Um ditador intergaláctico.
Um Conselho preocupado em defender a Galáxia livre. O mesmo conselho preocupado em salvar a própria pele.
Uma profecia.
Um Guerreiro.
Tudo isso e muito mais se inicia agora
O GUERREIRO PERDIDO
O sol nasce timidamente no Planeta Avdra. Por situar-se no extremo da Galáxia de Centauro, seu sol alaranjado de milhões de anos não possui mais a força de outrora. Apesar de não ser um planeta gelado e ter vasta parte de seu corpo celeste coberto por água em estado líquido, a temperatura normal do ano avdrariano varia de 20º graus negativos na sua estação gelada que duram 10 meses terrestres até 20º graus positivos na sua estação mais quente, que duram mais 12 meses terrestres. A imensa rotação solar faz o ano avdrariano demorar 22 meses terrestres.
O globo avdrariano é permeado de densa floresta no seu hemisfério norte, pois a rotação do planeta deixa seu norte exposto ao sol durante vinte dos vinte e dois meses terrestres que demora sua rotação em torno do seu sol. Suas árvores alcançam dezenas de metros de altura, sendo que árvores milenares já ultrapassaram a centena de metros, possibilitando que alguns de seus habitantes construíssem cidadelas suspensas. A água abundante no planeta o torna principal fornecedor do Planeta Centauro, principal foco de resistência ao Imperador.
Devido à sua localização no extremo da galáxia, Avdra se tornou o principal espaço-porto dos planetas pertencentes à Centauro. Ponto de chegada a quem deseja uma futura audiência com o Rei Centauro, do planeta que lhe empresta o nome.
O governo de Avdra é composto por um corpo diplomático, regido por seu general guerreiro, que atende as solicitações do Conselho Central. Esse Conselho é composto pelos anciões oriundos das diversas comunidades do planeta. Dentre os anciões, destacam-se os pertencentes à Planície de Branden, Garlosh, por sua sabedoria e por ser um profundo estudioso e nativo no planeta. Trihnna destaca-se pelo uso da racionalidade no lugar das emoções, também nativa de Avdra e por último, Brandkrijger, o ancião guerreiro, o qual ninguém sabe de qual planeta é nativo, pois ele é o único conhecido de sua espécie e não fala sobre si.
Brandkrijger não é um humanóide comum. Seu tórax lembra um réptil, suas pernas são arqueadas com dois joelhos cada uma e três unhas que lembram garras. Um braço direito e dois braços esquerdos. Ele usa em um dos braços esquerdos um escudo em suas lutas, para defesa. As armas utilizadas são uma lança e uma espada. Esse exímio lutador trabalhou com afinco por 500 anos terrestres para a conquista da confiança dos anciões no planeta Avdra, desde o momento em que foi aceito até os dias atuais. Sua pele azulada o permite se esconder muito bem em ambientes aquáticos, chegando a ficar praticamente invisível dentro da água.
O Conselho de Anciões está reunido em Avdra e, de acordo com a rotatividade das reuniões, essa estava acontecendo na cidadela de Blaugarten, na planície gelada de Heffglin. Apesar do avanço tecnológico que possibilitava viagens e dobras espaciais, a habitação de Avdra era proveniente de sua idade média, ou seja, habitações rústicas com pouquíssimos aparatos tecnológicos, nesse caso, estavam sem aquecimento. Os anciões estavam envoltos em pesados casacos para se protegerem do frio, reunidos em torno da bancada onde depositavam suas armas antes das reuniões. Às suas costas, diversas fogueiras que eram alimentadas pelos serviçais, na tentativa de deixar o ambiente o mais confortável possível. Essa sala de reuniões tinha sido escavada na rocha, o que deixava suas paredes rústicas e geladas, ao passo que em seu vão central tinha vários metros de altura, onde a fumaça das fogueiras se alojava antes de conseguir escapar por uma pequena fenda lá no alto. Quando os habitantes da cidadela notavam a fogueira que subiam aos céus, eles sabiam que os anciões do planeta estavam reunidos para decidir os rumos que o povo deveria seguir. Nos últimos 2.000 anos, após a ascensão do Imperador, normalmente isso só derivava péssimas notícias ao povo. Eram a eminência da guerra que sairia de Avdra ou a invasão dos asseclas do maldito Imperador. Quando a reunião terminava e a decisão era tomada, as fogueiras eram apagadas jogando a terra avermelhada de Avdra sobre ela, o que deixava a fumaça vermelha antes de sumir dos céus.
Novamente essa reunião era como todas as outras, sobre o poderio e avanço armamentista do Imperador e o que o Conselho de Anciões de Avdra deveria fazer.
Nesse momento Garlosh discursava:
- Conterrâneos avdrarianos. Novamente estamos reunidos para discutirmos a ameaça que paira sobre nossos lares e nossas famílias. Como sabem, a fome de poder do Imperador não é saciada nunca e, com isso, cada vez mais seus domínios se aproximam de nossa pacata civilização. Inúmeros povos já se uniram e formaram a rebelião que tenta, de todas as maneiras deterem a expansão do assassino intergaláctico que habita o famigerado planeta de Dood Donker. Como é de conhecimentos de todos os presentes, o Rei Centauro é a prova viva de que podemos resistir ao Imperador, mas para isso devemos entrar na luta e sairmos da obscuridade. Não podemos mais aceitar que outros lutem a por nós e fiquemos apenas esperando o lado vitorioso para declararmos nossa amizade...
Carish, um ancião residente em Blaugarten interrompe o discurso de Garlosh.
- Garlosh. Já discutimos arduamente essa situação e, em cada reunião, você insiste nisso. Nunca tivemos problemas com o Imperador e, se entrarmos em luta contra suas forças, ele virá até nós com todo seu poderio militar. Será que perderemos tempo com essa discussão que já demos por encerrada diversas vezes? Será que não protegemos suficientemente nossas famílias com a nossa escolha de não enfrentarmos o Imperador? Por que você insiste tanto em nos colocar em risco?
Garlosh encara seu opositor e abaixa a cabeça. Ele tem razão quando fala que esse assunto já foi deliberado por diversas vezes no conselho. Mas será que eles não entendem que a sede de poder do Imperador o fará vir, cedo ou tarde a Avdra? Por que lhe faltam as palavras que faria com que o Conselho de Anciões entendesse o perigo e tomassem a decisão correta, de proteger o planeta se unindo oficialmente ao Rei Centauro.
- Carish, eu o saúdo ancião da casa de Blaugarten. Exatamente, como bem lembraste, esse assunto já foi arduamente debatido, mas lembre-se que em todas as vezes que levantou-se essa questão, novos fatos vinham a tona para deliberarmos. Assim como antes e como sempre foi, ouvimos boatos e mandamos espiões para garantirem sua veracidade. Como sabem, desde nosso último debate, houve uma dissidência no Planeta Centauro. A filha de Katrina, que é a segunda em comando, respondendo diretamente ao Rei Centauro abandonou o planeta, acompanhada de seu pai, Bolhavy. Com isso, perdemos nosso principal cientista pelo fato de sua filha não concordar com os meios pelos quais nosso Rei decide o rumo de nosso povo. O boato que escutamos era de que a menina virou pirata espacial. Boato esse confirmado por nossos espiões. Não sabemos de suas intenções, pois ela ataca tanto povos simpáticos ao Imperador como nossos aliados.
- Mesmo com essa informação, Garlosh, tenho certeza que devemos manter nosso voto de neutralidade. Apoiamos o Rei Centauro enviando o que ele precisa, mas abastecemos todo o universo que passa em nosso espaço-porto. Se apoiarmos abertamente a rebelião, perderemos muito comércio de povos que o apóiam.
- Há outro fato, Carish.
Quem fala agora é Trihnna, anciã da Planície de Branden, assim como Garlosh. Apesar de nativa do Planeta Avdra, a espécie de Trihnna é oriunda de Athilan, um planeta distante, onde seus habitantes evoluíram espiritualmente. Sua maior e mais eficiente arma é o uso de sua mente racional. Há muito tempo ela vem acompanhando essa discussão entre Garlosh e Carish que, no fundo é apenas uma disputa pelo poder par dirigir o Conselho de Anciões de Avdra. As facções apóiam um ou outro, mas ninguém o faz abertamente. Agora ela acredita que isso está na hora de mudar.
- Como vocês sabem – ela inicia sua fala enquanto se dirige ao centro da sala – eu dou meu apoio abertamente a Garlosh nessa questão. Não podemos mais ficar fugindo dessa decisão. Atendendo os dois lados, nada mais fazemos que dizer a eles que quando um ganhar a guerra, não seremos de confiança pois trabalhamos com o outro lado. Nessa posição, informamos ao Rei Centauro que não podemos ser chamados para o Conselho Interplanetário, pois também somos simpáticos ao Imperador. E ao Imperador, abrimos nossos braços para o momento que ele desejar nos anexar. Carish, você é um ancião que já foi a um planeta anexado pelo Imperador. Você pode dizer que isso é o ideal para Avdra?
- Não, mas...
- Exatamente. Mas é o que vai acontecer. Se o Imperador nos anexar, vai matar nossas famílias sem sequer podermos reagir. Se lutarmos contra ele, vai matar nossas famílias com a nossa reação. Se lutarmos, porém, temos a chance de defender nossas famílias.
- Isso não é correto. Não somos guerreiros! – fala Carish em voz alta para que todos ouçam claramente.
Trihnna silencia e olha para Garlosh. Nesse olhar há um pedido, um pedido para revelar um segredo. Garlosh entende e olha para Brandkrijger, que levanta e se dirige ao centro, se postando do lado de Trihnna. Ele é o único guerreiro que é permitido no Conselho. Totalmente alienígena, sua presença é intimidadora para vários membros do conselho.
- Senhores. A questão não é sermos guerreiros ou não, mas sabermos guerrear ou termos um guerreiro que faça a diferença. E na Planície Branden temos forte convicção de ter esse guerreiro que faça a diferença.
- Como? Pergunta um incrédulo Carish.
- Exatamente o que você ouviu, Carish – completa Trihnna – há muito tempo estamos treinando um guerreiro que acreditamos ser o guerreiro da profecia.
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