Jonathan conta para seus parentes sobre a terrível batalha em Svitar e sobre um desafio que foi forçado a aceitar e do qual pode não sair vivo. Seu oponente? O terrível Comandante Tayagon.
Herança. Quarta parte. Responsabilidade.
Por João Norberto da Silva.
- Vocês não imaginam como foi... Eu... E-eu...
- Não segura filho... Pode chorar...
Essa era realmente a vontade de Jonathan, enquanto conversava com seus familiares através da armadura e do comunicador que seu avô criara, mas ele decidiu ser forte e continuou seu relato.
- Assim que eu decidi voar até a direção que Gar-Lan havia me indicado, confiando no vovô para me guiar, percebi que esse mundo não é tão diferente do nosso... Apenas as cores eram mais... Vivas... A grama era muito mais verde, até o céu parecia incrivelmente mais azul... Não me perguntem como, mas a situação era tão estranha que tá mais fácil aceitar coisas como voar...
“Mas a beleza acabou quando eu vi ao longe uma coluna de fumaça, que o vovô indicou como sendo o local que o Gar-Lan havia dito...
Assim que desviei de um morro... O que eu vi... Esperem um minuto... Por favor...
Aaahh... Bem... Estou bem mamãe... Pode acreditar... O pior já passou...
Então... Como eu estava dizendo... Assim que cheguei na tal cidadela, o que eu vi foi ainda pior do que aparece naqueles filmes de guerra... Acabei congelando por alguns instantes, o que causou ainda mais mortes.
Era uma batalha desigual... Os rebeldes tentavam se proteger atrás do que tinha restado de algumas casas, ou de rochas, ou o que encontrassem e atacavam com armas de raios... Armas de raios vocês acreditam? Parecia Guerra nas Estrelas, mas muito mais terrível.
Do outro lado vinham umas máquinas enormes... Pareciam prédios de uns dez andares, com vários canhões para fora das suas janelas, disparando raios, projéteis, um tipo de líquido corrosivo e sei lá mais o que...
Por onde passavam só restava morte.
Algumas naves eram iguais àquela que eu tinha derrubado, outras eram maiores e pareciam ainda mais perigosas, destruindo as proteções dos rebeldes com mísseis... Não sobrava quase nada onde eles atingiam.
Quando finalmente despertei, vi uma nave num voo suicida contra um dos Tanques-torres e depois vi o motivo.
No caminho da maquina tinha uma casa e era possível ver uma Svitariana com várias crianças ao seu redor!
Eles iam ser mortos, mas o que me fez despertar foi o grito de uma garota, que fiquei sabendo mais tarde que era irmã da menina que eu tinha ido salvar.
“Thar-Tae!!!”
Foi aí que eu acordei e voei o mais rápido que pude até a batalha.
Fiquei me lembrando do que o vovô falou sobre o poder, mais as lições do Morfeus no Matrix e toda aquela coisa de entortar a colher, e então estiquei a mão e o poder fluiu de um modo que eu não tinha sentido antes...
Consegui criar vários campos de força ao redor dos rebeldes, impedindo finalmente que mais alguém morresse e vi que a maioria deles só percebeu que estavam a salvo depois das explosões pararem.
Um míssil foi disparado na direção da nave da Thar e eu consegui segurá-lo, girei por cima da minha cabeça e o joguei longe. Vi ele explodir em segurança no alto de um morro próximo.
Ergui dois campos de força, um ao redor da nave e outro ao redor da casa, levando eles para um lugar seguro.
Assim que eu os coloquei atrás de um grande campo de força, que eu ergui entre a cidadela e os invasores, eles pareceram perceber que tinha um novo jogador no tabuleiro.
Voei alguns metros, até estar bem próximo dos inimigos e usei meus poderes para me comunicar, dizendo que aquela cidade e seus habitantes estavam sob minha proteção e os invasores realmente pareceram parar.
Acreditei mesmo que não ia mais precisar lutar.
Mas de repente todas as armas estavam disparando tudo o que eles tinham contra mim.
Cruzei os braços diante do corpo e rezei para que nada me atingisse. O mais incrível é que nada me atingiu mesmo... Graças ao meu campo de força.
Os tiros pararam e os Tanques-torres se aproximaram, ficando parados sem me atacar por alguns instantes e o som de máquinas funcionando e de metal se retorcendo encheu o ar e então eles fizeram algo que vai me assombrar durante muito tempo...
De várias aberturas das torres surgiram corpos de Svitarianos mortos, pendurados por ganchos como carnes nos nossos açougues. Homens, mulheres e... E crianças...
Diante daquilo eu senti um calor vindo de dentro de mim e explodi.
Senti o poder se expandir de forma violenta e uma das naves mais próximas foi lançada longe só com a onda de energia que a atingiu.
Em seguida eu voei até as torres, usei campos de força para pegar os corpos e levá-los até onde estavam os rebeldes, avisando que os coitados mereciam um enterro decente... Não sei bem se entenderam o que eu quis dizer, mas não tinha tempo, porque eu tava louco prá acabar com aqueles carniceiros.
E foi o que eu fiz.
Disparei raios de energias que eu mesmo nem imaginava do que eram capazes, destruindo, explodindo, derretendo, simplesmente fazendo parar de funcionar.
Nada do que eles lançavam contra mim era capaz de chegar perto, e eu voava por entre as fileiras derrubando armas e soldados, mas tomando o cuidado para não matar ninguém.
De repente algo que parecia uma estrela cadente roxa atravessou os céus e destruiu alguma naves que estavam em seu caminho, parando só quando caiu sobre uma parte do exército, o que me fez parar com meu ataque e ir até o local, vendo que tinha alguma coisa no meio de uma enorme cratera.
“O-olá! Meu nome é Kwisp, o Guerreiro! Você é um Svitariano? Vim para ajudá-los contra os invasores!”
Era um sujeitinho de pele roxa, mais escura do que as dos Svitariano que eu tinha conhecido e esse tinha mesmo uma aparência ainda mais estranha. Tinha o corpo magro como o de um adolescente, os olhos eram estranhos, grandes e azuis, ele não tinha nariz, as mãos tinham três dedos e os pés só dois, mas o pior era que ele tinha uns quatro braços!!
Controlei minha respiração, aquele sim era a criatura mais alienígena que eu tinha encontrado até ali e confesso que quase me esqueci da batalha, mas novos ataques me trouxeram de volta à realidade.
Disse que eu não era Svitariano, mas os estava ajudando e que se ele quisesse ajudar, era só repetir o que ele tinha acabado de fazer.
Dizendo isso voei contra as máquinas e não o vi mais até o fim da batalha, mas fiquei sabendo que ele destruiu muitas máquinas e derrubou muitos soldados, mas ninguém soube me contar como... Ele deve ser mesmo um guerreiro muito forte...
Eu tinha resolvido pousar no meio de um grupo de soldados que eram enormes, quase uns três metros... A Thar me disse que eles eram os especialistas em demolição... Mas não eram páreo para o meu poder...
Foi quando uma das torres explodiu e algo saiu de lá de dentro, causando ainda mais destruição que eu, e vindo na minha direção.
Pouco antes de eu ser atingido, consegui voar outra vez e fiquei parado no ar, esperando o vento dissipar a poeira que se levantou.
Quando vi o que tinha chegado, juro que me peguei pensando em como seria bom estar aí em casa...
Eu já tinha estranhado o tal Kwisp, mas agora eu estava paralisado mesmo. Uma criatura... Não tem palavra melhor... Estava de pé no meio de um monte de restos de soldados e olhava diretamente para mim...
Aquilo tinha uma pele acinzentada, usava uma armadura de combate cinza e azul escura, as mãos também tinham três dedos e suas pernas eram estranha, com o joelho voltado para trás... Como aqueles dinossauros que a gente viu nos filmes mãe... A cara era horrenda, quase uma carranca, e ele tinha um cabelão preto espetado que deixaria o pessoal do Kiss com inveja.
“Você!” Ele tinha falado. Falado! E a voz era calma e tranquila, não combinava nada com um bicho medonho daquele “Desça até aqui para discutirmos como cavaleiros civilizados”
Falei que estava bem ali onde eu estava, na verdade eu estava paralisado de medo, e ele deu de ombros, continuando a falar “Pois muito bem... Meu nome é Comandante Tayagon líder dos exércitos de Lady Quarin, nossa soberana... E você, pelos trajes e poderes, deve ser o tal de Antares”.
Gaguejei e concordei com um aceno de cabeça, não conseguia nem falar e o desgraçado deve ter percebido, por que ele sorriu antes de continuar.
“Façamos um trato... Amanhã nos encontramos aqui e resolvemos essa batalha só nós dois... Uma luta de vida e morte, sem arriscar nem os seus rebeldes nem nossos soldados... O que me diz?”
Foi então que eu...”
- Pelo amor de Deus filho... Não me diz que você aceitou?
- Ele não tinha escolha Luiza... Eu passei por umas situações parecidas e...
- Dane-se você! - A mulher se erguia do sofá, indo até a imagem holográfica de seu filho, como se pudesse agarrá-lo e o arrastar de volta para casa. - é do meu filho que estamos falando... Jon... Pelo amor de Deus... Saia agora mesmo desse planeta... Por mim...
Um silêncio se abateu entre todos eles, cada um pesando bem o que ia dizer em seguida e foi Jonathan quem acabou falando:
- Sinto muito mãe... Eu não sei o que vai acontecer amanhã, mas não posso abandonar essas pessoas... Sejam elas aliens ou não... Ninguém merece passar pelo que eu vi hoje... Eu só precisava falar com você para o caso de... De...
- Nem diz isso! - Luiza não aguentava mais e correu para seu quarto, trancando a porta do mesmo.
- Hã... Pai...
Rodrigo se levantou e caminhou sério até o holograma, querendo também tocar no filho, mas para parabenizá-lo e lhe dar forças.
- Não se preocupe... Não deixarei que nada falte à sua mãe e prometo falar com ela depois que ela sair do quarto... Jonathan... Tome cuidado e lembre-se... O poder do Antares é seu e sua única barreira para usá-lo totalmente é você mesmo... Se entregue de coração e alma e você vai conseguir...
- Com você foi assim também pai?
- Não tão cedo, mas sei que você conseguirá. Escute também os conselho do seu avô e tudo ficará bem...
- Obrigado... Eu... Preciso ir... O pessoal resolveu fazer uma festa em minha homenagem e eu nem sei o que vestir, ou onde arranjar uma roupa...
“Eu cuido disso... Adeus Rodrigo... Cuide mesmo da Luiza sim?”
Dito isso, Antônio encerrou a conversa, desativando a ponte com seu comunicador.
- O que o senhor quis dizer com “Eu cuido disso”?
“Eu consegui acessar alguns bancos de dados e vi como os Svitarianos costumam se vestir nessas ocasiões... Observe.”
Em alguns instantes a armadura foi dando lugar a um tipo de toga, com um cinto feito de tecido na cintura, sapados extremamente confortáveis, parecendo de seda ao toque, algumas pulseiras douradas em seus pulsos, essas em nada lembravam as algemas que o haviam prendido. Seu cabelo continuava preso numa longa trança e ele se viu em uma superfície espelhada que estava à sua direita.
- Uau! Não sabia que a armadura podia fazer isso!
“Ela pode ficar do jeito que você quiser... Experimente.. pense em mudar a cor da faixa da sua cintura por exemplo...”
O rapaz assim o fez e logo a faixa assumia um tom azulado.
“Muito bem... é assim com o seu poder também... Quando você estiver mais à vontade com os dois, poderá usá-los como se tivessem feito parte de você durante toda a vida... É como andar...”
- Nossa... E nem precisei me esforçar tanto... - Leves batidas na porta fizeram a conversa entre avô e neto ser interrompida. - Quem é?
- Thar-Tae! Estão todos esperando por você!! - Assim que Jonathan abriu a porta percebeu como os olhos da garota se arregalaram.
- Hã... Algo errado?
- Não... - “Nossa!!! Como ele está lindo!!!” com medo de que o visitante pudesse ler sua mente, a garota tratou de continuar falando, visivelmente envergonhada. - E-eu... Hã... Vamos?
- Claro!
Ele ofereceu o braço à garota, que ficou estática, não entendendo aquele gesto.
- Em meu mundo, quando um casal vai junto a uma festa, costumamos ir de braços cruzados... Eu... Espero que não seja uma ofensa por aqui...
- Não!! - Apesar de estranhar o que o visitante falava, Thar-Tae não perderia a chance de tocá-lo, algo realmente comum entre os Svitarianos, principalmente quando se atingia a idade de escolher um companheiro, o que tinha acontecido algum tempo atrás. - Vamos!
O sorriso de sua jovem anfitriã era contagiante e o terrestre até se esqueceu momentaneamente o fato de que ela parecia ser uma jovem de, no máximo, dezessete anos, segurando delicadamente o braço dela e deixando se levar até o local da festa.
XXX
“Apenas mais um pouco mestre... Em breve o corpo do inimigo estará caído aos seus pés, já sem o brilho da vida dentro de si.”
“Não é isso que eu quero e você sabe bem... Hrúcarë...”
“Sim... Perdão mestre... Eu o levarei vivo para que encontre a morte por suas mãos...”
“É melhor que seja assim... Se ainda quiser compartilhar das maravilhas da não-existência comigo...”
Hrúcarë parou de repente seu avanço, torcendo o corpo como se ajoelhasse em penitência por ter dado aquela impressão ao seu mestre, ao seu deus.
“Eu quero sim!!! Por favor mestre!! Não me abandone!!! Mestre? Mestre!!!”
O silêncio do espaço pareceu ficar maior, aumentando ainda mais a sensação de desespero do vilão e então este se colocou a voar rapidamente até seu objetivo.
O Planeta Svitar já não estava tão longe.
XXX
Jonathan não conseguiria dormir nem se todo o cansaço que ele sentia se multiplicasse, pois sua mente fervia com os acontecimentos da festa onde ele estava a poucas horas.
Assim que entrou no salão de festas ele se surpreendeu com o tamanho do lugar, onde facilmente caberia um estádio de futebol do tamanho do Maracanã, como ele calculara de momento, tomado por vários Svitarianos que, com sua variedade de cores de cabelo, formavam uma colcha multicolorida que se movia como ondas no mar.
O impacto daquelas cores, que Jonathan já havia percebido serem mais fortes naquele planeta, acabou por atordoar o rapaz e ele mal percebeu enquanto Thar-Tae ergueu de forma discreta sua manga e tocou em sua pele, o que fez a garota tremer com o prazer do contato, guiando-o em seguida até o líder da rebelião.
- Meu jovem! - Anner-Roll estava muito mais receptivo após os rebeldes terem sido salvos por Jonathan. – Venha cá para que eu possa abraçá-lo!!!
Assim que o líder recebeu o convidado de honra com um beijo na fronte, as festividades, que haviam sido interrompidas, recomeçaram e todo o barulho fez o terrestre se recordar do dia em que havia acompanhando uma antiga namorada até o ensaio de uma escola de samba.
- Está gostando da música?!!! – Mesmo ainda agarrada ao braço de Jonathan Thar-Tae precisava gritar para ser ouvida.
- Eu posso me acostumar!! – De repente a garota o puxou pelo braço, logo após receberem os cumprimentos de alguns soldados rebeldes. – Aonde vamos?
- Aaahhhh... Silêncio afinal...
Os dois chegaram a um tipo de sacada, de onde era possível ter uma visão panorâmica de todo o avançado acampamento rebelde, cujo campo de força permitia um vislumbre da bela noite que fazia.
- Uau!!!
- Eu sei que ela tá por aqui...
- Quem?
- Minha irmã e... Ah! Olha ela lá!!!
A garota correu de encontro à sua irmã, enquanto Jonathan se aproximava mais devagar, reparando bem nas roupas das duas Svitarianas, percebendo que os cortes das mesmas deixavam à mostra boa parte de seus corpos e, divertindo-se, ele reparou que Kwisp parecia ter feito a mesma observação que ele.
- Olá amigo... – Mesmo ainda estranhando estar em meio a seres alienígenas, Jonathan já conseguia falar algumas frases sem gaguejar. – Tudo bem?
- Hã? Ah! Sim... – O guerreiro pareceu precisar quase limpar a baba, para continuar a falar. – Ótimo! E você? Foi uma bela luta hoje...
- Ah, sim... Eu... Foi a primeira vez que eu fiz algo assim... Você deve estar acostumado... Quer dizer... O modo como se apresentou e tals...
- Eu... Estou sim e... – Kwisp parecia incomodado com o comentário do outro e tratou logo de mudar de assunto. – O que será que tanto falam uma com a outra?
- Ah... Elas? Bem deve ser sobre bobagens... No meu mundo era assim... Mais ou menos...
- É mesmo! Você disse que não era Svitariano... De onde você é então?
- Já ouviu falar da Terra?
- Hum... Não.
- É um ótimo planeta e... – Sem nenhum aviso, Thar-Tae voltou a se agarrar ao braço de Jonathan, enquanto sua irmã fazia o mesmo com Kwisp. – Ooopppaaa!!! Calma gatinha...
- Viu? Ele me deu um apelido carinhoso... – Ela esticou o nariz na direção de Ashira-Rey e levou seu par para longe. Mais tarde Jonathan descobriria que tal gesto era equivalente a um mostrar de língua entre os Svitarianos. – Vamos sair daqui e deixar eles a sós...
Jonathan ainda agia como se pisasse sobre ovos, tentando evitar gafes ou alguma ofensa, ele se lembrava das aulas da faculdade de Propaganda, que sempre dizia que era preciso respeitar as culturas diferentes das dele.
O restante da festa foi tranquilo, mesmo com as irmãs se encontrando, o rapaz percebeu que as provocações entre elas era algo corriqueiro, nem mesmo as feitas debaixo dos olhos do pai ganhavam algo mais do que um suspiro de reprovação e Jonathan se pegou surpreso por ter conseguido esquecer o que aconteceria no dia seguinte.
A surpresa que tirou o sono de Jonathan aconteceu quando Thar-Tae o acompanhou até a porta de seu quarto.
- Valeu mesmo Thar... Eu não ia achar mesmo esse lugar sozinho...
- Bem... É Isso aí né? – Ela manteve as mãos atrás do corpo ao dizer isso, olhando bem no fundo dos olhos do rapaz, deixando-o um pouco incomodado com a intensidade do olhar dela. – Hã... Como os terrestres... Digo os homens e mulheres se despedem em seu mundo?
- Hã... Com um beijo no lado do rosto na maioria das vezes...
Assim que ele disse isso, a garota virou o rosto, deixando uma de duas bochechas bem à mostra.
Jonathan ainda hesitou alguns instantes, mas logo se abaixou lentamente procurando dar um rápido beijo na jovem, mas esta foi mais rápida, virou o rosto de frente para ele, segurou com as duas mãos e colou seus lábios com os dele num beijo que o deixou surpreso e sem reação.
- Imaginei que assim seria mais gostoso... É para te dar sorte amanhã! – E sem esperar que o rapaz “despertasse” ela sumiu pelos corredores da base.
“Até mesmo os heróis são surpreendidos não é?” ignorando o comentário de seu avô Jonathan entrou no quarto e permaneceu acordado durante um bom tempo, mas quando dormiu foi como se desmaiasse, sem nem perceber quando Antônio começou a falar com alguém.
O dia seguinte chegou de forma estranha para todos.
Na Terra Luiza não saíra da cama, era ainda pior pensar que os dias no planeta onde seu filho se encontrava, eram praticamente iguais aos da Terra. Rodrigo aproveitou e se manteve no quarto de hóspedes, fazendo barulhos que normalmente fariam Luiza ir até lá e ver o que estava acontecendo, mas não naquele dia.
Não quando ela achava que seu filho poderia morrer.
Em Svitar todos acordaram cedo e acompanharam Jonathan enquanto este, trajando sua armadura e ouvindo vários conselhos de seu avô, sobre como usar seus poderes, ia tentando manter uma pose que não denunciasse seu nervosismo.
- Então... – A mesma voz assustadora do dia seguinte trouxe Jonathan de volta à realidade. – Você veio mesmo...
Atrás de Tayagon todo um contingente dos invasores parecia a postos para retomar a batalha de onde ela havia parado anteriormente. Ao perceber que seu oponente parecia ter ficado nervoso o monstruoso general tratou de acalmá-lo.
- Não se preocupe... Eles são apenas a guarda real de vossa alteza... Lady Quarin!
Como se em resposta às palavras de Tayagon um dos Tanques-Torres se abriu, revelando algo que lembrava uma luxuosa sala real, onde uma figura permanecia sentada num luxuoso trono.
Todos os invasores, incluindo o oponente de Jonathan se ajoelharam e só levantaram quando a Torre voltou a se fechar.
- Bem... – As palavras do comandante se espalharam pelos comunicadores rebeldes. - Considere-se afortunado por ter visto nossa rainha antes de morrer, mas hoje estou me sentindo benevolente... Desista, vá embora e vai viver... Fique e morrerá.
Um brilho dourado antecedeu a rajada de energia que errou por pouco a cabeça de Tayagon, atingindo apenas um pouco dos pêlos que se erguiam de suas costas.
- Ora seu...
- Eu sou Antares! – Agora era a voz do jovem terrestre que era ouvido por todos os presentes. – Luto pelo povo de Svitar e garanto que se algum de nós vai cair hoje, será você... Feioso.
Não era preciso dizer mais nada e com um ruído selvagem, o Comandante Tayagon se lançou ao ataque.
Com uma rápida prece a Deus Antares fez o mesmo.
O brilho das energias se chocando pôde ser visto a milhas de distância, mostrando que o combate havia, de fato, começado.
O final ninguém conseguia imaginar.
Continua.
Por João Norberto da Silva.
- Vocês não imaginam como foi... Eu... E-eu...
- Não segura filho... Pode chorar...
Essa era realmente a vontade de Jonathan, enquanto conversava com seus familiares através da armadura e do comunicador que seu avô criara, mas ele decidiu ser forte e continuou seu relato.
- Assim que eu decidi voar até a direção que Gar-Lan havia me indicado, confiando no vovô para me guiar, percebi que esse mundo não é tão diferente do nosso... Apenas as cores eram mais... Vivas... A grama era muito mais verde, até o céu parecia incrivelmente mais azul... Não me perguntem como, mas a situação era tão estranha que tá mais fácil aceitar coisas como voar...
“Mas a beleza acabou quando eu vi ao longe uma coluna de fumaça, que o vovô indicou como sendo o local que o Gar-Lan havia dito...
Assim que desviei de um morro... O que eu vi... Esperem um minuto... Por favor...
Aaahh... Bem... Estou bem mamãe... Pode acreditar... O pior já passou...
Então... Como eu estava dizendo... Assim que cheguei na tal cidadela, o que eu vi foi ainda pior do que aparece naqueles filmes de guerra... Acabei congelando por alguns instantes, o que causou ainda mais mortes.
Era uma batalha desigual... Os rebeldes tentavam se proteger atrás do que tinha restado de algumas casas, ou de rochas, ou o que encontrassem e atacavam com armas de raios... Armas de raios vocês acreditam? Parecia Guerra nas Estrelas, mas muito mais terrível.
Do outro lado vinham umas máquinas enormes... Pareciam prédios de uns dez andares, com vários canhões para fora das suas janelas, disparando raios, projéteis, um tipo de líquido corrosivo e sei lá mais o que...
Por onde passavam só restava morte.
Algumas naves eram iguais àquela que eu tinha derrubado, outras eram maiores e pareciam ainda mais perigosas, destruindo as proteções dos rebeldes com mísseis... Não sobrava quase nada onde eles atingiam.
Quando finalmente despertei, vi uma nave num voo suicida contra um dos Tanques-torres e depois vi o motivo.
No caminho da maquina tinha uma casa e era possível ver uma Svitariana com várias crianças ao seu redor!
Eles iam ser mortos, mas o que me fez despertar foi o grito de uma garota, que fiquei sabendo mais tarde que era irmã da menina que eu tinha ido salvar.
“Thar-Tae!!!”
Foi aí que eu acordei e voei o mais rápido que pude até a batalha.
Fiquei me lembrando do que o vovô falou sobre o poder, mais as lições do Morfeus no Matrix e toda aquela coisa de entortar a colher, e então estiquei a mão e o poder fluiu de um modo que eu não tinha sentido antes...
Consegui criar vários campos de força ao redor dos rebeldes, impedindo finalmente que mais alguém morresse e vi que a maioria deles só percebeu que estavam a salvo depois das explosões pararem.
Um míssil foi disparado na direção da nave da Thar e eu consegui segurá-lo, girei por cima da minha cabeça e o joguei longe. Vi ele explodir em segurança no alto de um morro próximo.
Ergui dois campos de força, um ao redor da nave e outro ao redor da casa, levando eles para um lugar seguro.
Assim que eu os coloquei atrás de um grande campo de força, que eu ergui entre a cidadela e os invasores, eles pareceram perceber que tinha um novo jogador no tabuleiro.
Voei alguns metros, até estar bem próximo dos inimigos e usei meus poderes para me comunicar, dizendo que aquela cidade e seus habitantes estavam sob minha proteção e os invasores realmente pareceram parar.
Acreditei mesmo que não ia mais precisar lutar.
Mas de repente todas as armas estavam disparando tudo o que eles tinham contra mim.
Cruzei os braços diante do corpo e rezei para que nada me atingisse. O mais incrível é que nada me atingiu mesmo... Graças ao meu campo de força.
Os tiros pararam e os Tanques-torres se aproximaram, ficando parados sem me atacar por alguns instantes e o som de máquinas funcionando e de metal se retorcendo encheu o ar e então eles fizeram algo que vai me assombrar durante muito tempo...
De várias aberturas das torres surgiram corpos de Svitarianos mortos, pendurados por ganchos como carnes nos nossos açougues. Homens, mulheres e... E crianças...
Diante daquilo eu senti um calor vindo de dentro de mim e explodi.
Senti o poder se expandir de forma violenta e uma das naves mais próximas foi lançada longe só com a onda de energia que a atingiu.
Em seguida eu voei até as torres, usei campos de força para pegar os corpos e levá-los até onde estavam os rebeldes, avisando que os coitados mereciam um enterro decente... Não sei bem se entenderam o que eu quis dizer, mas não tinha tempo, porque eu tava louco prá acabar com aqueles carniceiros.
E foi o que eu fiz.
Disparei raios de energias que eu mesmo nem imaginava do que eram capazes, destruindo, explodindo, derretendo, simplesmente fazendo parar de funcionar.
Nada do que eles lançavam contra mim era capaz de chegar perto, e eu voava por entre as fileiras derrubando armas e soldados, mas tomando o cuidado para não matar ninguém.
De repente algo que parecia uma estrela cadente roxa atravessou os céus e destruiu alguma naves que estavam em seu caminho, parando só quando caiu sobre uma parte do exército, o que me fez parar com meu ataque e ir até o local, vendo que tinha alguma coisa no meio de uma enorme cratera.
“O-olá! Meu nome é Kwisp, o Guerreiro! Você é um Svitariano? Vim para ajudá-los contra os invasores!”
Era um sujeitinho de pele roxa, mais escura do que as dos Svitariano que eu tinha conhecido e esse tinha mesmo uma aparência ainda mais estranha. Tinha o corpo magro como o de um adolescente, os olhos eram estranhos, grandes e azuis, ele não tinha nariz, as mãos tinham três dedos e os pés só dois, mas o pior era que ele tinha uns quatro braços!!
Controlei minha respiração, aquele sim era a criatura mais alienígena que eu tinha encontrado até ali e confesso que quase me esqueci da batalha, mas novos ataques me trouxeram de volta à realidade.
Disse que eu não era Svitariano, mas os estava ajudando e que se ele quisesse ajudar, era só repetir o que ele tinha acabado de fazer.
Dizendo isso voei contra as máquinas e não o vi mais até o fim da batalha, mas fiquei sabendo que ele destruiu muitas máquinas e derrubou muitos soldados, mas ninguém soube me contar como... Ele deve ser mesmo um guerreiro muito forte...
Eu tinha resolvido pousar no meio de um grupo de soldados que eram enormes, quase uns três metros... A Thar me disse que eles eram os especialistas em demolição... Mas não eram páreo para o meu poder...
Foi quando uma das torres explodiu e algo saiu de lá de dentro, causando ainda mais destruição que eu, e vindo na minha direção.
Pouco antes de eu ser atingido, consegui voar outra vez e fiquei parado no ar, esperando o vento dissipar a poeira que se levantou.
Quando vi o que tinha chegado, juro que me peguei pensando em como seria bom estar aí em casa...
Eu já tinha estranhado o tal Kwisp, mas agora eu estava paralisado mesmo. Uma criatura... Não tem palavra melhor... Estava de pé no meio de um monte de restos de soldados e olhava diretamente para mim...
Aquilo tinha uma pele acinzentada, usava uma armadura de combate cinza e azul escura, as mãos também tinham três dedos e suas pernas eram estranha, com o joelho voltado para trás... Como aqueles dinossauros que a gente viu nos filmes mãe... A cara era horrenda, quase uma carranca, e ele tinha um cabelão preto espetado que deixaria o pessoal do Kiss com inveja.
“Você!” Ele tinha falado. Falado! E a voz era calma e tranquila, não combinava nada com um bicho medonho daquele “Desça até aqui para discutirmos como cavaleiros civilizados”
Falei que estava bem ali onde eu estava, na verdade eu estava paralisado de medo, e ele deu de ombros, continuando a falar “Pois muito bem... Meu nome é Comandante Tayagon líder dos exércitos de Lady Quarin, nossa soberana... E você, pelos trajes e poderes, deve ser o tal de Antares”.
Gaguejei e concordei com um aceno de cabeça, não conseguia nem falar e o desgraçado deve ter percebido, por que ele sorriu antes de continuar.
“Façamos um trato... Amanhã nos encontramos aqui e resolvemos essa batalha só nós dois... Uma luta de vida e morte, sem arriscar nem os seus rebeldes nem nossos soldados... O que me diz?”
Foi então que eu...”
- Pelo amor de Deus filho... Não me diz que você aceitou?
- Ele não tinha escolha Luiza... Eu passei por umas situações parecidas e...
- Dane-se você! - A mulher se erguia do sofá, indo até a imagem holográfica de seu filho, como se pudesse agarrá-lo e o arrastar de volta para casa. - é do meu filho que estamos falando... Jon... Pelo amor de Deus... Saia agora mesmo desse planeta... Por mim...
Um silêncio se abateu entre todos eles, cada um pesando bem o que ia dizer em seguida e foi Jonathan quem acabou falando:
- Sinto muito mãe... Eu não sei o que vai acontecer amanhã, mas não posso abandonar essas pessoas... Sejam elas aliens ou não... Ninguém merece passar pelo que eu vi hoje... Eu só precisava falar com você para o caso de... De...
- Nem diz isso! - Luiza não aguentava mais e correu para seu quarto, trancando a porta do mesmo.
- Hã... Pai...
Rodrigo se levantou e caminhou sério até o holograma, querendo também tocar no filho, mas para parabenizá-lo e lhe dar forças.
- Não se preocupe... Não deixarei que nada falte à sua mãe e prometo falar com ela depois que ela sair do quarto... Jonathan... Tome cuidado e lembre-se... O poder do Antares é seu e sua única barreira para usá-lo totalmente é você mesmo... Se entregue de coração e alma e você vai conseguir...
- Com você foi assim também pai?
- Não tão cedo, mas sei que você conseguirá. Escute também os conselho do seu avô e tudo ficará bem...
- Obrigado... Eu... Preciso ir... O pessoal resolveu fazer uma festa em minha homenagem e eu nem sei o que vestir, ou onde arranjar uma roupa...
“Eu cuido disso... Adeus Rodrigo... Cuide mesmo da Luiza sim?”
Dito isso, Antônio encerrou a conversa, desativando a ponte com seu comunicador.
- O que o senhor quis dizer com “Eu cuido disso”?
“Eu consegui acessar alguns bancos de dados e vi como os Svitarianos costumam se vestir nessas ocasiões... Observe.”
Em alguns instantes a armadura foi dando lugar a um tipo de toga, com um cinto feito de tecido na cintura, sapados extremamente confortáveis, parecendo de seda ao toque, algumas pulseiras douradas em seus pulsos, essas em nada lembravam as algemas que o haviam prendido. Seu cabelo continuava preso numa longa trança e ele se viu em uma superfície espelhada que estava à sua direita.
- Uau! Não sabia que a armadura podia fazer isso!
“Ela pode ficar do jeito que você quiser... Experimente.. pense em mudar a cor da faixa da sua cintura por exemplo...”
O rapaz assim o fez e logo a faixa assumia um tom azulado.
“Muito bem... é assim com o seu poder também... Quando você estiver mais à vontade com os dois, poderá usá-los como se tivessem feito parte de você durante toda a vida... É como andar...”
- Nossa... E nem precisei me esforçar tanto... - Leves batidas na porta fizeram a conversa entre avô e neto ser interrompida. - Quem é?
- Thar-Tae! Estão todos esperando por você!! - Assim que Jonathan abriu a porta percebeu como os olhos da garota se arregalaram.
- Hã... Algo errado?
- Não... - “Nossa!!! Como ele está lindo!!!” com medo de que o visitante pudesse ler sua mente, a garota tratou de continuar falando, visivelmente envergonhada. - E-eu... Hã... Vamos?
- Claro!
Ele ofereceu o braço à garota, que ficou estática, não entendendo aquele gesto.
- Em meu mundo, quando um casal vai junto a uma festa, costumamos ir de braços cruzados... Eu... Espero que não seja uma ofensa por aqui...
- Não!! - Apesar de estranhar o que o visitante falava, Thar-Tae não perderia a chance de tocá-lo, algo realmente comum entre os Svitarianos, principalmente quando se atingia a idade de escolher um companheiro, o que tinha acontecido algum tempo atrás. - Vamos!
O sorriso de sua jovem anfitriã era contagiante e o terrestre até se esqueceu momentaneamente o fato de que ela parecia ser uma jovem de, no máximo, dezessete anos, segurando delicadamente o braço dela e deixando se levar até o local da festa.
XXX
“Apenas mais um pouco mestre... Em breve o corpo do inimigo estará caído aos seus pés, já sem o brilho da vida dentro de si.”
“Não é isso que eu quero e você sabe bem... Hrúcarë...”
“Sim... Perdão mestre... Eu o levarei vivo para que encontre a morte por suas mãos...”
“É melhor que seja assim... Se ainda quiser compartilhar das maravilhas da não-existência comigo...”
Hrúcarë parou de repente seu avanço, torcendo o corpo como se ajoelhasse em penitência por ter dado aquela impressão ao seu mestre, ao seu deus.
“Eu quero sim!!! Por favor mestre!! Não me abandone!!! Mestre? Mestre!!!”
O silêncio do espaço pareceu ficar maior, aumentando ainda mais a sensação de desespero do vilão e então este se colocou a voar rapidamente até seu objetivo.
O Planeta Svitar já não estava tão longe.
XXX
Jonathan não conseguiria dormir nem se todo o cansaço que ele sentia se multiplicasse, pois sua mente fervia com os acontecimentos da festa onde ele estava a poucas horas.
Assim que entrou no salão de festas ele se surpreendeu com o tamanho do lugar, onde facilmente caberia um estádio de futebol do tamanho do Maracanã, como ele calculara de momento, tomado por vários Svitarianos que, com sua variedade de cores de cabelo, formavam uma colcha multicolorida que se movia como ondas no mar.
O impacto daquelas cores, que Jonathan já havia percebido serem mais fortes naquele planeta, acabou por atordoar o rapaz e ele mal percebeu enquanto Thar-Tae ergueu de forma discreta sua manga e tocou em sua pele, o que fez a garota tremer com o prazer do contato, guiando-o em seguida até o líder da rebelião.
- Meu jovem! - Anner-Roll estava muito mais receptivo após os rebeldes terem sido salvos por Jonathan. – Venha cá para que eu possa abraçá-lo!!!
Assim que o líder recebeu o convidado de honra com um beijo na fronte, as festividades, que haviam sido interrompidas, recomeçaram e todo o barulho fez o terrestre se recordar do dia em que havia acompanhando uma antiga namorada até o ensaio de uma escola de samba.
- Está gostando da música?!!! – Mesmo ainda agarrada ao braço de Jonathan Thar-Tae precisava gritar para ser ouvida.
- Eu posso me acostumar!! – De repente a garota o puxou pelo braço, logo após receberem os cumprimentos de alguns soldados rebeldes. – Aonde vamos?
- Aaahhhh... Silêncio afinal...
Os dois chegaram a um tipo de sacada, de onde era possível ter uma visão panorâmica de todo o avançado acampamento rebelde, cujo campo de força permitia um vislumbre da bela noite que fazia.
- Uau!!!
- Eu sei que ela tá por aqui...
- Quem?
- Minha irmã e... Ah! Olha ela lá!!!
A garota correu de encontro à sua irmã, enquanto Jonathan se aproximava mais devagar, reparando bem nas roupas das duas Svitarianas, percebendo que os cortes das mesmas deixavam à mostra boa parte de seus corpos e, divertindo-se, ele reparou que Kwisp parecia ter feito a mesma observação que ele.
- Olá amigo... – Mesmo ainda estranhando estar em meio a seres alienígenas, Jonathan já conseguia falar algumas frases sem gaguejar. – Tudo bem?
- Hã? Ah! Sim... – O guerreiro pareceu precisar quase limpar a baba, para continuar a falar. – Ótimo! E você? Foi uma bela luta hoje...
- Ah, sim... Eu... Foi a primeira vez que eu fiz algo assim... Você deve estar acostumado... Quer dizer... O modo como se apresentou e tals...
- Eu... Estou sim e... – Kwisp parecia incomodado com o comentário do outro e tratou logo de mudar de assunto. – O que será que tanto falam uma com a outra?
- Ah... Elas? Bem deve ser sobre bobagens... No meu mundo era assim... Mais ou menos...
- É mesmo! Você disse que não era Svitariano... De onde você é então?
- Já ouviu falar da Terra?
- Hum... Não.
- É um ótimo planeta e... – Sem nenhum aviso, Thar-Tae voltou a se agarrar ao braço de Jonathan, enquanto sua irmã fazia o mesmo com Kwisp. – Ooopppaaa!!! Calma gatinha...
- Viu? Ele me deu um apelido carinhoso... – Ela esticou o nariz na direção de Ashira-Rey e levou seu par para longe. Mais tarde Jonathan descobriria que tal gesto era equivalente a um mostrar de língua entre os Svitarianos. – Vamos sair daqui e deixar eles a sós...
Jonathan ainda agia como se pisasse sobre ovos, tentando evitar gafes ou alguma ofensa, ele se lembrava das aulas da faculdade de Propaganda, que sempre dizia que era preciso respeitar as culturas diferentes das dele.
O restante da festa foi tranquilo, mesmo com as irmãs se encontrando, o rapaz percebeu que as provocações entre elas era algo corriqueiro, nem mesmo as feitas debaixo dos olhos do pai ganhavam algo mais do que um suspiro de reprovação e Jonathan se pegou surpreso por ter conseguido esquecer o que aconteceria no dia seguinte.
A surpresa que tirou o sono de Jonathan aconteceu quando Thar-Tae o acompanhou até a porta de seu quarto.
- Valeu mesmo Thar... Eu não ia achar mesmo esse lugar sozinho...
- Bem... É Isso aí né? – Ela manteve as mãos atrás do corpo ao dizer isso, olhando bem no fundo dos olhos do rapaz, deixando-o um pouco incomodado com a intensidade do olhar dela. – Hã... Como os terrestres... Digo os homens e mulheres se despedem em seu mundo?
- Hã... Com um beijo no lado do rosto na maioria das vezes...
Assim que ele disse isso, a garota virou o rosto, deixando uma de duas bochechas bem à mostra.
Jonathan ainda hesitou alguns instantes, mas logo se abaixou lentamente procurando dar um rápido beijo na jovem, mas esta foi mais rápida, virou o rosto de frente para ele, segurou com as duas mãos e colou seus lábios com os dele num beijo que o deixou surpreso e sem reação.
- Imaginei que assim seria mais gostoso... É para te dar sorte amanhã! – E sem esperar que o rapaz “despertasse” ela sumiu pelos corredores da base.
“Até mesmo os heróis são surpreendidos não é?” ignorando o comentário de seu avô Jonathan entrou no quarto e permaneceu acordado durante um bom tempo, mas quando dormiu foi como se desmaiasse, sem nem perceber quando Antônio começou a falar com alguém.
O dia seguinte chegou de forma estranha para todos.
Na Terra Luiza não saíra da cama, era ainda pior pensar que os dias no planeta onde seu filho se encontrava, eram praticamente iguais aos da Terra. Rodrigo aproveitou e se manteve no quarto de hóspedes, fazendo barulhos que normalmente fariam Luiza ir até lá e ver o que estava acontecendo, mas não naquele dia.
Não quando ela achava que seu filho poderia morrer.
Em Svitar todos acordaram cedo e acompanharam Jonathan enquanto este, trajando sua armadura e ouvindo vários conselhos de seu avô, sobre como usar seus poderes, ia tentando manter uma pose que não denunciasse seu nervosismo.
- Então... – A mesma voz assustadora do dia seguinte trouxe Jonathan de volta à realidade. – Você veio mesmo...
Atrás de Tayagon todo um contingente dos invasores parecia a postos para retomar a batalha de onde ela havia parado anteriormente. Ao perceber que seu oponente parecia ter ficado nervoso o monstruoso general tratou de acalmá-lo.
- Não se preocupe... Eles são apenas a guarda real de vossa alteza... Lady Quarin!
Como se em resposta às palavras de Tayagon um dos Tanques-Torres se abriu, revelando algo que lembrava uma luxuosa sala real, onde uma figura permanecia sentada num luxuoso trono.
Todos os invasores, incluindo o oponente de Jonathan se ajoelharam e só levantaram quando a Torre voltou a se fechar.
- Bem... – As palavras do comandante se espalharam pelos comunicadores rebeldes. - Considere-se afortunado por ter visto nossa rainha antes de morrer, mas hoje estou me sentindo benevolente... Desista, vá embora e vai viver... Fique e morrerá.
Um brilho dourado antecedeu a rajada de energia que errou por pouco a cabeça de Tayagon, atingindo apenas um pouco dos pêlos que se erguiam de suas costas.
- Ora seu...
- Eu sou Antares! – Agora era a voz do jovem terrestre que era ouvido por todos os presentes. – Luto pelo povo de Svitar e garanto que se algum de nós vai cair hoje, será você... Feioso.
Não era preciso dizer mais nada e com um ruído selvagem, o Comandante Tayagon se lançou ao ataque.
Com uma rápida prece a Deus Antares fez o mesmo.
O brilho das energias se chocando pôde ser visto a milhas de distância, mostrando que o combate havia, de fato, começado.
O final ninguém conseguia imaginar.
Continua.
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