Temporal desapareceu em meio a batalha contra os estranhos zumbis azuis. Seus colegas do Esquadrão M capturam um desses zumbis para interrogá-lo. Enquanto isso, Simon se vê a mercê de um cientista louco disposto a tudo para conseguir o que quer.
Universo Nova Frequência
Anderson “Aracnos” Oliveira
Versão definitiva.
Episódio 8. O rapto do Garoto de ouro - parte 2.
— Eu acho que ele tá morto!
— É claro que ele tá morto, Paulo! É um zumbi!!
— Eu sei, Sandy... não foi isso que eu quis dizer... É que... ele tá desacordado...
— Faça-o acordar, ué! — diz Ângela, ao lado de Sandy e Paulo, com um dos zumbis que lutou contra Temporal deitado em uma mesa dentro da van, enquanto Igor dirige o veículo com Mônica ao seu lado.
— Tá bom... eu vou tentar... — Paulo diz esfregando suas mãos, logo pequenos raios elétricos surgem de seus dedos. Paulo toca o peito do zumbi e solta uma descarga elétrica. Ao receber o choque, o cadáver se contorce, mas não acorda.
— Tenta de novo. — diz Sandy. Sem nada dizer, Paulo solta outra descarga no zumbi, que ainda não acorda. Na terceira tentativa, porém, ele abre os olhos:
— Aaaaaahhhhh!! — grita o zumbi acordando e tentando se levantar, mas logo Sandy o segura pelos braços e faz suas mãos virarem barro, prendendo o zumbi à mesa.
— Depois do sumiço de Temporal, você e o outro zumbi que sobreviveram simplesmente apagaram... — começa a dizer Ângela. — O outro foi logo despedaçado, mas resolvemos poupar você pra fazermos umas perguntinhas.
— Minha missão aqui está cumprida! — diz o zumbi com a voz assustada. — Deixe-me voltar para meu descanso, esta vida-morta é terrível!!
— Deve ser mesmo! — ironiza Paulo.
— Deixaremos você... descansar... com muito prazer sua... coisa estranha... Mas antes diga: onde está Temporal? — diz Ângela.
— Primeiro peço o devido respeito, moça! Não saí do vale dos mortos onde jazia por séculos para ser insultado. “Coisa estranha” não é o termo correto! Sou um necrobiótico, ou seja, uma forma de vida baseada em carne putrefata. E meu nome é Boris... era Boris... quando eu era vivo assim como você.
— Hehehe... que doido! — exclama Mônica se virando no banco do carona e ouvindo a conversa.
— Pensei que zumbis fossem... burros! — diz Paulo.
— Ora, meu jovem... Não se baseie na minha aparência externa... este corpo é apenas um invólucro para uma alma de alguém trazido do além. — responde Boris. — Admito que estou aqui nessa carcaça contra minha vontade, mas aquele que me trouxe de volta ao mundo dos vivos me prometeu que eu voltaria para o descanso eterno após cumprir uma missão. E cumpri, tanto é que, eu e meu colega a qual a moça de cabelos dourados citou, de nome Jarbas (por sinal um grande camarada), tínhamos retornado ao descanso eterno.... até vocês me trazerem de volta!
— Nunca vi um zumbi que falasse tanto! — exclama Sandy. — Tá certo... nunca tinha visto um zumbi antes...
— Diga logo o que queremos saber que deixaremos você voltar para seu descanso, nobre Boris. — diz Ângela educadamente. — Onde está Temporal?
— Diria com prazer, minha cara, todavia não conheço o paradeiro de seu amigo. Será que... esta linda jovem com mãos de barro poderia me soltar? — diz Boris. Sandy olha para Ângela e esta acena com a cabeça. Então Sandy liberta Boris. — Agradeço... está bem melhor assim! — Boris se levanta e se senta sobre a mesa.
— Se não sabe onde ele está... diga... quem te trouxe de volta...? Qual era exatamente sua missão? — continua Ângela.
— Estas sim são perguntas passíveis de resposta. Primeiro: aquele que nos trouxe para essas carcaças se chama Mestre K... apenas isso... Não vi seu rosto. Certo dia acordei em uma sala com uma forte luz ao lado de meus companheiros, todos nós nestes corpos... Através de um vidro surgiu um vulto nas sombras e, por algo estranho chamado auto-falante, ouvimos sua voz e sua proposta. Teríamos que capturar esse tal de Temporal para ele, e só. Aquelas roupas e armas nos entregaram depois... Curiosamente, eu que era um escritor em minha época, soube perfeitamente manejar aquele estranho armamento oriental e sabia lutar como um campeão.
— E sobre aquele vento que vimos? — pergunta Paulo.
— Também não o sei. Mestre K disse para trazermos Temporal para fora e um outro agente a seu serviço assumiria a missão. Só isso tenho a dizer... E... nos desculpem... eu e meus colegas necrobióticos só estávamos cumprindo ordens... não queríamos fazer mal a ninguém. Então... se for possível... eu gostaria de voltar para o além-túmulo, que é meu lugar.
— Bom... está certo... obrigada mesmo assim. — diz Ângela. — Espero que isso não doa... — ela faz surgir de seu antebraço uma lâmina parecida com uma espada.
— Não se preocupe, nessa carne morta, a dor não existe. — diz Boris.
— Então... Adeus e boa viagem! — Ângela o decepa com a lâmina.
— Ah... ele era legal! — diz Mônica, mais uma vez se virando no banco.
— É... até que era... — diz Paulo.
— Ele queria voltar... só fiz sua vontade. — diz Ângela.
— Vamos fazer um minuto de silêncio... — diz Mônica.
— Mas hein?! — exclama Sandy.
— Não temos tempo pra isso... — diz Igor.
— Pô, um cara acabou de perder a cabeça aqui! — diz Paulo. — Ele merece nossa homenagem!
Ângela e Sandy se entreolham, mas ficam quietas. Igor continua com os olhos na estrada, também em silêncio. Paulo fecha os olhos e abaixa a cabeça, assim como Mônica, enquanto o corpo necrobiótico de Boris jaz sobre a mesa e sua cabeça rola no chão da van a cada trepidar do carro.
— Pronto, já tá bom! — diz Mônica quebrando o silêncio.
— Certo... Agora temos que encontrar Simon. — diz Ângela.
— O problema é... Por onde procurar? — diz Sandy.
— Eu acho que sei quem pode nos ajudar. — diz Igor, ao volante. — Só que para isso, temos que voltar para São Paulo.
— E se Simon ainda estiver no Rio? Iremos perder tempo. — diz Sandy preocupada com a situação de Simon.
— Não temos escolha... precisamos de ajuda para encontrá-lo... — diz Ângela enquanto a van segue pela estrada entrando na Via Dutra. — Só espero que não seja tarde demais.
— Pôxa... Ficamos no Rio e nem fomos à praia! — reclama Mônica enquanto a van se perde no horizonte.
Em algum lugar escuro, Simon sonha com tempos felizes. Onde ele vivia na sua terra natal, Nova York, com sua mãe feliz com sua carreira de bailarina e ele, um garoto, rodeado de brinquedos e gibis. É Natal, e a árvore está repleta de presentes. A neve cai lá fora e um coral de crianças felizes canta músicas da época. Mas então Simon percebe... nada disso aconteceu...
— Aahhh! — ele acorda.
— Espero que tenha descansado bem, Professor Smith. — diz uma voz de homem idoso com carregado sotaque alemão.
— Q-quem... quem é você... onde estou?!
— Está em minha casa... é meu hóspede, Prof. Smith. E eu... eu sou alguém que há muito tempo venho esperando o momento do nosso encontro... — Simon vê uma cadeira de rodas motorizada sair das sombras e se aproximar dele. Na cadeira, um homem muito velho, ligado a aparelhos médicos, com a pele coberta por manchas e os olhos profundos. A voz vem dele, mas ele não mexe sua boca ao falar, o que faz Simon lembrar do físico Stephen Hawking, mas em vez da esclerose lateral amiotrófica o que vitima este homem é a idade avançada: — Meu nome é Karolos Kohlër. Mas por minhas patentes acadêmicas me chamam de Mestre... Mestre K. E não se assuste... Falo através de telepatia, pois minha saúde debilitada não mais permite que eu mexa os lábios.
— Mestre K. Sim... O zumbi disse esse nome... Eu vou... — Simon se esforça para se levantar, mas então percebe que está amarrado pelos pulsos e pernas. — Acha que essa cadeira pode me deter?
— Evidentemente não sou estúpido. — diz Mestre K. — Claro que eu sei que poderia sair daqui quando quisesse apenas usando seus poderes... Por isso criei este aparelho que está na sua cabeça. — Simon então percebe que há algo ao redor da sua cabeça, como se fosse uma coroa. É um objeto metálico com vários eletrodos. — Esse é um inibidor de poder. Com ele, você não poderá usar seu fabuloso dom.
— Hmmm... Tá certo... Então... o que quer de mim?
— Prof. Simon Smith... essa é uma longa história... mas claro... o senhor tem muito tempo para ouvi-la... só não sei se eu terei tempo de contá-la.
Nesse momento, uma porta se abre. Por ela uma forte luz revela a entrada de quatro pessoas. Dois homens e duas mulheres que mantêm seus rostos nas sombras. Os homens levantam a cadeira que Temporal está e a carregam pra fora da sala, enquanto as mulheres empurram a cadeira de Mestre K na mesma direção. Por corredores de uma casa antiga, de madeira com tapetes vermelhos, Temporal é levado até um elevador, onde é deixado junto com um dos homens. Antes da porta se fechar Temporal ouve Mestre K dizendo:
— Nos encontraremos em breve, Prof. Smith. — as portas se fecham, o elevador começa a descer. Simon olha para o rapaz que ficou ao seu lado. É um jovem, de aproximadamente dezessete anos, com o cabelo preto empapado em gel, vestido de branco dos pés à cabeça e com óculos escuros:
— Quem são vocês?! O que está havendo aqui?
— Fique quieto. Logo saberá. — responde o rapaz sem olhar para Simon. Após alguns instantes, as portas se abrem e revelam uma sala coberta de vidro e metal, como se fosse um laboratório de alta tecnologia. O segundo rapaz entra no elevador e ajuda o primeiro a tirar a cadeira de Simon.
Este segundo rapaz parece ser mais novo que o primeiro. Se veste com um agasalho azul e parece estar suando muito. Logo que Temporal é posto fora do elevador, ele vê Mestre K junto das duas mulheres, também jovens, com menos de dezoito anos. Uma delas é loira, de cabelos curtos, vestida como uma gótica. A outra é mulata, com um visor cor-de-rosa e uma roupa que lembra um velocista olímpico.
— Prof. Smith. Bem-vindo ao meu local de estudos. — diz Mestre K. — Primeiro permita que eu apresente meus discípulos de forma adequada. Devo muito a esses jovens. A moça de preto que vê se chama Hilda, mas devido aos seus dons paranormais e seu elo místico com o além-túmulo, decidiu se chamar Hellda. Graças a ela e sua magia negra, pude conseguir almas para os necrobióticos que criei em laboratório. Esta outra jovem se chama Teresa, mas escolheu se chamar Thery. Não que o nome esteja ligado a suas habilidades que a tornam uma velocista incrível. Foi ela que o trouxe do cenário da luta contra meus zumbis até aqui.
Simon ouve o relato e começa a juntar os fatos. O vento estranho que viu momentos antes de cair inconsciente foi provocado por Thery. E a outra jovem, Hellda, que de longe lembra uma bruxa, é de fato uma, capaz de trazer almas do além. Mestre K segue suas apresentações:
— Este jovem, de roupa azul, é meu mais novo aprendiz. Seu nome e sua origem ele quer esquecer e hoje é chamado apenas de Ácido (Já adotara o nome Acid Boy, mas percebeu que soava infantil demais). Isso porque pode converter sua pele em ácido altamente corrosivo. É um dom muito comum, segundo meus estudos, que indivíduos “absorvam” propriedades de substâncias diversas. Entre seus amigos, por exemplo, a jovem Sandy Alves faz o mesmo que o jovem Ácido, só que no caso dela é com areia. Mas esse assunto requer mais estudo. E por fim, conheça o primeiro de meus discípulos, ninguém menos que meu neto Gustav Kohlër, chamado apenas como Kohlër, o que me dá grande orgulho. O que o torna diferente dos outros é seu organismo composto por uma liga metálica orgânica, semelhante a da sua amiga Ângela Oliveira. Ainda resta um outro aluno muito problemático que ainda precisa de muitas sessões de disciplina, por isso não está aqui.
— Não vou dizer que é um prazer conhecê-los. — diz Simon.
— De acordo. Mas vamos logo, não tenho mais tempo... ainda. — enquanto Mestre K fala, Temporal é levado até uma cúpula. — Prof. Smith, pode notar que eu não gozo mais de boa saúde devido a minha longa idade. É uma lástima, pois creio que ainda tenho muito a oferecer ao mundo com meus estudos sobre a capacidade humana e outros ramos da ciência. — Kohlër e Ácido tiram Temporal da cadeira e o amarram em uma mesa semelhante à de uma ressonância magnética. — É fato que, além da minha inteligência, desenvolvi alguns dons particulares... Você já deve ter percebido que existem muitas pessoas com poderes no mundo... eu sou uma delas... além dessa telepatia que uso, há outros dons que só uso quando há necessidade.
— E o que quer de mim, afinal?! — pergunta Simon enquanto mais aparelhos são ligados a ele.
— A resposta é simples. Nos últimos anos, com meus dons, senti o despertar de um novo poder no universo. Não sei ao certo, mas creio que houve uma reconfiguração em toda a Criação. Com muito estudo e esforço de meu ser, descobri que a fonte disso tudo era você, um simples rapaz norte-americano. Estudei sua vida desde então... Descobri sua incrível habilidade: Controle do tempo. O dom de alterar o passado, de ver o futuro, de acumular uma gama infinita de conhecimento... tudo na palma da mão!
— Pode crer que não é assim tão simples...
— Ah, Prof. Smith, eu sei. Sei que você é capaz de muito além do que sabe. E enquanto isso investigava, tive uma ideia tão simples e ao mesmo tempo tão fabulosa. Um meio eficaz de deter minha enfermidade e o peso do tempo. Com esse maquinário que projetei, poderei canalizar seus poderes e usá-los ao meu favor.
— Quer roubar meus poderes?!
— Não é bem isso. Só quero um pouco emprestado... usando de modo correto, posso usar sua capacidade para regredir alguns anos no meu organismo e, enfim, rejuvenescer até o auge da minha vida. O que equivale tirar oitenta anos de minhas costas. Não tomarei seus poderes para mim, por mais agradável que essa ideia seja, ainda não sei como fazer isso.
— Então é isso?! Passou pela sua cabeça a ideia de me pedir para ajudá-lo? Talvez não fosse preciso me sequestrar.
— Sinto muito dizer isso, Prof. Smith, mas creio que não me ajudaria voluntariamente... pois após realizar o processo... segundo meus cálculos... sua vida irá se extinguir. Em outras palavras... Você não sobreviverá.
Simon engole seco enquanto se vê incapaz de reagir e pronto a ser usado para os planos de um cientista louco. Atado ao aparelho, que começa a se mover enquanto Mestre K é deitado em outra maca, com a ajuda das garotas, sendo ligado a cabos e pronto para começar a operação. Simon só pensa em como ele pode escapar dessa.
Longe dali, em um local secreto, um grupo de pessoas usando mantos cerimoniais, sob a luz de tochas e velas se reúne no que parece ser uma capela ou uma loja maçônica. Sob um altar, um desses homens portando um livro retira o capuz que cobre seu rosto, revelando ser um senhor de cabelos grisalhos com um tapa-olho no lado direito. Ele então diz:
— Bem-vindos irmãos, a mais uma assembleia da Ordem dos Telepatas. O que for dito dentro dessas paredes, permanece aqui dentro, sob a pena de severa punição aquele que desonrar os preceitos da Ordem que são: nunca revelar o que se passa dentro dos portões do templo; jamais usar seus dons psíquicos para ganho pessoal; sempre respeitar a privacidade das pessoas não favorecidas com esse dom; procurar ajudar aqueles que precisam, sempre que for possível; e, por fim, oferecer apoio irrestrito a um irmão da Ordem sempre que ele precisar. Agora, digam seus nomes para iniciarmos a sessão.
— Christian Lopes. — diz um homem de cabelos castanhos longos, na primeira fileira do templo.
— Frei Heyke. — diz outro, ao lado do primeiro, com longos cabelos brancos. Notório caçador de vampiros.
— Erich Olsen. — se apresenta outro, de cabeça raspada e um olhar frio.
— Raquel de Assis. — ao lado, uma moça de cabelos pretos com uma mexa loira na frente. E assim, por diante, todos se apresentam. E por fim, o que está no altar diz:
— E eu sou seu Mestre Perfeito, Roberto Mendes.
Continua...
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