Últimas Publicações:

Um Novo Homem #1



Era uma vez um poderoso herói chamado Super Justiça. Mas esta não é a história dele, e sim de Ramon Gonzáles, um frustrado mexicano que teve sua vida transformada quando supostamente assassinou o herói. Mini-série em 4 partes republicada e reeditada.



Imagem
Ilustração da capa de Luis Royo.

Um Novo Homem
Universo Nova Frequência

Por: Anderson Oliveira
Publicado originalmente em março de 2007.

10 LIÇÕES PARA SE TORNAR UM VILÃO
Parte 1

LIÇÃO 1: Seja mal, muito mal.


Era uma vez no México...

Hijo de puta!!

— Calma, Ramon... calma!

— Como eu posso ter calma, José?! Como?!

Ramon Gonzáles joga o maço de cinquenta pesos ao vento enquanto entorna a última garrafa de tequila, sentado no meio fio sob o calor do meio-dia. Seu irmão José, de pé, o observa sem saber o que fazer, enquanto ele se afoga no desespero. Ramon ameaça quebrar seu violão. José logo tira o instrumento das mãos do irmão. O violão é o único meio de trabalho de Ramon, apesar do grupo de mariachis onde ele e José tocam estar indo da mal a pior. Os dois acabaram de sair da última apresentação.

Parece que os turistas canadenses não gostaram muito da interpretação do grupo do clássico Huapango de José Plabo Moncayo Garcia. São poucos capazes de admirar a tradicional música mexicana, derivada de cantos indígenas, mesmo resgatada por um compositor erudita, de vida e obra breve, como Moncayo. Ou talvez a mediocridade dos mariachis, com suas roupas pretas empoeiradas, seus sombreiros velhos e rasgados, as caras com barbas mal feitas, suas panças inchadas não se sabe se de comer ou de beber... talvez as duas coisas, mas o fato é que tal grupo folclórico ainda precisaria de horas e horas de aulas de música antes de se atreverem a cobrar para ouvirmos suas cordas desafinadas e suas vozes ainda piores. Uma vergonha para o México.

— Cinquenta pesos! Tocamos para esses gringos e só nos pagam cinquenta pesos! — diz Ramon buscando a última gota de tequila.

— Eu sei que as coisas estão difíceis, mas encher a cara não ajuda! — diz José recolhendo as notas.

— O pior vai ser ter que aguentar la mujer gritando no meu ouvido... — minutos depois:

— Seu imprestável!! Inútil! Vagabundo!! — Guadalupe cresceu acostumada a falar alto, tão alto que nunca se sabe quando ela está gritando ou falando normalmente. E Ramon sempre odiou isso. Agora ele ouve calado todas as ofensas que sua mulher lhe dirige. Não é a primeira vez. Ele permanece calado. Sempre calado.

“Por que eu aguento isso?” ele pensa “Ah sim... por causa da Inezita... Maldita hora que engravidei essa leitoa... fui obrigado a me casar e hoje tenho uma mulher insuportável e uma filha adolescente que me odeia. Eu preciso de mais tequila.” Ramon aproveita que sua mulher foi para a cozinha e pega uma garrafa de bebida e se senta no sofá. Só mesmo com litros e litros de tequila para aturar Guadalupe. Além de seus berros, Ramon tem que suportar seu mau-hálito, seus cabelos sempre despenteados, seus tornozelos grossos... sem falar na obesidade quase mórbida. E Guadalupe ainda reclama que passam fome! Tem horas que Ramon se pergunta no que se passava em sua cabeça quando, naquela madrugada, ele a levou pra sua cama. Mas então ele olha para a garrafa na sua mão e se lembra da resposta.

Sua casa é simples, com móveis velhos e sujos. O sofá é de couro com rasgos enormes além de queimaduras e manchas não se sabe de quê. A estante seria uma bela peça de marcenaria do século passado se não fosse os arranhões, as lascas, o nome “Inezita” escrito com canivete entre outras cicatrizes no móvel que ele herdou de sua mãe. Mesa, cadeiras, armários e outras peças também seriam belas antiguidades se não fosse o desprezo de Guadalupe por uma casa limpa. Quadros religiosos, como do Sagrado Coração de Jesus e de Nossa Senhora de Guadalupe (indispensável em qualquer casa de católicos mexicanos) completam o cenário humilde e... largado. Mas é o máximo que ele pode manter. Ramon liga a TV, também velha, do tipo que ainda funciona com válvulas. No noticiário uma notícia se repete nos últimos meses:

— Com sua força e velocidade descomunais, Super Justiça salvou todos de um incêndio criminoso em um shopping no centro da Cidade do México. O incêndio foi provocado por membros da Grimm’s Gang que roubaram um banco dentro do shopping. Mas graças ao herói, que chegou voando e tirou todas as pessoas do prédio, ninguém se feriu gravemente. Porém a Grimm’s Gang fugiu. — dizia a repórter do jornal enquanto viam-se cenas do prédio em chamas. — Super Justiça vem atuando entre os Estados Unidos, México e vários outros países se mostrando como mais um super-herói que veio para nos proteger. — em seguida são exibidas imagens do Super Justiça. Um homem alto e robusto, de cabelos loiros na altura dos ombros, vestido de branco com detalhes em vermelho. Após acenar para as câmeras ele levanta voo e sobe aos céus.

Não se sabe ao certo de onde vem esse auto proclamado herói. Tão pouco se pode dizer se ele é humano, ou outro desses super-seres, ou mesmo um alienígena vindo à Terra ainda bebê. Essa última hipótese é realmente ridícula de se pensar, mas sua crescente legião de fãs resolveu divulgar na internet (em blogs e comunidades do Orkut dedicadas a ele) nomes estranhos, como Urâniah, Crewton, Singslin, Over-X02, Juna entre outros como sendo seus possíveis planetas de origem. Certa vez, um místico se dizendo fundador de uma nova religião disse que Super Justiça é um espírito salvador que através dos séculos toma distintas formas e ajuda a humanidade cumprindo uma antiga profecia de sacerdotes do deus egípcio Thot. Diz o místico que Super Justiça, em outras encarnações, já fora Noé, João Batista, Nostradamus, Gandhi e John Lenon. E tal místico afirma ser seu irmão biológico, sendo ambos filhos do Sol, ou de algum ser poderoso que mora lá dentro. O que para o povo mexicano lembra os Astecas.

Mas nada de concreto realmente se sabe sobre a vida deste herói. Só se sabe que ele é forte, muito forte... Sua força só pôde ser calculada na escala Richter. Além de sua velocidade em voo que ultrapassa Mach-6. Ele parece ser indestrutível, o que alimenta o medo entre os criminosos e mesmo entre alguns governos que em certos países se confundem com os criminosos. Um pequeno país da Ásia já anunciou que vai construir uma arma nuclear para se proteger do herói, caso ele ameace a soberania do governo ditador. Porém talvez nem todas as bombas atômicas do mundo possam contra ele. Isso sem falar no sucesso que Super Justiça faz com as mulheres. Elas o chamam de Apolo e--

— Ramon! Ramon! Sai da frente dessa televisão e vem cá me ajudar! — grita Guadalupe.

— Que inferno! — Ramon resmunga, mas mesmo assim se levanta e vai até a cozinha. No caminho ele esbarra no velho armário e uma gaveta se abre. Dentro dela ele vê sua arma, um revólver calibre 38. Ele olha fixamente para a arma e depois para sua mulher. “Eu poderia dar um fim nisso tudo”, pensa. Ele pega a arma. Está carregada. “Um tiro... apenas um tiro...”. Ele entra na cozinha. Guadalupe está de costas. Seria fácil. Seria o fim dessa vida miserável. Ele dá outro gole na tequila. É a hora, Ramon, você é homem, pode fazer isso. Mostre que não é um zero à esquerda. Acaba de uma vez por todas com essa leitoa maldita...

— Ramon!

— T-tô aqui, querida... — Ramon esconde a arma atrás do corpo. Ainda o mesmo fraco de sempre, Ramon...

— Faz alguma coisa pra variar. Vai, leva o cachorro pra passear. — o cachorro. Ramon tinha se esquecido que tinham um cachorro. Ali estava ele, com olhos grandes e famintos. O velho Brutus, uma mistura de perdigueiro com labrador, de pelo marrom escuro.

— Tá bom. — Ramon guarda a arma na cintura e passa a mão na corrente do Brutus e o arrasta para fora. Mais uma vez fraquejou, não é Ramon? Por isso é e sempre será o mesmo imprestável. — Eu devia ter apertado o gatilho... — ele se lamenta enquanto passa pela porta. Na rua ele vê sua filha. — Inezita.

Vestida como uma rameira, a garota de quinze anos está nos braços de um homem que deve ter uns trinta. Ela é bonita, por sorte não puxou a mãe. Morena trigueira, com olhos amendoados e castanhos, cerca de 1,60 de altura. Ramon passa por eles, Inezita o vê, e como resposta lhe manda um beijo, depois voltando aos braços do homem que se maravilha enquanto morde seus seios quase para fora da blusa. Mas Ramon nada diz, não tem autoridade para isso, e segue com o cachorro arrastado pela rua.

— Inferno! — Ramon resmunga. — Vida desgraçada! — ele só sabe resmungar. Ramon, você é um inútil que só sabe resmungar. Por isso nada vai mudar na sua vida. Nada! E você sabe disso. Sempre soube, desde pequeno quando apanhava na escola, apanhava de seu pai, apanhava de sua vó, apanhava da garotinha de cinco anos da casa vizinha. Você seria o último cara que mereceria ter sua história contada... Ramon anda sem rumo, levando o velho Brutus consigo sem saber aonde vai. E assim permanece por horas e horas até que anoitece. O céu é enluarado, com uma branca e brilhante lua cheia. Mas Ramon não se preocupa em olhar a paisagem. — Maldição!! — Ramon se perde. O idiota se perde! — Isso é culpa sua, seu saco de pulgas! — ele diz para Brutus. O cão abaixa as orelhas confuso. Ramon ameaça bater no animal erguendo sua mão com fúria, mas mesmo sendo um covarde, ele não tem coragem para isso e desiste abaixando lentamente a mesma mão, agora trêmula.

Soltando a corrente, Ramon se joga no meio da rua com as mãos no rosto e chora. Os populares passam por ele e só enxergam mais um bêbado vagabundo. Brutus fica ali parado, o cheirando e sem saber o que fazer. Então Ramon sente em seu corpo um volume desconfortável. É a arma. Logo ele se senta e puxa o revólver. Quem vê se assusta e se afasta. O que vai fazer, Ramon? Se matar?! Ele põe a arma na cabeça... Ora, você não tem coragem para tanto! Você nem conseguiu atirar naquela insuportável da Guadalupe! O que quer provar com isso? Então ele abaixa o revólver e aponta para Brutus.

— Eu posso fazer isso! — idiota! O que o pobre animal tem a ver com seus problemas? Mata-lo vai resolver alguma coisa? Ah sim... você vai se sentir homem... macho... não é, Ramon? Não é isso que você quer? Se sentir poderoso? Senhor de si? E para isso vai matar o cachorro? Olhe, olhe seus olhos piedosos e carentes, olhe suas orelhas murchas e pernas fracas. Tão estúpido é esse cachorro que ele gosta de você... talvez a única criatura viva que gosta de você! Ele não vale a pena.... Abaixe essa arma, pegue um ônibus e volte pra casa... você precisa de um café preto para curar essa ressaca. — Eu posso fazer... — não, Ramon! Pare! — Eu... posso! — Não! — Sim!! Eu posso!

Ramon engatilha a arma. Ele fecha os olhos e espera a coragem tomar conta de si. Brutus fica parado, não entende o que seu dono está fazendo. Ramon respira fundo... é agora...


LIÇÃO 2: Consiga poderes.


Um estrondo ensurdecedor assusta Ramon. Ele sente que disparou sua arma, mas não viu o alvo. E mesmo assim, um único tiro não iria fazer a terra tremer e a poeira levantar. Além disso, ele ouve gritos. Gritos histéricos de mulheres que por ali passavam. Gritos demais, até por piedade a um velho cão. Ele então abre os olhos. Devagar. Brutus não está mais na sua frente... tão menos seu cadáver. Do contrário, na sua frente está um homem. Um homem alto e robusto, de cabelos loiros na altura dos ombros e vestido de branco e vermelho. De joelhos no chão, com hematomas por todo o corpo. Com o uniforme rasgado... e com um ferimento no peito, onde ele leva sua mão e vê seu sangue jorrar. Esse homem é o Super Justiça.

— N-não! — o herói diz com a voz fraca e embriagada em sangue enquanto cai sobre Ramon. Este, por sua vez, o apara nos ombros e o joga para o outro lado, o deitando de costas no chão. Então as pessoas se aproximam. Pedestres e motoristas que largavam seus carros nas ruas. Todos se aproximam e formam uma roda em volta de Ramon com o moribundo herói. Aqueles que estão mais próximos ainda podem ouvir o último suspiro do campeão que fatidicamente expira.

— Impossível! — exclama um homem que logo vê a arma na mão de Ramon. — Ele... ele matou Super Justiça! — uma ovação sucede a afirmação convicta do homem. Todos passam a dizer entre si “isso é terrível!”, ou “como ele pôde fazer isso?” ou mesmo “o que será de nós sem o herói?” entre muitos outros comentários incompreensíveis, alguns choros e muitos, muitos palavrões dirigidos a Ramon.

— Assassino! Maldito! — grita uma mulher. E logo todos se unem ao coral de ofensas, até que uma outra senhora diz:

— Vamos embora daqui! Se ele conseguiu acabar com Super Justiça, o que poderá fazer conosco?!

— É verdade! Ele é perigoso! — diz alguém na multidão.

— Ele deve ser mais forte que o herói! — diz outro alguém, então, com esses novos comentários, a multidão se dissipa lentamente enquanto Ramon continua confuso, com um cadáver ao seu lado.

— Eu... fiz isso? — ele diz consigo mesmo. Realmente é difícil crer, até porque nós conhecemos Ramon e sabemos que ele não seria capaz de matar nem seu cachorro, quanto mais um poderoso herói, tido como invencível. A única certeza neste caso é que ao lado de Ramon está o corpo de Super Justiça muito ferido, como se tivesse acabado de lutar contra seu pior inimigo e, por fim, com um ferimento no peito... um ferimento de bala, assim à vista, mas só peritos da polícia poderão dizer o calibre da bala ou se foi de verdade uma bala. Mas para quem passou e viu o morto e Ramon com uma arma recém disparada, a imaginação cuida de criar o resto da notícia.

Ramon levantou a cabeça e olhou ao seu redor. As poucas pessoas que ainda ali estavam o olhavam com medo. Pela primeira vez Ramon viu tal emoção dirigia a ele. Isso até o fez se sentir feliz, pois se sentiu importante. Mas tal pensamento só durou um instante, já que logo Ramon ouviu sirenes. Assustado, ele se levanta. As pessoas recuam ainda mais. Então ele larga a arma no chão e corre. Corre como nunca antes tinha corrido. Em questão de minutos viaturas da polícia chegam ao local. O sargento Esteban Rodrigues faz o sinal da cruz ao ver de quem era o corpo estendido no chão. Após limpar o suor de sua testa, o sargento se virou para o primeiro pedestre que viu e disse:

— Agora conte-me o que aconteceu aqui.

Olhando a cena, escondido no alto de uma grande árvore, oculto na sombra escura da noite de lua cheia, um homem que respira ofegante parece dizer um resmungo. Então ele olha para baixo e vê um cachorro no pé da árvore. É o velho Brutus. Ele olha para cima com seu olhar confuso, quase dizendo “pode me ajudar a voltar pra casa?”. O homem de cima dos galhos apenas diz:

— Olá amiguinho... Parece que eu e você ficamos sozinhos esta noite... — e antes que Brutus pudesse entender tais palavras, se é que tal bicho tem esse intelecto desenvolvido, o homem sumiu dali rapidamente, deixando apenas galhos trincados.


Ramon ainda corre. Quando ouviu as sirenes lhe veio o medo de amargar na prisão, pois claro, ele é o principal suspeito um assassinato (e que assassinato!) e todas as provas apontam contra ele. Tal medo faz seu coração bater, suas pernas fraquejarem e o suor empapar sua camisa listrada. Mesmo tendo aquele pequeno prazer, quase sexual, de ser temido pelo povo, agora é ele quem teme, como sempre temeu por toda sua vida, pois não seria um simples tiro que iria mudar o destino de Ramon Gonzáles... ou seria?

Ele corre, desce por vielas das periferias da Cidade do México, passa por corredores que lembram um mercado árabe, sobe escadarias e passarelas até que chega em um lugar familiar. Simplesmente o lugar onde nasceu e cresceu, de onde traz muitas lembranças, nem todas felizes, pois sabemos que seu plano de vida não lhe dá o direito a felicidade. Mas mesmo assim, chegando a sua velha rua ele se sentiu seguro, então parou, pôs as mãos sobre os joelhos e respirou ofegante para recuperar o fôlego perdido na corrida. Afinal ele não é nenhum garoto no alto dos seus quase quarenta anos e nem se pode dizer que seja um atleta. Então qualquer corridinha já lhe faz botar os bofes pra fora.

Porém enquanto lutava para não vomitar, lembrou de alguém que poderia ajudá-lo. Talvez a única pessoa que tivesse o dom de fazer essa caridade. Seu irmão José, aquele que também é músico. Ele ainda mora aqui, na velha casa onde os dois cresceram. Uma casa muito melhor que aquela onde Ramon foi obrigado a viver com Guadalupe. Ramon então reuniu as últimas forças e foi bater na porta.

— Ramon?! O que houve?! — dizia José ao abrir a porta quando Ramon caiu sobre seus braços.

— Me... me ajude! — Ramon desmaiou.

Horas depois, ao amanhecer, ele acorda deitado no sofá da casa com José tomando seu café preto na cozinha enquanto lia estupefato o jornal. Ao perceber que seu irmão acordou, José o olhou com um misto de surpresa e orgulho, ou seria descrença e vontade de rir? Não importa. Fato é que José deu outro gole no seu café, dessa vez engolido com pressa, ele foi até Ramon.

— Então é por isso que veio até aqui? — dizendo isso lhe mostra o jornal, cuja manchete de primeira página era “Super Justicia és Muerto”, em bom e claro espanhol.

Dios... — sussurrou Ramon.

— Deve estar na televisão também. — José ligou sua TV e se tivesse apostado algum dinheiro em suas palavras estaria um pouco mais rico, pois em todos os canais plantões noticiários informam sobre o assassinato do herói e a caça ao suspeito. Uma das reportagens chamou a atenção dos dois. Mostrava policiais invadindo a casa de Ramon e capturando Guadalupe e Inezita. — Como acharam seu endereço?

— Droga! O cachorro! — sim, na coleira de Brutus o sargento Rodrigues encontrou tudo que precisava saber sobre Ramon. E falando nele, surge o sargento dando um pronunciamento na TV:

— Atenção todos. Este homem é Ramon Gonzáles. Ele é um criminoso muito perigoso, pois ele... matou... o internacionalmente conhecido Super Justiça, que todos sabem, ou julgavam saber, era o homem mais forte do mundo. Se alguém foi capaz de acabar com sua vida de forma tão violenta este indivíduo deve ser alguém muito poderoso. Qualquer informação chame imediatamente a polícia! Não tentem nada contra ele! Apesar da aparência de uma pessoa comum, ele deve ter poderes que ainda desconhecemos. Que Deus nos ajude!

Ramon e José ficam em silêncio. Poderes? Ramon? Isso é tão ridículo que chega a ser maravilhoso. Enquanto o pobre Ramon avalia como seu nome, até então a única coisa que tinha de honrado, fora jogado na lama, José, muito mais velhaco que o irmão, imagina como isso poderia ser lucrativamente bom. Enquanto no silêncio permaneciam, alguém bateu na porta. Ramon engoliu seco, temendo ser a polícia, pois já que encontraram sua casa, não tardaria até Guadalupe abrir sua boca enorme e falar sobre José. Já este ficou calmo, sem nada dizer foi até a porta e olhou por uma fresta de janela. Não havia ninguém. Enquanto voltava para dentro ouviu novamente bater. Logo se voltou e abriu a porta. Ninguém. Quando já ia soltar um palavrão, viu aos seus pés uma caixa. Cauteloso abriu a caixa e sorriu.

— Veja isso. — disse José colocando a caixa no chão, em frente a Ramon. Dela ele tirou garrafas de uísque e vinho tinto, uma caixa de charutos cubanos e caixas de chocolates suíço, além de outras iguarias que aqueles dois pobretões nem conheciam. Junto havia um bilhete que José logo leu: —


“Ramon, obrigado por ter tido coragem de acabar com nosso maior inimigo. Nós da Grimm’s Gang somos eternamente gratos. Aceite nossos presentes e nos procure. Iremos lhe proteger da polícia, afinal uma mão lava outra. Assinado: Espelho.”


— Grimm’s Gang? — questiona Ramon.

— Uma gangue de bandidos muito poderosos! Você tá com moral com eles, meu irmão!

— Não, não posso aceitar isso! Eu... eu não sou um deles!

— Ramon... olhe as notícias, veja em sua volta... Você é o melhor deles. Irmão, essa é a chance de subir na vida e ser mais do que um mariachi que ganha cinquenta pesos por show. — as palavras, assim como os olhos de José tinham um ar de sabedoria que seduziria qualquer um. José sabia usar as palavras e sabia avaliar as situações como um verdadeiro jogador. E é verdade o que ele disse. Ramon, de repente, se tornara alguém muito poderoso e qualquer outro no seu lugar não iria vacilar em fazer a escolha certa. Ramon abaixou os olhos, respirou fundo e disse:

— Acho que é hora de ser um novo homem!


Fim da parte um.
Compartilhe este artigo: :

Postar um comentário

 
Support : Creating Website | Johny Template | Mas Template
Copyright © 2013. UNF - Todos os direitos reservados.
Template Created by Creating Website Published by Mas Template
Proudly powered by Blogger