vai vendo pedaços de corpos pelo chão, pendurados em árvores, cabeças jogadas nos cantos, onde as formigas estão brigando com os ratos sobre quem tem o direito de ficar com os restos. Até os cães estão desmembrados, mas somente corpos masculinos estão no local, será que as mulheres conseguiram fugir? Essa vã esperança cai por terra, assim que ele chega à praça principal da aldeia. Uma enorme pilha de corpos estava lá, todas as mulheres da aldeia, decapitadas e desmembradas, no chão, uma enorme poça de sangue, mas não o fedor caraterístico, o que significa que isso aconteceu há poucos minutos. Assustado, Jovar começa a andar para trás, mas tropeça e cai sentado, quando ele olha, grita. Ele tinha acabado de tropeçar na cabeça de sua mãe. Jovar começa a chorar e gritar, e levanta para sair correndo. Assim que ele levanta e vira, ele bate numa parede e cai de costas no chão. Ele limpa os olhos cheios de lagrimas, e olha onde bateu, e seu coração para.
- Onde ela está?
- Por favor- implora Jovar - não me mate.
- Onde ela está?
- Não me mate, eu faço qualquer coisa.
Spawn, com suas correntes ergue o jovem até sua altura, coloca o cara dele a poucos centímetros da sua, e pergunta novamente
- ONDE... ELA... ESTÁÁÁÁ?
- Eu não sei de quem você está falando.
Mas para Spawn isso não importa, ele quer saber onde ela está, se ele não sabe, morre. Spawn, solta o machado de lado, e com sua mão, segura a cabeça de Jovar, e quando ia arrancar, uma lança transpassa seu corpo, e ele solta Jovar, que não perde tempo em sair correndo.
- Monstro, nós achamos Lisa, achou que não desconfiaríamos que você viesse aqui? Agora você irá pagar pelo que fez.
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Alguns momentos antes.
- Chefe, venha aqui.
- Achou Lisa?
- Não, mas tem um carreiro feito aqui.
Leandricus vai olhar o carreiro, e vê uma devastação na floresta em linha reta, o monstro passou derrubando árvores e quebrando arbustos.
- Homens, vamos seguir o caminho que acharemos o monstro.
Então todos, com exceção do ferreiro e mais um homem, que ficaram para enterrar os corpos, saem em busca de vingança. Para Leandricus, nada mais importa, somente a cabeça do monstro na ponta de sua lança. Depois de adentrarem a mata, eles começam a achar sinais de sangue, que vão aumentando na mesma proporção que diminui a esperança de acharem Lisa viva, e quando a acham, é aterrador. Seu corpo foi cortado em varias partes, suas entranhas estavam do lado de fora do corpo, sua cabeça sem vida estava em cima de uma vara plantado no chão, olhando para quem chegasse ao local, e abaixo da cabeça, escrito em sangue a frase:
- Chefe, a pista vai em direção a aldeia.
- Maldito, ele fez isso para nos despistar, ele deve estar atacando na aldeia. Vamos voltar para lá.
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Aldeia, ao entardecer
- Maldito seja, monstro, mas sua carnificina acaba por aqui, agora você vai morrer - Dizendo isso, Leandricus investe contra o Spawn, que retira a lança de seu corpo, e sem sair do lugar, enfia a mesma lança no cavalo de Leandricus, com uma força tão grande, que atinge ainda seu cavaleiro, transpassando os dois.
- Mal...dito... não...vou pod...er vingar min....ha fil....ha!
Essas foram as ultimas palavras do chefe da aldeia, até que Spawn soltou a lança, e ambos, cavalo e cavaleiro tombaram mortos para o lado, com Leandricus esvaindo sangue pela boca e pelo ferimento. Todos os cavaleiros, tomados pelo horror e pela fúria, investem contra Spawn, que faz brotar de suas mãos um grandioso machado vermelho sangue de duas lâminas, e o gira ao redor da cabeça, assustando os aldeões, que descem de seus cavalos, e estudam a melhor maneira de atacar o monstro. Os aldeões cercam o monstro, que continua a girar seu machado sobre sua cabeça, e quando um aldeão parte ao ataque, ele o divide em dois com seu machado, o atingindo na linha da cintura, fazendo sua pernas tomarem no lugar, e seu tórax cair aos seus pés.
- Onde ela está?
Mas os aldeões não escutavam o que Spawn falava, apenas Jovar, assustado, num instante de lucidez, teve uma idéia.
- Monstro, ela não está aqui.
Instantaneamente, Spawn pára de girar o machado, e os aldeões param, devido ao grito de Jovar. Imediatamente Spawn atravessa a distância que o separava de Jovar, e o pegando pelo pescoço, tornou a perguntar:
- Onde ela está?
- Ugh, não.... consigo... respirar.... me solte... que eu digo...
Spawn solta Jovar, que desaba totalmente no chão, arrependido da idéia que teve, mas agora ele não poderia voltar atrás, pois senão a morte seria uma certeza.
- Ela não está aqui, ela está em Zíngara, numa cidade perto do mar, que tem um grande porto.
Spawn dá as costas para Jovar, que corre em direção oposta a ele, mas os aldeões queriam vingança por todas as mortes, e investem novamente contra ele. O que se segue é uma carnificina digna do quarto círculo infernal. Cabeças sendo arrancadas, membros decepados, pessoas sendo espancadas até a morte com partes do próprio corpo. Spawn não usou o machado, somente as mãos para estrangular e matar todos os aldeões, com exceção de Jovar, que corria em direção a floresta, como se o próprio demônio estivesse em seu encalço. Ele correu até não agüentar mais, e sem olhar para trás, pois se ele olhasse, nunca mais conseguiria fechar os olhos, tamanho o horror que ocorreu na vila. E pensou:
- Bem, se ele vai para a Zíngara, eu estou indo para Khitai.
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Aquilônia
Uma grande recepção está sendo preparada na volta do Rei. O salão de festas do Rei está sendo arrumado, com grandes almofadas, a cerveja e o vinho já estão sendo postos a gelar, e diversos javalis e búfalos estão sendo preparados para a festa. Ultimamente, após o falecimento da Rainha Zenobia, somente as festas eram momentos de descontração para o Rei, as festas e as saídas de patrulha e caçadas.
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Zamora, ao sul
Num de seus bares, jovens delinqüentes contam que, quando passaram pela capital de Turam, Aghrapur, ouviram um boato de uma vila que foi devastada numa noite apenas. Ninguém sobreviveu, assim contam os caçadores que passaram pelo local, e ainda dizem, que a cena era tão dantesca, que a quilômetros da vila você não agüentava o cheiro de carne podre que imperava no local. Um ancião que estava no local, se aproximou dos jovens.
- Vocês estão falando de uma vila devastada?
- Sim velho, por que?
- Cheiro de podre, pedaços de corpos por todos os lados, mas as casa intactas?
- Sim velho, está sabendo de alguma coisa?
- Eu estou vindo do norte, e passei por uma vila nas montanhas que corresponde a sua descrição.
- Exatamente, essa vila fica nas montanhas, norte de Turam, na encosta do mar Vilayet, então é verdade o que dizem?
- Não sei - responde o velho - essa vila que eu passei, fica ao norte daqui de Zamora.
Dizendo isso, o velho abaixa a cabeça, os jovens ficam mudos, seria muita coincidência, ou como a maioria dos boatos, aquele também não teria fundamento?
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Agradecimentos especiais.
Osvaldo Magalhães
Cronista Cimério
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