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Mundo Sombrio #6



Todos se preparam para a partida ao amanhecer em busca do tesouro da família Goldin. Adler e Joana, sendo praticamente arrastada por ele, vão na frente, seguidos dos guardas da família nobre. Nesse meio tempo, Melvin e Florisval seguem o rastro de Joana através da Rosa do Ligamento a fim de salvá-la.




Capítulo 06

Partida sob o amanhecer


A cidade de Govenrrar era coberta pelo céu noturno. Muitas pessoas já se encontravam na cama com as luzes de suas casas apagadas. Eram poucos os pontos luminosos que podiam ser vistos. Apenas murmúrios de algumas pessoas caminhando pelas ruas da cidade compunham o som dela.
Os seis guardas estavam reunidos em frente à “Meredith”, conversando sobre a ação de cada um no dia e sobre o que fariam no dia seguinte. Neal, como era o líder daquele grupo, tomava à palavra a maior parte do tempo. Durval era o que menos abria a boca para falar.
- Resumindo os passos de Adler no dia de hoje. Ele foi para um bar, onde lá conversou com um homem que acredito que seja o mago que encontrei no fim da tarde. Em seguida, voltou para a hospedaria e nada mais fez. Eles sairão amanhã de manhã. Temos que estar em alerta caso ele nos passe a perna e vá embora com a Joana escondida.
- O que os seis guardas fazem aqui uma hora dessas? – perguntou alguém causando surpresa em todos os integrantes do grupo. A voz de Adler cortou abruptamente a fala de Neal, que ficou quieto ao perceber o homem saindo do prédio.
- Apenas uma reunião de grupo... para sua segurança e de Joana. – respondeu Neal, olhando-o se aproximando.
- É mesmo? Fico feliz que executam o trabalho de vocês de forma tão aplicada. – Adler disse num tom de ironia enquanto passava pelos guardas.
- Onde o senhor vai? Está tarde.
- Algum problema em querer andar durante a noite? – perguntou o homem sem parar sua caminhada.
- Não, senhor. – respondeu Neal lhe encarando.
Após Adler ter se afastado bastante do grupo, sendo visto apenas mais ao longe na rua, os guardas se entreolharam perguntando-se quem iria segui-lo.
- Eu irei! – exclamou Durval, o mais jovem entre eles. Neal o fitou, assentindo com a decisão.
Após alguns minutos seguindo o nobre de forma cautelosa pelas ruas de Govenrrar, Durval chegou próximo a um estreito corredor por onde Adler havia entrado. Sabendo que deveria segui-lo onde quer que fosse, encaminhou-se para lá. Entretanto, foi surpreendido quando um braço lhe puxou inesperadamente pela gola de sua camisa. Durval era fitado pelo sério olhar de quem seguia.
- Então veio você dessa vez – Adler soltou o guarda pela camisa e deu alguns passos para trás de costas para o jovem. – Mas foi bom você ter vindo. – Adler virou-se e tirou um envelope pardo de dentro da camisa cinzenta e jogou-o para o guarda. Ele o pegou e abriu, confuso e curioso com o que poderia haver ali dentro. Suas mãos encontraram um bolo de cédulas amarradas por um elástico. Ele arregalou os olhos com a quantidade de dinheiro em mãos. Adler esboçou um sorriso ao ver a face impressionada do jovem. – Diga-me todos os detalhes daquela conversa de agora a pouco! – O garoto tentou gaguejar alguma palavra, mas Adler voltou a falar antes do outro tentar. – Você é jovem. Isso é uma chance de começar a vida de uma ótima maneira. Imagine se sobreviver amanhã? Ter um dinheiro assim em mãos não é muito tentador? – perguntou querendo seduzir Durval.


. . . . . . . . . .


Florisval abriu a porta de casa. Estava tão distraído que tomou um susto ao notá-lo em frente a pia, onde estava uma caneca de onde subia o vapor quente de alguma bebida. O floricultor se esquecera totalmente do que havia feito a ele, e por isso sentiu-se nervoso, pensando em como o mago reagiria depois de ter sido enganado. Entretanto, o rosto daquele homem era totalmente impróprio para o que Florisval pensava. Melvin estava sorrindo.
- Olá, Florisval! – disse ele, calmamente. – Vejo que voltou vivo e inteiro. Só espero que não tenha feito nenhuma besteira.
- Melvin... – Florisval nem quis falar sobre o que houve. Antes disso queria se desculpar pelo o seu ato. – Eu... sinto muito pelo que fiz mais cedo. Eu...
- Esqueça isso! – proferiu o mago o interrompendo. Logo em seguida, ele pegou a caneca sobre a pia e a deu para o camponês. – Beba! Deve estar frio lá fora. Esse chá lhe esquentará um pouco. – Florisval olhou para o líquido na caneca, enquanto deste, saia vapor. Apenas olhou, e não fez mais nada. Melvin notou que ele hesitava em beber, e tentou lhe estimular. – Não coloquei nada dentro dele. É apenas um chá. – Florisval fitou o mago confiando em suas palavras, e pondo a caneca em frente à boca. Enquanto ele bebia, Melvin caminhou em volta da mesa, e o olhou. – Espero que tenha valido a pena ir lá.
O camponês parou imediatamente a bebida, e fitou o mago que esperava alguma resposta, de preferência um “sim”.
- Eu tinha um plano desde o início – começou a falar o floricultor. – Eu fui entregar algo a Joana. Algo que me possibilitará encontrá-la onde quer que esteja. Uma “Rosa do Ligamento”.
- Deixe-me adivinhar, mais uma flor mágica?
- Sim – respondeu Florisval ao mesmo tempo em que tirava a flor de dentro do colete. – Esta é a “Rosa do Ligamento”. Quando duas rosas dessas estão juntas, elas se tornam azuis, mas quanto maior o afastamento entre elas, mais claras elas ficam. No momento, essa é a cor que representa a distância entre mim e Joana. – A flor mostrava-se em uma coloração azul bem clara.
- Entendo. Então foi por isso que me drogou. Não foi por sair escondido para ir vê-la. – disse o mago descobrindo o real motivo para o floricultor tê-lo feito adormecer. – Foi para pegar a “Rosa do Ligamento”. Você não queria que eu lhe visse apanhando-a, não é? Eu teria que estar dormindo para que pudesse pegá-la, assim como na noite em que curou os seus ferimentos. Deve ser uma passagem muito silenciosa para esse tal lugar, pois eu poderia ter ouvido algo incomum na noite passada. Foi mesmo bem inteligente de sua parte. – Melvin caminhou pelo outro lado da mesa, e se aproximou da porta. – É uma pena que eu não tenha descoberto seu segredo.
- Ei! Aonde você vai? – Florisval perguntou ao ouvir a maçaneta da porta sendo girada. Melvin olhou para o lado de fora, descobrindo uma visão escura e solitária.
- Preciso pensar um pouco. Tem algo... que me incomoda. – respondeu o mago antes de sair da casa. Florisval ficou quieto imaginando o que poderia ser. Provavelmente, seria a decisão dele de ajudar Joana, ou talvez algo relacionado a algum segredo do mago. De qualquer jeito se contentou em esperá-lo.
Melvin caminhou pelo campo de flores, sentindo a suave e fria brisa da noite tocar em seu corpo. Era natural o vento gélido naquela região próxima às montanhas. Ele parou de andar, e tentou refletir. Seu rosto denotava uma aparente preocupação. Em seus olhos, as flores do campo de Florisval lhe faziam recordar a cena de poucos minutos.

“- Parece que algumas pessoas estão lhe pedindo ajuda pelo fato de ser um mago, estou certo? – Melvin não ficou surpreso, afinal, ele era um Oráculo. – A solução é simples: não faça nada. Vá embora o quanto antes, e deixe esse assunto de lado.”

- Não ajudar... Mas... – murmurava o mago, ponderando.

“- Ei! O que vai acontecer com Florisval e Joana se eu não fizer o que você disse? Mencionou não ajudá-los, mas o que vai acontecer com eles se o fizer?
O Oráculo parou e encarou o mago virando seu rosto por cima do ombro. Ficou assim por um tempo, sem dizer uma única palavra. Em seguida, voltou a andar. Seu corpo foi desaparecendo lentamente.”


- Se eu fizer isso... se eu não ajudá-los, significa que eles irão... – Melvin não queria nem mesmo terminar a frase de tanta agonia. Se não fosse por esse detalhe, ele não fraquejaria em obedecer ao conselho do Oráculo. Entretanto, o motivo pelo qual ele foi avisado lhe perturbava.

“- O que vai acontecer se eu não fizer isso?
- Você será descoberto.
- Por quem?
- Não use sua energia Volaki em grande quantidade – aconselhou o Oráculo lançando-lhe um sério olhar. – Eles estão perto.
- Quem está me procurando? – Melvin perguntou impacientemente.
- É melhor nem saber. – respondeu ele virando-se e se afastando.”


Várias possibilidades passaram pela mente do mago, muitas pessoas poderiam estar atrás dele por motivos diferentes. Entretanto, ser encontrado não era o que queria. Pois isso significava reencontrar o passado sem antes mesmo completar o seu objetivo envolvendo a profecia que ele tanto acredita.
- Não usar minha energia Volaki... eu talvez nem precise dela para ajudá-los. – disse com um olhar determinado, certo de que estava encontrando sua decisão. Ele fitou as outras flores no campo, e lembrou-se de quando as viu pela primeira vez.

“O homem possuía um cajado vermelho com uma esfera dourada em sua ponta. Ele ergueu- o para o alto e proferiu em voz alta:
- Luz do cajado!
Inúmeros feixes de luz provenientes da ponta de seu cajado que brilhava, atingiram o vasto campo florido. A luz no meio da noite era intensa e agora se podia ver o campo de forma mais bela. As borboletas pousavam e saiam das flores carregando o seu pólen. A beleza individual de cada espécie resplandecia na noite.
O viajante deu um sorriso ao ver aquela pequena área ser iluminada pelo brilho de seu cajado. O fato da luz se tornar presente sempre o fazia feliz. Ele desejava que o mesmo acontecesse com o mundo. Que cada pessoa tivesse sua própria beleza assim como as flores do campo, mas que ficassem unidas, mesmo sendo diferentes umas das outras. E que a luz reinasse sobre elas. Se isso era possível com essas flores, porque não com as pessoas?”


- Por mais que fossem diferentes... – A imagem de Joana e Florisval lhe veio à mente. - ... mas que ficassem unidas. – Melvin decidiu que o seu objetivo era unir essas duas pessoas. – Não vou poder usar a minha energia Volaki, e nem mesmo a Purificação da Alma, já que não faz muito tempo desde que a usei pela última vez. Logo, só tenho ataques físicos como opção. Ainda assim... – Melvin ergueu sua mão na altura do peito e a olhou, fechando-a em seguida. – Eu conseguirei. O meu objetivo é salvar este mundo. – O momento de quando Joana e Florisval se encontraram pela primeira vez na floricultura apareceu em sua cabeça. A imagem de ambos sorrindo, e a Energia Benigna que sentiu do toque de mãos entre eles, era o exemplo de um mundo onde o amor poderia prevalecer. – Não deixarei que nada impeça a felicidade das pessoas.
Foi quando um vento forte que soprou para o oeste fez o mago mover a cabeça para o mesmo lado, enxergando algo peculiar adiante. Soltando um som de estranhamento, ele iniciou seus passos em direção àquilo. Quando chegou próximo, analisou o monte de terra com uma cruz de madeira envolta por um cordão de flores.
- Um túmulo... – murmurou o mago. – Será que é... – Uma única possibilidade passou-se pela cabeça do mago. O homem que criou o lugar onde ele pisava. – Bartolomeu... – Melvin ajoelhou-se e fitou determinadamente a cruz. – Não se preocupe. Eu farei com que Florisval encontre sua felicidade. Ele não se sentirá mais sozinho. Esse campo será palco de uma vida feliz. –disse o mago.
Minutos depois, Florisval notou a porta de casa sendo aberta pelo seu recente amigo. Antes que perguntasse algo, o mago falou.
- É melhor dormir cedo. Se quisermos segui-la, teremos que acordar antes do nascer do sol. – A fala de Melvin causou um sorriso no camponês, e viu que finalmente teria a ajuda dele. O mago não disse mais nada, e foi para o quarto de Bartolomeu. Florisval também decidiu ir para o seu. Teriam de descansar para o que enfrentariam no dia seguinte.


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Joana dormia profundamente em sua cama numa posição de lado, com seu rosto virado para a janela do quarto. Adler dormia com uma cara não muito amigável, também posicionado de lado e com sua face virada para o sentido contrário de Joana. Ele parecia estar dormindo normalmente, enquanto sua noiva esboçava um sorriso inconsciente. Em sua mente, em outro lugar estava.

Ela se encontrava em um espaço totalmente branco por onde quer que olhasse. Apenas o campo de Florisval sob os seus pés denotava diferença naquele vasto lugar. As flores coloriam o que o céu e o horizonte claro não faziam. Seus olhos observaram o floricultor com uma alegre expressão em seu rosto se aproximando a poucos metros de distância. Quando ficaram a menos de um metro um do outro, Florisval ergueu sua mão como quem quisesse dizer “Venha comigo!”. Joana desabrochou um sorriso esplêndido, e os dois se olharam carinhosamente. Ela levantou sua mão e a tocou. Em seguida, ambos colocaram as mãos levantadas, e entrelaçaram seus dedos num sinal de amor. Os dois lançaram-se em olhares apaixonados perdendo a conta do tempo em que ficaram naquela posição.


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O rosto de Florisval emanava um feliz sorriso enquanto dormia profundamente em sua cama.


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Mais um lugar com flores, mas dessa vez não era o campo de Florisval, e sim um lugar que Joana conhecia bem: a estufa de sua mãe. Ela olhou o lugar muita surpresa por vê-lo novamente do jeito que sempre foi. Tudo parecia ser tão lindo e maravilhoso que soltou um sorriso deslumbrado ao contemplar aquela visão. Chegou a soltar uma leve risada enquanto passava os olhos por toda a estufa.
- Está do mesmo jeito que antes, não é? – proferiu uma voz atrás da jovem, que virou-se um pouco surpresa. Ficou ainda mais, ao fitar aquela imagem novamente, na verdade, alguém que não via há anos. Uma mulher de cabelos longos e lisos de tom castanho, e de olhos dourados.
- Mãe? – Joana não acreditava no que via, mas sem pensar duas vezes, ela correu até ela para abraçá-la. As prateleiras e os canteiros com as mais variadas flores eram testemunhas daquele encontro. – Mãe! – exclamou mais uma vez a jovem, emocionada por sentir o calor daquele abraço. Sua mãe vestia uma roupa simples com um avental branco, a mesma que usava quando cuidava da estufa junto à sua filha.
- Você cresceu. – disse a mãe dela. – Se tornou uma linda mulher. – Joana continuava sorrindo enquanto ouvia os elogios da mãe, que passou a fitar o ambiente da estufa. – As flores são importante para você Joana, não as perca de vista. Fique naquele campo e você concederá felicidade àquele que ama.


A última frase soou como um conselho para a sua filha, que imediatamente viu tudo se tornar branco. Instantes depois, enxergou o quase escuro local onde se encontrava. O céu meio azulado podia ser visto pela janela do quarto. Levantou-se e ficou sentada na cama olhando a vista lá fora.
- Ainda bem que acordou. – proferiu uma voz próxima. Adler estava ajeitando sua roupa, olhando a mulher recém-acordada, que vestia um pijama lilás com seus cabelos soltos – Está na hora de irmos!


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O sorriso ansioso de Adler ao descer as escadas para a recepção não podia ser contido. Joana descia atrás dele parecendo um pouco nervosa e insegura, mas algo a deixava firme. A proteção e ajuda dos guardas e de Florisval. Adler fechou a conta na recepção, e Joana ficou parada ao lado dele. Quando terminou, ele tomou um caminho contrário à entrada do prédio.
- Vamos sair por outro lugar. – disse ele a guiando para outro corredor da hospedaria.
No lado de fora, sob a luz tênue do amanhecer, os guardas estavam de prontidão esperando-os saírem. Entretanto, estavam espalhados e escondidos em diversos pontos em volta do prédio de forma que um pudesse ver o outro.
Dentro da hospedaria, Joana e Adler chegaram a uma porta que deu para um pequeno cubículo cheio de coisas velhas: panos, cadeiras, panelas, caixotes. Neste mesmo lugar havia uma outra porta pela qual eles saíram, dando na parte de trás do prédio.
- Agora podemos ir – proferiu o nobre com um sorriso. Não havia quase ninguém por perto. Mesmo os que estavam por ali não deram muito bola para um casal que saia às escondidas, exceto por um homem oculto num corredor entre duas lojas em frente.
Os olhos de Neal firmaram em Joana e Adler que começaram a se afastar da hospedaria. Ele fitou os outros guardas também escondidos em lugares próximos. Levantou a mão direita, e movimentou para a direção em que o casal seguira. Os outros assentiram e se puseram a andar cautelosamente até ele.
Joana, ainda nervosa, caminhava ao lado de Adler que sorria sem hesitação. Ele rolou os olhos para a esquerda como quem quisesse saber quem vinha atrás. Sorriu ainda mais, pois sabia que estavam sendo seguidos. “Como se fizessem diferença.” Pensou ele.


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A luz do sol começou a pairar sobre as flores do campo florido, e num casebre próximo, duas pessoas se arrumavam para sair. Na cozinha, o camponês terminava de pôr sua sacola com flechas nas costas, amarrado por uma corda que passava de forma diagonal pelo seu peito. Pegou o arco que estava sobre a mesa, e fitou determinadamente o mago parado em frente à porta de casa.
- Está pronto? – perguntou Melvin, sorrindo. Florisval assentiu com a cabeça, e então o mago girou a maçaneta para em seguida, uma luz vinda do amanhecer invadir o cômodo. O camponês olhou admirado para os raios luminosos que entravam em sua casa. Ele sorriu, certo de que aquele seria o dia mais importante de sua vida.
Ambos, já no lado de fora, olharam para o céu vendo que seria mais um dia claro e de sol. O campo de Florisval novamente resplandecia, assim como no dia anterior. O camponês lembrou-se de seu pedido à Joana. Aquele campo em breve poderia ser de duas pessoas. Ele abriu o seu colete e fitou a rosa de tom claro dentro dele. Em seguida, olhou para o mago.
- Vamos! – exclamou o camponês. Em poucos instantes, os dois já estavam correndo pela estrada que os levariam a Govenrrar.


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Joana olhou para trás enquanto seus pés continuavam indo para frente na estrada de terra. A vista da cidade afastava-se cada vez mais. Ela então pensou em seus guardas e em Florisval.
- Não se preocupe com eles. – disse Adler. – Eles virão! – Joana preocupou-se, pois seu noivo sabia que estavam sendo seguidos, e mesmo assim, não notava um pingo de nervosismo em seu rosto. Ele parecia estar até muito feliz, pois talvez tivesse certeza de que conseguiria pegar o tesouro e fugir.


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O mago e o camponês corriam não tão depressa pela estrada de terra, pois não queriam gastar toda a energia e ficarem cansados logo no início. Apesar de que isso não faria tanta diferença para um mago, e sim para uma pessoa comum. Entretanto, Florisval possui uma boa resistência física devido ao seu trabalho que o fazia exercitar todos os seus músculos.
Os olhos do camponês desviaram da estrada por um instante para fitar algo dentro de seu colete. De cara, achou aquilo estranho. Ele cessou seus passos e parou no meio do caminho.
- Espere! – pediu ele ao mago que parou alguns metros à frente. Os olhos de Florisval continuaram sobre a flor.
- O que foi? – Melvin perguntou voltando de seu caminho. Florisval pegou a flor de seu colete e mostrou ao mago.
- Olhe! – A rosa estava num tom claro, porém um pouco azulado.
- O que tem isso? Está ficando azul, não está? É por que estamos perto da cidade.
- Não. Tem algo errado! – Florisval percebeu. – Eu gravei bem o tom desta rosa quando cheguei ontem em casa, e quando saímos hoje de manhã. Já estamos na metade do percurso, e mesmo assim o tom dela pouco variou até agora. O azul está muito fraco.
- Você quer dizer que... a outra rosa se afastou ainda mais?
- Estamos atrasados! Eles já saíram da cidade! – conclui o floricultor adicionando tanto desespero em seu tom quanto velocidade em suas pernas. Melvin o seguiu e os dois passaram a correr num ritmo mais forte.


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- Acho que é mais ou menos por aqui. – pronunciou Adler parando de andar em meio a uma estrada rodeada por uma floresta. Joana parou ao seu lado e recebeu o olhar de seu noivo. – Agora vamos adentrar na floresta à leste. – E os dois entraram. Há uns duzentos metros, Neal espionava o casal escondido atrás de uma árvore ao lado da trilha.
- Eles entraram na floresta? – O guarda estreitou os olhos e levantou o braço indicando aos demais que o seguiam.


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Passos apressados invadiram a cidade de Govenrrar. Melvin e Florisval corriam o máximo que podiam. Foram direto para a “Meredith”, e lá chegaram à recepção, onde perguntaram para uma atendente.
- Tem um casal chamado Joana e Adler hospedados aqui? – Florisval perguntou num tom de urgência. A mulher do balcão olhou para os dois estranhos à frente um pouco impressionada, pois pareciam estarem desesperados, principalmente o homem que lhe fizera a pergunta.
- Deixe-me ver... – a mulher olhou numa prancheta procurando o nome do casal, e finalmente os achou depois de alguns segundos, que para Florisval pareceram minutos. – Ah, sim. Eles já estiveram aqui, e deram partida hoje de manhã.
- Há quanto tempo eles saíram? – perguntou o camponês com mais desespero ainda.
- Acho que há mais ou menos uma hora – respondeu a mulher esgueirando-se para o alto com o dedo no queixo. Florisval logo correu para fora da hospedaria. Melvin agradeceu a informação por Florisval e o seguiu logo depois.
Os dois estavam parados ainda em frente à hospedaria.
- Que droga! Chegamos tarde demais! – proferiu o camponês, irritado.
- Ainda temos a “Rosa do Ligamento”. Podemos segui-la. – Melvin falou.
- Mas mesmo que saibamos se ela está perto ou não, não sabemos onde ela está exatamente. Podemos perder horas procurando. – disse olhando para o mago. Melvin suspirou, caminhou alguns passos para frente, e olhou para os dois lados da rua.
- Eles só podem ter ido por dos caminhos. Pela entrada ou saída da cidade. Uma estrada para o norte ou para o sul. Um homem ganancioso no meio da estrada é fácil de descobrir. Espere um pouco, eu vou descobrir onde Adler está. Se tiver sorte...
- Mas como? Você consegue fazer isso? – Florisval perguntou.
- Apenas espere.
O mago fechou os olhos e se concentrou.
- Captação de Energia Maligna! Sentimento: Ganância! – Melvin virou seu rosto para a estrada sul. Seus olhos estavam fechados, e portanto, não enxergava nada. Mas esperava algo em meio à escuridão. Era como se seu olhar estivesse avançando pelo mundo em forma de trevas querendo encontrar algo ou alguém específico. Ficou neste estado durante trinta segundos e por fim, abriu os olhos. – Nada nesta direção. – Melvin virou-se dessa vez para a estrada norte. Florisval ficou calado, mesmo querendo perguntar o que o mago realmente fazia. Melvin fechou os olhos e se concentrou novamente. Sua visão avançou em meio à escuridão, até que vinte segundos de espera valeram à pena. Um ponto cinzento pôde ser visto bem ao longe, e era exatamente esse ponto que ele procurava. – Achei! – exclamou abrindo os olhos, e impressionando o floricultor.
- Você o encontrou? – Florisval perguntou. Melvin o fitou.
- Sim. Eu senti uma Energia Maligna vinda de uma ganância excessiva de alguma pessoa bem distante. Como Adler não vê a hora de satisfazê-la é natural que ele sinta esse desejo durante o percurso. O que também significa que eles já podem estar perto do local do tesouro. Mas o melhor de tudo, é que como ele foi o único que senti nesta direção significa que a estrada está vazia sem nenhum homem ganancioso andando por ela. Só podem ser eles! Estão a quatro ou cinco kilômetros daqui. É melhor corrermos!
- Certo! – assentiu o camponês. Eles começaram a correr novamente num ritmo acelerado rumo à estrada norte.
Florisval uma hora ou outra durante o caminho, fitava a flor e percebia que ela mudava lentamente o seu tom para um azulado. Ele continuou correndo sem hesitar pela estrada, sorrindo por estar próximo de vê-la mais uma vez.


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Adler parou, assim como Joana ao seu lado, com ambos olhando adiante.
- Chegamos! – proferiu o homem. Uma caverna inserida em uma coluna cinzenta de rocha, parte da encosta de uma montanha, escondia o que Adler tanto cobiçava. Posicionada na borda de uma pequena clareira sem nenhuma vegetação aparente, apenas terra, e circundado pela encosta á frente, e pela floresta ao redor. Adler caminhou até a caverna. – Vamos! – disse à sua noiva, que se se sentia nervosa a cada passo dado em direção àquele lugar.
A escuridão era notável lá dentro. Eles caminharam cautelosamente, olhando para a obscuridade à frente. Tinham apenas a luz que vinha de fora como guia. Mas não demorou muito, e viram algo incomum adiante. Duas lamparinas em cada lado, suspensas em um muro construído com tábuas de madeira que se erguiam verticalmente até o teto tampava qualquer passagem depois disso. Nele, havia uma listra pintada horizontalmente na cor verde. Mas o diferencial mesmo era um espaço retangular que ocupava todo o cumprimento da largura de uma tábua. Dentro dele, uma lâmina de vidro não permitia olhar perfeitamente para o outro lado.
Adler se aproximou para observar. Olhou um pouco para cima, onde havia uma linha horizontal passando por três tábuas. “Seria uma porta?” pensou ele. Em meio aos seus pensamentos para descobrir o que era aquele lugar, ficou surpreso ao ouvir uma voz diferente. Quando se deu conta, dois olhos azuis o encaravam no outro lado do muro através do vidro retangular.
- Quem está aí? – perguntou o desconhecido com uma voz de tom diferente. Parecia ser meio infantil, mas diferente de humano.
- Eu vim buscar o tesouro da família Goldin – disse Adler, esperando ouvir alguma reposta do outro lado. Mas ouviu foi um “tap”, junto de algum som de esforço, e em seguida, o som de algo se arrastando na terra. Depois de um “trinc”, a porta começou a se abrir para dentro, junto com o ranger da madeira. A primeira visão de Adler e Joana que se aproximou atrás dele foi de um corredor de terra com algumas estantes cheia de livros e objetos encostadas às paredes. No final, havia parte do que parecia ser um espaço um pouco mais amplo, com paredes rochosas de tom amarronzado ao fundo, e alguns móveis. O lugar estava com cara de ser a moradia de alguém. Era exageradamente iluminado por diversas lamparinas.
- Estava esperando por vocês. – disse a mesma pessoa de antes. Adler e Joana olharam para frente e não viram ninguém. – Ei, aqui embaixo! – Os dois puseram seus olhares no chão e viram alguém ali. Eles arregalaram os olhos, pois nunca viram um ser daquele tipo.
Tinha pouco mais de vinte centímetros se não for contar com seu gorro verde. Seu rosto meio esbranquiçado era jovem, com um nariz meio feio e dentes amarelados, mas em contrapartida, possuía olhos azuis mais bonitos do que muitas pessoas. Portava um robe vede com botões dourados, e uma calça também verde, mas num tom mais claro, e por fim, uma bota na cor marrom Ele olhou sorrindo para os seus visitantes que demonstraram uma cara de espanto.
- Olá! – falou ele novamente.
- O que é você? – perguntou Adler estranhando aquela criatura.
- Eu sou um gnomo. Meu nome é Glin. Prazer em conhecê-los – disse ele, sorrindo.

Próximo capítulo: Chamas da ambição
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