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Tomb Raider: Redenção #02

No interior da Austrália, Lara Croft e Ogumbyí se deparam com o primeiro enigma que vai levá-los ao encontro da princesa africana e de seus agressores: a lenda da cobra e da tartaruga!

Tomb Raider: Redençao #02 - A cobra e a tartaruga


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Austrália

Este local era considerado por muitos como uma prisão. Por outros tantos, como o inferno.

Tudo isso por causa da sua localização e, principalmente, por ter sido o último dos continentes a ser descoberto.

Nem por esse motivo a região está imune a rituais sagrados e mitologia.

E neste ambiente estão Lara Croft e Ogumbyí.

Enquanto a arqueóloga inicia a conexão com o que – carinhosamente – chama de base, o guardião do Reino de Oyó olha, fixamente, para uma direção.

Isso acaba chamando a atenção de Lara, que interrompe o contato que estava se estabelecendo. Ela o admira.

Em sinal de respeito, nada faz, nada diz. Até Ogumbyí sacudir a cabeça rapidamente – como se saísse de um transe – e se voltar para a amiga.

- O que foi? Não se sente bem?
- Estava em contato com Ifá.
- Notícias boas?
- Sim, em termos.
- O que foi?
- Ifá não pôde me dar a localização exata do nosso destino, mas está fazendo de tudo para retardar o progresso dos agressores.
- Como?
- Através de pistas falsas. Só que por mais que ele crie empecilhos, num instante dará a resposta certa. Tudo isso para proteger a princesa Adún.

Lara sorri e carrega as duas pistolas.

- Isso te faz sentir segura, minha amiga?
- Não só isso, Ogumbyí. O fato de eu ter uma queda por situações extremas, também. Mas no atual contexto, me sinto melhor com sua companhia.

Agora é Ogumbyí quem sorri.

- É verdade. Sinto paz e boas energias.
- Me sinto tranquilo com você, por causa da sua ousadia. E determinação.
- Toma – Lara joga uma semi-automática.

O amigo faz um gesto, negando.

- Não usa armas de fogo mais?
- Prefiro outros métodos.

O som da conexão.

- Me dá um minuto, Ogumbyí.

Lara prende o head-set na orelha esquerda.

- E aí, Phillips?
- Lara! Como foi a viagem?
- Ótima. Alguma novidade?
- Ainda nada.
- Muito estranho isso. Eu preciso que me mande umas informações.
- O que quiser.
- Um livro azul na ala oeste da biblioteca. Décima quinta fileira, oitava prateleira, de baixo para cima. Edição número 29.
- Vou providenciar. Do que se trata?
- Misticismo da Oceania. Digitaliza e me envia o mais rápido que puder.
- Imaginam por onde começar?
- Dependo desse livro. Ou de um ser espiritual – fala, enquanto vê Ogumbyí que, novamente, tem o olhar pedido para lugar nenhum.
- Beleza, já te mando!

Lara caminha a curtos passos até o parceiro que, olhando para o chão, diz:

- Outback. Onde começou o mundo.
- Está disposto a andar? – e mexe no PDA – Pelo mapa que tenho, é uma boa caminhada.
- Tudo bem.

Os dois iniciam o percurso segundo o que aparece na pequena tela.

Seguiram alguns quilômetros.

- Lara, vamos demorar muito desse jeito.
- Concordo. Vamos até aquela cidade ali – apontando – buscar algo que possa ser útil.

E eles conseguiram.

Uma moto. Usada, claro. Velha, sim. Mas potente.

Ogumbyí se encolhia com as manobras e peripécias que a arqueóloga realizava sobre duas rodas. Sobre uma roda também...

A distância tornou-se mais curta e o ar já se tornava seco.

- Olhe aquela colina – gritava Ogumbyí, sentindo um frio na barriga.
- O que tem ela?
- Devemos ir para lá.

Aceleração. Moto empinada. Os óculos avermelhados protegem e escondem os olhos radiantes de Lara. E Ogumbyí abraça Lara com força, com medo de cair.

Outback

Pé da colina.

Assim que desceram da moto, o PDA disparou um alarme.

- Que demora, Phillips.
- Foi mal.
- Foi péssimo. Encontrou?
- Sim. Estou enviando tudo.
- Tudo? Você tá louco?
- Você nem sabe o que procura! Como vou editar?
- Esse livro comporta informações desnecessárias. Você sabia disso e deveria ter feito a triagem.
- Lara, eu...
- Esquece. Tem alguma gravura?
- Diversas.
- Algo que lhe chamou a atenção?
- Vários desenhos.
- Não me provoque, Phillips.

Uma risada do outro lado da linha.

- É melhor você checar a página 170.
- Vou fazer uma pesquisa rápida aqui. Não pense em sair daí durante um bom tempo.

Fim da conexão.

Lara e Ogumbyí olham para o PDA. Buscam a página 170 e eis que a gravura feita em carvão há centenas de anos é a mesma que agora eles veem no horizonte: a colina.

- Estamos no caminho certo.
- O que faremos?
- Não tenho tempo para ler, amigo.

Bip. O alarme do PDA.

- O que é, Phillips?
- Procure uma entrada. Deve ser de difícil acesso, talvez uns seis metros acima do chão.
- Quero que vá narrando para mim o que tem no livro enquanto busco o acesso. E mais: descubra o que tem lá dentro.
- Bom... Aqui diz que, do ponto de vista da origem, as divindades da mitologia oceânica podem grupar-se em duas grandes categorias. A uma delas pertencem as que jamais foram criaturas humanas, muito embora talvez lhes houvessem revestido a forma; são os deuses propriamente ditos. À outra, pessoas que realmente viveram em época mais ou menos recuada; trata-se dos manes. São os deuses seres eternos ou, mais exatamente, originais, que sempre existiram. Ou, então, descendentes deles.
- Manes, né?
- Sim, são como heróis tribais. Em seus trabalhos mais famosos citam-se o de haverem posto a flutuar, pescando-as, numerosas ilhas. Também o de terem forçado o sol a diminuir a velocidade do curso. Hum... diz também que eles ensinaram aos mortais o uso do fogo.

Rodeando o pé do morro, os dois alternam o olhar para cima, para os lados.

- Achei! – e aquele sorriso devastador que ilumina os olhos – Phillips, nos falamos depois. Ogumbyí, você vem comigo?
- Sim, irei.

Lara e Ogumbyí começam uma complicada escalada. Não tinham muito apoio e a subida era íngreme.

Pedras se soltavam e rolavam. Isso não atrapalhava... estimulava!

Por uma apertada entrada, os dois ingressaram ao centro da colina.

Agachados, eram guiados pela luz projetada por pequenas luminárias presas às bocas da dupla.

O caminho ficava mais estreito a cada metro e em dado momento já estavam rastejando.

A escuridão deu lugar a um ambiente claro, cuja luz solar era projetada por pequenos orifícios e se batia em pedras que serviam de refletores.

Em pé, no centro daquela galeria, duas enormes figuras esculpidas nas rochas: uma cobra deitada e uma tartaruga sem cabeça.

- Ouve isso, Lara?
- O quê?
- Água corrente.
- Não pode ser...

Ogumbyí faz um sinal pedindo silêncio.

Agora, os dois escutam o curso. Olham para o salão e Ogumbyí ameaça andar.

- Não! Deixe comigo. Tenho experiência nisso...!

Lentamente, Lara caminha e fica exatamente entre a cabeça da cobra e do local onde deveria estar a cabeça da tartaruga. E segue na direção do olhar do ser rastejante.

A cobra olha para cima, lado oposto de onde eles chegaram.

Não há sinal da cabeça da tartaruga.

Ela vai até uma parede da galeria.

- Algo está impedindo o fluxo.

Abaixa e encontra uma pedra polida, grande, diferente de todas lá instaladas naquele solo arenoso.

- Alguém colocou isso aqui, Ogumbyí. Então... tem uma maneira de tirá-la.

Ela volta ao encontro do parceiro.

- Suba para a entrada; é mais seguro.

O amigo não discute e escala novamente.

- Lara!
- Você pode ser menos discreto, Phillips?
- Desculpa. Olha o que achei a respeito do que tem no interior da colina. Reza a lenda de uma tribo australiana que viveu aí na região, que a tartaruga antigamente era dotada de veneno, perfeitamente dispensável, pois o tardo animal, para proteger-se, podia muito bem esconder-se na água. A serpente, pelo contrário, não possuía defesa alguma, visto como, naquela época, era desprovida de veneno. A tartaruga deu seu veneno à cobra, que em troca lhe ofereceu uma cabeça de ofídio.
- Interessante. Me dá um tempo aqui.

Lara sobe no casco da tartaruga e vê dois furos nele. Ela salta sobre as pedras refletoras e desce deslizando, em pé.

Do chão ela olha com mais calma. E traça o percurso.

Sobe a cabeça da cobra. Pula e agarra pedras na parede. Mantém o ritmo por três metros. Sobe até um espaço como se cavado na encosta. Em frente há uma barra de madeira talhada. Embaixo dela, pedras pontiagudas.

Ela salta, alcança a barra. Com o peso extra, ela se quebra, mas Lara consegue impulsionar o corpo e alcançar outras pedras que brotam do paredão. Segue se movendo para o lado. Embaixo dela está onde deveria ter a cabeça da tartaruga; em cima, um novo espaço cavado. Ela lá chega.

Uma manivela.

Ogumbyí faz sinal positivo e ela gesticula para que ele não se mexa.

Aciona a alavanca. A boca da cobra se abre no mesmo instante em que o torso dela se ergue. De dentro saem três animais rastejantes, de grandes proporções. Ainda na boca, duas presas brilham, se diferenciando do material usado para esculpir as imagens.

Ela sorri para Ogumbyí, saca as pistolas e desliza sobre as pedras refletoras, até o chão.

Correndo e saltando, ela dispara seguidamente com as armas.

Os animais tentam desferir e acertar botes. Em vão.

As cápsulas das balas bailam pelo espaço até se perder na areia.

Com seguidos tiros certeiros nas cabeças, as três cobram morrem.

Como consequência, aquela pedra diferente que barrava a passagem da água, desce. O buraco que se tornou ali começa a ser preenchido por um líquido de cor esverdeada.

Corre por espaços talhados no solo, já escondidos há tempos sobre a areia, na direção da cobra.

Sobe pelo corpo dela, seguindo as voltas da posição da estátua.

A boca do ofídio se enche da água.

E fica abrindo e fechando sem parar.

Respingando o líquido.

Lara se aproxima e espera o momento certo para sacar as presas cintilantes.

Por segundos ela não teve a mão direita arrancada pelo impacto da mandíbula rochosa.

O local treme.

Graças a um chamado de Ogumbyí, Lara se jogou para o lado, caindo, se ralando, mas evitou que fosse esmagada por algo que veio de cima.

A cabeça da tartaruga.

- Obrigada, Ogumbyí – diz, limpando a areia do short marrom.
- Posso descer agora?
- Não. Ainda falta algo: como colocar a cabeça da tartaruga.
- Como sabe que é preciso fazer isso?
- Como te falei antes, tenho experiência nessas coisas...!

Lara sobe no casco da tartaruga e finca as presas nos orifícios dessa espécie de proteção do animal.
A escultura começa a se mexer. A andar. Lentamente. Lara brinca como se montasse na tartaruga.
Finalmente o corpo se aproxima da cabeça. Ela é tragada e encaixada.

Lara expira fortemente.

Os raios solares se intensificam. A cobra de pedra dá um bote na tartaruga, assustando Lara e fazendo com que ela salte para longe.

A posição das estátuas é bem diferente da inicial; a tartaruga recebeu o ataque da cobra. O detalhe é que onde Lara colocou as presas é exatamente o mesmo onde parou a cabeça da cobra. Como se fosse um encaixe.

Os feixes de luz se batem nas pedras refletoras e cruzam a galeria. Ogumbyí tem o rosto iluminado. Lara cerra os olhos e tenta decifrar o que surge:

Uma gaivota.

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