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Heavy Metal 2099 #01

Em 2099 a humanidade está escravizada e à beira da extinção. Mas as máquinas não se rendem. Heróis robóticos voltam à luta para defender os humanos.


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capa: Brandon Peterson

HEAVY METAL 2099

CAPÍTULO 01 – POWER ON

Por Alex Nery


A primeira coisa de que me lembro é de uma luz azul. Ela ficou piscando por algum tempo indefinível e depois foi substituída por um clarão cegante. Aí eu percebi que tinha aberto os olhos.
Um garoto, aparentando uns dezesseis anos e com traços orientais, falava sem parar. Parecia que ele estava gritando, mas eu via apenas sua boca se movendo sem produzir som algum. Ele parecia desesperado.
Voltei a ouvir quando algo explodiu num ponto bem próximo. O garoto levou as mãos ao rosto num gesto instintivo de defesa, enquanto choviam pedaços de destroços e uma poeira grossa nublou minha recém-adquirida visão. Ele gritou.

- Vamos, cara! Levanta logo!

Apoiei meus braços no corpo do cilindro em que estava deitado e me ergui. A principio a sensação de estar de pé me pareceu muito estranha. Outras pessoas corriam e pude perceber que estavam todas armadas. O garoto me amparou para que eu pudesse me equilibrar.

- Vamos! Vamos!
- Para onde? – perguntei.

Ele não se deu ao trabalho de responder. Apenas me empurrou com firmeza, fazendo com que começássemos a correr na mesma direção que os demais.
Enquanto corria por aquele lugar, acompanhando o grupo em fuga, percebi que estávamos numa espécie de galpão. Um galpão bem grande, por sinal. Vi vários contêineres amontoados e tentei adivinhar o que havia naquelas caixas metálicas.
Eu havia saído de um contêiner igual àqueles? Parece que sim.
O que eu estava fazendo dentro de um contêiner?
O barulho de tiros e novas explosões me fez esquecer essas perguntas por alguns instantes. Olhei para trás e o que vi me horrorizou.
As pessoas armadas disparavam contra uma massa disforme que avançava pelo galpão. A massa era negra, porém alguns ponto brilhavam de forma aleatória em sua superfície, num padrão estranhamente familiar. Da massa emergiam finos tentáculos que apontavam e disparavam atingindo com precisão as pessoas que tentavam detê-la. Calculei que em minutos estariam todos mortos, pois a massa avançava muito mais rapidamente do que nós poderíamos jamais correr.
Um dos tentáculos apontou para o garoto que me acordara. Instintivamente eu o agarrei, jogando-o como um saco de batatas nos ombros. O tiro passou a cinco centímetros da cabeça do garoto. Comecei a correr mais ainda e meus passos foram ficando incrivelmente mais largos. Foi quando percebi que minhas pernas haviam se estendido e agora mediam cerca de quatro metros de comprimento. Com cinco passos eu percorri toda a distância que nos separava da saída do galpão.

- Vai! Vai! – gritava o garoto.

Mas vi que ainda havia pessoas tentando escapar. Contei pelo menos seis pessoas que vinham atrás de nós, sendo seguidos pela massa assassina.
Larguei o garoto no chão e estendi novamente minhas pernas, me posicionando acima das pessoas que passavam correndo por entre elas. A massa negra rugia como uma fera prestes a abater a presa indefesa.
Mas eu não era indefeso.
A criatura assumiu o aspecto de uma grande onda, alcançando quase cinco metros de altura e mergulhou sobre mim. Podia jurar que vi olhos dentro daquela coisa.
Instintivamente estendi meu braço direito, alcançando a caixa de força na parede, próxima a porta. Cravei meus dedos no cabo de força e então enfiei minha mão esquerda na massa. A corrente me atravessou, provocando uma sensação de câimbra, e chegou ao monstro. Ele gritou de dor.
Eu esperava que ele fritasse, mas ele continuava grudado ao meu braço. Era como enfiar a mão num tonel da graxa. A única diferença é que a graxa não tenta lhe sugar. E o desgraçado estava tentando me puxar pra dentro dele.
As pessoas armadas começaram a disparar. O garoto gritava para que não parassem. A criatura parecia indecisa sobre qual alvo deveria atacar.
Aproveitei a distração e mudei meu braço para o modo arma. Senti a coisa tentando penetrar pelos orifícios da minha armadura. Sem perder mais tempo, disparei tudo o que tinha dentro dele.
Ele explodiu como uma geléia. Espirrou pedaços negros por todo lado. Mudei pro modo lança-chamas e disparei nas partes maiores. A coisa ainda parecia viva e tentava se reagrupar. Ela como lutar contra água! Alguns pedaços rastejavam sobre mim como sanguessugas, mas uma carga elétrica fez com que caíssem inativos.
Dizimei os pedaços maiores. As pessoas atiravam em qualquer pedaço que teimava em sobreviver. Em segundos a coisa estava morta e meus companheiros de combate puderam dar um grito de vitória.

- Eu disse ao Rocky que essa missão valia a pena! – gritava o garoto.
- Quem é você? Quem é Rocky? – perguntei.
- Meu nome é Hiroshi! Eu sabia que você estava aqui! EU SABIA!
- Anh... eu te conheço?
- Não, mas EU te conheço!
- Conhece?
- Claro!
- Então... pode me dizer quem sou?
- Você é o modelo X-51! O Homem-Máquina!

Um turbilhão de imagens invadiu minha mente. Vi rostos amigos e inimigos. Vi cenas de lutas, vitórias e derrotas. Vi luz... mas, no fim, só vi trevas.

- O... o que estou fazendo aqui? – perguntei atordoado.
- Eles o trouxeram pra cá já faz alguns anos – respondeu Hiroshi.
- Quem? Quem me trouxe?
- Os aliens, cara... Você não lembra?
- Aliens? Que aliens?
- Todos... mas mais especificamente, a Falange!
Eu lembrei da Falange. Lembrei de como eles avançaram sobre a humanidade como uma maré faminta. Lembrei de como absorveram milhões de pessoas, transformando-as em criaturas tecno-orgânicas. Lembrei de como os superseres tentaram se opor aos invasores e foram chacinados. No fim, a luz se apagou para mim.

- Não sei por que eles não te destruíram e, em vez disso, te desativaram e jogaram nesse depósito aqui no interior de Kanagawa – diz Hiroshi.
- Kanagawa?... Japão... - só então me dei conta de que estava ouvindo e falando em japonês.

Olhei em volta agora com curiosidade redobrada. O galpão não tinha nada de excepcional... Exceto pelos contêineres.

- A segurança era feita só por uma unidade Falange. Acho que eles não queriam chamar atenção... – continua o garoto.
- Pode ser... – lentamente me encaminho para o contêiner mais próximo – Mas me diga uma coisa... como me encontrou?
- Er... Não estávamos te procurando. Ouvimos um boato sobre este deposito e pensávamos que encontraríamos armas aqui – responde Hiroshi encabulado.

Uma mulher morena, vestida como um soldado e portando uma espécie de rifle, se aproxima de nós.

- Hiroshi! Temos cerca de uma hora e meia antes que outras unidades cheguem para verificar o que aconteceu. Temos que ser rápidos – diz ela.
- Ok, Jenna. Manda os caminhões encostarem e vamos pegar o que pudermos – diz Hiroshi.

O contêiner está trancado, mas não oferece grande resistência para meus braços hidráulicos. Arrebento a porta e verifico que existem várias caixas empilhadas em seu interior. Todas estão identificadas com chamativas etiquetas amarelas com códigos de barra. Li os códigos com meu leitor ótico embutido no dedo indicador. Não pude deixar de sorrir.

- O que achou ai? – pergunta Hiroshi.
- Acho que você encontrou mais do que as armas que procurava.
- É?
- Veja você mesmo...

Ativei novamente o leitor de códigos de barra e projetei a leitura num holograma para que Hiroshi pudesse entender.

ANDRÓÍDE DO PENSADOR LOUCO

- Caralho... – pragueja Hiroshi.

Percorremos o galpão abrindo outros contêineres e examinando os conteúdos. A leitura das caixas faz os olhos de Hiroshi brilharem.

SENTINELA 459

SUPERADAPTÓIDE

- É. Vamos levar um pouco de Heavy Metal à esses aliens.


No próximo número: Linha de Montagem.
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