O final da Batalha contra o Comandante Tayagon é na verdade o início de algo ainda mais perigoso.
Será que o Antares, agora com mais controle sobre seus poderes e um visual que reflete esse amadurecimento, será páreo para a ameaça de...
Hrúcarë?
Herança. Sexta parte. Morte.
Por João Norberto da Silva.
Na órbita do planeta Svitar, uma figura sombria continuava a flutuar calmamente, seu sorriso devasso parecia crescer ainda mais.
“Sim mestre... Finalmente ele parece ter abraçado o poder... Sim... Foi uma evolução... Daqui eu percebo como ele está mais forte... Não... Ainda não é páreo para mim... Muito bem... Esperarei o momento e então o forçarei a ficar ainda mais poderoso... Tudo pela vossa vontade mestre.”
Hrúcarë então começou a concentrar suas energias, se preparando para o que ele teria de fazer em instantes, sua atenção agora totalmente voltada para a batalha, que continuava a se desenrolar no planeta abaixo.
XXX
- Maldito!!! Fica parado!!! - O comandante Tayagon disparava suas rajadas avermelhadas contra o ponto luminoso que se movia rapidamente à sua frente. Um esforço inutil, o que o deixava ainda mais frustrado e irado. - Maldição!!!
Antares continuava a se desviar com facilidade dos ataques do inimigo, maravilhado as mudanças que ocorreram com ele.
“Isso é incrível Vovô! Nunca imaginei nada assim!!”
“Até onde eu sei, para cada usuário do poder, a entrega total ocorre de forma diferente... E leva tempos diferente também... Eu e seu pai demoramos bem mais para chegar nesse nível... E ele manteve a minha armadura...”
“Desculpe vovô... Opa...” Mais uma guinada para desviar de outro ataque, antes de continuar sua conversa mental “Mas aquela armadura tava meio exagerada... Sei lá... Esse meu visual é mais bacana...”
Antares dava mais uma olhada para si mesmo, admirando seu atual uniforme: Uma bela jaqueta, aparentando ser de couro, sobre uma roupa preta, que recobria quase todo seu corpo, deixando apenas a cabeça e seus dedos para fora. As joelheiras e a ponta da bota da armadura de seu avô permaneceram e, por fim, a alguns centímetros de distância, sobre seu peito, no lado do coração, uma estrela estilizada, com uma das pontas esticadas até o outro lado, brilhava, como as que ele trazia sobre as costas de suas mãos.
O momento narcisista passou, quando Antares quase foi atingido por outra rajada, que ele teve de interceptar depois, uma vez que a mesma estava se dirigindo para os rebeldes que assistiam à luta.
“Essa foi por pouco... Tá na hora de tomar a ofensiva.”
Entendendo o silêncio de seu avô como um consentimento, Antares mudou sua direção em pleno voo, indo diretamente para onde seu inimigo estava.
- Segura essa... Monstrengo!!
Sem que Tayagon pudesse sequer pensar numa reação, Antares o atingiu no peito com as duas mãos, causando uma pequena explosão localizada, fazendo com que o monstruoso comandante das forças invasoras fosse jogado para trás, deixando uma trincheira como rastro.
O jovem terráqueo pousou perto de onde seu inimigo havia parado e onde este parecia jazer desacordado. Tamanha era a confiança do Antares, achando que a luta já havia acabado, que ele se aproximou sem cuidado nenhum.
- Te peguei idiota! - Num movimento inesperado e rápido demais para alguém de seu tamanho, o Comandante Tayagon agarrou seu oponente, mantendo-o a poucos centímetros de seu próprio rosto, e atingindo-o com as gotas de saliva que o monstruoso ser soltava enquanto falava. - Agora essa luta acaba!!
Começou com uma esfera de energia avermelhada que cresceu rapidamente, englobando totalmente os adversários, explodindo em seguida, deixando todos os expectadores com a respiração em suspense, esperando baixar a fumaça e nuvem de poeira resultantes.
Poucos instantes se passaram, mas quando o ar começou a ficar limpo todos se surpreenderam com o que viram.
Os dois combatentes estavam de pé, encarando um ao outro, era como se a explosão nem tivesse acontecido, a única indicação visível era o cansaço evidente, no modo como ambos tentavam retomar o fôlego.
Mais surpreendente ainda era o fato de que os dois sorriam.
- Arf... Confesso... Que me surpreendeu... Garoto...
- Eu... Ufa... Também me surpreendi... Não imaginei que isso ia ser tão divertido... Monstrengo...
- Há! Você é tão bom lutando que vou relevar esse comentário... Bem... Antes de lutarmos me sinto obrigado a lhe estender um convite...
- Espero sinceramente que não seja algo sentimental...
- Entre para nosso exército... Você alcançaria rapidamente o posto de comandante... Poderíamos tomar a liderança de Lady Quarin e sermos os senhores não apenas desse mundo, mas de todo o universo!!
O discurso do comandante Tayagon foi ouvido por todos os expectadores e a líder das forças invasoras ficou com a feição crispada de ódio, murmurando apenas para si um “maldito monstro”, se lembrando do júbilo de seus cientistas, quando anunciaram o sucesso na criação de seu guerreiro supremo.
[i]- Eis Tayagon, milady... O resultado de anos de trabalho árduo, combinando com sucesso o DNA das diversas criaturas Svitarianas...
- Em que ele difere das monstruosidades que vocês criaram anteriormente? Aqueles que dão tanto trabalho para nossos homens? Que nem dormir são capazes...
- Eu... - Todos se voltaram para a enorme criatura de pele acinzentada, que continuou a falar. - Não sou monstro... Sou... Tayagon...
O primeiro dos experimentos que parecia ter inteligência. Aquilo parecia, para Lady Quaryn, um presságio, de uma vitória mais fácil naquele e nos demais planetas. Para tanto um treinamento extenso e duro foi aplicado à criatura, que subia rapidamente de posto dentro do exército invasor, algo sem precedentes até então.
Sob o comando de Tayagon, cidade após cidade era tomada, em ações que levavam a metade do tempo, se comparadas a incursões anteriores, aumentando não só o poder dos invasores, mas também daquele que se tornava uma lenda entre eles.
Durante aquela batalha contra o terráqueo, no entanto, a verdade era revelada.
A inteligencia, em uma criatura como o Comandante Tayagon era perigosa demais.
“Assim que derrotar o estranho...” Os pensamentos de Lady Quarin voltavam ao presente, se inflamando de ódio e desprezo pela aparente traição “Você será o próximo... Monstro”.
- E então? - No campo de batalha, após um instante de silêncio vindo de seu oponente, Tayagon cobrou uma resposta. - O que me diz?
- Hã? - Apesar de não ter desviado o olhar, Antares parecia despertar, movendo o pescoço e estalando o mesmo, numa postura de desdém. - Jura que essa oferta era séria? Qual é... Até parece que eu ia aceitar...
- Então... Vai morrer!!!
- Pode vir!!!
E assim os dois voltaram para a batalha.
XXX
- Últimas notícias do caso do castelo destruído do deputado que...
*Clic*
- A popularidade do presidente americano Barack Obama, subiu mais de setenta por cento após fotos em que ele aparece cumprimentando o super herói Potentman...
*Clic*
- Relatos de outros seres que apresentam capacidades além da humana ao redor do globo...
*Clic*
Luiza não tinha o menor ânimo para ver televisão, a preocupação com o filho ainda martelava em sua cabeça, então ficava zapeando pelos canais, sem se deter em nenhum, acabando por se sobressaltar quando ouviu a porta de entrada do apartamento sendo aberta.
- Quem é?
Sem resposta nenhuma, Rodrigo, pai de seu filho e atual hóspede de Luiza, entrava caminhando devagar na sala, abraçando sua barriga, no rosto era clara a dor que ele sentia.
- Rodrigo?! O que aconteceu? E como você saiu daqui se eu nem ouvi a porta?
- E-eu... - Agora ele curvava o corpo, quase vomitando o que não tinha no estômago. - Arrgghh...
- Meu Deus! Você está machucado? O que aconteceu afinal?
Mas Rodrigo não pôde responder, uma vez que ele acabou desmaiando e caindo de cara no chão.
Apressadamente Luiza saiu do torpor em que se encontrava, pediu ajuda do porteiro do prédio e em poucos minutos se dirigia ao hospital mais próximo. No banco de trás Rodrigo ia ainda sem sentidos.
Ela nem percebeu o caminhão que, lentamente, começou a seguir seu carro.
XXX
Na galáxia mais próxima do ponto focal onde ocorreu o big bang, flutua um planeta que, visto de longe, brilha como se fosse todo feito de metal, o que se revela como verdadeiro para quem se aproxima mais.
Metalaryon, como foi batizado, é a base central de uma das forças protetoras dessa realidade, os Centuriões.
A lenda acerca desse planeta conta que, logo após a criação do universo, uma fagulha de vida celestial ficou flutuando até que um estranho metal, aparentemente vindo de um universo anterior ou mesmo paralelo, o encobriu, crescendo e se desenvolvendo como se fosse um dos centenas de milhares de novos planetas que surgiram na nova realidade.
Após séculos de evolução, uma criatura primitiva pareceu brotar do solo metálico, sendo seguida por muitas outras, todas apresentando mesmo aspecto do planeta, se espalhando e reproduzindo rapidamente.
Uma forma de vida, no entanto, apresentava aspectos diferentes das demais.
Tendo um corpo de formato humanoide, com uma cabeça, dois braços e duas pernas ligados a um tronco, esse primeiro ser apresentou a diferença principal que iria diferenciá-lo dos demais e lhe daria o domínio de Metalaryon.
Inteligência.
Esse primeiro ser chamou a si mesmo simplesmente de Alpha-Non e até hoje ele é o líder máximo da comunidade dos Centuriões.
- Emergência no planeta Svitar. Emergência do Planeta Svitar.
A voz monótona do alarme continuou soando, até que uma forma de vida entrou na ala de criação da base central dos Centuriões e tocando levemente em um painel fez a voz cessar.
- Me mostre... - Alpha-Non sentia na carapaça metalizada o peso dos séculos, enquanto diante dele telas holográficas surgiam, mostrando Svitar, focalizando especialmente o espaço ao redor do planeta. - Finalmente... Computador... Relatório.
- Indivíduo identificado como sendo Hrúcarë. Responsável pela destruição de centenas de planetas, bem como de vários Centuriões que haviam sido enviados para detê-lo. Suspeito de ser um agente daquele que procura a destruição dessa realidade.
- Quanto tempo Svitar tem?
- Pouco menos de um ciclon.
O velho Alpha-Non cofiou o queixo em busca de escolher a melhor opção à sua frente e logo que abriu os olhos, sua voz ressoou vigorosa:
- Será uma missão de vingança então! - Enquanto ele bradava, uma sala à sua frente começava a crepitar de energia primordial. - Não podendo salvar Svitar, que ele e sua população sejam vingados por um novo Centurião!
Pouco a pouco, a energia da sala começou a se condensar e do próprio chão brotou tentáculos de metal que começaram a se fundir ao redor da energia, formando um ser com dimensões humanas, que mais parecia um manequim de metal.
Foram surgindo dois círculos em sua cabeça e quando estes brilharam, a criatura realizou um movimento vagaroso de cabeça, na direção do local onde seu criador estava.
- Sua missão é encontrar e destruir Hrúcarë... - Alpha-Non estendeu uma de suas mãos na direção do recém-criado e um fio de energia ligou um de seus dedos à fronte dele.
- Missão programada. Eu ouço e obedeço.
- Se erga aos céus... Centurião Tyssuir-Zaak!!
Em resposta ao comando, toda uma armadura feita de energia azulada se formou ao redor do Centurião, com duas enormes asas surgindo às suas costas e se abrindo totalmente. Assim que uma passagem surgiu no topo da ala de criação, ele alçou voo, deixando para trás um velho extremamente preocupado.
- Boa sorte... Meu filho...
XXX
De volta ao planeta Svitar, A batalha entre Antares e o comandante Tayagon, continuava, de forma cada vez mais brutal.
O monstro disparava suas rajadas de forma indiscriminada, forçando muitas vezes seu jovem oponente a proteger não apenas os rebeldes, mas os demais invasores também.
- Melhora a pontaria monstrengo!!
- Pare de ficar voando como um Scraw desajeitado e venha me enfrentar como um guerreiro de verdade!!
- Tudo bem! – Antares então reuniu considerável energia ao redor de suas mãos, descendo dos céus novamente em velocidade máxima. – Lá vou eu!!!
Antes que seu adversário o atingisse, o comandante Tayagon girou o corpo de modo a escapar do ataque, atingindo Antares nas costas e fazendo com que este caísse com força no chão, abrindo uma pequena cratera.
- E agora? O que me diz? Acabaram as piadas?
Ao perceber o silêncio de seu oponente caído, Tayagon não teve dúvidas e começou a atacar de forma ainda mais selvagem, alternando golpes físicos com disparos de energia, acabando por levantar nova nuvem de poeira.
De repente um estranho vento pareceu dispersar a sujeira do ar, revelando um aparentemente cansado Comandante Tayagon, que exibia na face, um sorriso vencedor.
- Acabou!!! O grande rebelde morreu!!!
O som da comemoração dos invasores reverberou por todo o campo de batalha, chegando até os desanimados rebeldes, onde muitos acabavam por se abraçar, como fizeram duas irmãs que viam a chance do fim da tirania de Lady Quarin ser levada pelo vento.
- Sabe... – Uma voz surgiu pelos comunicadores, fazendo com que Thar-Tae fosse a primeira a erguer os olhos da direção do campo de batalha. – Você não devia ficar contando vantagem antes do tempo...
Antares descia dos céus lentamente, os braços cruzados diante do peito eram um misto de falsa arrogância e tentativa de disfarçar os ferimentos recebidos no último ataque do oponente.
Os dois então ficaram parados alguns instantes, ambos se recuperando, deixando bem claro os sinais do esforço exigido pelo combate, por um tempo apenas o som dos ventos era ouvido, até que Antares ajeitou o corpo e, exibindo um grande sorriso, voltou a falar:
- Isso foi sensacional! – A empolgação na voz do jovem era surpreendente até para seu avô, que permanecia em silêncio, deixando o neto ter seu momento. – Eu estava tão preocupado, mas agora, tendo aceitado esses poderes... Putz! É uma liberdade incrível! Dá até prá perdoar meu pai por nunca ter tentado me conhecer nesses anos todos...
- Agora vai ficar apenas falando... Garoto?
- Tá, tá, tá... Me empolguei... Mal aí... Mas vem cá... Que tal terminarmos logo essa luta? Um último golpe... Quem cair perde, quem permanecer de pé ganha... Que tal?
- Hahahahahahahahaha!!! Gosto do seu jeito garoto! Pois bem... Concordo!
Sem mais nenhuma palavra os dois começaram se concentrar, fazendo o ar ao redor deles crepitar com a energia que ia sendo acumulada. Todos os que observavam a luta sabiam que o final estava próximo.
Bem acima deles, na órbita do planeta, Hrúcarë parecia despertar de um transe e moveu sua enorme boca numa frase muda, devido ao vácuo espacial, mas que encontrou eco no planeta logo abaixo.
- Agora! – Disse Antares, se lançando ao ataque com seu punho direito brilhando com uma energia dourada.
- Agora! – Tayagon fez o mesmo, mas com sua característica energia rubra.
Um segundo antes dos ataques colidirem Antares teve sua atenção atraída para um bólido negro, que vinha descendo dos céus como se fosse um míssil, voando na direção deles.
- Tayagon!!! – Mas o aviso chegara tarde, pois o comandante das forças invasoras era atingido em cheio por Hrúcarë, que pousara sobre ele, simplesmente esmagando-o, fazendo com que pedaços de Tayagon voassem a metros de distancia, cobrindo Antares que, sem poder parar seu avanço, golpeou o recém-chegado com todo o poder que havia acumulado. – Mas que mer...
O vilão deu seu melhor sorriso demente, como se a força do golpe que o atingira não fosse nada e, erguendo o punho numa velocidade tão absurda, que surpreendeu totalmente o jovem, esmurrou Antares no queixo, fazendo com que este atingisse a base de um morro próximo, sendo quase soterrado.
Antares se ergueu com dificuldades e levou a mão ao queixo, percebendo que o mesmo estava quebrado e pendendo numa posição estranha. Ele percebeu também que sangue escorria por todo o seu corpo, vindo de vários ferimentos.
“Ele fez tudo isso só com um golpe?”
“É ele!”
“Ele... Quem, vovô?”
- Svitar! – Como se em resposta à pergunta do jovem, a voz do vilão ecoou vigorosa por todos os canais de comunicação do planeta. – Sua morte chegou!!! Eu sou... Hrúcarë!!
Essa foi a última frase que Antares ouviu antes de perder de vez a consciência.
XXX
- Antares? Pode me ouvir?
Jonathan foi despertando lentamente, achando mais uma vez que estava despertando de um pesadelo ou um sonho por demais louco, mas quando abriu seus olhos e a face conhecida da jovem Thar-Tae surgiu, ele teve a certeza de que tudo era real e as lembranças da luta contra o comandante Tayagon voltaram.
- E-eu... Meu Deus... – Ele tentou levantar, se surpreendendo com o fato de poder falar, ao se lembrar do queixo quebrado. – O... O que está acontecendo? Eu... Arrrggh...
- Não se levante ainda... – Era Thar-Tae quem estava ao seu lado, a garota pousava sua mão no peito nu dele, o que parecia dar muito prazer a ela, mas o incomodava um pouco. - Seus ferimentos internos estão sendo reparados nesse momento... Mas vai demorar um pouquinho...
- Quanto tempo eu fiquei apagado?
- Dois dias inteiros... Nossos aparelhos médicos e até alguns curandeiros estão empenhados em sua recuperação desde que conseguimos te tirar do campo de batalha... Mas você não pode se mexer e... Espera!
Apenas alguns minutos depois, Antares entrava cambaleando na sala de guerra dos rebeldes, onde encontrou o pai de Thar discutindo alternativas de evacuação do planeta com sua filha mais velha.
- O que está acontecendo afinal? – “ Vai devagar Jon... A situação não é das melhores...” “Por isso mesmo eu gostaria de ter umas respostas vovô. Agora”. – Não posso me dar o luxo de dormir mais se tem uma nova ameaça lá fora...
- Pois bem... - Anner-Roll parecia ter envelhecido ainda mais desde as poucas horas em que o jovem terráqueo o havia visto da última vez. - Venha cá guerreiro... Olhe o fim de um planeta.
Uma enorme tela holográfica surgiu do tampo da mesa arredondada, localizada no centro da sala, mostrando o que acontecia naquele exato momento no local onde Antares havia sido derrubado.
Os olhos do rapaz ficaram arregalados e ele só pôde proferir uma sentença, perfeita para aquela ocasião.
- Estamos fod...
Continua
Por João Norberto da Silva.
Na órbita do planeta Svitar, uma figura sombria continuava a flutuar calmamente, seu sorriso devasso parecia crescer ainda mais.
“Sim mestre... Finalmente ele parece ter abraçado o poder... Sim... Foi uma evolução... Daqui eu percebo como ele está mais forte... Não... Ainda não é páreo para mim... Muito bem... Esperarei o momento e então o forçarei a ficar ainda mais poderoso... Tudo pela vossa vontade mestre.”
Hrúcarë então começou a concentrar suas energias, se preparando para o que ele teria de fazer em instantes, sua atenção agora totalmente voltada para a batalha, que continuava a se desenrolar no planeta abaixo.
XXX
- Maldito!!! Fica parado!!! - O comandante Tayagon disparava suas rajadas avermelhadas contra o ponto luminoso que se movia rapidamente à sua frente. Um esforço inutil, o que o deixava ainda mais frustrado e irado. - Maldição!!!
Antares continuava a se desviar com facilidade dos ataques do inimigo, maravilhado as mudanças que ocorreram com ele.
“Isso é incrível Vovô! Nunca imaginei nada assim!!”
“Até onde eu sei, para cada usuário do poder, a entrega total ocorre de forma diferente... E leva tempos diferente também... Eu e seu pai demoramos bem mais para chegar nesse nível... E ele manteve a minha armadura...”
“Desculpe vovô... Opa...” Mais uma guinada para desviar de outro ataque, antes de continuar sua conversa mental “Mas aquela armadura tava meio exagerada... Sei lá... Esse meu visual é mais bacana...”
Antares dava mais uma olhada para si mesmo, admirando seu atual uniforme: Uma bela jaqueta, aparentando ser de couro, sobre uma roupa preta, que recobria quase todo seu corpo, deixando apenas a cabeça e seus dedos para fora. As joelheiras e a ponta da bota da armadura de seu avô permaneceram e, por fim, a alguns centímetros de distância, sobre seu peito, no lado do coração, uma estrela estilizada, com uma das pontas esticadas até o outro lado, brilhava, como as que ele trazia sobre as costas de suas mãos.
O momento narcisista passou, quando Antares quase foi atingido por outra rajada, que ele teve de interceptar depois, uma vez que a mesma estava se dirigindo para os rebeldes que assistiam à luta.
“Essa foi por pouco... Tá na hora de tomar a ofensiva.”
Entendendo o silêncio de seu avô como um consentimento, Antares mudou sua direção em pleno voo, indo diretamente para onde seu inimigo estava.
- Segura essa... Monstrengo!!
Sem que Tayagon pudesse sequer pensar numa reação, Antares o atingiu no peito com as duas mãos, causando uma pequena explosão localizada, fazendo com que o monstruoso comandante das forças invasoras fosse jogado para trás, deixando uma trincheira como rastro.
O jovem terráqueo pousou perto de onde seu inimigo havia parado e onde este parecia jazer desacordado. Tamanha era a confiança do Antares, achando que a luta já havia acabado, que ele se aproximou sem cuidado nenhum.
- Te peguei idiota! - Num movimento inesperado e rápido demais para alguém de seu tamanho, o Comandante Tayagon agarrou seu oponente, mantendo-o a poucos centímetros de seu próprio rosto, e atingindo-o com as gotas de saliva que o monstruoso ser soltava enquanto falava. - Agora essa luta acaba!!
Começou com uma esfera de energia avermelhada que cresceu rapidamente, englobando totalmente os adversários, explodindo em seguida, deixando todos os expectadores com a respiração em suspense, esperando baixar a fumaça e nuvem de poeira resultantes.
Poucos instantes se passaram, mas quando o ar começou a ficar limpo todos se surpreenderam com o que viram.
Os dois combatentes estavam de pé, encarando um ao outro, era como se a explosão nem tivesse acontecido, a única indicação visível era o cansaço evidente, no modo como ambos tentavam retomar o fôlego.
Mais surpreendente ainda era o fato de que os dois sorriam.
- Arf... Confesso... Que me surpreendeu... Garoto...
- Eu... Ufa... Também me surpreendi... Não imaginei que isso ia ser tão divertido... Monstrengo...
- Há! Você é tão bom lutando que vou relevar esse comentário... Bem... Antes de lutarmos me sinto obrigado a lhe estender um convite...
- Espero sinceramente que não seja algo sentimental...
- Entre para nosso exército... Você alcançaria rapidamente o posto de comandante... Poderíamos tomar a liderança de Lady Quarin e sermos os senhores não apenas desse mundo, mas de todo o universo!!
O discurso do comandante Tayagon foi ouvido por todos os expectadores e a líder das forças invasoras ficou com a feição crispada de ódio, murmurando apenas para si um “maldito monstro”, se lembrando do júbilo de seus cientistas, quando anunciaram o sucesso na criação de seu guerreiro supremo.
[i]- Eis Tayagon, milady... O resultado de anos de trabalho árduo, combinando com sucesso o DNA das diversas criaturas Svitarianas...
- Em que ele difere das monstruosidades que vocês criaram anteriormente? Aqueles que dão tanto trabalho para nossos homens? Que nem dormir são capazes...
- Eu... - Todos se voltaram para a enorme criatura de pele acinzentada, que continuou a falar. - Não sou monstro... Sou... Tayagon...
O primeiro dos experimentos que parecia ter inteligência. Aquilo parecia, para Lady Quaryn, um presságio, de uma vitória mais fácil naquele e nos demais planetas. Para tanto um treinamento extenso e duro foi aplicado à criatura, que subia rapidamente de posto dentro do exército invasor, algo sem precedentes até então.
Sob o comando de Tayagon, cidade após cidade era tomada, em ações que levavam a metade do tempo, se comparadas a incursões anteriores, aumentando não só o poder dos invasores, mas também daquele que se tornava uma lenda entre eles.
Durante aquela batalha contra o terráqueo, no entanto, a verdade era revelada.
A inteligencia, em uma criatura como o Comandante Tayagon era perigosa demais.
“Assim que derrotar o estranho...” Os pensamentos de Lady Quarin voltavam ao presente, se inflamando de ódio e desprezo pela aparente traição “Você será o próximo... Monstro”.
- E então? - No campo de batalha, após um instante de silêncio vindo de seu oponente, Tayagon cobrou uma resposta. - O que me diz?
- Hã? - Apesar de não ter desviado o olhar, Antares parecia despertar, movendo o pescoço e estalando o mesmo, numa postura de desdém. - Jura que essa oferta era séria? Qual é... Até parece que eu ia aceitar...
- Então... Vai morrer!!!
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E assim os dois voltaram para a batalha.
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Luiza não tinha o menor ânimo para ver televisão, a preocupação com o filho ainda martelava em sua cabeça, então ficava zapeando pelos canais, sem se deter em nenhum, acabando por se sobressaltar quando ouviu a porta de entrada do apartamento sendo aberta.
- Quem é?
Sem resposta nenhuma, Rodrigo, pai de seu filho e atual hóspede de Luiza, entrava caminhando devagar na sala, abraçando sua barriga, no rosto era clara a dor que ele sentia.
- Rodrigo?! O que aconteceu? E como você saiu daqui se eu nem ouvi a porta?
- E-eu... - Agora ele curvava o corpo, quase vomitando o que não tinha no estômago. - Arrgghh...
- Meu Deus! Você está machucado? O que aconteceu afinal?
Mas Rodrigo não pôde responder, uma vez que ele acabou desmaiando e caindo de cara no chão.
Apressadamente Luiza saiu do torpor em que se encontrava, pediu ajuda do porteiro do prédio e em poucos minutos se dirigia ao hospital mais próximo. No banco de trás Rodrigo ia ainda sem sentidos.
Ela nem percebeu o caminhão que, lentamente, começou a seguir seu carro.
XXX
Na galáxia mais próxima do ponto focal onde ocorreu o big bang, flutua um planeta que, visto de longe, brilha como se fosse todo feito de metal, o que se revela como verdadeiro para quem se aproxima mais.
Metalaryon, como foi batizado, é a base central de uma das forças protetoras dessa realidade, os Centuriões.
A lenda acerca desse planeta conta que, logo após a criação do universo, uma fagulha de vida celestial ficou flutuando até que um estranho metal, aparentemente vindo de um universo anterior ou mesmo paralelo, o encobriu, crescendo e se desenvolvendo como se fosse um dos centenas de milhares de novos planetas que surgiram na nova realidade.
Após séculos de evolução, uma criatura primitiva pareceu brotar do solo metálico, sendo seguida por muitas outras, todas apresentando mesmo aspecto do planeta, se espalhando e reproduzindo rapidamente.
Uma forma de vida, no entanto, apresentava aspectos diferentes das demais.
Tendo um corpo de formato humanoide, com uma cabeça, dois braços e duas pernas ligados a um tronco, esse primeiro ser apresentou a diferença principal que iria diferenciá-lo dos demais e lhe daria o domínio de Metalaryon.
Inteligência.
Esse primeiro ser chamou a si mesmo simplesmente de Alpha-Non e até hoje ele é o líder máximo da comunidade dos Centuriões.
- Emergência no planeta Svitar. Emergência do Planeta Svitar.
A voz monótona do alarme continuou soando, até que uma forma de vida entrou na ala de criação da base central dos Centuriões e tocando levemente em um painel fez a voz cessar.
- Me mostre... - Alpha-Non sentia na carapaça metalizada o peso dos séculos, enquanto diante dele telas holográficas surgiam, mostrando Svitar, focalizando especialmente o espaço ao redor do planeta. - Finalmente... Computador... Relatório.
- Indivíduo identificado como sendo Hrúcarë. Responsável pela destruição de centenas de planetas, bem como de vários Centuriões que haviam sido enviados para detê-lo. Suspeito de ser um agente daquele que procura a destruição dessa realidade.
- Quanto tempo Svitar tem?
- Pouco menos de um ciclon.
O velho Alpha-Non cofiou o queixo em busca de escolher a melhor opção à sua frente e logo que abriu os olhos, sua voz ressoou vigorosa:
- Será uma missão de vingança então! - Enquanto ele bradava, uma sala à sua frente começava a crepitar de energia primordial. - Não podendo salvar Svitar, que ele e sua população sejam vingados por um novo Centurião!
Pouco a pouco, a energia da sala começou a se condensar e do próprio chão brotou tentáculos de metal que começaram a se fundir ao redor da energia, formando um ser com dimensões humanas, que mais parecia um manequim de metal.
Foram surgindo dois círculos em sua cabeça e quando estes brilharam, a criatura realizou um movimento vagaroso de cabeça, na direção do local onde seu criador estava.
- Sua missão é encontrar e destruir Hrúcarë... - Alpha-Non estendeu uma de suas mãos na direção do recém-criado e um fio de energia ligou um de seus dedos à fronte dele.
- Missão programada. Eu ouço e obedeço.
- Se erga aos céus... Centurião Tyssuir-Zaak!!
Em resposta ao comando, toda uma armadura feita de energia azulada se formou ao redor do Centurião, com duas enormes asas surgindo às suas costas e se abrindo totalmente. Assim que uma passagem surgiu no topo da ala de criação, ele alçou voo, deixando para trás um velho extremamente preocupado.
- Boa sorte... Meu filho...
XXX
De volta ao planeta Svitar, A batalha entre Antares e o comandante Tayagon, continuava, de forma cada vez mais brutal.
O monstro disparava suas rajadas de forma indiscriminada, forçando muitas vezes seu jovem oponente a proteger não apenas os rebeldes, mas os demais invasores também.
- Melhora a pontaria monstrengo!!
- Pare de ficar voando como um Scraw desajeitado e venha me enfrentar como um guerreiro de verdade!!
- Tudo bem! – Antares então reuniu considerável energia ao redor de suas mãos, descendo dos céus novamente em velocidade máxima. – Lá vou eu!!!
Antes que seu adversário o atingisse, o comandante Tayagon girou o corpo de modo a escapar do ataque, atingindo Antares nas costas e fazendo com que este caísse com força no chão, abrindo uma pequena cratera.
- E agora? O que me diz? Acabaram as piadas?
Ao perceber o silêncio de seu oponente caído, Tayagon não teve dúvidas e começou a atacar de forma ainda mais selvagem, alternando golpes físicos com disparos de energia, acabando por levantar nova nuvem de poeira.
De repente um estranho vento pareceu dispersar a sujeira do ar, revelando um aparentemente cansado Comandante Tayagon, que exibia na face, um sorriso vencedor.
- Acabou!!! O grande rebelde morreu!!!
O som da comemoração dos invasores reverberou por todo o campo de batalha, chegando até os desanimados rebeldes, onde muitos acabavam por se abraçar, como fizeram duas irmãs que viam a chance do fim da tirania de Lady Quarin ser levada pelo vento.
- Sabe... – Uma voz surgiu pelos comunicadores, fazendo com que Thar-Tae fosse a primeira a erguer os olhos da direção do campo de batalha. – Você não devia ficar contando vantagem antes do tempo...
Antares descia dos céus lentamente, os braços cruzados diante do peito eram um misto de falsa arrogância e tentativa de disfarçar os ferimentos recebidos no último ataque do oponente.
Os dois então ficaram parados alguns instantes, ambos se recuperando, deixando bem claro os sinais do esforço exigido pelo combate, por um tempo apenas o som dos ventos era ouvido, até que Antares ajeitou o corpo e, exibindo um grande sorriso, voltou a falar:
- Isso foi sensacional! – A empolgação na voz do jovem era surpreendente até para seu avô, que permanecia em silêncio, deixando o neto ter seu momento. – Eu estava tão preocupado, mas agora, tendo aceitado esses poderes... Putz! É uma liberdade incrível! Dá até prá perdoar meu pai por nunca ter tentado me conhecer nesses anos todos...
- Agora vai ficar apenas falando... Garoto?
- Tá, tá, tá... Me empolguei... Mal aí... Mas vem cá... Que tal terminarmos logo essa luta? Um último golpe... Quem cair perde, quem permanecer de pé ganha... Que tal?
- Hahahahahahahahaha!!! Gosto do seu jeito garoto! Pois bem... Concordo!
Sem mais nenhuma palavra os dois começaram se concentrar, fazendo o ar ao redor deles crepitar com a energia que ia sendo acumulada. Todos os que observavam a luta sabiam que o final estava próximo.
Bem acima deles, na órbita do planeta, Hrúcarë parecia despertar de um transe e moveu sua enorme boca numa frase muda, devido ao vácuo espacial, mas que encontrou eco no planeta logo abaixo.
- Agora! – Disse Antares, se lançando ao ataque com seu punho direito brilhando com uma energia dourada.
- Agora! – Tayagon fez o mesmo, mas com sua característica energia rubra.
Um segundo antes dos ataques colidirem Antares teve sua atenção atraída para um bólido negro, que vinha descendo dos céus como se fosse um míssil, voando na direção deles.
- Tayagon!!! – Mas o aviso chegara tarde, pois o comandante das forças invasoras era atingido em cheio por Hrúcarë, que pousara sobre ele, simplesmente esmagando-o, fazendo com que pedaços de Tayagon voassem a metros de distancia, cobrindo Antares que, sem poder parar seu avanço, golpeou o recém-chegado com todo o poder que havia acumulado. – Mas que mer...
O vilão deu seu melhor sorriso demente, como se a força do golpe que o atingira não fosse nada e, erguendo o punho numa velocidade tão absurda, que surpreendeu totalmente o jovem, esmurrou Antares no queixo, fazendo com que este atingisse a base de um morro próximo, sendo quase soterrado.
Antares se ergueu com dificuldades e levou a mão ao queixo, percebendo que o mesmo estava quebrado e pendendo numa posição estranha. Ele percebeu também que sangue escorria por todo o seu corpo, vindo de vários ferimentos.
“Ele fez tudo isso só com um golpe?”
“É ele!”
“Ele... Quem, vovô?”
- Svitar! – Como se em resposta à pergunta do jovem, a voz do vilão ecoou vigorosa por todos os canais de comunicação do planeta. – Sua morte chegou!!! Eu sou... Hrúcarë!!
Essa foi a última frase que Antares ouviu antes de perder de vez a consciência.
XXX
- Antares? Pode me ouvir?
Jonathan foi despertando lentamente, achando mais uma vez que estava despertando de um pesadelo ou um sonho por demais louco, mas quando abriu seus olhos e a face conhecida da jovem Thar-Tae surgiu, ele teve a certeza de que tudo era real e as lembranças da luta contra o comandante Tayagon voltaram.
- E-eu... Meu Deus... – Ele tentou levantar, se surpreendendo com o fato de poder falar, ao se lembrar do queixo quebrado. – O... O que está acontecendo? Eu... Arrrggh...
- Não se levante ainda... – Era Thar-Tae quem estava ao seu lado, a garota pousava sua mão no peito nu dele, o que parecia dar muito prazer a ela, mas o incomodava um pouco. - Seus ferimentos internos estão sendo reparados nesse momento... Mas vai demorar um pouquinho...
- Quanto tempo eu fiquei apagado?
- Dois dias inteiros... Nossos aparelhos médicos e até alguns curandeiros estão empenhados em sua recuperação desde que conseguimos te tirar do campo de batalha... Mas você não pode se mexer e... Espera!
Apenas alguns minutos depois, Antares entrava cambaleando na sala de guerra dos rebeldes, onde encontrou o pai de Thar discutindo alternativas de evacuação do planeta com sua filha mais velha.
- O que está acontecendo afinal? – “ Vai devagar Jon... A situação não é das melhores...” “Por isso mesmo eu gostaria de ter umas respostas vovô. Agora”. – Não posso me dar o luxo de dormir mais se tem uma nova ameaça lá fora...
- Pois bem... - Anner-Roll parecia ter envelhecido ainda mais desde as poucas horas em que o jovem terráqueo o havia visto da última vez. - Venha cá guerreiro... Olhe o fim de um planeta.
Uma enorme tela holográfica surgiu do tampo da mesa arredondada, localizada no centro da sala, mostrando o que acontecia naquele exato momento no local onde Antares havia sido derrubado.
Os olhos do rapaz ficaram arregalados e ele só pôde proferir uma sentença, perfeita para aquela ocasião.
- Estamos fod...
Continua
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